quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Cúmulo!

1.
o mundo é uma merda
e sempre foi
mas é merda acumulada
que cala
acumulou tudo
tanto que eu já sei que você vai falar
sobre isso,
filósofo...

2.
acumular aumenta o abismo
todo mundo quer acumular
será que o Marx fala disso?
Todos eles sempre falam das mesmas coisas
tenho que lê-los
pra melhor sabê-los
só que vou deixando acumular
aí já viu,
acumlar aumenta o abismo

3.
acumular como acumula o acúmulo
e nós que nos sucedamos a tal ordem
porque providos ou não de limites
o mundo ainda assim vai mudar
todas as suas formas de mundo

é o cúmulo!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

depois de bater um pratão:
senta-se à tv
o que falta acontecer?
os canais não anunciam nada
(quantos canais de crente!)
levanta e não conta as passadas
muito embora seu olhar pro chão
aparente
e vem ao quarto
um cubo suspenso, presente do parto
onde nada ainda anda, é tudo parado
é engraçado
deitar-se na cama
dormir pra não esperar

quinta-feira, 23 de julho de 2009

eu quero saber como é possível fugir da ética e da política, se é que é possível. vocês não repararam que qualquer ação do indivíduo relfete sua ética e implica na sua política?
Brasília só me diz uma coisa: nós somos uma grande fazenda, como já relatou Chico, totalmente modernizada. Zootecnia, Embrapa, Ministério de Desenvolvimento Agrário, José Sarney e família. E a gente lá, no Rio, sambando pra Mangueira, cumprimentando o Lula na tribuna, só porque ele era um boi magro da fazenda em tempos rudimentares. O boi engordou, sob a pena de perder um dedo (ninguém sabe direito por que era preciso arrancar-lhe o dedo, mas era uma técnica das mais modernas; foi no tempo das modernizações que seu dedo se foi...), e a gente o escolheu, quando mais bonito, vitelo crescido, barba feita e sorriso no rosto. Sei lá...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

na surdina

Eu estava voltando de táxi de uma noite dessas aí e passei pela Lagoa na maior chuva... Experimente observar isso vindo do Rebouças em direção a Copacabana pela Epitácio Pessoa numa madrugada, rua vazia, de temporal. O jóquei estava todo iluminado e eu via a cidade preenchida pela chuva, pelo cinza meio roxo da chuva, os prédios erguidos, algumas de suas luzes acesas, os postes inabaláveis, e a chuva caindo escondendo ipanema, o dois irmãos, o cristo, o leblon... Era como se o espaço estivesse mais denso e não se pudesse ver além, como se pode num dia de sol; a cidade estava com mais cara de cidade. Eu via isso com meus próprios olhos e uma sensação incrível se apoderou de mim, como se eu não pudesse escrever aquilo, não seria o formato exato da expressão. Não sabia ao certo o que aquilo causava em mim, só uma sensação incrível, nova, com sua estética, plástica a seu modo, num novo formato de apresentação que não correspondia a imagens, nem eu devia reduzi-la a uma delas. Eu não conseguia nem vislumbrava meio nenhum pelo qual eu pudesse expressar aquilo, que parecia tão longe das palavras, das imagens, da arte, tão oco delas, tão oco se tornado elas; e aquilo tudo era tão diferente, asfixiante mesmo pra mim, pra quem foi feito para transformar em palavras o que vê; eu não podia, não podia escrever, nem pintar, nem fotografar, porque eu só via a chuva cair roxa cinza sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas e seus arredores, era só isso, e era o que mesmo? Era e não era só isso. Mas era preciso marcar aquilo de alguma forma, porque era novo, porque aquilo eu quis categorizar como belo, porque não poderia ficar pra trás, perdido na memória falha, porque o calar da madrugada parecia querer deixar aquele momento na surdina, talvez porque as mãos humanas fossem muito pouco... mesmo na madrugada, na chuva, na surdina, eu vi e não resisti. Eu sinto muito e espero perdão, como um poeta sempre se esforça em fazer...

