Pensando-se na totalidade do trabalho produzido
historicamente, o usufruto do seu resultado pelos detentores do maior estoque
de equivalente geral de troca (dinheiro) é uma função invertida da expropriação
vital. A falta abstrata, que a despossessão de dinheiro representa, é a emulação da sua feição positiva, sendo a
vivência expropriada uma necessidade econômica da geração material do seu
produto-epítome: o gozo do dinheiro. Em sentido semelhante, o desenvolvimento geo-histórico das necessidades de vivência resulta em mensagens
informacionais que acabam por ser resgatadas pela capacidade produtiva como possibilidade
de realização de gozo, em abstrato. Como
a estrutura de acumulação é piramidal e orientada para o futuro, aquilo de que o topo da pirâmide
desfruta é o agregado socio-histórico das vivências circunstanciais tornadas mensagens de troca econômica.
As possibilidades de vivência são expelidas de maneira passiva, ou
melhor, são drenadas tacitamente pela dinâmica própria de expropriação vital
que o regime de trocas pelo dinheiro produz. As subjetividades produzidas sob
esse sistema de recompensas desbalanceado estão, a todo o tempo, argumentando silenciosa e inconscientemente pelo seu próprio desejo, sobretudo por causa da constatação da morte, âncora absoluta da materialidade vital. O ponto de vista subjetivo emerge
como perceptor sensível do
desbalanceio, assumindo os sentimentos uma dimensão eminente na sintomatologia do déficit vital. A forma abstrata da geração de valor que o sistema
de trocas por um equivalente geral cria permite uma palpitação delirante das “necessidades
de gozo”, como uma "volubilidade crítica" que pode ser identificada e retrabalhada por qualquer dispositivo
exterior que se proponha a cooptá-la. A vivência, em seu sentido
trágico, portanto, é um “momento vital”, uma expressão do seu posterior desdobramento
desalienado, que seria a vivência-constância, a vivência em seu “sentido
socrático”.
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