Hoje eu quero ser fascista, darwinista e determinista. O aquecimento global não deve ser levado a sério, e isso o governo americano faz muito bem. Por que? Ora, porque eles são muito cristãos - protestantes! -, porque eles têm formação cultural influenciada pela ethos alemã (logo após a proclamação de independência, houve um plebiscito que decidiria se o idioma americano seria o inglês ou o alemão - espaço vital e destino manifesto, algo em comum?). O aquecimento global vai selecionar somente os bons: é o apocalipse que a bíblia descreve tão bem, e todos os maus, ou seja, os pobres do mndo interio e os africanos vão morrer.
Através do aquecimento global, o mundo vai ficar mais seleto, vou me sentir alguém melhor e por isso eu acredito nele - só vai sobrar a elite do mundo: vou continuar comprando todos os meus produtos poluidores e vou continuar sendo esse burguesinho de merda.
domingo, 31 de agosto de 2008
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
espalmadas na parede chapiscada
Agora já passou algum tempo.
Mas quanto mais se pensa em si, mais se sente a própria vida.
Depois de falar e falar e falar, gesticular, olhar no fundo daqueles olhos verdes e não sentir mais os pensamentos, só atropelar gaguejadas palavras com mãos inquietas e caretas explicativas, escutei algumas perguntas, algumas ponderações, alguns encaminhamentos e comecei a fazer sentido, sem que as caretas nem os gestos fossem tão mais necessários para o entendimento. Levantei, porque era hora e a campainha já tinha sido tocada, conversei sobre o pagamento e me despedi.
- Então, eu esqueci de trazer o pagamento do mês passado, aí eu trago semana que vem dos dois meses juntos - eu iniciei o assunto.
- Ok. É, isso mesmo - prosseguiu ela ao mesmo tempo em que eu terminava minha fala - acabou que os pagamentos ficaram trepados! Olha que engraçado a palavra que veio! - ela só podia ter estudado Freud a vida toda. Me dirigiu até a porta. Quem tinha chegado com a campainha estava no banheiro e uma pasta, que devia ser sua, estava na cadeira.
- Tchau, até quinta! - dissemos os dois, ao mesmo tempo. Virei, a porta fechou.
Como sempre, saí pelo corredor batendo com a mão espalmada na parede chapiscada do corredor daquele prédio comercial em Copacabana e suspirei fundo ao som do pensamento simbólico ‘tiro na cabeça’. Um enjôo me perseguia – lembranças de Sartre. Desemboquei no hall dos elevadores, eram dois.
Os dois elevadores passaram direto o andar onde eu estava. Sozinho, as figuras recém surgidas naquela sala da qual acabara de sair fervilhavam. Eu era uma metade do partido Andrógeno de Prometeu. Eu buscava amor em todas as suas formas, eu queria o brilho. Eu andava de bicicleta com meu pai aos 8 anos de idade e queria ser dono do Copacabana Palace. “Cuidado com os sonhos altos, você pode se frustrar quando ficar mais velho” era, sim, aos 8 anos que eu ouvia isso tanto do meu pai como da minha mãe. E o elevador chegou, o social, o que tem um espelho. Lancei um chiclete. Estômago?
O caminho para casa era um tanto quanto longo e eu pensava e sentia muito e ia a pé. A cada passo eu pensava, eu sentia e eu queria sentar e escrever. Toda essa história de amor não recebido, de amor procurado, de dependência do riso e do aplauso. Aquele caminho de sempre, as muitas pessoas variadas da Avenida Copacabana e eu e a minha mochila sacolejava. O barulho do ônibus parando, tsss, andando, seu carburador soltando a fumaça que eu nem via, mas imaginava, só pelo barulho do ronco. O céu me dizia que era noite e as luzes acesas me diziam de mim. Eu, sentado no sofá da sala, conversando com meu pai que não ouvia minhas poesias, nem minhas reflexões metafísicas. Falava dele, do Direito dele, da sua Jurisprudência e os dogmas e mais dogmas e mais dogmas do seu Direito, que enclausuravam, encaixotavam, acachapavam meu amor Filia. O enjôo.
