domingo, 28 de outubro de 2007

Escrever, véi

Acho que estou pegando raiva de escrever, como se pega, muitas vezes, raiva de algum vício incontrolável realmente. escrever agora se tornou algo que faço nos mesmos momentos em que faria qualquer outra coisa que me viciasse; ficou tão corriqueiro como assistir à TV, fumar um cigarro, abrir a porta da geladeira, beber, reflexivamente, um copo d'água, ou até mesmo acompanhando uma cervejinha, ou até mesmo um uisquinho - por que não? -, ou um baseadinho - naqueles dias cansativos, que so se pensa em relaxar - podendo, muitas vezes, substituir os que só citei escrever como acompanhamento. Escrever, acho que posso assim dizer, acabou por ser minha alienação. A maior delas! Escrevo mais do que vejo TV, mais do que leio, mais do que estudo, mais do que fodo; Estou trocando um cinema por ficar em casa escreverndo! - e fumando. A escrita está acabando com a minha vida, tem me tirado o sono: fico pensando nas frases iniciais dos textos, que ficam latejando na minha cabeça, compulsivamente, até que eu escreva. Antes eu conseguia dormir, não pensava a todo momento em coisas escrevíveis, não tinha tópicos frasais latejando em minha mente a todo momento, inclusive antes de cair no sono. Agora? Ih, agora tudo tem seu lado "na ponta do lápis". Antes eu era feliz, não sentia vontade de escrever que sinto: conseguia ficar sem nada para fazer fazendo alguma coisa qualquer, ou não. Agora só escrevo. Nada para se fazer? Nunca, escrever. Mas o que faria eu nessas horas em que não se faz nada? Pelo menos eu faço alguma coisa. E pelo menos é escrever, registro coisas para outras gerações! É inclusive muito valorizado no mercado de trabalho! - típica linha de raciocínio de quem descobre o vício e racionaliza meios para mantê-lo, no meu caso, é minha racionalização da resposta química à minha vontade de parar de escrever.

Passado/Presente

É incrível como o passado evoca e traduz sentimentos que, da brasa, com um simples reavivar da memória, transformam-se em fogo, capaz de destruir muitas conexões e deixar muitas tristezas presentes.

sábado, 27 de outubro de 2007

O Outro Lado

Deixava, sempre que podia, o tempo passar, sozinho, sem que fizesse nada, só observasse, como se aquilo fosse tudo o que podia fazer e fazendo aquilo como se fosse o melhor de todos os apenas observadores que existiam na terra dos observadores. E via detalhes, profundezas, tomava parte de mais coisas do que aqueles que agiam dentro da realidade. Aqueles que agem só agem, só vivem, só sentem, nao compreendem, nao entendem, nao sabem de nada, sao apenas sensíveis. Coitados, pensava, nao queria ser de jeito nenhum como um daqueles, apreciava muito o fato de ser um ser imparcial, e nao entendia como que pudesse haver humanos que gostassem tanto de apenas sentir. Muito menos entendia os seres que eram imparciais que queriam desesperadamente sentir. E isso era só naquele momento, em que deixava o tempo passar, sozinho, sem controlar nada, só naquele momento era possível parar e ser e estar e existir, não sentir.

Meu Tempo

Algo que não consigo compreender é como é possível haver pessoas que encontram realmente alguma doutrina – como uma crença, uma religião, uma ideologia política ou filosófica previamente apresentada por algum outro sujeito – que esteja exatamente no shape dos conceitos e juízos, a posteriori e a priori, que ela tenha desenvolvido ao longo de sua vida. A individualidade, preceito básico da nossa sociedade antropocêntrica, liberal e capitalista, nunca é respeitada de maneira decente quando se determinam hábitos, concepções, posturas, interpretações. Onde não há contemporaneidade – fator nunca respeitado pelas doutrinas, visto que se baseiam em pontos de vista já estabelecidos em tempos passados, não passam de tradições – não é possível que haja a completa aceitação do indivíduo por algo extremamente superficial e objetivo. A nossa era carece de respeito individual, de aprofundamento nas questões do sujeito e de preocupação única e exclusiva com o presente, sem apegos ao passado nem idealizações do futuro.

Agir - Reagir

Mais uma vez, vem o tédio me forçar a agir. É estranho, porque não ajo por ter o que fazer, é justamente o contrário: por não ter o que fazer, vem uma agonia, uma raiva, um negócio que parece que sobe quente e desce frio, que me faz andar de um lado para o outro, tomar banho, fumar, dormir mais um pouco, ligar a televisão, beber dois copos imensos d'água e depois, voltar à frente do computador, onde já tinha tentado solucionar o problema do tédio antes, para tentar ver se alguma coisa de novo havia acontecido no mundo cibernético. Porra nenhuma, diga-se de passagem. Aí, como quem não quer nada, acabei tendo que fazer com que alguma coisa, por mais banal que seja, por mais que não interfira na vida de ninguém, nem na Ordem Mundial, nem nas órbitas dos planetas, nem mesmo no meu movimento peristáltico, para ver alguma coisa mudar. Mudei, escrevi, acrescentei alguma coisa a algo, mesmo que pouquíssimos vejam, mas mudei de fato alguma coisa. Acho que era disso que precisava, não precisava mudar o mundo, precisava apenas agir de alguma forma, mesmo que agir me remeta a alguma grande ação. Dessa vez, como na maioria delas, foi apenas uma pequena, pequenina, diminuta, imperceptível, contudo atenuadora, ação.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Santo Sapo

