quarta-feira, 23 de julho de 2025

O Sentido dos Sentimentos

É certamente mais interessante, embora menos usual, que entendamos os nossos sentimentos, em sua natureza, por meio do sentido posterior que eles tendem a produzir. Se nos perguntamos "por que sentimos raiva?", uma resposta mais eficiente estará relacionada ao sentido final que ela assume. A pergunta deveria ser reformulada para: "sentimos raiva por quê?". Com o caso da raiva, para tirarmos como exemplo, uma resposta possível para essa segunda pergunta seria: para resolver um conflito gerado por algo que nos desagradou. Não precisaríamos, para entender a sua natureza, recorrer aos acontecimentos causadores da raiva, ou ao porquê de aquilo ter causado raiva naquela pessoa, especificamente. Convém responder apenas à pergunta do sentido dos sentimentos. Sendo, assim, capazes, retroativamente, de responder, consecutivamente, às causas do sentimento, veremos que os sentimos para algum objetivo psíquico, se ponderarmos bem: entenderemos o seu significado. As causas, desse modo, explicam-se por seus objetivos. O que é o mesmo que dizer que, se algo antes causou, por exemplo, a raiva, terá sido porque aquilo provocou a raiva por causa do desagrado que gerou, sendo, logo, o sentido dos sentimentos o alívio do desagrado. Torna-se desnecessário pensarmos, por exemplo, na influência dos signos historicamente constituídos sobre o objetivo daquilo que sentimos; ou na falta de precisão fenomenológica dos símbolos linguísticos na elaboração dos sentimentos; ou na impossibilidade de compreender o mundo em termos "isentos". Os recursos simbólicos são, segundo essa abordagem, produtos desses objetivos sentimentais, representando algo mais como instâncias históricas do seu sentido, do que enigmas ou uma realidade paralela ao ser ou mesmo ao ser fenomenologicamente possível, ao ente. Não seríamos, então, a partir disso, mais propriamente aptos a estabelecer alguns alicerces para a construção de uma metodologia sócio-histórica total? Nos moldes do pensado pela escola dos Annales, estaríamos, dessa forma, refinando o seu escopo economicista, para uma compreensão da materialidade histórica da ação humana no seu ponto de vista subjetivo intencional, complexo.

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