terça-feira, 14 de julho de 2009

cuidado com poetas - ratificando

Como eu bem disse uma vez, o poeta é mesmo um perigo. É inegável que ele seja uma má influência. O poeta finge que não vê certas situações que ele cria com seus olhares tortos, dissimula-se, age diferentemente do que escreve; age como se nada estivesse fazendo, quando na verdade está criando motivo pra seu texto, veladamente, e só o que se percebe, se não é-se malandro o suficiente para pegá-lo no flagra, é um incômodo, como um mal-estar de uma cólica, uma vontade estranha de ir pra casa. Eu tenho medo de estar sendo demasiado desconfiado dos poetas, mas é bem do seu tipo tornar pequenas situações grandes acontecimentos, meomráveis, trágicos ou homéricos, ou até românticos, cômicos ou pejorativamente realistas. O poeta, nas situações cotidianas, é o desgraçado que sempre olha de um jeito incompreensível, mas que rapidamente foge o olhar por respeito ou medo. O poeta é que cria a viagem toda: a sua áurea traz para o mundo aquilo que não existia antes, ele traz o foco numa só situação, a que vai dramatizar, poetizar. Em vez de viver a vida como todos os normais, o poeta vive catando, escolhendo nas situações aspectos, que transofrmará em texto - transformará em texto tudo aquilo que passou pelos outros como uma faísca, mas que o poeta pega a cauda do fogo e observa o corpo e seu movimento. O poeta, para poder ter o que falar, é capaz de ter um olhar tanto microscópico como telescópico. Ele desvia pra sua percepção de mundo a realidade. A presença do poeta, assim como aquilo que reporta, reverbera energia do mais puro irreal, é o mais puro drama, é a mais pura poesia; que ele finge não estar vendo na hora que vê e que todos veem que ele criou - ele finge o tempo todo! É preciso sempre levar isso em conta ao se admirar uma obra poética e ao se conviver com um poeta: ele pode tragar-te para seu mundo fantástico e abstraído - e por que não abstrato? A vontade metafísica do poeta, de ficar falando de aspectos em si mesmos, já que é impossível que a linguagem abranja a totalidade, nos transmite, com a maior cara de pau, nada mais que uma falsidade, uma mentira, mal contada, que, se averiguada, pode ser rebatida com outra; e aí se prova a mentira de todos os lados do poliedro. A metafísica morreu porque o homem matou Deus. O homem macaco, nós, e a necessidade de não cairmos mais na lorota dos plasticismos da poesia, seja dramática, romântica, homêrica, cômica, realista, construtivista... A poesia deve ser vista apenas como a vontade do poeta, falsa, sempre com vontade de poder, de afirmar sua autoridade, sua verdade; deve ser encarada, como em tempos de democracia, como um interesse. E como numa bela democracia, quanto mais plástico, quanto melhor a aparência e a propaganda, melhor a poesia, mais convincente é - e é por isso que modelos existem... A poesia é uma malícia do indivíduo, é uma maldade do poeta, um obcecado por olhares que confirmem as suas vontades como algo comum, o poeta moraliza, sim, e por isso o poeta nunca atinge a todos: há os que não são tão otários, tão iludidos, tão mal-amados, tão fracos-e-oprimidos, que sabem perfeitamente do que ele é capaz e sabem se defender e sabem também que a vida não pode ser só estética e poesia... Não, a vida é muito mais que uma sensação de cena de filme. Cuidado com eles...

domingo, 12 de julho de 2009

Ciência e fé, me desculpem os enganados, são duas questões de crença. Na fé é muito fácil de perceber, então nem vou me prolongar; mas na ciência, a tal da tal que, toda toda, se propõe a se propor a descobrir a descoberta e não a crer, também se tem uma forma de acreditar, não mais que isso. Talvez aqui seja importante lembrar Weber: a ciência apenas desencanta o mundo, e percebemos, tão tardiamente, que não são seres místicos e maravilhosos ou onipotentes que governam o planeta, guiam as rédeas e riem das nossas caras. Na ciência, além do conhecimento ser segmentado, como uma divisão do trabalho, sendo assim impossível que um homem conheça sobre tudo o que foi produzido, é, ainda, mais do que comum que teses e teses e mais teses sejam quebradas e refeitas ao avesso, e isso também atinge as objetivissíssimas ciências naturais (temos aí a física quântica, game over, rá! - lembram-se de Thomas Green Morton e de Uri Gueller e de toda a viagem paranormal, com direito a padre, o quevedo, e a matéria no fantástico? Não que eu creia, mas para uns isso é suficiente para não crer na ciência! Rá!). Elas, a ciência e a fé, diferenciam-se num quesito a que damos muita relevância: o número de informações reportadas sobre cada processo, a especificação. Fé é apenas um grau maior de miopia, porque ver ainda continua sendo estarrecedor.

mais uma da torre de babel...

