Partamos da suposição de que
determinado ponto de vista, de que determinada ontologia seja verdadeira. Antes
de nos perguntarmos dos seus pressupostos, de esmiuçarmos os seus princípios –
para podá-los desde o início –, deixemos esse ponto de vista falar. Os seus
voos mais altos, as suas divagações mais absurdas, as suas digressões quase
infinitas, deixemos que tudo isso venha à tona. Façamos isso, agora, com
ironia. Levemos a cabo o maior dos absurdos dos absurdos que venham a derivar
das bases – supostas – dessa ontologia e escutemos com o som ácido do seu
contrário. Finjamos, para nós mesmos, que nós somos o oposto do que queremos
dizer, para dizermos o que queremos, por meio de uma
demonstração ilógica. Em
seguida, avancemos mais no absurdo, a fim de responder, dentro daqueles sérios
pressupostos ontológicos, às próprias críticas que a pura ironia lançou como
verdade, para destruí-la a troco de um deboche; faremos isso com o objetivo de
esgarçarmos, tanto mais quanto possível, o alcance final, as conclusões épicas
desses pressupostos. Restarão as perguntas: a que tudo isso serve? O que
fazer com isso? E podemos continuar, ao infinito, nessa mesma emulação, a fim de fazer testar-se uma hipótese.
Quem sabe, assim, encontremos... alguma seriedade.
Peguemos, então, o ponto de
vista materialista. O que seria, assim, um materialismo absurdo?
Ou, até, um materialismo histórico absurdo? Será que somos capazes de prever um
funcionamente de economia-política e de produção ideológica em uma situação de
supressão da propriedade privada -- trazendo consigo todas as consequências,
como a diminuição do valor conferido ao dinheiro?