quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

reflexão sobre a pós-modernidade

Me peguei pensando uma parada bizarra: quando a gente ri no msn, escreve o riso de maneiras diferentes. Conforme a graça aumenta, diminui, ou conforme ela é, o tipo de graça que é, ela é expressa de maneiras diferentes. Portanto, quando recebemos uma mensagem, um emoticon ou qualquer coisa que seja engraçada via msn, que é um programa de conversas instantâneas - no orkut não tem como avaliar isso porque não é instantâneo, pode ser ensaiado -, nós calculamos, determinamos e executamos o riso concomitantemente a ele, ou, no caso de uma risada enorme, nós calculamos a risada enorme, como HAUHAUHUAHAUHAUHAUHAUHA, antes de terminarmos de rir, porque escrever HAUHAUHAUHAUHAUHAUA é muito mais rápido do que a risada que isso representa - faça você mesmo pra perceber. Ou seja, a risada é só uma conseqüência de algo que você já sentiu, já entendeu, já classificou o tipo - hueheuhe/hehehe/hahaha/hauhauhau/HAUHAUHA - e o tamanho da graça. Achei isso impressionante.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

começando a desconstruir Marx - introduzindo o Cumulativismo

Vir com o papo de que a luta de classes sempre existiu, pra mim, é conversa pra boi dormir, ou então o significado de luta é outro que não o atribuído hoje literalmente - e talvez também o de classe. Como conceito de luta temos o embate, rivalidade, noção de inimizade e confronto. Luta de classes, assim, só consigo vizualizar historicamente a partir da idade moderna, onde me parece também surgir a idéia sensação de classes também. O acúmulo de bens que surgia como principal virtude, concomitante ao crescimento dos Estados Modernos Absolutistas, que centralizavam, e valorizavam a cidade, cuja estrutura é fortemente hierarquizada e complexificada, refletia numa acumulação espacial de pessoas e pessoal de bens e poderes. Era possível ver a diferença entre os grupos: o mais rico e o mais pobre, as classes. Na idade média, descentralizada, não se podia perceber as classes, as coisas eram mais particularizadas, como a divisão do trabalho era. Por compreender maior número de pessoas reunidas em volta do centro de poder político e econômico, as diferenças classistas surgiam agrupadas, aglomeradas. O modelo capitalista que evoluia permitia avanço tecnológico, criação das máquinas e criação de produtos, diferenciação de preços e os bens que se poderiam acumular tornaram-se muitos - para quem tivesse dinheiro. Ao mesmo tempo, fortaleciam-se idéias burguesas politicamente e a idéia de propriedade privada se instalava como regra geral para as insurreições burguesas - e quem seriam os proprietários das terras, nobres ou muitos servos? Nobres, em geral. Cercamento dos campos. Dessa forma, a relação social que se afirmava na Idade Média vai se perdendo. As noções de suserania e vassalagem, que cristalizavam a sociedade em ordem, tópico hiper-valorizado pelos pensadores sociais do cientificismo/realismo do século XIX, ruiam e a noção de interdependência também. Os feudos, cúmulo da descentralização do poder, mantinham uma relação mais próxima entre os seus habitantes. Por mais que o nobre fosse nobre, materialmente o que ele tinha além dos servos era um castelo e mais comida - se houvesse algum problema com as safras em seu feudo também representaria para ele um risco -, e além disso ele oferecia um bem extremamente valioso para o homem medieval: a segurança. A Idade Média vivia sob conflitos étnicos, religiosos, ameaças de saqueadores e possíveis mortes por ataques de animais, enfatizando a necessidade de um suserano, de um protetor - o senhor feudal, uma figura mais próxima dos servos, o governador da região - semelhante relação, imagino, às dos coronéis do sertão e seus "afilhados". Mas, conforme essa organização social foi se dissolvendo, tomada de constantinopla, necessidade de desenvolvimento das cidades e do capitalismo assistido por um Estado, as complexificações foram surgindo. Complexificaram-se as relações sociais, a divisão do trabalho, a forma como passou a ser interpretada a propriedade, a hierarquização, a ciência, a tecnologia, a economia. Com o fortalecimento do capital e, assim, investimentos em novos meios de produção, que permitiam a geração de mais capital e assim de mais investimento em tecnologia, a burguesia passou a deter, além de muito mais riquezas que tinha um senhor feudal - hoje existem iates particulares -, a burguesia detém muito mais poder. Os governantes poderosos, de limites políticos bem mais habitados que feudos medievais - metrópoles, países, estados -, são distantes da população e muito mais próximos da classe responsável pelo setor produtivo. As centralizações de poder sobre países e não sobre organizações sociais pequenas trás a imagem de uma Luta de Classes - uma classe excluída e outra globalizada. Além da percepção de divisão classista, em virtude da dificuldade de acesso ao poder de consumo, é possível também perceber a desvalorização do trabalho braçal e da classe operária, também como uma causa dessa dificuldade de consumo da maioria. As suas capacidades políticas, assim como seu potencial de consumo, em função da sua desimportância econômica e social, também são reduzidas. Que operário tem importância depois da segmentação do trabalho e do surgimento do exército de mão-de-obra decorrente do êxodo rural imposto? Que campo precisa valorizar e manter empregado o trabalhador rural se há máquinas para executar seus serviços? Só assim se pode perceber uma efetiva polarização em classes, só quando não há a sensação de funcionalidade e complementaridade entre os entes da sociedade. Dessa forma, ouso concluir uma desconstrução sobre o pensamento marxista. Se a Luta de Classes, base da dialética histórica, surgiu com a modernidade, é possível ainda sustentar que tudo é dialética, que toda a história foi dialética, dividida sempre em uma Luta de Classes? Não me parece certo depois de toda essa reflexão. O Cumulativismo me parece suprir a explicação tanto da forma como o materialismo histórico se apresenta, como da razão para o pensamento Marxista ter se fundamentado na dialética.
(Mas e a classe média nisso tudo? Um pequeno acúmulo que cresce sempre mais, a classe média não tem noção de exploração, pois se vê útil em seu consumo, sua forma de manifestar poder, de se sentir complementar à sociedade. Inferior, mas reconhecida - quem pagaria os impostos e compraria os bens produzidos, quem? Não seria o exército de mão-de-obra, ah não...)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

sobre pessoas queridas e ruidosas

não me calo diante do que dizes,
posto que o que dizes já foi falado,
me calo, atenta ao que tu gritas
estando enfim, calado

