sábado, 31 de outubro de 2009

Quantos acúmulos mais?
precisam
precisarão
precisaram
precisariam

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

momento arte

sujeito e objeto
elementos do mesmo
formas de um todo
que perpassa tudo
o universo.

somos forma vazia
assoprada de vida.
somos linhas e linhas
cheias de tudo
de impulso.

é nesse momento
desse silêncio,
não o silêncio de fato,
mas esse silêncio

o silêncio

o silêncio

que implode compreensão
implode razão,
quando como que um beijo
vem a nós
e nos inunda
de um peculiar respirar
e nós contemplamos
o infinito movimentado
de que fazemos parte:
esse momento
é arte.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

humanamente encaixado

São símbolos novos
novos na medida do movimento
novos símbolos de novas medidas
novas medidas de novos símbolos
e aí se tornam velhos, velhos símbolos, trajeto mapeado do caminho traçado pelas palavras e estruturas passadas até as palavras e estruturas de agora

é ser ciente, suspenso

a cada novo momento
um apêndice à cosmologia
um acúmulo à compreensão
indispensável de se agregar à memória quando se é movimento
é rever os caminhos e as posturas que desde o início indicaram quem eu era
ler e reler seu passado é o primeiro passo, é o fim último daquele que quer reescrever todo dia o final da sua história.

razão é o motor movimentando a razão e o movimento (e você ali no meio)

Eu ouvi, lá do fundo de mim mesmo, aquilo que me ensinaram. Ouvi tão fundo, tão fundo que aquilo que ouvi era tudo o que era, eu vi que me conhecer sinceramente era o mesmo que conhecer as minhas vontades que era o mesmo que conhecer o meu mundo que era o mesmo que conhecer, dentre todas as possíveis possibilidades da moderna modernidade, aquilo que você está aprendendo a ser, reconhecendo-se, de novo e de novo e de novo. Ao ouvir esse chamado lá do fundo de mim mesmo eu percebi todo o sentido da existência no caos. Lá ao longe eu ouvia: e o caminho para chegar lá que tornara-se o problema, porque eu via, eu ouvia, eu sabia, quase intuitivamente, qual era a minha maior vontade, eu sabia o que era aquilo, tão novo, tão meu, que eu queria expressar, mas havia todo o processo e todo o processo fazia parte também daquilo que eu queria expressar. Era como se eu sentisse-me atraído por mim mesmo enquanto vontade de representar, enquanto impuslo a ser formalizado, e o processo até lá, lá esse que envolvia o processo, eu repito, é que era árduo. Mas existiam, então, duas opções: restar na inexpressão, na incompreensão, na masmorra, revoltado, indignado, escravizado e cansado desse trabalhão que ainda faltava, ou ia, seguia, perseguia, continuava, movido pelo motor de mover-se, a caminho, incansável, inabalável, um protestante comigo mesmo, com o meu estado de morbidez tradicional hedônica. Buscar a mim mesmo, eu descobri isso pelo caminho da vida, era o mesmo que viver todas as vicissitudes da nossa cultura: trabalhar, arduamente, e continuar trabalhando, focando a arte, a minha arte, aquilo que eu consigo expressar de mim mesmo, o melhor de mim mesmo, o meu objetivo maior, aquilo que, no final de tudo, eu gostaria de ser: racionalizar e racionalizar, porque quanto mais se racionaliza, mais se otimiza a sua produção de si mesmo, mais se descobre os caminhos dentro de si mesmo, dentro da sua cultura, cara, porque o sujeito e o objeto já se fundiram em um só, você é aquilo que é a sua cultura que é o objetivo individual que é a tentativa de estruturar a vida para que se coniga estruturar os pensamentos em direção à realização de si mesmo, de sua vontade e aqui eu decreto o fim da fé, pois o objetivo não está mais na inércia. Acontece que a razão, enquanto instância reguladora da história, sobrepôs-se à fé e, esquizofrenicamente, tenta sobrepor-se à cultura, e aí a nossa cultura virou a própria razão, que dse sobrepõe à cultura, que agora é a razão: a sobreposição da razão sobre a própria razão, e eternamente assim, um sobre o outro, o além do além do além do outro, e a estrutura se tornou cultura que se tornou estrutura e que se tornou cultura, e o que ninguém consegue não fazer é parar de pensar sobre si mesmo, o que trás conhecimento sobre o mundo como ele é, instável, pois as estruturas, a todo momento mutáveis, que são elas mesmas os conteúdos das nossas culturas, são o movimento constante das expressões estruturantes dos indivíduos quando tentam dizer a sua ideia, sempre fugaz, sobre o que é o mundo. O problema de tudo, meus caros, é que já se falou tanto que eu tenho medo de que, para conhecer-me, para conhecer minha cultura, eu deva ler realmente tudo o que foi dito, conhecer mesmo tudo o que já foi estruturado, para poder estruturar mais profundamente aquilo que sou eu, que é o mundo. (Não poderia ser algo mais antropológico?). O problema, e aí que talvez esteja a dicotomia moderno/pós-moderno, é o cansaço que a gente já sente ao ver todos os caminhos árduos necessários para concluir a minha expressão, que sempre vai mudar, porque movimento é o que mais há. O movimento, pra quem está parado, cansa, mas o motor do movimento é o próprio movimento e não se pode nunca ter parado: você está obrigado a andar e andar e andar, com a correnteza, e tentar ser o primeiro, guiar a correnteza, se quiser ser o melhor, mas saiba: alguém pode vir e te tirar do primeiro lugar, é só uma questão de dedicação protestante ao trabalho da razão prática - a prática racional da sua vida.