E lá estava o sapo, na mata atrás aqui de casa, não sei se mais uma vez ou se era a primeira vez que circulava por essas bandas, pulando pela pedra, parecia fugir do sol. Olhando mais ao redor, não era mais possível ver o sapo, era possível ver toda a mata, verde, sobre a pedra cortada para a construção de alguma coisa (no caso o Corte do Cantagalo e o prédio aonde vivo), mas que se mantinha aqui, viva, com um sapinho inclusive, recebia sol, que iluminava as plantas, devia ceder calor para o sapo, que pulava, não mais sob minha vista, à procura de nada, talvez de um alimento, talvez apenas fugindo do sol, certamente sendo apenas sapo.

Mantendo o mesmo pano de fundo, a mata aqui atrás, com o sapo e as plantinhas e o sol e a pedra e etc, imaginei, que da janela do escritório, eu poderia filmar um documentário para o Discovery Channel. Foi só esse pensamento surgir que, junto com ele, surgiu uma borboleta, bonitinha, que voava de um lado pro outro. Não era preciso ir muito longe para buscar os encantos da natureza, sua beleza, nem mesmo suas leis mais obrigatórias. Parece mentira, mas o sapo, que já não estava mais ao alcance da minha vista, ressurgiu (tenho certeza de que era o mesmo) e trucidou a borboleta branquinha. Esperto esse sapo, já estava à espreita, observando o andar da carruagem, esperando o momento certo da borboleta surgir para atacá-la. Mas, ao ver o sapo pela primeira vez, não vi a borboleta. Vi apenas o sapo indo para a sombra. Embora tenha sido tão empolgado ao discursar sobre a previsibilidade do sapo, acho que é praticamente impossível que ele tenha calculado o ataque. Não estou tirando o mérito de grande caçador do sapo, de modo algum, acho inclusive que ele tem um mérito muito maior. O que deve ter acontecido, embora nunca possa saber ao certo (a velha e odiosa máxima mais uma vez presente aqui conosco), é que o sapo deve ter aproveitado o momento que a borboleta passou e deu o bote. Talvez por uma razão instintiva, o sapo já soubesse o melhor lugar para se posicionar caso aparecesse alguma presa possível ou alguém possível predador.

E esses instintos, tão presentes no mundo animal, não possivelmente controlariam todas, irrestritamente, as espécies animais? Se dizem que o homem não age instintivamente, eu tenho que me forçar um pouco para não rir. O que procurava o sapo ao entocar-se à sombra, num lugar seguro e propício para o seu ganha-pão? Procurava a sobrevivência. Talvez estivesse ele entediado, parado lá embaixo de uma folha, esperando, sempre esperando, como se nunca fosse morrer. E nós, ilustríssimos humanos, o que fazemos ao entocarmo-nos em nossas casas? Qual casa preferimos, aquela que nos proporcionará mais seguridade a nossas vidas, mais conforto, mais limpeza, mais cara, o que mostraria a nossa segurança para nós mesmos e para os nossos semelhantes, que olharão e verão a grandeza, a riqueza, a segurança, tanto para ele quanto para seus descendentes; a casa que é mais perto do trabalho, a nossa forma de caça. O que é que queremos, ao juntarmos dinheiro, ao pagarmos o melhor plano de saúde, a melhor escola para os filhos, a melhor roupa? Não estaríamos lutando pelas mesmas coisas, apenas mais profundamente, que o nosso amiguinho sapo que come a borboleta? Não estaríamos fugindo da dor física, que nos remete a morte por termos ciência dela e do processo pelo qual ela pode vir a se sobrepor a nós? Não estaríamos, ao demonstrar segurança, querendo a manutenção de nossos pares de acasalamento, suscitando no par, assim, a possível certeza de que os descendentes estariam seguros, não seria uma busca pela manutenção da espécie? Mas que macacada boa somos nós.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Um Chopp

Das coisas mais engraçadas que acontecem na vida cotidiana, o tédio após a execução de todas as aflições computadoreanas - recados no orkut, checar o e-mail, procurar comentários no blog - é a mais contemporânea de todas. Depois de todas as execuções, surge uma vontade estranha de fazer algo, mas tudo o que havia para ser feito já foi feito. Esse tédio era, normalmente, sobreposto por um ret pós-trabalho. Sem esse ret, o tédio, depois de muito tempo no calabouço que os entorpecentes o prendiam, emergiu essa tarde. E, para solucionar o problema do tédio foragido, que espalha medo por todos os lugares onde passa, tal monstro que é, precisei encontrar o tédio, ou melhor, identificá-lo na multidão de sensações (demônios sempre se disfarçam de castos), por aí e enjaulá-lo novamente, pelo menos por enquanto, até transportá-lo para o calabouço dos entorpecentes, que está passando por uma reforma depois da fuga. E essa foi a jaula que utilizei, tudo bem que meio improvisada, mas até então está dando pro gasto. Acho que Schopenhauer estava certo ao dizer que o homem está preso a um pêndulo que vai da dor ao tédio, a única coisa que eu acrescentaria era o ponto mais baixo, da euforia, momentânea, que seja, mas algo um pouco semelhante à felicidade, que, eu sei, dura pouco, pouquíssimo tempo, mas sua intensidade compensa toda uma vida.