Eu parei no sinal da Barata Ribeiro com a Bolívar. A mulher ao meu lado, eu olhei, era feia e me olhou nos olhos – continuava muito feia. A faixa de pedestres atropelada pelos carros, pois o sinal estava verde, e lá do outro lado, a calçada do meu caminho que continuava. Mais roncos, mais ônibus, mais carros. Gosto de fumaça na boca. Aquecimento global? Meu estômago não desembrulhava de jeito nenhum. Eu tinha meus 14 anos, na casa de umas pessoas apenas conhecidas, sentado no braço do sofá, vendo um filme na televisão muda para que se pudesse conversar, o qual ninguém se interessava – e eu ria. Nesse mesmo dia, eu discuti gritando minhas ideologias com quem me ridicularizava.
Só voltei a olhar para o mundo na pracinha da frente de casa. Moderna, haviam acabado de construir o metrô ali. Lembrei-me do que não era da conversa da sala dos olhos verdes, lembrei-me da vida não-minha. A vida, além de tudo isso, ainda é se sentir bem. Mascava o chiclete e a Náusea bombava. Passo, outro passo, latejava na minha mente, outro passo, o amor que eu não tinha, mais um passo, e a vida que eu vivia, mais outro, minha casa que não chegava para eu escrever – eu mascava e mascava arritmado o Trident. Meu amor era Eros, por isso eu dependia dele.
Um degrau e o outro, uma perna e depois a outra. Subi os dois degraus que antecipavam a porta do prédio e subi pelo elevador de serviço. A chave, ao chegar no meu andar, não estava no esconderijo de sempre, um pequeno susto que a rotina me deu, mas estava na mochila. Entrei, casa vazia, fui para o banho. Eu tinha falado para a moça dos olhos verdes, eu estava me sentindo sujo, oleoso, mal-tratado por mim mesmo. Como de prache, a masturbação. Dessa vez mais rápida e mais espontânea que o normal – será que eu estava com vontade? Gozei rápido e no mesmo instante soltei meu pau. Aturdido. Mas fiquei sentado ainda um tempo com o chuveiro caindo água na minha nuca, que escorria pela barriga, pela púbis, pelos pentelhos sujos do esperma; a água escorria pela ponta do meu nariz – minha cabeça estava baixa. Shampoo, sabonete, foi tudo passado de uma vez só, o que não era o normal. Estava me limpando do meu calor, tirando meu óleo, estava limpando o meu esperma, estava ensaboando o meu Eros.
A porta do box escorregou para o lado pelas minhas mãos, que puxavam a maçanetinha. Eu pisei no tapete do banheiro e puxei a minha toalha, branca. Me sequei, esfregando bem a cabeça, e me enrolei na toalha, segui para o quarto, sentei na minha cadeira verde e velha de plástico e comecei o que já era plano desde o primeiro elevador: escrever, mesmo que já tivesse passado algum tempo desde que os olhos verdes me olharam da última vez.
Mas quanto mais se pensa em si, mais se sente a própria vida.
Depois de falar e falar e falar, gesticular, olhar no fundo daqueles olhos verdes e não sentir mais os pensamentos, só atropelar gaguejadas palavras com mãos inquietas e caretas explicativas, escutei algumas perguntas, algumas ponderações, alguns encaminhamentos e comecei a fazer sentido, sem que as caretas nem os gestos fossem tão mais necessários para o entendimento. Levantei, porque era hora e a campainha já tinha sido tocada, conversei sobre o pagamento e me despedi.
- Então, eu esqueci de trazer o pagamento do mês passado, aí eu trago semana que vem dos dois meses juntos - eu iniciei o assunto.
- Ok. É, isso mesmo - prosseguiu ela ao mesmo tempo em que eu terminava minha fala - acabou que os pagamentos ficaram trepados! Olha que engraçado a palavra que veio! - ela só podia ter estudado Freud a vida toda. Me dirigiu até a porta. Quem tinha chegado com a campainha estava no banheiro e uma pasta, que devia ser sua, estava na cadeira.
- Tchau, até quinta! - dissemos os dois, ao mesmo tempo. Virei, a porta fechou.
Como sempre, saí pelo corredor batendo com a mão espalmada na parede chapiscada do corredor daquele prédio comercial em Copacabana e suspirei fundo ao som do pensamento simbólico ‘tiro na cabeça’. Um enjôo me perseguia – lembranças de Sartre. Desemboquei no hall dos elevadores, eram dois.