domingo, 18 de outubro de 2009

conceituando vontade num lugar histórico moderno

Partindo do pressuposto de que somos ensinados a sobrepor a moral às nossas ações, procuro vislumbrar as consequências da atitude contrária: nossas ações virem à frente das nossas morais. Mas é então que me confundo, me confundo nos meios pelos quais se poderia inverter esse mecanismo moral, me confundo ao pensar a que grau de ações isso se refere, me confundo ao pensar as consequências disso, se for aplicado a tudo, a toda e qualquer instância em que a moral - ou qualquer outro dispositivo - minimamente controla os homens e mantém certa ordem, certo respeito.

Para que eu mesmo possa compreender melhor essa reflexão, resolvi mapear como se formam as vontades dos homens, aquilo que vai lhes guiar as ações, aquilo que é o que será impedido ou movido pela moral, se ela vier de cima pra baixo ou de baixo pra cima, respectivamente. Porque sim, os homens podem ter muitas vontades, das mais variadas possíveis, e não pretendo classificar essa vontades em categorias. Assim, o lugar aonde quero chegar com essa reflexão é basicamente este: que instância seria aquela que limita inconscientemente as vontades e as aspirações dos homens, e a que essa instância estaria relacionada, se não é com a moral?

Para responder a essa pergunta, procuro recorrer ao meu precário conhecimento sobre Hegel. Do pouquíssimo que aprendi, entendi que Hegel lança a perspectiva histórica da razão, ou seja, a razão é histórica porque a razão é a história. Recortei essa informação e tentei aplicá-la, encaixá-la nas minhas divagações: essa razão história também seria aplicável a padrões morais. Sendo assim, a moral não seria algo estanque; a moral de cada tempo e espaço (pegando emprestado a terminologia de Kant), isto é, a moral de cada lugar histórico é determinada pela razão história. Isso determinaria que os homens hoje têm vontades que condizem mais com as disponibilidades de seu lugar histórico.

Essa hipótese me pareceu satisfatória por um motivo principal: o fato de os homens terem, de acordo com seu momento histórico, motores diferentes para ações, ou seja, são apresentados aos homens determinadas circunstâncias que os homens absorvem por viverem naquele tempo e espaço. Essas circunstâncias é que determinariam que tipo de vontades essas pessoas podem ter, fisicamente falando. Uma pessoa que nasceu no Egito antigo teve tais e tais experiências que uma pessoa que nasceu no tibete da atualidade não teve; as possibilidades físicas pras vontades têm que ser anteriores à vontade.

O que eu conclui dessa reflexão acerca dos limites das vontades foi justamente que as vontades que surgem nos homens estão relacionadas ao seu lugar histórico, ou seja, a razão história vai expor aos homens as circunstâncias em que eles se encontram, e as vontades que surgirem nos homens em cada época vão estar restritas aos limites da condicionante razão história. As consequências da inversão moral que se vem propondo, portanto, não quer dizer que vamos agir como bufões na Idade Média. Pode até ser, em casos individuais, por motivos de uma biografia. Mas se formos tratar de um ponto de vista mais amplo, aquilo que motiva os homens modernos é a realização. Os homens, na contemporaneidade, conseguem compreender a necessidade da civilidade, mas têm dificuldade de ir atrás de suas próprias realizações.