Sete Epitáfios para uma Dama Branca (Que, descalça, media 1,65m e, nua, pesava 54 quilos)

"Nunca dei presentes a ela, nunca recebi nada. Não sei se sua caligrafia era redonda ou inclinada, legível ou feia, ou se ela colocava bolinhas em lugar dos pingos nas letras.
Nunca conversamos sobre religião, não sei se ela acreditava em Deus. Em reencarnação ou em horóscopo. Não sei se ela gostava de gatos ou se pensou em colecionar selos. Nunca perguntei se ela se interessava por política, futebol ou mesmo se tinha o costume de se masturbar.
O nome de seus pais, o que ela achava de homens com barba, das loiras, de armas e de tatuagens - são coisas que eu nunca vou saber. Não descobri se em alguma ocasião ela passou fome na vida. Se teve uma tia epilética...
Será que, como eu, ela achava que a felicidade é um negócio que inventaram pra enganar os pobres, feios, e os desesperançosos? Nem sei se ela teve um primo que vivia pedindo dinheiro emprestado. Não sei se tomou drogas um dia ou se era bamba em matemática no tempo da escola. Se gostava de resolver as palavras-cruzadas do jornal. Será que sabia jogar truco? Teve todas as doenças da infância? Se em algum momento humilhou alguém e se arrependeu depois. Se gostava de brócolis. Se alguma vez perdeu o sono por causa de dívidas. Se pensou em fugir. Se lembrava dos sonhos depois que acordava; Se sonhava...
Eu nunca soube o que essa mulher achava do novo papa. E de velhas que ainda usam laquê.
Compreendeu o significado da palavra "sacrifício" a tempo? Será que ela se orgulhou de algo de que deveria se envergonhar? Será que se lembra da primeira vez que viu o mar? Do primeiro beijo? Será que ela se sentiu digna em alguma oportunidade? e suja? Eu nunca soube o que ela achava do salário-mínimo. Da ioga. Das surubas. E das coisas que assustam quando pensamos nelas. De gente que tem medo de escuro. E de quem sabe que temos escuros dentro da gente. Eu não soube nada disso.
No entanto, sabia sua altura. Porque ela precisava ficar na ponta dos pés toda vez que nos beijávamos.
E sabia seu peso: ela me falou um dia, na cama, quando quis ficar por cima."


Livremente adaptado do Epitácio V., escrito por Marçal Aquino

Fonte: O Amor e Outros Objetos Pontiagudos.

domingo, 25 de janeiro de 2009

A gente quer comida, diversão e arte

Ai, como é preciso preencher,
como é preciso o contato
massa em contato com massa.
Se está com fome,
comer é bom enquanto se sente a comida na boca
depois é tédio.
Pra fuder, o mesmo.
Com a arte, o mesmo,
com o dinheiro, também -
quem teria dinheiro para simplesmente ter dinheiro
e não para comprar e comprar?
Por isso,
depois da comida
depois do sexo
depois das compras
se precisa preencher
com mais sexo
ou mais comprar
ou mais comida
e me vêm as drogas.
Vegetais é que são felizes...
Autotróficos...

abstinência ou fissura?

Gostaria de fazer um relato da minha abstinência - ou fissura, visto que não sei a partir de quanto tempo a fissura pode se tornar abstinência, e isso é um ponto fundamental para esse meu relato. Estou há algumas horas sem fumar, mas estou passando por um porcesso que eu preferi chamar de redução de danos: não compro mais nenhum tipo de THC, o que não quer dizer que eu tenha parado de fumar. Como um amigo meu me disse, estou reduzindo os danos do meu bolso só, porque, se todos os meus amigos fumam e moram perto de mim, então não tem jeito, eu fumarei e deixarei de gastar do meu. Eu digo que, tá, essa constatação é válida, mas não totalmente. Por exemplo: o que seria da vida de um maconheiro se ele não fumasse antes de dormir? Ou melhor, a pessoa pode ser considerada maconheira se ela não tiver o bagulho diário para fumar antes de dormir? Eu vejo que esse é o principal problema. Conseguir dormir, ou passar toda uma madrugada de férias acordado sem dar um dois é sofrível. Motivos para achar isso uma merda: pra começar, ler se torna a coisa menos agradável do mundo; se torna repetitivo e sem graça ficar atualizando sua página inicial do orkut ou ficar vendo vídeos de gafes de jornalistas e tombos de apresentadores da globo - é muito bom perceber que está chato e parar para apertar um baseado, que vai dar todo o ânimo àquilo de volta; não existe mais larica da madruga, quanto tempo eu gastava durante a madrugada com isso e não sabia; sem contar que agora eu posso me considerar um vegetal sem a escusa de ser um vegetal por ser maconheiro - agora eu consigo ver que é da minha índole, da minha essência 'curtir' as madrugadas das férias, não era só porque eu fumava e isso, de alguma maneira, desvirtuasse meus hábitos. Na verdade, não posso ter certeza ainda disso - conflito eterno na minha mente - pois ainda posso estar passando por um processo de ambientação aos novos modos de vida. Mas o que há de tão novo assim no meu modo de vida atual,? eu me pergunto lembrando que não parei de fumar, estou apenas utilizando uma técnica autodenominada (novas regras de escrita em prática!) redução de danos. Se todos os meus amigos sempre vêm apresentar beck, se inclusive parentes meus fumam, o que me alicia diariamente, eu diria que só não fumo de noite, na madrugada, digo que estou me torturando porque quero, só por uma questão da ethos minha sociedade, cristã - martírio e salvação - acreditando estar sendo extremamente revolucionário comigo mesmo e na posição que sustento diante dos meus amigos. Talvez eu espere, na verdade não esperando, que as pessoas se toquem que eu pretendo, não pretendendo totalmente, parar de fumar aos poucos, como aquela merdinha que vende no programa da Márcia "pare de fumar fumando". Enfim, eu gosto de viver minha ilusão, dá licença? Ainda mais que o efeito da minha nova postura começa a ruir quando todos me vêem fumando do deles e ainda dizendo pretender comprar quando rolar o verme, só quando rolar o verme. Agora vou fingir que estou com sono pra mim mesmo e deitar na minha cama, até embolar o lençol todo, levantar depois, ainda não tendo dormido, quando o sol já estiver dando sinais de vida, para er se recebi algum scrap ou mensagem no msn - o que com certeza não acontecerá porque as pessoas são normais.
ps: multishow de madrugada no mute pode ser muito engraçado, mesmo não estando chapado. Estando, poderia ser mais atrativo que qualquer interação social supervalorizada e muito bem-estimada.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