Deus está no particular:
diáspora!
Cada um por si
Deus por todos

romance e mulher

Não há felicidade:
esperança é que abre a janela do lindo dia...
esperança do dia ser lindo para dar a bucetinha!
Life, Liberty and the pursuit of Happiness.

suficiente não é bastante

O que é que basta?
Eu vejo a última cara que fazem os moribundos
É só viver e amar, com o corpo
pele com pele é mais
ou
É só abraçar a dor, e fazer, dela, fantasiar, o mundo maior, o mundo do amor
Concluo: as duas opções se interligam, a vida não é essência pura
os dois amores o homem tem
Eu vejo ainda... Eu vejo a última cara que fazem os moribundos...
O que é que basta?
Eu vi, eu consegui ver,
entendi, tive uma intuição factível
do que podia ser
o que basta.
Mas esqueci!
plin
e esqueci:
o olhar parou fitando a postura dos móveis
e eu finalmente senti a brisa, que era o que me esfriava
E eu via,
eu via a última cara que fazem os moribundos...
A mão estendida?
A boca, entreaberta, balbucia?
Os olhos vidrados denunciam, suplicam?
É tudo dentro de um hospital, treva e branco?
- Sim, eu vi, eu via, eu vejo
a última cara que fazem os moribundos...
Seja lá o que é que é que veem perder - o poder querer!
O quê?
O que basta?
Morrer não basta?

Minha cama de solteiro

Como estar sozinho é mesmo estar sozinho...
deitar
mirar a janela
e não ter ninguém olhando pra você da cama; olho no olho na altura do travesseiro, deitados...

Não, não há ninguém tampouco sentado na cadeira da escrivaninha
fumando um cigarro ou um beque, me rolando, sob essa iluminação suave das oito horas nubladas da manhã...

Você não cruzou as pernas na cadeira e procurou com a mão, tórrida, tenaz, meus pés, subindo pelas minhas pernas por baixo dos lençóis, se desligando do nada que fazia entediado na internet, enquanto eu fumava...

Você não levantou, saiu do quarto e voltou, como eu imaginava que você faria
descabelado
arrumado para dormir
mas remexido, deitando e não conseguindo pregar os olhos, ligado

você não veio, em seguida, com essa cara de quem não vai dormir nunca, porque não é preciso sonhar, prender meus olhares aos seus, e deitar-se comigo, só para ficarmos observando, lassos, deslumbrados, as dobras e frissões no lençol pastel amainado, você deslizando a pontinha dos seus dedos pela superfície do meu corpo - é a lânguida manhã cinza, que instiga...

Não, não há você, não há! e eu fito, então, a parede, em silêncio, encostada a cabeça no travesseiro, inoculado, inexpressivo; é que não há mais combustível...

É que poucas vezes eu te sonhei assim, tão claro, tão palpável, tão latente, tão verossímil...
durante um amanhecido
virado
sem sono
antes-de-dormir
como agora...

Ah!
e a língua estala dentro da boca saboreando um gosto... o gosto do nada...
de ninguém!

pareço errado pra me justificar?

Se toda vez que eu
começasse
eu não me perguntasse
o quê?
nem
por quê?
nem
por onde?
talvez eu nunca chegasse
a pensar
no quão obsoleto
é esse prerrequisito
da expressão.
Queria
nunca mais
ter que pedir licença...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

