quarta-feira, 21 de agosto de 2024

o recurso ao absurdo e à ironia

Partamos da suposição de que determinado ponto de vista, de que determinada ontologia seja verdadeira. Antes de nos perguntarmos dos seus pressupostos, de esmiuçarmos os seus princípios – para podá-los desde o início –, deixemos esse ponto de vista falar. Os seus voos mais altos, as suas divagações mais absurdas, as suas digressões quase infinitas, deixemos que tudo isso venha à tona. Façamos isso, agora, com ironia. Levemos a cabo o maior dos absurdos dos absurdos que venham a derivar das bases – supostas – dessa ontologia e escutemos com o som ácido do seu contrário. Finjamos, para nós mesmos, que nós somos o oposto do que queremos dizer, para dizermos o que queremos, por meio de uma demonstração ilógica. Em seguida, avancemos mais no absurdo, a fim de responder, dentro daqueles sérios pressupostos ontológicos, às próprias críticas que a pura ironia lançou como verdade, para destruí-la a troco de um deboche; faremos isso com o objetivo de esgarçarmos, tanto mais quanto possível, o alcance final, as conclusões épicas desses pressupostos. Restarão as perguntas: a que tudo isso serve? O que fazer com isso? E podemos continuar, ao infinito, nessa mesma emulação, a fim de fazer testar-se uma hipótese. Quem sabe, assim, encontremos... alguma seriedade.

Peguemos, então, o ponto de vista materialista. O que seria, assim, um materialismo absurdo? Ou, até, um materialismo histórico absurdo? Será que somos capazes de prever um funcionamente de economia-política e de produção ideológica em uma situação de supressão da propriedade privada -- trazendo consigo todas as consequências, como a diminuição do valor conferido ao dinheiro?