eu quero só falar
o que vou vir a dizer?
o que se gosta de ouvir
o que se faz pra esquecer

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Escrever conteúdo filosófico cansa.

DE REPENTE ACABOU - multidão de (incon)formados pára Botafogo e Humaitá

De repente acabou. "Foi sem mais nem menos, eu não queria que acabasse assim, de uma hora pra outra", disse uma aluna da 301. "O clima era de desespero entre os alunos", foi o que relatou um inspetor. “As outras séries não conseguiram continuar as aulas, as cadeiras eram arremessadas pelas janelas, as criancinhas do outro prédio gritavam enlouquecidas, parecia que sofriam do mesmo. Eu achei que era o fim do mundo,” reportou desnorteada uma inspetora do outro prédio que foi pisoteada ao tentar conter os pequenininhos. “Era pior que americano entrando na liquidação do natal”, comentou alusivo um professor de geografia. "Me disseram que viram uma garota correndo pra dentro da sala dos professores, subindo na mesa e ameaçando cortar os pulsos", talvez tenha exagerado um aluno do 1o ano. Exasperada, Danielle Gilaberte, da 301, bufava pelos corredores “Vocês podem sentir o terror? Eu posso sentir o terror!”

Se a tragédia já era muita, os alunos de um colégio da Zona Sul do Rio de Janeiro tornaram-na pior. Movidos por ímpetos desvairados, os alunos 3o ano de 2008 do Colégio Andrews manifestaram-se esta tarde contra as decisões ditas arbitrárias do colégio ao determinar que eles agora estão formados. "Se eles tivessem nos preparado para isso, disse Marina Gorayeb, até vá lá, mas foi justamente o contrário, logo no 3o ano, o último, eles puseram mais aulas a tarde e nos confrontaram a um inimigo externo comum, o vestibular, sem contar que os melhores professores ficam para o 3o ano, aí, o que aconteceu foi que nós nos tornamos muito próximos, praticamente uma sociedade alternativa utópica. A única coisa que nós queremos é que nos dêem garantias de que não vamos sofrer nenhum tipo de conseqüência negativa, ou traumas em nossas vidas pela solidão que podemos vir a sentir daqui pra frente. Enquanto nada for esclarecido, continuaremos a nos utilizar de práticas sensacionalistas para atração da mídia". E pelo que nos foi confidenciado por um professor que preferiu não se identificar, esse método já havia sido utilizado. "É, eles são meio baderneiros. Ano passado mesmo, pra você ver, sentaram no pátio, nariz de palhaço, apito, eles pararam a escola".

Mas esse ano as demandas eram diferentes. Outra integrante do grupo, essa da comissão de imprensa organizada por eles, Olivia Tranjan, explicou para a nossa equipe de reportagem quais são as diretrizes e os motivos da manifestação. "Esse ano foi diferente do ano passado. Enquanto ano passado nos indignávamos por motivos práticos, prova disso, prova daquilo, horário daqui, horário de lá, nesse ano passamos a nos preocupar com outras coisas. Esse ano nos foi possível perceber o valor da companhia de quem te acompanha todos os dias durante 9 horas, sem contar os sábados de prova, e churrascos e festinhas, por conseqüência, inevitáveis. Esse ano aprendemos a nos aproximar de quem está próximo, aprendemos a superar as provas, os vestibulares, os sussudios beirosos e os pós-beira e sorrir o dia inteiro, ou não, muitas vezes das nossas desgraças, como foi o caso do mural da desgraça, intitulado sabiamente de "Pensando Diferente", onde expúnhamos nossos zeros para quem quisesse passar por ali e rir, ou confortar-se por não estar sozinho. O tempo que ficávamos juntos, o dia inteiro, todos os dias, nos enlouqueceu. Fomos expostos a condições nem-um-pouco-normais de temperatura e pressão, ou na linguagem não-vestibuleira, vivemos um ano atípico e intenso. Intenso pelas brigas pelo ar-condicionado, que tencionavam tanto quanto as discussões pela formatura e adjacências.” Não conseguindo continuar devido às lágrimas, a aluna foi imediatamente afagada pelos amigos e Rafael Pinheiro, companheiro de turma, continuou a declaração. “O que ficou claro para mim foi que, quanto mais passava o tempo, menos acostumados com a vida lá fora ficávamos. Conforme as provas passavam e nós só pensávamos nas próximas provas, sem contato livre desses fatos com a realidade, esquecíamos que isso iria acabar um dia, que não deveríamos talvez ter nos aproximado tanto assim dos professores, de toda a turma, que não teremos mais o convívio cotidiano. Será difícil a separação.”

