terça-feira, 8 de julho de 2008

Me atento para o que me criou.
Minhas tomadas sucessivas de consciência,
minhas moralidades embutidas,
minha condição como humano.
Tudo o que me influenciou
para que agora eu me tornasse
alguém que sabe o que quer ser,
se conseguir,
daqui a um tempo.

domingo, 6 de julho de 2008

Roberto Marinho chegou no céu e logo cumprimentou São Pedro: eram velhos conhecidos. Os santos e as divindades, para quem não sabe, só faz contato com os ricos, essa é a verdadeira razão de se tornar rico.

E como Roberto era muito, muito rico, já tinha dado muitos jantares para muitos santos em sua casa. Se encarregou de ser nome garantido na lista do céu e descobriu como isso era possível. A princípio, todos passam eplo juízo final sob o julgo de Deus. Mas, sabe como é, com o tempo, a coisa começou a se burocratizar. Muita gente começou a nascer e, por conseqüência, morrer. Então, Deus começou a lançar seu poder para algumas pessoas, que se tornaram os santos. Os santos, a partir daí, começaram a exercer seus poderes em setores determinados. E o setor de juízo final, um dos mais polêmicos, Deus resolveu despachá-lo todo para os santos que nasceram na Terra entre os anos 50 a.C. e 250 d.C.

Roberto Marinho, por ser rico, pode conhecer partes do céu. Mas como? Seu capatás, Onorico, descobriu que São Tomé, aquele que só acredita no que vê, estava gostando de ver muitas coisas: havia descoberto as drogas alucinógenas. Onorico começou a preparar-lhe chás de cogumelo, comprar-lhe ácido; Onorico preparava uma viagem à Holanda. Em pouco tempo o hábito se dissipara para outros santos. O não bobo Roberto fez um jantar em sua casa. Comeriam tudo do bom e do melhor, os humanos, e os santos teriam o quanto quisessem de drogas alucinógenas. Mas Roberto era esperto, e como era. botou todas as outras drogas para que consumissem ali. Antes de morrer, Roberto já tinha conquistado seu lugar no céu.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sintetizar

Enrouqueceram os modernistas
como a eles antes enlouqueceram.
E os parnasianos, os realistas e os simbolistas:
todos reeditados ou abafados
e esqueceram de tudo o que haviam clamado,
assim como as mágoas dos românticos ironizaram.
Simplesmente negaram a fuga arcadista
e, do barroco, o antagonismo, inutilizaram.
Os trovadores?
Esses são os velhos mais chatos.

Quero trazer-nos todos os seus gritos e abraços.
Vou comprar suas brigas, seus medos, suas lágrimas.
Vou ver se resolvo logo isso,
essa vida que nos tem a todos motivado.
Atento, atento
a tudo que der e vier.
Não devaneio tão profundamente,
mas até que não desgostaria.

Lento, muito lento:
nada faço para ver em mim a mulher.
Aí não derramo lágrimas afluentes
e ataco do meu jeitinho Bahia.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Sobre o não ativismo

O que sinto, o que sinto, o que sinto
é que me alienei.
Mas não sinto, não sinto, não sinto
se me prejudiquei.

Se o que é, é sentido,
não sei do mal
e, munido da tranquilidade geral,
sou partido enrustido
da paz metabólica animal.

Tenho vida,
Tenho casa
e não me lixo pros outros...
O meu luxo? É pouco!
Não sou rico, não grito,
e não é porque estou rouco -
nem louco!

Culpa,
inércia
ou conspiração.

Versos Humanos ou não

O meu lugar poético
é meu olhar estético
com agravantes ascéticos
de presença humana ocasional.

E por isso eu o procuro,
tateio no escuro,
ou em cima do muro,
ainda cheio do eu-racional.

E assim todo dia eu peço,
não sei se paz ou sucesso,
mas me escaldo em excesso
só de ver outro olhar.

(igualmente aos humanos,
o que sou por baixo desses panos,
é alguém bem mundano - ou profano! -
com um ego a zelar.)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O novo amigo