Assim, entendo que os homens, que racionalmente (razão história) encontram motivos para conservarem algumas conquistas civis, e políticas, por consequência, devem agir de acordo com suas vontades de realização, e não que os homens devessem exercitar atitudes diabólicas. Os homens devem buscar, em si mesmos, no seu conhece-te a ti mesmo, quais são as suas vontades, tendo em vista toda a disposição racional histórica de seu lugar. Entendo também que a educação, para essa proposta, não deve ser banida permitindo, portanto, que os homens ajam animalescamente por aí - me arrisco a dizer que cultura é da natureza humana. As conquistas civis e políticas, dessa forma, devem ser mantidas e deve ser mostrado aos homens todas as possibilidades de realização de vontades que há na sua sociedade. A educação deve instigar os homens a realizarem-se na própria cultura, na própria razão história de seu lugar, e não deve ser despoticamente moralizadora, indicando o correto e o incorreto eternos, o que gera a culpa, o medo, o ódio e a inércia. A moral de cima para baixo impede os homens de conhecerem-se a si mesmos, isto é, de irem buscar em se lugar histórico os caminhos para a sua realização, os caminhos para sentirem-se exercedores de suas vontades.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

o mundo é não-familiar

rebentado
porque me fui
deslizante
fui, aguado

restei
desacomodado
os braços e as pernas
abertos, mexendo
tudo havia mudado

sábado, 3 de outubro de 2009

reflexões modernas

Começo a me perguntar o que é o novo, já que quero persegui-lo. Algumas hipóteses: o novo é buscar conhecer aquilo que te envolve; o novo é um olhar que se tem sobre as coisas que te faz querer vê-las de outras formas, de formas novas, para conhece-las mais, de outro prisma, de novo; o novo é o que te impele a continuar o movimento da vida, em direção às várias direções do infinito; o novo é produzido por aqueles que querem ver o infinito na vida - o que talvez seja a arte para a modernidade; o novo é aquilo que fala mais alto nas paixões dos homens, aquilo que nos leva, se não fosse o medo travestido de tédio, em direção ao poder sobre a nossa volta; o novo é o caminho para as expansões dos olhares, da moral; o novo é criar novidade sobre o velho tudo, é tornar obsoleto, inadmissível e desnecessário o que se tinha conhecido; o novo é o novo de seu tempo, o novo empolga o novo de seu tempo.

Aí eu parto para uma segunda parte da reflexão. Que tipo de comportamento-postura diante da vida-ela-mesma, ou seja, das interações humanas (humanos com humanos e humanos com o seu mundo), seria mais propício à descoberta do novo, esse novo que pode se apresentar em qualquer instância? Gosto de figurar um sorriso-riso como imagem dessa postura. O sorriso-riso, sim, porque o sorriso-riso é o indicativo de que se está disposto a viver uma nova experiência, é empolgação, é atração de novidade. Conhecer algo implica querer conhecer algo; e ultrapassar a barreira do conhecimento do familiar, buscar conhecer o novo, predispõe um ver-com-bons-olhos o por-vir-do-conhecimento - e se animar rindo quando ele vem! - porque o novo só se apresenta para quem vai até ele, com vontade de encontrá-lo - e só é bom quando apropriado, rido. Os caminhos deixam de ser cheios de medo à medida que a vontade de continuar a vida boa nos faz ir ao encontro das novidades que podem nos fazer ser senhores de nós, do que nos rodeia. O sorriso-riso é o fim do medo, é se dispor e conseguir; a segurança pelo sorriso-riso é o fim de uma expectativa de moralidade recíproca em que todos têm medo de todos, não caminham, não se cruzam, se acusam, não morrem, mas se prendem. O sorriso-riso, seu vigor e sua calma do passo a passo, de infinito em infinito, do gosto pela descoberta, rindo a cada etapa cumprida: o sorriso-riso é o peito aberto de todos os que fazem da arte, o produto do novo, a sua motivação para seguir na guerra contra o medo, em direção aos melhores frutos - partilhados para os meus bons, os que sorriem pro novo que encontram na minha e em toda a arte... e riem ao concluirem que as conhece!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

moderna vida-ela-mesma

o medo do novo
e a passividade
da espera:
nesse ponto
desonramos o que nos motiva,
nós
modernos

mas isso talvez seja necessário
porque somos renascidos:
antes
um período de finco
de medo
de fé
em paradigmas passados
uma boa vontade
uma caridade com os estatutos
de uma rotina
do costume

e depois
como uma consequência
dos anos no medo
seja antítese a antítese
seja por uma vontade maior, sua
seja pelo que for, cara
você vai se cansar desse tudo
divinamente encaixado
instituído
e vai experimentar o nada
o nada
e estará renascido
em branco
desalienado
vontade puríssima

por você

você vai se cansar de trabalhar o velho
você vai estar esfolado de tentar compreender um deus
você vai finalmente iniciar o projeto seu, novo
você, que é moderno, vai buscar a realização na sua cultura

um sentido pequeno atrás do outro
uma coragem latente numa busca para si
e o argumento maior da sua vida vai ser você
é você, coisa pensante de corpo que sente
você vai desmistificar a existência do nada
vai se encaminhar pelas novidades que enxergará
no infinito
e vai viver, vai se empenhar, vai desanuviar
sabendo do nada
sabendo da morte
mas com uma pretensão sua
a pretensão de novo
e que por isso não quer mais parar
de experimentar e se cansar e experimentar
de novo - mesmo sabendo
do nada
e de pouco.