As coisas não pareciam fáceis no pátio das Magueiras. Isabella Benevides, que integrava o movimento, também deu seu depoimento. “Nós estávamos preocupados com o inimigo externo das provas e dos vestibulares, nossas mentes estavam sempre voltadas pra eles e não enxergávamos um palmo além desse ano. Agora nós temos esse amor incondicional, esse medo do desconhecido, e nós nem sequer havíamos pensado nisso ao longo do ano! O que queremos dessa instituição que nos fez criar esses lindos laços com ela e com seus integrantes é que ela nos dê algum tipo de garantia, nem que seja metafísica, como um aperto de mão seguido de um tudo vai dar certo, mas nós temos que nos sentir seguros para continuar, ou vamos continuar nos utilizando de práticas sensacionalistas para atração da mídia."

E essas práticas foram muitas. Era possível ver alguns deles amarrados às mangueiras do pátio com expressões de desespero e desolação. Houve também um grupo grande deles que fechou a Visconde de Silva, com faixas escritas "Bia, eu te amo", outras com "Eu tenho que aprender circunferência ainda" e bradavam "Bom dia, seu Luiz", repetidas vezes, era o jargão. Outra prática que, corre o boato, também está sendo utilizada é a conta pendurada do almoço. Dizem que a quantia somada é incalculável, o que, especulam analistas políticos, seria uma inteligentíssima manobra para manter vínculos com o Andrews, de forma terceirizada.

Alguns alunos da série foram encarregados de redigir um manifesto. “Nós já estamos acostumados com os trâmites políticos e politiqueiros. O Manifesto explicita melhor do que qualquer coisa o que reivindicamos e o que sentimos”, esclareceu Daniel Murray. Segue aqui um trecho desse manifesto que não se diz político, se diz emocionado:

“O sol ardia do lado de fora da sala (do cubo) onde se encontrava um confinamento de pessoas uniformizadas. Na visão macro poderia-se pensar em ratos de laboratório sendo preparados para algum tipo de teste científico terrível; já a visão micro teria o seu tom de campo de concentração nazista. Às vezes a janela e a porta ficavam abertas, mas era muito: logo seriam estupidamente fechadas e o aparelho que ficava em cima (seria o que jogava o gás no confinamento?) começaria a fazer o irritante barulho, que obrigava todos aqueles que se encontravam de pé na frente, discursando durante todas aquelas manhãs, a gritarem, até perderem voz.

Seriam esses discursantes diários quem mandava ligar os aparelhos de gás? Não, os próprios ratos da sala o faziam, causando, na maior parte das vezes, um alvoroço que resultava em brigas, insultos, unhas e dentes, todos misturados em arranhões e mordidas perversas. Até mesmo simples olhares poderiam simbolizar essa luta disparada, não importa. Quanto ao gás, a sala ficou dividida entre os que o queriam - e suavam - e os que não o queriam - e se agasalhavam -, sendo que, normalmente os discursantes eram contra.

A vida naquela prisão tinha uma rotina "interessante". Tocado o sinal, os presidiários eram arrastados para dentro das grades, onde tinham que escutar o discurso de uma pessoa, que se revezava de hora em hora com outra. No terceiro sinal, era permitida meia hora de banho de sol. Logo após, voltavam para a cela por onde ficavam, com mais duas pausas, até o final da tarde. A prisão mais contraditória: os presidiários eram soltos à noite...

Parece que as experiências deixavam os ratos cada vez mais nervosos, mais gordos e mais brancos. Conforme ia passando o tempo, mais eles espumavam pela boca, tinham seus olhos amarelados e as orelhas machucadas. As mãos, caleijadas. A cabeça doía, não mais pensava, não conseguia mais. Chegava uma hora em que os ratinhos simplesmente paravam e olhavam para fora... quando isso vai acabar? Quando vamos poder respirar novamente que não seja esse gás intoxicante? Quando, quando, quando...

Eles nem perceberam quando chegou o final. Na verdade, nem sentiram direito como o tempo de confinamento passou rápido e que, daqui para frente, eles poderão ter a liberdade tão esperada naquele ano. Talvez nem exista de fato essa liberdade, pode apenas estar no campo das idéias, mas só o campo já é um alívio. Um suspiro profundo. Enchem então seus pulmõezinhos de ar e dizem, ah, acabou enfim.

No entanto, vem uma pontada no coração que a cada suspiro fica mais forte. Será todo o gás acumulado no sangue? Quanto mais pensam, menos raciocinam, e suas visões começam a ficar embaçadas. Cai uma gota no peito. Que dor no peito molhado, que dor de remorso, que dor de saudade... Remorso de ter pensado tão cruelmente da salinha, aquela salinha onde, volta e meia, tinha uma discussãozinha, mas a gente continuava a brincar de pique-parede... Aquela salinha que quando abria a janela vinha a brisa da esperança de tudo dar certo, de que tudo acabe mas que não termine. Conforme as lágrimas vão enchendo os olhos, os ratinhos vão se tornando mais humanos. É o momento que se entende que o confinamento não passou de um esforço necessário, e que as brigas foram apenas um desabafo; os discursantes eram os conselheiros, o banho de sol era o descanso e a cela era a casa.

