1.
o mundo é uma merda
e sempre foi
mas é merda acumulada
que cala
acumulou tudo
tanto que eu já sei que você vai falar
sobre isso,
filósofo...
2.
acumular aumenta o abismo
todo mundo quer acumular
será que o Marx fala disso?
Todos eles sempre falam das mesmas coisas
tenho que lê-los
pra melhor sabê-los
só que vou deixando acumular
aí já viu,
acumlar aumenta o abismo
3.
acumular como acumula o acúmulo
e nós que nos sucedamos a tal ordem
porque providos ou não de limites
o mundo ainda assim vai mudar
todas as suas formas de mundo
é o cúmulo!
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 29 de julho de 2009
depois de bater um pratão:
senta-se à tv
o que falta acontecer?
os canais não anunciam nada
(quantos canais de crente!)
levanta e não conta as passadas
muito embora seu olhar pro chão
aparente
e vem ao quarto
um cubo suspenso, presente do parto
onde nada ainda anda, é tudo parado
é engraçado
deitar-se na cama
dormir pra não esperar
senta-se à tv
o que falta acontecer?
os canais não anunciam nada
(quantos canais de crente!)
levanta e não conta as passadas
muito embora seu olhar pro chão
aparente
e vem ao quarto
um cubo suspenso, presente do parto
onde nada ainda anda, é tudo parado
é engraçado
deitar-se na cama
dormir pra não esperar
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Brasília só me diz uma coisa: nós somos uma grande fazenda, como já relatou Chico, totalmente modernizada. Zootecnia, Embrapa, Ministério de Desenvolvimento Agrário, José Sarney e família. E a gente lá, no Rio, sambando pra Mangueira, cumprimentando o Lula na tribuna, só porque ele era um boi magro da fazenda em tempos rudimentares. O boi engordou, sob a pena de perder um dedo (ninguém sabe direito por que era preciso arrancar-lhe o dedo, mas era uma técnica das mais modernas; foi no tempo das modernizações que seu dedo se foi...), e a gente o escolheu, quando mais bonito, vitelo crescido, barba feita e sorriso no rosto. Sei lá...
quarta-feira, 15 de julho de 2009
na surdina
Eu estava voltando de táxi de uma noite dessas aí e passei pela Lagoa na maior chuva... Experimente observar isso vindo do Rebouças em direção a Copacabana pela Epitácio Pessoa numa madrugada, rua vazia, de temporal. O jóquei estava todo iluminado e eu via a cidade preenchida pela chuva, pelo cinza meio roxo da chuva, os prédios erguidos, algumas de suas luzes acesas, os postes inabaláveis, e a chuva caindo escondendo ipanema, o dois irmãos, o cristo, o leblon... Era como se o espaço estivesse mais denso e não se pudesse ver além, como se pode num dia de sol; a cidade estava com mais cara de cidade. Eu via isso com meus próprios olhos e uma sensação incrível se apoderou de mim, como se eu não pudesse escrever aquilo, não seria o formato exato da expressão. Não sabia ao certo o que aquilo causava em mim, só uma sensação incrível, nova, com sua estética, plástica a seu modo, num novo formato de apresentação que não correspondia a imagens, nem eu devia reduzi-la a uma delas. Eu não conseguia nem vislumbrava meio nenhum pelo qual eu pudesse expressar aquilo, que parecia tão longe das palavras, das imagens, da arte, tão oco delas, tão oco se tornado elas; e aquilo tudo era tão diferente, asfixiante mesmo pra mim, pra quem foi feito para transformar em palavras o que vê; eu não podia, não podia escrever, nem pintar, nem fotografar, porque eu só via a chuva cair roxa cinza sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas e seus arredores, era só isso, e era o que mesmo? Era e não era só isso. Mas era preciso marcar aquilo de alguma forma, porque era novo, porque aquilo eu quis categorizar como belo, porque não poderia ficar pra trás, perdido na memória falha, porque o calar da madrugada parecia querer deixar aquele momento na surdina, talvez porque as mãos humanas fossem muito pouco... mesmo na madrugada, na chuva, na surdina, eu vi e não resisti. Eu sinto muito e espero perdão, como um poeta sempre se esforça em fazer...