Ao contrário de como terminou, o início foi algo completamente usual. Havia um grupo de amigos e alguns integrantes daquele grupo ficaram amigos de uma outra pessoa, o que acabou aproximando os outros integrantes do grupo do novo amigo daqueles alguns, que a certa hora já era mais um integrante daquele grupo. Não que ele tivesse deixado de ter outros amigos, tinha outros amigos, muitas fotos com outros amigos, com vários outros amigos e devia ter mesmo, porque não se encontrava ele todo dia, mas isso só no início. Depois de uns dois, três meses os amigos dele, alguns dos das fotos, começaram a aparecer nos mesmos momentos que os novos amigos, pois os novos amigos já freqüentavam-no todos os dias quase; ele começou a mostrar-se meio rapper - soltava umas palavras às vezes desconexas ao som de uma batida -, desenhista, e sempre tinha uma casa disponível, mesmo que seus avós, com quem morava, odiassem a balburdia cotidiana. Aos poucos, os antigos amigos começaram a não aparecer mais.
Sobre o novo amigo, o grupo começou a descobrir coisas. Transtornos psíquicos eram o forte desse recente integrante, tinha alguns: déficit de atenção, crises de pânico, bipolaridade - e tudo era ele mesmo quem contava, algumas coisas para uns, algumas para outros, que se comunicavam e acabaram obtendo as informações por completo. E, por ter todos esses distúrbios, era fato que se medicava. A única coisa que ele falava na frente de todo o grupo era sobre espíritos. Trazia sempre informações novas do centro e tentava convencer o seu novo grupo de muitas coisas que ouvia, mas não dava: eram totalmente ateus, agnósticos, sei la, praticamente desespiritualizados - sem querer fazer o trocadilho.
A partir de certo momento, ele começou a contar, primeiro para uns, depois para os outros, nunca em assembléia, algumas coisas de seu passado. Contou do número de vezes que foi internado, contou as razões para as suas internações e tentou explicar para todos a loucura que ele pensava, relacinava tudo com espíritos - e os caras do centro espírita exaltavam como se ele fosse um enviado. Ele disse que havia sido internado uma vez por ter tentado matar a avó, e nada contou do período de internação. Contou apenas que voltou muito gordo dessa vez, por causa da medicação. Para outro, contou a mesma coisa só que detalhou algo talvez insignificante: havia um quadro em sua sala de um velho magro e esquisito, que ele tinha certeza plena de que seu avô havia pintado ou mandado pintar a imagem dele quando decrepto, cego e louco. O engraçado é que ele contava isso como se estivesse curado.
Tinha dito ser internado 8 vezes ao longo da vida, o que alguns presumiram era que todas as vezes foram durante o mesmo processo de maluquice, outros acharam que foram em momentos diferentes e o cara era muito mais louco do que parecia.
O garoto, depois de ter soltado no colo dos amigos tudo o que era, parecia esperar deles algum retorno, algum tipo de abraço se comparado a algo físico, ou talvez algum tipo de semelhança no novo grupo em que se inseriu. Na dúvida se tinha conseguido, começou a dizer ufanistamente para os novos amigos o quão maravilhoso eles eram. Que sentia como se fossem iluminados, muito diferentes de todos e que, por isso, ele os amava e não queria perdê-los de forma alguma - eram os amigos especiais, muito especiais que ele queria guardar para sempre.
As coisas começaram a ficar realmente estranhas para o grupo. Ele agora tinha uns surtos envolvendo todos. Ele apaixonou-se por uma das meninas do grupo, que não queria nada com ele e por causa disso ele achava que ela o sacaneava muito, que ela queria de alguma forma o seu mal, que ficava fazendo a cabeça dos outros contra ele. Outro surto foi quando ele começou a achar que um dos amigos não gostava dele e só queria explorá-lo de alguma forma louca. Os surtos começaram a ficar muito grandes.
Um dia, depois de algum tempo sem vê-lo, um dos amigos chamou-o, de madrugada, para ir a sua casa, pois estavam 3 do grupo lá e era período de férias. Ele chegaria lá de skate, fumariam alguns baseados, conversariam sobre alguma coisa e depois todos, menos o dono da casa, iriam para suas casa. Depois de um tempo considerável de espera, ele chegou, esbaforido. Contara que seu skate sumiu uma hora, contou que encontrou um velho com um sarrafo com o qual batia no chão quase que diabolicamente, disse ter encontrado um cara que sumiu, mas tudo isso em forma de informações soltas e desconexas. Devia ter aumentado as doses do remédio, ele estava meio estranho, falava enrolado, nunca concluía um raciocínio, parecia estar voltando a alguma maluquice. Ele dizia dessa vez que esse tal grupo eram os grandes amigos dele, que eles eram muito especiais, com todas essas letras.
Fumaram, os 3 assustados, tentando entendê-lo, mostrar-lhe primeiro calmamente depois agressivamente que ele estava surtando, começaram a gritar muito alto e eram mais de 5 da manhã. Ele, que não conseguia dizer nada, começou a mostrar-se irritado, muito, muito irritado. Tentava explicar, tentava e tentava e não conseguia. Foi ao banheiro.
A janela do banheiro era realmente próxima da janela do quarto. Os três confabulavam baixo sobre os surtos do amigo, ele realmente estava louco, comentavam sua loucura como razão dele não se dar bem com os avós, ocmentavam sua loucura em todos as ordens, números e graus. Mesmo que falando baixo, ele ouviu tudo, tudinho.
Saiu do banheiro em silêncio e direcionou-se para a cozinha. Pegou uma faca grande e não hesitou: foi direto para o quarto finalizar tudo. Ele apareceu com uma cara estranha, sentou na cadeira escondendo a faca e, de súbito, esfaqueou 8 vezes suscessivas por trás o que estava sentado no computador. Os outros dois, em desespero começaram a gritar e tentaram sair do quarto. Ele foi atrás. Antes que saíssem do apartamento gritando e os vizinhos aparecessem apreensivos, uma facada atingiu a perna de um.
Saíram correndo pelo prédio, gritando, mas ele já havia parado. Fora na porta do apartamento que ele estava e onde ficou até que chegasse a polícia.
A família do jovem morto, que era o dono da casa, ficou desesperada, mas, enfim, o filho morreu e, da morte, ninguém volta, e tudo dela que havia morrido com o filho acabou voltando à vida.
O garoto, o louco, o amigo assassino, se é que isso é possível, foi internado de novo, talvez para nunca mais voltar. Todos souberam que ele havia matado alguém, todos aqueles amigos das fotos que haviam se distanciado dele no momento certo, quando passaram a bola para outros, aterrorizaram-se com a história, tinham um amigo assassino, apesar de pensarem também o que teriam feito para que o louco surtasse, se é que fizeram.
Sua avó, depois do enterro, ligou para um dos amigos, que não os que estavam na cena do crime, e pediu desculpas e disse que ele tinha problemas, que ele já devia ter-nos contado todos os seus distúrbios e suas epopéias lunáticas - o que ele tinha realmente feito - e falou uma coisa que solucionou a equação dos motivos pelos quais ele havia matado um deles e tentado matar os outros dois:
- Ele tem déficit de atenção, bipolaridade, crise de pânico e transtorno de impulsividade.
Dessa última ninguém sabia.