E como eles se apegaram ao espaço, às pessoas de lá, a tudo que pertencia a esse lugar. Imaginavam-se saindo e passando pela porta qualquer dia desses, com uma lembrança da vista da sala pras mangueiras. Do barulho de qualquer possível pássaro, em geral pombos, que se instalavam sobre os aparelhos emissores de gás, ou de ar-condicionado. As cores daqueles tijolinhos das paredes de fora sempre vão lembrar escola. Nunca mais vão poder olhar pra qualquer árvore sem lembrar das enormes mangueiras do pátio do banho de sol. Todos os restaurantes onde almoçavam os ratinhos, nas redondezas. Como viverão os ratinhos sem aulas de redação com duas professoras, pequenas, mas são duas – até que com salto elas disfarçam bem. Como viverão os ratinhos, meu deus, sem os bilhetinhos que a Bia pendura na Blusa, pra não esquecer de nada – não esquece nunca da gente Bia! A vida deles, longe desse costumeiro encontro com uma professora meio louca, sim ou não gente, que todos os ratinhos amam. Muitos ratinhos não vão mais aprender matemática, mas tentar, ou não, e conseguir, ou não, aprender matemática com os professores que tiveram foi lindo demais. Além da loucura da Mônica, tínhamos a malandragem didática do Pereira, quem dera se os ratinhos conseguissem tão facilmente resolver uma questão de probabilidade. Também contaram com um professor aí chamado marcelo Rodrigues, dizem que ele dá aula bem, mas o que mais fica em evidência é o quão duvidosa pode ser a personalidade dele devido às cores que ele utiliza ao escrever no quadro. É também impossível não beirar a loucura ao se imaginar longe do Xavier, mesmo com seu microfone. Imaginem eles lá, fora do colégio, sem o Cláudio. Sem o Cláudio! Viver longe das calmarias das aulas do Rhenan, longe das indecifráveis cadeias carbônicas, que pelo menos quem dava a matéria era um cara que contava boas piadas. Longe da Ana Maria e das suas conversas looongas. Às quintas feiras, que ratinho não adorava sair de sua aula de química ou física e pensar um pouquinho em inglês com o Francisco e com a Adriana. Às quartas feiras, os ratinhos tinham uns choques de atenção, eram as aula do Márcio que intercalavam risadas, indignações com a vida, especulação e morte nos piores casos. O Faber será outro motivo de revolta de se estar longe, não é aceitável não poder comer pizza da domino’s na terça e ir conversar sobre laranja com gominhos e a sua relação com os subsídios agrícolas nos Estados Unidos. Eu duvido que um dia alguém seja feliz sem ter tido o prazer de ser um ratinho que teve aula com o Marcelo Pinheiro, porque ninguém terá rido de verdade em sua vida, só quem ouviu Umbrella por ele. E muito perdeu o ratinho que não teve aula de história com o Dezemone, oras, ele é a história. Alguns poucos ratinhos filosofavam livremente, nas quintas à tarde, sob custódia do Michell, grande maestro dos surtos de alguns deles.

Os ratinhos, por essas e outras, se viram pertencentes disso e querem fazer parte disso pra sempre. O jornal do Vicente, a anexação da Bolívia, o jeito de sentar do Rafael, os beijos do casal, a gesticulação eletrizante da Danielle, a Marina e seus textos de prova de português, a Olívia que ficava vermelha mais que eventualmente, a cabeça do Fabiano, sempre na frente do quadro, o número 23, que tanto perseguiu os ratinhos, que gritavam “aaaa” amedrontados.

Fica a pergunta no ar: como ficarão os ratinhos depois de tudo isso ter acabado? Eles estão livres, sim, mas por que não disseram que a liberdade era essa selva? Aqui, pelo menos, os ratinhos se sentiam bem, eram bem tratados: ratinhos se apegam às coisas, não se deve fazer isso com eles.”

Mesmo depois de muita confusão, o desfecho pacífico da revolta parece próximo. “A melhor saída, tanto pros alunos quanto pro Colégio, é negociar, e é por esse caminho que eles devem seguir”, opinou ponderado o Presidente Lula. E assim se encaminha para o fim a manifestação: os dois lados, tanto os alunos, quanto o colégio, se mostraram dispostos a negociações. “Nós só queremos que tudo acabe bem para todos”. Declarou um porta-voz da escola. “Nós aceitamos as negociações, só queremos ser felizes” declarou um porta-voz dos alunos. Está marcada uma reunião para o próximo dia 12.

Não dando ponto sem nó, James, servente e filósofo de banheiro incompreendido de sua época, pontuou “Eles não perdem nem os amigos nem a piada”.

virada quase copernicana

O dia seguinte
Memória de brinde
Vontades marcadas
Decisão tomada


Basta dito
Conflito
Alvo culpado
Destino traçado

acordar tarde

Num dia de verão, férias, chuva, Dona Maria se inquietava. Ela estava sempre inquieta, mas sempre tinha um motivo lógico e piscanalisável, porque nada na vida pode ser porque simplesmente é. E o motivo da dona era o seu filho. Pra começar, ele sempre acordava extremamente tarde nas férias e, a cada verão que passava, sua mãe tinha a impressão de que mais ele se enfurnava no quarto. Seu pai também tinha essa impressão, mas ele logo se acostumava, na terceria semana de férias. Dona Maria não.
O filho havia convidado dois amigos para dormir em casa. Quer dizer, convidado não, eles foram pra casa dele, que é dela, de noite, e acabaram ficando, coisa que ela só descobriu quando acordou no dia seguinte. Ou melhor, às 5 da madrugada, como costumava fazer. Era uma surpresa. Ninguém conseguia saber se podia ser agradável ou desagradável visita, dona Maria nunca sabia se gostava ou não dos amigos desse filho, eles se trancavam no quarto, fumavam, sei lá, coisas que até sua galera fazia nos seus tempos de jovem, tempos que ela de certa forma abominava: tudo o que ela sonhava desde cedo, mesmo quando não sabia o que sonhava para sua vida, era uma casa, com filhos e sossego. Mas ela sabia que aquilo era normal, embora, sei lá, não lhe trouxesse paz aquilo. E tudo por água abaixo por causa do filho mais novo, logo no mais novo, podia ter sido no mais velho pra eu já ter me acostumado...
Pois é, e os jovens, que a seus olhares pareciam uns aproveitadores do seu lar - ela nem sequer pensou que eles tinham sim família, casa, comida e roupa lavada, só estavam de férias e estava caindo um dilúvio na cidade, Voluntários inundada - não acordavam. 6 horas da tarde. Não havia nada pra jovens fazerem com chuva - ou seria só mais um dia que seu filho dormia que nem um porco sem perspectivas? Ela tinha uma reunião de trabalho em casa, para resolver pendências e... e como seria com um bando de jovens que dormiam descontroladamente, possivelmente fumavam maconha no quarto e circulavam do banheiro pro quarto livremente?
Ela, que sempre tentou pagar de mãe legal boazinha respeitosa moral e ética, já sabedoura do mundo das drogas e da porra-louquice e por isso compreensiva e descoladinha, embora bem sucedida e caretinha no ponto certo, não aguentou. Entrou no quarto, cutucou o filho raivosa, propositalmente para acordá-lo de supetão, chamou-o para conversar e urrou sussurando, para não ouvirem, mas ouviram:
- Chega! Como é que é? Eles não vão pra casa não? Vão ficar aí o dia inteiro dormindo?
- Eu hein mãe, que que tá acontecendo? A gente tá de férias, tá chuvendo pra caralho e não tem nada pra fazer! Parece maluca.
E ficou assim. A mãe tinha se aproveitado de uma sensação de culpa que ela sabia que o filho conservava em si mesmo, por causa das noites acordado e dos dias dormindo, por causa das merdas que já havia feito, por causa dos foras que já tinha dado nela, por causa da vida que ele levava que não condizia com alguma vida que deveria ser a dele. Sentiu vergonha do filho que tinha, que só dorme, não faz nada e tem uns amigos esquisitos que, com 20 anos na cara, dormiram na casa do amigo. Tudo muito estranho, tudo era sempre muito estranho para Dona Maria, que sempre vasculhava as coisas. Sempre acordava de madrugada para saber o que acontecia - nada - sempre abria a porta do banheiro aceso, sempre queria saber, ficava imaginando quando não perguntava e, às vezes, sua imaginação fértil, pautada em dados objetivos, lhe dava uma certeza de surto maníaco, como essa.
Mas, no final das contas, o esporrinho foi o gatilho para que eles fossem embora e a vida tranquila familiar classe-média em desenvolvimento atéia pudesse correr com suas respectivas vontades, rotinas, neuroses coisas já bem afloradas na casa dos 20 e algumas horas depois de se ter acordado...