Os dois elevadores passaram direto o andar onde eu estava. Sozinho, as figuras recém surgidas naquela sala da qual acabara de sair fervilhavam. Eu era uma metade do partido Andrógeno de Prometeu. Eu buscava amor em todas as suas formas, eu queria o brilho. Eu andava de bicicleta com meu pai aos 8 anos de idade e queria ser dono do Copacabana Palace. “Cuidado com os sonhos altos, você pode se frustrar quando ficar mais velho” era, sim, aos 8 anos que eu ouvia isso tanto do meu pai como da minha mãe. E o elevador chegou, o social, o que tem um espelho. Lancei um chiclete. Estômago?
O caminho para casa era um tanto quanto longo e eu pensava e sentia muito e ia a pé. A cada passo eu pensava, eu sentia e eu queria sentar e escrever. Toda essa história de amor não recebido, de amor procurado, de dependência do riso e do aplauso. Aquele caminho de sempre, as muitas pessoas variadas da Avenida Copacabana e eu e a minha mochila sacolejava. O barulho do ônibus parando, tsss, andando, seu carburador soltando a fumaça que eu nem via, mas imaginava, só pelo barulho do ronco. O céu me dizia que era noite e as luzes acesas me diziam de mim. Eu, sentado no sofá da sala, conversando com meu pai que não ouvia minhas poesias, nem minhas reflexões metafísicas. Falava dele, do Direito dele, da sua Jurisprudência e os dogmas e mais dogmas e mais dogmas do seu Direito, que enclausuravam, encaixotavam, acachapavam meu amor Filia. O enjôo.
Eu parei no sinal da Barata Ribeiro com a Bolívar. A mulher ao meu lado, eu olhei, era feia e me olhou nos olhos – continuava muito feia. A faixa de pedestres atropelada pelos carros, pois o sinal estava verde, e lá do outro lado, a calçada do meu caminho que continuava. Mais roncos, mais ônibus, mais carros. Gosto de fumaça na boca. Aquecimento global? Meu estômago não desembrulhava de jeito nenhum. Eu tinha meus 14 anos, na casa de umas pessoas apenas conhecidas, sentado no braço do sofá, vendo um filme na televisão muda para que se pudesse conversar, o qual ninguém se interessava – e eu ria. Nesse mesmo dia, eu discuti gritando minhas ideologias com quem me ridicularizava.
Só voltei a olhar para o mundo na pracinha da frente de casa. Moderna, haviam acabado de construir o metrô ali. Lembrei-me do que não era da conversa da sala dos olhos verdes, lembrei-me da vida não-minha. A vida, além de tudo isso, ainda é se sentir bem. Mascava o chiclete e a Náusea bombava. Passo, outro passo, latejava na minha mente, outro passo, o amor que eu não tinha, mais um passo, e a vida que eu vivia, mais outro, minha casa que não chegava para eu escrever – eu mascava e mascava arritmado o Trident. Meu amor era Eros, por isso eu dependia dele.
Um degrau e o outro, uma perna e depois a outra. Subi os dois degraus que antecipavam a porta do prédio e subi pelo elevador de serviço. A chave, ao chegar no meu andar, não estava no esconderijo de sempre, um pequeno susto que a rotina me deu, mas estava na mochila. Entrei, casa vazia, fui para o banho. Eu tinha falado para a moça dos olhos verdes, eu estava me sentindo sujo, oleoso, mal-tratado por mim mesmo. Como de prache, a masturbação. Dessa vez mais rápida e mais espontânea que o normal – será que eu estava com vontade? Gozei rápido e no mesmo instante soltei meu pau. Aturdido. Mas fiquei sentado ainda um tempo com o chuveiro caindo água na minha nuca, que escorria pela barriga, pela púbis, pelos pentelhos sujos do esperma; a água escorria pela ponta do meu nariz – minha cabeça estava baixa. Shampoo, sabonete, foi tudo passado de uma vez só, o que não era o normal. Estava me limpando do meu calor, tirando meu óleo, estava limpando o meu esperma, estava ensaboando o meu Eros.
A porta do box escorregou para o lado pelas minhas mãos, que puxavam a maçanetinha. Eu pisei no tapete do banheiro e puxei a minha toalha, branca. Me sequei, esfregando bem a cabeça, e me enrolei na toalha, segui para o quarto, sentei na minha cadeira verde e velha de plástico e comecei o que já era plano desde o primeiro elevador: escrever, mesmo que já tivesse passado algum tempo desde que os olhos verdes me olharam da última vez.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
um presidente eleito
alguns ministros e alguns deputados
alguns senadores, vereadores, prefeitos, governadores.
