quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

solsticio de inverno ou começando O Projeto

Parte pra mim o dia
que o sol nao nascia
sai pressagio
entra minha propria vida
tanto ensaio
pela noite fria
pra nao ser escravo
dessa melancolia do dia-a-dia...
mas tudo... Ah!
Tudo é a maior covardia!

Vejo então quão fragil
posso ser ao meio dia:
se no meu atual estagio,
tao de manhazinha,
é que tudo se inicia,
e tudo ja tao complicado,
tudo sem mentirinha,
logo, eu imaginei,
ao sol do meio dia,
de agudos espasmos
de tanta nostalgia
dos dias-de-noite-que-o-sol-nao-nascia
sofrerei, sofrerei, sofrerei muito ainda

sofrerei, sofrerei muito
um dia...

Ser e Estar e Haver

Qualquer ato reprime outro.
Cada segundo que passa

tic, tac

cada movimento
cada gesto, cada coisa
que se sobrepõe ao Anterior.

A nova aparência reprime a velha.

O novo momento reprime todas as infintas potências do velho - e todos os desejos e sonhos que projetamos nessa infinidade!
O espaço substitui sua ocupação e a energia sei-la-qual é que faz algo se colocar no lugar outro.

A cada fração de segundo, quanta coisa muda?

Sei que dois corpos não ocupam o mesmo lugar, o que esta nao é o que estara!
o choque do espaço com a matéria...

Tudo reprime tudo

So de surgir, uma coisa ja reprime o espaço que não ocupava.
E quando ela morrer, outras coisas que surgem e se movimentam vao repimi-la.

Cada mudança

Cada salivada

Cada rabisco ou letra

repressao ao que nao era, ao que nao tinha, ao que nao estava!
reprimir a repressão de antes
reprimir, reprimir, reprimir!
Tudo é so reprimir!

Porque tudo, ora...
tudo é uma coisa so
que reprime tudo o que nao é

todo o novo momento
é uma repressao de tudo
contra tudo

passa a ser algo que nao era

novos e novos infinitos tudos
se reprimindo conforme o tempo avança

são, não são mais, são, não são mais, são, não são mais, são, não são mais, ...

tudo se reprime porque tudo sempre muda de lugar

mas as coisas, sei la por que, embora consiga conceber, podiam nunca mudar de lugar.
O mundo é um mar de possibilidades e o espaço e o tempo deixam tudo
e nao tem jeito, tudo muda e parece que é porque tudo quer
as coisas mudam espontâneamente e por isso é repressão, pura e simples, deliberada, injusta

Porque a estaticidade nao agrada tudo
Por que a estaticidade nao agrada tudo?

Ah, nao sei nem mais a quem eu culpo!

domingo, 27 de dezembro de 2009

quando a grandeza da cidade se mostra

é madrugada
derrete uma neve na minha bochecha
eu caminho, fechado em casacos
fazendo fumaça e cinza com os meus cigarros
com o meu sangue-quente
ouvindo algumas vozes ébrias alheias na rua
encabrestado por um capuz, um cachecol e as mãos que se escondem, nos bolsos, do frio
a neve-agora-gelo pela rua, cinza

(bati a cinza)

não ha cores de pavimentaçao nem de fachada MESMO que possam murchar o cinza de uma cidade altas horas da matina
cinza honesto
cinza notivago
cinza de deixar o movimento ao fundo, vozes e gestos e tanta tanta coisa acontecendo, e você saindo, sozinho
pra virar, pra variar, na sua rua residencial, mais quieta
vendo e ouvindo melhor os seus passos - seus pés são mesmo tortos -
fumando um dos ultimos cigarros, o do andar cabisbaixo,
que so quem precisa olhar pra baixo e se perceber - que asco! -
é capaz de acender - é o cigarro daquele que não precisa de ninguém, nao quer ninguém, nem pra pedir isqueiro
acende com seu proprio fogo mesquinho, catado em alguns dos seus muitos bolsos de seus casacos e calças, tchec, tchec, ffffffffuuu
cinza seu
cinza da cidade

e as luzes nos prédios...
que se não fossem luzes
nem prédios...

ah, andar sobre andar de fogueiras
de fogo pra curar cegueira, pra dizer que guerreia.
Contra a noite e o frio.
"Homem conquista o fogo"
conquista-o pra vida inteira, sempre da mesma maneira...
o fogo sozinho de um fim de sabado antes de um domingo antes de uma segunda-feira
ja é cinza antes de chegar na piteira,
cinza e mais cinza de tanta fogueira
de todo mundo que guerreia
de toda noite, incluindo as de sabado e as de domingo e as de segunda-feira
a noite inteira, a noite inteira, a noite inteira
cigarros e mais cigarros, mais cinza e mais piteira
toda cidade - sempre! - da mesma maneira:
montes de cinzas com picos e abismos
picos e abismos estreitos com beiras.