domingo, 18 de janeiro de 2009

por quê o que se corre atrás não é de ser feliz

como se eu sentisse meu coração pulsar
e assim eu começasse a sentir meu corpo
em calafrios
eu percebo que é saudade
que o fundo musical é uma escolha inconsciente
de uma vontade de passado
de uma expressão de falta
que normalmente contém-se
que só se abre em casa
que sensibiliza à pele
porque eu amo o futuro adolescentemente,
como meu primeiro amor
hedônico
como quem não sabe o que faz

sábado, 17 de janeiro de 2009

madruga lifestyle

O mundo às seis da manhã é engraçado, pra quem tem acordado todos os dias as 4 da tarde. Pra começar, vc faz sua ultima refeição por volta das 4 da manhã, inevitalvelmente. É sério, já tentei evitar, mas não consegui, a fome vem e quando eu vejo já tô comendo qualquer coisa, hoje foi um pão italiano bonzão que meu pai compra sempre, que eu não sei o nome, torrado, com manteiga, muito bom, manteiga derretidinha no pão quentinho... Enfim, aí lá está você às 5 da manhã, terminando seu "jantar" - será que eu poderia dizer isso? - e aparece seu irmão, que vai acordar às 7 para trabalhar - se fode -, entrando com uma cara de sono absurda, pegando um copo d'água, olhando para mim, e depois para o relógio, constatando que eram 5 e ainda teria mais 2 horas de sono. Quase vi comemoração, se a cara de sono não fosse tão forte. Depois aparece sua mãe, que sabe lá deus por que, acordou às 6 da manhã e vê a luz do quarto acesa, e pergunta, meu filho, que que você tá fazendo acordado, com uma cara de sono absurda. Já sei tudo o que ela pensou, que eu tinha combinado de almoçar com ela 1 da tarde e, em virtude da hora, eu posso vir a furar, com ela e com a minha madrinha, no que, sem dúvida, ela pode ter total razão. Ou não, eu sempre penso assim antes, nunca consigo ser realista o suficiente. Aí você liga a televisão pra dormir e sempra está passando algo saúde. Estipularam que a manhã é o momento saúde e também o momento compras no polishop. Acho que são uns 4 canais que passam polishop de manhã, é sério. Em seguida se aconchega para dormir e não fecha a cortina pra não perder a linha e acordar às 8 da noite amanhã - culpa sempre presente. Depois, sem saída, você muda pra GloboNews e vê um pouco sobre a Faixa de Gaza, depois vê um Via Brasil bem inútil, com a cadela que amamenta gatos em Cururuapeba, no Amapá. E o foda-se? E dorme, afinal.
Conclusão final, por motivo de censura familiar e mundana: tentar acordar mais cedo, pra dormir mais cedo e acabar com essa vida sussudiana.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

perto do céu o ar é rarefeito

o mundo é uma merda
e sempre foi
mas é merda acumulada
que cala
acumulou tudo
tanto que eu já sei que você vai falar
sobre ele,
filósofo...

o céu é o limite

acumular aumenta o abismo
todo mundo quer acumular
será que o Marx fala disso?
Todos eles sempre falam das mesmas coisas
tenho que lê-los
pra saber melhor
só que vou deixando acumular
aí já viu,
acumlar aumenta o abismo

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Squizo-jesus

Alguém já parou pra reparar o quão esquizofrênica tem sido a nossa sociedade? Sim, porque só nós nos damos o trabalho de ficar pesquisando coisas sobre o mundo a ponto de descobrir a razão da nossa existência, o que há de relacionado em tudo e a existência ou não de algo que se possa chamar de Deus, tudo como desculpa para encontrar a felicidade, tudo de modo que nós temos que nos sobrepor a muitas coisas que nos parecem intrísecas, instintivas. Cara, nós inventamos filosofia e física quântica, sem contar as auto-ajudas derivativas, preciso ser mais claro? Eu atribuo essa culpa a Jesus Cristo. Sim, a esse maldito, que nos deu a idéia de que tudo deveria ficar bem. Qual é o esquizofrênico que não fala em percepção, em ter que fazer alguma coisa pra salvar o mundo, em realização por obra? Pois é minha gente, acho que Jesus era um esquizo louco, que tinha seus delírios de grandeza sobre os rumos da humanidade, sobre ser filho de Deus(!), sobre o modo como nos comportamos ser danoso e sobre a mudança para encontrarmos com Deus, sermos todos felizes, totais e salvos de uma bad trip pra qual talvez ele que tenha nos guiado. Ser feliz pra sempre, resolver tudo, descobrir tudo, filho de Deus, isso é papo de gente louca! É sério! Vamos nos tratar! - olha minha esquizofrenia aí...