emp(r)estado

marcado de seguro:
sou a cama macia onde pode estar o desdém com a vida
e ele está finalmente emaranhado em meus lençóis
e como queria poder dizer que são maus lençóis!
porque ele finalmente me pegou de braços abertos
talvez desprevenido,
sim, desprevenido, mas só por agora, como justificativa pra essa prerrogativa
como se eu fosse um lugar pra ficar,
quisesse ceder um espaço
com esses meus braços abertos que não eram pra ele (pra quem?)
mas há sensação de invasão
de que estou sendo abusado
minhas artimanhas e minhas prestezas subjugadas ao favor
que acabo fazendo
que numa euforia de momento
num pico de algum hormônio
eu deixei, eu permiti de alguma forma como algum contrato social
mas o que é é aquilo que é, ainda mais agora; e só me resta lamentar...
porque de fato ele está ali
e mais se parece um velho de pijamas
já vestido para dormir, como um anúncio do indesejado adeus lisérgico
que sempre vem,
à espera do momento em que a letargia tornar-se-á perene
expulsará as visitas
e deixará, recolhidos, aqueles que tiveram a "sorte" de ficar.
Nós que ficamos.
como se só ele estivesse encorpado dessa sorte
de certa forma dono da situação
realizada a sua vontade
e eu tivesse que ser a fonte
justo quem não suporta essa letargia acompanhado
de um de pijamas...
contrariado...
esse fim finado em terminar
que coloca em evidência quem vai restar ao lado de quem
quando o que é dá evidências, passa por cima das possibilidades, maltratando o sujeito com seu fim em si mesmo
e eu não quero nenhum velho de pijamas olhando pela porta entreaberta
para saber o que é que há com tudo
não quero amanhã ter a angústia de levantar do sonho dividida com alguém - tendo que automaticamente ser superada.
Um deserto, e uma cobra me seca enroscada
ao se esparramar na minha
casa
na minha
casa...

terça-feira, 7 de julho de 2009

cuidado com poetas

Certa vez Pessoa escreveu que o poeta era um fingidor e justificou brilhantemente sua heteronimia, além de metaforizar sobre todas as mais diferentes posições que cada humano, demasiado humano, pode ter sobre aspectos da vida. Pessoa fez uma grande e crítica análise sobre as restrições da linguagem quanto à verdade. Isso tudo foi, sem dúvida alguma, magnífico, mas permito-me utilizar desse verso "O poeta é um fingidor" com outra conotação. Talvez um pouco mais rodrigueano que ele, observo o fingimento do poeta em sua vida cotidiana. É preciso ter cuidado com os poetas! Normalmente escasquetados com as coisas do mundo, os poetas sempre podem recorrer à sua poesia - e talvez isso possa se estender a mais formas de expressão artística, não sei dizer... Sempre que sente vontade, o poeta despeja em sua arte toda a sua indignação, seu sofrimento: poesia é quase que um ritual de confissão. Dissimulado, incapaz muitas vezes de legitimar seus moralismos - não importa de qual time - na vida real, o poeta corre, recorre à poesia: evacua e dá a descarga; xinga camuflado; vive mascarado. Se todos sentem a mesma vontade que o poeta, não posso afirmar, muito embora acredite piamente nisso; mas o que há de terrível e de temível nos poetas é a sua capacidade ardilosa de executar esses pensamentos pecaminosos de alguma forma, expô-los, gerar a fofocada interminável a respeito do mundo, das coisas e das pessoas, e seus modos, potências e atos; que aterrorizaram o poeta, o fizeram recolher-se e reconhecer nas tramas da vida as falhas éticas de todos, justamente aquilo que faz questão de expor. Pode-se, sim, considerar o poeta um lobo-mau. É ele quem futuca a ferida, quem fala o que todos pensam mais profundamente, secretamente; ou o que é tão absurdo que chega a machucar, que chega a ser imoral! E quanto àqueles que se reconhecem nas poesias, o poeta lhes instiga a um voyeurismo sado-mazoquista, insuportável, eterno, etéreo - uma mania - e que poderia nunca ter começado, acreditam, se nada ele tivesse dito.

É preciso estar de olho! Os poetas se dissimulam, fingem tão completamente serem pertencentes à vida normal; mas quando menos se espera, eis que lançam-lhe um tapa na cara poetizado, e você se sente traído!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

entediado, convocado à sublimação: em busca do belo.

em mim
um monte gestos
texturas
presenças
esfriam acalorando
tédio e vontade
e eu estou sublime...
fui recolhido ao sublime -
o resultado final da obra
me é belo
a qualidade da autoridade
é o que me encanta
em qualquer trabalho:

me presto a tentar também, tal qual,
e me sinto no estado
me digo no estado
sublimado
instigado pelo que vi belo-trabalhado
engasgado
soterrado
isolado pela espontaneidade com que me atrai esse sublime...
(sublime, belo, belo, sublime, sublime, belo...)
(e eu meio que acabo me sentindo assim mesmo - dupla hermenêutica)
qualquer vestígio de fim
é justificativa para ser alguém.
vontade
é.
sublime estou, eu quero
belo será, eu quero