Cuidado pra não se jogar!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

espreguiçar-se

esses versos
sao para todo pingo de qualquer outra vontade
que justamente surge antes de fazermos alguma coisa
sao para a vantagem
de parar os planos, mesmo os de curta distancia
mesmo os que nos propusemos

esses versos
sao a expressao mais feliz do cansaço
e da preguiça
sao a apatia e a letargia em adornos simples, mas lindos e vistosos
calmantes e alegres
sao a licença gostosa de ficar um pouco mais antes do feito fatal

esses versos
se estendem e se iludem
se iludem de que podem expandir os apenas-alguns-segundos-a-mais - como isso é bom!
porque o tempo mesmo sempre passa igual...
versos atrasados mas desprendidos,
por falta de compromisso, por força do riso
eles sao so pra quem quer mais um pouco de qualquer coisa antes de...
sao como fitas coloridas, suaves, balançando docemente sem objetivo
algum
preguiça da preguiça - e como isso é bom!

porque esses versos
so são
quando a poesia melosa se sobrepõe
tenra
a qualquer nuance nossa
que encaramos
nem que minimamente
como dever

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nao vou te mostrar
nem te ensinar como comer com o garfo!
Nao vou te mostrar
é sua vontade que te enche o prato
tenho pena de te ver pensando
o que comer!

por que me culpar
quando é o mundo todo que é errado?
por que me culpar
e insistir em ser um cara chato
me intrigando e perguntando
como fazer?

Culpo deus,
é mais facil
porque foi ele
que fez tudo isso pra mim

Culpo deus,
desgracado,
eu so' sai
de uma vagina e estou aqui

Nao é problema meu que o mundo seja ruim
Nao é problema meu se você come assim
Nao é problema seu, nao se questione, enfim!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

medo de ser desenvolvido

Olho a vista daqui do velho mundo e é marcante
que todos precisam fazer suas vidas
seus caminhos
sem se lembrarem de rir muito...
à distância, o destino...

é perdido

quantas faces sao minhas?
uma coisa é pensar, outra é fazer
uma coisa é querer, outra é poder
um caminho é entao descaminho
a certeza é entao desânimo
uma casa e seus moveis, um suplicio
do amor que ninguém vai ter

por ser brasileiro
sou dois filhos gemeos
dois impulsos heterogêneos
um do amor e do riso e do risco
e um do serio, do meu e de outro risco
ah! cada caminho e seu descaminho...
ah! as escolas e seus feitos filhos
seus defeitos timidos

uma bomba a se instalar la
(aqui)
por nada mais ser ou achado ou perdido
sem extravio de ensino, nem de bagagem
nao me venham podar meu selvagem!
que medo de ser desenvolvido!

pergunto à moca do achados e perdidos,
lost and founds, por aqui,
pra mim aqui é tudo invertido
primeiro se perde depois se acha, esse é o certo, ela me diz
eu, ouvidos, repito que sim,
esse é o certo, mas a minha mala nao é esta aqui
perdida e depois achada
prefiro achar e depois perder
como a bagagem, com dono, que perdeu seu caminho
como o dono, sem bagagem, que perdeu-se em destino

ah, o primeiro mundo, e todo o esforco
pra permanecer no topo!
ai, que medo de ser desenvolvido!
que agonia de marchar tao certinho e igualzinho!
nao tem agua de marco pra escoar, diluir, confundir os meninos!
uma bomba na escola pra calar o serviço!
uma chuva tropical pra apagar, pra ser livre!
ser pedra sem estar no caminho!

Alguém? Eu repito!

Um intensivo
de amor,
Eu preciso!
Que cada vez que eu me olho
eu repito
que é mais forte
é mais forte que o riso
que é alguém
eu insisto
eu insisto
o amor
o rumor
que eu preciso
pra tudo isso!

Tô aqui pra cair
num abismo
e também pra ser
outro abismo
pra mudar
causar, em alguém, algum vicio
pra dizer
que é amor, que é amor
diz pra mim
alguém
é de um amor
que eu preciso

Alguém me da,
por favor,
o seu viço!
Que eu dou
com carinho
o meu risco
vem amar
vem dizer
eu preciso
eu preciso
de um amor eu preciso!

Sei que é disso
de amor que eu preciso
diz alguém
de um amor eu preciso
faz um bem imenso
vem que eu explico
vamos logo pular desse pico!
tô pedindo um amor
eu preciso!

Sem saber mostrar
eu insisto, vamos
revirar o lixo
e encontrar um sorriso,
toda sorte desse precipicio,
vem pra mim
vem ser o amor
que eu preciso
que é de um amor,
de um amor que eu preciso!