domingo, 11 de janeiro de 2009

desabafo - embalagens

Lá estava eu, às 5:34 da manhã de domingo, sim, tinha acabado de chegar da rua, querendo comer um pouco de pão com pastinha de soja. E ela não abria. Graças à merda da embalagem. Aí eu desisti, fui pro quarto e dormi. Mentira. Eu, do jeito que tenho espírito-gordo-da-madruga e do jeito que eu estava na larica, não tinha como, eu tinha que abrir aquela embalagem. Fiquei horas tentando. Tinha um dispositivo lá, que todas essas pastas de soja têm, que você meio que abaixa, ou rompe nos pontos determinados, enfim, era um cu a embalagem e eu só consegui na grosseria, quando peguei uma faca e rasguei aquela porra lá ferozmente, como um animal selvagem faminto - por pastinha de soja, mas ok.
Durante o processo de abertura, processo lento e gradual, desde o estudo sobre a anatomia do produto - qual seria a maneira que os designers pensaram que eu fosse abrir aquilo - até o rompante de ódio e irresponsabilidade, que abriu - só a violência constrói -, imaginei, puto da vida, o que que esses filhos da puta pensam quando inventam uma merda de uma embalagem escrota que não abre.
Imaginei a cena: uma sala de reunião, um designer fazendo uma apresentação no data-show, cheia de setinhas e legendinhas, e o produto na mão, esperando para ser aberto na frente de todos os acionistas majoritários da empresa. O designer tenta uma, duas vezes, os acionistas entreolham-se, terceira, quarta, na quinta ele consegue, demonstrando a eficiência da sua invenção: era justamente a dificuldade que eles queriam, talvez para que vândalos que freqüentam supermercados não conseguissem mais violar o produto tão rapidamente antes que qualquer segurança chegasse para retirá-los. Ou talvez para que, quando estiverem deitando suas cabecinhas em seus travesseiros, imaginem rindo o quão penosa está sendo a vida de um jovem ao tentar abrir, bêbado e chapado, sua embalagem de pastinha de soja para sua nada-mais-que-larica-da-madruga. Ou, quem sabe, na verdade, os designers de embalagem façam parte de uma sociedade secreta de ajuda recíproca, da qual também faz parte toda a elite intelectual e financeira do mundo, e instalam nas embalagens um chip que conta o tempo demorado para a abertura da embalagem e ele aciona uma mensagem de convite a integrar à sociedade se você conseguir no tempo estipulado - somente os crânios, pra perpetuação do poder e do saber. Talvez eu deva me empenhar mais pra ser selecionado, é uma grande oportunidade...
Masenfim, o que mais me dá raiva é que essas embalagens ainda conversam com você, te dizem gire para cá, faça isso, como se fosse um quiz, ou sei lá, uma tarefa do passa-ou-repassa, que todo mundo tenta e não consegue, aí você leva um jato de tinta roxa na cara - quem não lembra do Celso Portioli? Quando eu olho essas embalagens agora, abertura fácil, eu nem penso mais, me sobe um espírito ogro, eu lanço a faca e abro essa merda, mesmo que isso possa vir a a me causar danos físicos, de cortes nos dedos, como os meus, a cegueira em um olho, que ainda corro o risco. Se eu vivesse na selva acho que seria pior - pastinha de soja já não ia rolar.

agonia é normal

irracional
agonia
do mundo
real
e o medo
abissal
de estar indo mal
no mundo
(animal)
evocam
(é normal!)
idéias
sobre o mundo
e o medo
e o modo
e o real,
fugidias
na maior parte das vezes
(ser racional)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

imigração irregular bem-sucedida

Foi dito que Erasmo foi pra Suíça e nunca mais voltou, arrumou uma boa lá, quem não iria... Acontecia mesmo era da vida de Erasmo ter entrado num tédio tão grande que era preciso reconstruir. Na suíça, casou forjado e ficou dois anos nessa até conseguir a nacionalidade. Não devia receber muitas pessoas do seu país de origem, para que não se suspeitasse da fraude - era sua nova gestação, num ventre quente, apesar do vento frio dos Alpes, e isolado. Um sossego!
Nesse período, pouco conviveu com o que lhe gerara tédio no Brasil. Somente aos telefonemas, muito pouco vivia a vida do Brasil e aquela vida-expectativa-de-viver-na-Suíça, na Suíça, certamente era bem melhor que o Brasil - o que não fazem a alienação e o desenvolvimento econômico-social... Ia ao supermercado suíço, que diferença!, aproximou-se da sua legítima falsa esposa, que refinamento!, lia muito, fazia, na calma, sem ânsias ruins nem náuseas, seus estudos: vivia tranquilo sua vida mentirosa até o prazo terminar.
Terminado o prazo, nascido o novo suíço de 81kg e 1,88m e uma tal cara de latino, esperaram mais uns meses para não dar bandeira e se separaram - sua mãe vivia perguntando por que que ela havia feito isso tudo por ele, quando milagre é muito o Santo desconfia. A vida nova de Erasmo começava na Suíça e agora ele já podia voltar ao Brasil, como se quisesse...
Chegou a acreditar, depois de muitas discussões mentais consigo mesmo, de verdade, que queria, nostálgico, e voltou, de férias, uma vez; não queria aceitar, mas ia pra, digamos, comemorar - estranho? Janeiro, calor, fantasmas do passado, viu sua família diferente, seus amigos diferentes, seus destinos traçados, um vácuo de Erasmo, fujão, e a sua vida nova recém-nascida era uma mentira, um egoísmo, uma maldade, lamentava-se em seus versos...
Voltou para a Suíça e tudo voltou a ser verdade, paz e realização - quase que graças à sua nova nacionalidade, o passaporte suíço apresentado no aeroporto ao retornar - menos às vezes, em algumas madrugadas sozinhas e nevadas de férias, nos Alpes, por opção.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