E seus acessores.
E todos os empregados e encarregados de tudo.
E seus empregados dométicos
E seus filhos
E os professores deles, coordenadores,
inspetores, baleiros do caminho, trocadores
e motoristas dos ônibus que pega
e seus colegas.
E os pais dos colegas
os empregados deles
e toda a malha rodoviária da cidade
e seus projetos ultrapassados de receptamento de esgoto
e as leis e as mamatas conseguidas
o trânsito
a viatura
a ambulância abrindo um vão no meio do engarrafamento
e os carros que vão atrás dela
a Terra, em processo de degradação ambiental, nesse momento gira em torno do sol e de si mesma graças ao Big Bang
Eu estou no meu corpo no meu quarto
alguns ministros e alguns deputados
alguns senadores, vereadores, prefeitos, governadores.
E seus acessores.
E todos os empregados e encarregados de tudo.
E seus empregados dométicos
E seus filhos
E os professores deles, coordenadores,
inspetores, baleiros do caminho, trocadores
e motoristas dos ônibus que pega
e seus colegas.
E os pais dos colegas
os empregados deles
e toda a malha rodoviária da cidade
e seus projetos ultrapassados de receptamento de esgoto
e as leis e as mamatas conseguidas
o trânsito
a viatura
a ambulância abrindo um vão no meio do engarrafamento
e os carros que vão atrás dela
a Terra, em processo de degradação ambiental, nesse momento gira em torno do sol e de si mesma graças ao Big Bang
Eu estou no meu corpo no meu quarto
outro achado do caderno:
"Eu sou o foco maior e não quero mais me dissuadir.
Amigos
Deveres
Prazeres
Dinheiro
Em tudo o que mais importa sou eu
Eu
Eu
Eu
me dá a chupeta, muá, muáááá!!!"
reclamávamos nós, filhinhos únicos da consciência na Terra.
devaneio paralelo:
"derretam logo, calotas polares!
venha logo, maldito Tsunami!"
Amigos
Deveres
Prazeres
Dinheiro
Em tudo o que mais importa sou eu
Eu
Eu
Eu
me dá a chupeta, muá, muáááá!!!"
reclamávamos nós, filhinhos únicos da consciência na Terra.
devaneio paralelo:
"derretam logo, calotas polares!
venha logo, maldito Tsunami!"
Achei isso no meu caderno:
"Do tempo que sobra para mim, para minha introspecção, faço mau uso: durmo. Enquanto poderia estar equacionando temores, refeltindo sobre minhas diretrizes, sobre minhas relações. Mas eu durmo.
E prefiro assim. Antes que mergulhe em extremas profundidades, não me permito. Fico num sofrimento superficial, numa sensação insatisfeita tão sem propriedade que não me julgo digno de lamentar. Não me permito chorar, não reclamo, não faço lástimas, nem discorro sobre, por não ter conhecimento de causa.
Só queria chorar e saber que chorando eu vou saber mais e tudo vai encaminhar-se a dar certo.
PS: tenho me achado muito teen."
E prefiro assim. Antes que mergulhe em extremas profundidades, não me permito. Fico num sofrimento superficial, numa sensação insatisfeita tão sem propriedade que não me julgo digno de lamentar. Não me permito chorar, não reclamo, não faço lástimas, nem discorro sobre, por não ter conhecimento de causa.
Só queria chorar e saber que chorando eu vou saber mais e tudo vai encaminhar-se a dar certo.
PS: tenho me achado muito teen."
O mundo cai esparramado em cima de mim de uma altura de mais de 30 metros. Seu impacto me achata contra o piso de pedras portuguesas da calçada da Atlântica. Eu fico lá, estatelado, com o mundo sobre as minhas costas mais que fraturadas e observo o que há nas ranhuras entre as pedras. Sujeira preta e musgo. Esquecimento e vida nova.
(Uma mãe, moradora do topo do morro da providência, negra, tem um filho, negro.)
O mundo me pede licença grosseiramente e sai como se não tivesse sido com ele. E eu saio andando, todo quebrado, aterrorizado, de fininho.
"Mal-algradecido?"
(Uma mãe, moradora do topo do morro da providência, negra, tem um filho, negro.)
O mundo me pede licença grosseiramente e sai como se não tivesse sido com ele. E eu saio andando, todo quebrado, aterrorizado, de fininho.
"Mal-algradecido?"
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