É certamente mais
interessante, embora menos usual, que entendamos os nossos sentimentos, em sua
natureza, por meio do sentido posterior que eles tendem a produzir. Se nos
perguntamos "por que sentimos raiva?", uma resposta mais eficiente
estará relacionada ao sentido final que ela assume. A pergunta deveria ser
reformulada para: "sentimos raiva por quê?". Com o caso da raiva,
para tirarmos como exemplo, uma resposta possível para essa segunda pergunta
seria: para resolver um conflito gerado por algo que nos desagradou. Não
precisaríamos, para entender a sua natureza, recorrer aos acontecimentos
causadores da raiva, ou ao porquê de aquilo ter causado raiva naquela pessoa,
especificamente. Convém responder apenas à pergunta do sentido dos sentimentos.
Sendo, assim, capazes, retroativamente, de responder, consecutivamente, às
causas do sentimento, veremos que os sentimos para algum objetivo
psíquico, se ponderarmos bem: entenderemos o seu significado. As causas, desse modo, explicam-se por seus
objetivos. O que é o mesmo que dizer que, se algo antes causou, por exemplo, a
raiva, terá sido porque aquilo provocou a raiva por causa
do desagrado que gerou, sendo, logo, o sentido dos sentimentos o
alívio do desagrado. Torna-se desnecessário pensarmos, por exemplo, na
influência dos signos historicamente constituídos sobre o objetivo daquilo que
sentimos; ou na falta de precisão fenomenológica dos símbolos linguísticos na
elaboração dos sentimentos; ou na impossibilidade de compreender o mundo em
termos "isentos". Os recursos simbólicos são, segundo essa abordagem,
produtos desses objetivos sentimentais, representando algo mais como instâncias
históricas do seu sentido, do que enigmas ou uma realidade paralela ao ser ou
mesmo ao ser fenomenologicamente possível, ao ente. Não seríamos, então, a
partir disso, mais propriamente aptos a estabelecer alguns alicerces para a
construção de uma metodologia sócio-histórica total? Nos moldes do pensado pela
escola dos Annales, estaríamos, dessa forma, refinando o seu escopo
economicista, para uma compreensão da materialidade histórica da ação humana no
seu ponto de vista subjetivo intencional, complexo.
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