aberto para discussões filosóficas

Me pergunto até quando as metáforas artísticas e o pragmatismo científico vão resistir, até quando vão conseguir encontrar, através de individualidades, relações de sentido sem que se tornem fundamentos universais... Quando haverá o inevitável encontro de todos com a miséria comum? Me pergunto também se, quando esse momento chegar, o momento de universalização máxima da vida, não estaremos inexoravelmente fadados a sucumbir ao crescimento da religiosidade... Porque o que me parece certo é que nós, através da arte, exploramos o mais profundo que há em nós e, a cada década que passa, se torna mais visível a igualdade de todos quanto aos sentimentos e sussudios. A religiosidade monoteísta que herdamos dos Hebreus nos faz simbolizar a universalidade, ao que a própria ciência e também a arte parecem nos direcionar. Até que a religiosidade se esgota. As cidades crescem, o homem se valoriza, o indivíduo se sobrepõe e nossas heranças greco-romanas avançam, e a racionalidade volta a explorar tudo até a volta ao universalismo.
Desequilibrados, nós, ocidentais? Não, aparentemente somos liberais e democráticos, o que me parece bem moderado - ou apático...
E o que poderia ser a causa principal desse pêndulo bem demarcado? Eu diria que Nietzsche encontrou a resposta, talvez sem saber da possibilidade de existência da minha pergunta. Quando ele define a nossa ethos como mais pesada para o lado apolíneo, estabelece-se carência para ao lado dionisíaco. O lado dionisíaco, sempre associado à subversão, ao pecado, começa a ser valorizado, por super-necessidade decorrente da carência. Mergulhamos sempre muito fundo nas nossas dionisíces, o que mostra a sucessão de viradas, revoltas e revoluções desde o início da modernidade, que encontrou na ciência e na arte as formas de expressar seu dionísio. Nos tornamos um povo que oscila a necessidade dionisíaca entre o prazer das descobertas céticas e o prazer das compreensões metafísicas, até fundirem-se em religiosidade, é aí que nossa alma encontra o seu dionísio.
Mas que dionisíces apolíneas!
(Me questiono se haveria alguma relação de empatia entre o ideal expansionista civilizatório romano e o catolicismo, religião de conversão e missionária, e como isso pode ter guiado a mentalidade humana pela busca da universalidade. E mais, os pecados e a doutrina de comportamento hostiliza atos dionisíacos na cultura pagã, o catolicismo e Roma, dessa forma, abafando a nossa vida ébria, o que nos faz querer buscá-la no que já foi abafado também: a cultura da arte e da ciência: nossos dionísios, as nossas dionisíces, se tornam passadistas, renascentistas. Ficariam expressos, através dessa relação, o direcionamento das práticas artísticas, científicas e religiosas da humanidade até hoje e a sua busca incansável, tanto por prazer, quanto por totalidade. Outra questão: onde estaria o equilíbrio grego entre apolo e dionísio? onde teríamos o perdido? meu palpite: império romano e suas expancionices - expansão não me parece sinônimo de equilíbrio. O império romano precisava muito de uma religião cristã para se sustentar, talvez a mitologia grega não desse conta do universalismo que a multiplicidade cultural do império pedia, além da necessidade por expansão, coisa em que os cristãos sempre foram craques. E, talvez, depois de perdido o equilíbrio, tenhamos caído numa espiral progressiva de apoliníces, onde nossas válvulas de escape dionisíacas, com o passar do tempo, tenderão a ser cada vez mais apolíneas, já que as impressões de mundo vao se construindo sobre um ambiente já desequilibrado para o lado apolíneo. Os romanos, por necessidades digamos, de Estado, valorizaram a razão. E livros sagrados não menos dotados de compreensões racionais, senão não seríamos capazes de entendê-los. Enfim, perdidos dentro de uma apolinização de tudo, até dos nossos dionísios, o que perpetua uma dialética histórica.)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

dívida de bar

resistindo a pilhérias,
venho poupar minhas migalhas-misérias,
porque relatar tudo
cru
impossível
venho, em meu nome, me desculpar
não trouxe
não tive tempo, eu digo
não tive coragem, eu penso
quando não digo e penso:
estou aqui sem
estão aqui de ouvintes
e eu cansado
comsono
minguado
propondo
vamos pedir a conta?

domingo, 4 de janeiro de 2009

A contemporaneidade nunca é moderna o suficiente.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

diferente de 68

como o amor poético é nostálgico,
e a virtualidade excessiva
inativa a experimentação de um romance
romântico...
mas a pós-modernidade argumenta possibilidades
reais
abundantes
quem somos nós?
contrapostas à materialidade e só.
eu tenho um subjetivismo sustentado pelas tendências:
um amor não correspondido sem alvo
e o meu tesão carnívoro
saciado por descargas químicas
em sintéticos
em cigarros
em idéias fugitivas que me calam aos atropelos
ridículo!
e a vida é isso aí, ó

da nossa cultura

é não contar
achando que conta
e vangloriar isso
circundar
ciscar
cuspir
e não sair de perto.
é quase crer em Jesus e não dizê-lo
simplesmente não dizer por prazer de negar
se, é claro, Jesus fosse aquilo que disse que era
de espaço para todos
de misericórdia
e amor.
é o enovelamento contínuo e interminável
mumificando o sentimento que precisa de trégua,
digo, morrer pra sempre.
individualismo da nossa época
como a ressaca de uma animosidade com a cristandade
graças aos maus-tratos medievais.
só diga
eu vi o fim de tarde
senti o sussudio
e já estaria bom por enquanto