terça-feira, 14 de julho de 2009
cuidado com poetas - ratificando
Como eu bem disse uma vez, o poeta é mesmo um perigo. É inegável que ele seja uma má influência. O poeta finge que não vê certas situações que ele cria com seus olhares tortos, dissimula-se, age diferentemente do que escreve; age como se nada estivesse fazendo, quando na verdade está criando motivo pra seu texto, veladamente, e só o que se percebe, se não é-se malandro o suficiente para pegá-lo no flagra, é um incômodo, como um mal-estar de uma cólica, uma vontade estranha de ir pra casa. Eu tenho medo de estar sendo demasiado desconfiado dos poetas, mas é bem do seu tipo tornar pequenas situações grandes acontecimentos, meomráveis, trágicos ou homéricos, ou até românticos, cômicos ou pejorativamente realistas. O poeta, nas situações cotidianas, é o desgraçado que sempre olha de um jeito incompreensível, mas que rapidamente foge o olhar por respeito ou medo. O poeta é que cria a viagem toda: a sua áurea traz para o mundo aquilo que não existia antes, ele traz o foco numa só situação, a que vai dramatizar, poetizar. Em vez de viver a vida como todos os normais, o poeta vive catando, escolhendo nas situações aspectos, que transofrmará em texto - transformará em texto tudo aquilo que passou pelos outros como uma faísca, mas que o poeta pega a cauda do fogo e observa o corpo e seu movimento. O poeta, para poder ter o que falar, é capaz de ter um olhar tanto microscópico como telescópico. Ele desvia pra sua percepção de mundo a realidade. A presença do poeta, assim como aquilo que reporta, reverbera energia do mais puro irreal, é o mais puro drama, é a mais pura poesia; que ele finge não estar vendo na hora que vê e que todos veem que ele criou - ele finge o tempo todo! É preciso sempre levar isso em conta ao se admirar uma obra poética e ao se conviver com um poeta: ele pode tragar-te para seu mundo fantástico e abstraído - e por que não abstrato? A vontade metafísica do poeta, de ficar falando de aspectos em si mesmos, já que é impossível que a linguagem abranja a totalidade, nos transmite, com a maior cara de pau, nada mais que uma falsidade, uma mentira, mal contada, que, se averiguada, pode ser rebatida com outra; e aí se prova a mentira de todos os lados do poliedro. A metafísica morreu porque o homem matou Deus. O homem macaco, nós, e a necessidade de não cairmos mais na lorota dos plasticismos da poesia, seja dramática, romântica, homêrica, cômica, realista, construtivista... A poesia deve ser vista apenas como a vontade do poeta, falsa, sempre com vontade de poder, de afirmar sua autoridade, sua verdade; deve ser encarada, como em tempos de democracia, como um interesse. E como numa bela democracia, quanto mais plástico, quanto melhor a aparência e a propaganda, melhor a poesia, mais convincente é - e é por isso que modelos existem... A poesia é uma malícia do indivíduo, é uma maldade do poeta, um obcecado por olhares que confirmem as suas vontades como algo comum, o poeta moraliza, sim, e por isso o poeta nunca atinge a todos: há os que não são tão otários, tão iludidos, tão mal-amados, tão fracos-e-oprimidos, que sabem perfeitamente do que ele é capaz e sabem se defender e sabem também que a vida não pode ser só estética e poesia... Não, a vida é muito mais que uma sensação de cena de filme. Cuidado com eles...
domingo, 12 de julho de 2009
Ciência e fé, me desculpem os enganados, são duas questões de crença. Na fé é muito fácil de perceber, então nem vou me prolongar; mas na ciência, a tal da tal que, toda toda, se propõe a se propor a descobrir a descoberta e não a crer, também se tem uma forma de acreditar, não mais que isso. Talvez aqui seja importante lembrar Weber: a ciência apenas desencanta o mundo, e percebemos, tão tardiamente, que não são seres místicos e maravilhosos ou onipotentes que governam o planeta, guiam as rédeas e riem das nossas caras. Na ciência, além do conhecimento ser segmentado, como uma divisão do trabalho, sendo assim impossível que um homem conheça sobre tudo o que foi produzido, é, ainda, mais do que comum que teses e teses e mais teses sejam quebradas e refeitas ao avesso, e isso também atinge as objetivissíssimas ciências naturais (temos aí a física quântica, game over, rá! - lembram-se de Thomas Green Morton e de Uri Gueller e de toda a viagem paranormal, com direito a padre, o quevedo, e a matéria no fantástico? Não que eu creia, mas para uns isso é suficiente para não crer na ciência! Rá!). Elas, a ciência e a fé, diferenciam-se num quesito a que damos muita relevância: o número de informações reportadas sobre cada processo, a especificação. Fé é apenas um grau maior de miopia, porque ver ainda continua sendo estarrecedor.
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