terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A motivação de superação do capitalismo não pode ter morrido junto com o fim da URSS em 1991. Se antes o socialismo soviético, isto é, a existência real de um socialismo, motivava ainda mais a crítica ao sistema, além de dar suporte ideológico e organizacional aos comitês dos partidos, garantindo minimamente um norte na luta conta o capitalismo, a queda do muro de Berlim e a instituição da Nova Ordem Mundial deixaram misturar-se com o capitalismo e o liberalismo todas as formas de luta contra o capitalismo tidas como dissidências dentro da esquerda. A falta de liberdade do regime soviético, como argumento básico para que se lhe acusasse de conservador, era rebatida, por esses dissidentes do socialismo real ou do marxismo-leninismo, com crítica ao sistema econômico capitalista: apenas que o faziam distanciando-se, pouco ou muito, da "matriz original" da crítica, que era a URSS. Nesse sentido, algumas informações nos fazem pelo menos crer que o desejo do fim do capitalismo era maior do que o do fim do socialismo soviético, pelo menos por parte das esquerdas. Uma delas é a expressão, em sua teoria, das lástimas do escritor Aleksander Zinoviev durante a década de 1990, seguidamente ao fim da URSS. Zinoviev tinha ficado conhecido no Ocidente por escrever um livro contra o regime soviético, de duras críticas quanto à severidade do stalinismo no que diz respeito à obediência às diretrizes do governo. O que ocorreu com suas teorias, então, a partir de 1990, que passaram a clamar pelo retorno do socialismo no mundo, pela manutenção de uma alternativa ao capitalismo? Se se tratasse de um homem que desejasse o capitalismo, não se pode crer que lamentasse o fim da URSS, mesmo tendo sido expulso dela -- e mesmo não concordando com todas as suas estratégias políticas. Zinoviev, contudo, permaneceu fiel ao seu desejo de fim da ordem capitalista e passou a propor uma reformulação do comunismo internacional, valorizando ainda o papel da Rússia como guia evidente desse processo, sob o direcionamento de outras "vanguardas". Sentimento parecido é o de Volpin, poeta soviético, conhecido por criar o movimento da "dissidência legal". As demandas do Volpin eram muito claras, embora tenha sido mal-compreendido pela elite política decisória soviétiva da épcoa de Kruschev. Volpin não era um anti-comunista, muito menos um anti-URSS. Volpin propunha a introdução de uma discussão que pode aproximar-se do que no ocidente se desenvolveu sob a alcunha de Direitos Humanos. Segundo o poeta, a URSS deveria gerar uma solução de dentro para os seus próprios problemas de inconformismo interno -- e, nesse sentido, sua proposta parece dirimir as críticas pós-estruturalistas ao marxismo e ao socialismo. Ele queria, em outras palavras, a continuidade do projeto socialista soviético, ele não desejava o retorno ao capitalismo, ele acreditava na superação do capitalismo, só que ele desejava o aprimoramento interno das questões civis na URSS, talvez como um desdobramento histórico mesmo do processo.