quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

solsticio de inverno ou começando O Projeto

Parte pra mim o dia
que o sol nao nascia
sai pressagio
entra minha propria vida
tanto ensaio
pela noite fria
pra nao ser escravo
dessa melancolia do dia-a-dia...
mas tudo... Ah!
Tudo é a maior covardia!

Vejo então quão fragil
posso ser ao meio dia:
se no meu atual estagio,
tao de manhazinha,
é que tudo se inicia,
e tudo ja tao complicado,
tudo sem mentirinha,
logo, eu imaginei,
ao sol do meio dia,
de agudos espasmos
de tanta nostalgia
dos dias-de-noite-que-o-sol-nao-nascia
sofrerei, sofrerei, sofrerei muito ainda

sofrerei, sofrerei muito
um dia...

Ser e Estar e Haver

Qualquer ato reprime outro.
Cada segundo que passa

tic, tac

cada movimento
cada gesto, cada coisa
que se sobrepõe ao Anterior.

A nova aparência reprime a velha.

O novo momento reprime todas as infintas potências do velho - e todos os desejos e sonhos que projetamos nessa infinidade!
O espaço substitui sua ocupação e a energia sei-la-qual é que faz algo se colocar no lugar outro.

A cada fração de segundo, quanta coisa muda?

Sei que dois corpos não ocupam o mesmo lugar, o que esta nao é o que estara!
o choque do espaço com a matéria...

Tudo reprime tudo

So de surgir, uma coisa ja reprime o espaço que não ocupava.
E quando ela morrer, outras coisas que surgem e se movimentam vao repimi-la.

Cada mudança

Cada salivada

Cada rabisco ou letra

repressao ao que nao era, ao que nao tinha, ao que nao estava!
reprimir a repressão de antes
reprimir, reprimir, reprimir!
Tudo é so reprimir!

Porque tudo, ora...
tudo é uma coisa so
que reprime tudo o que nao é

todo o novo momento
é uma repressao de tudo
contra tudo

passa a ser algo que nao era

novos e novos infinitos tudos
se reprimindo conforme o tempo avança

são, não são mais, são, não são mais, são, não são mais, são, não são mais, ...

tudo se reprime porque tudo sempre muda de lugar

mas as coisas, sei la por que, embora consiga conceber, podiam nunca mudar de lugar.
O mundo é um mar de possibilidades e o espaço e o tempo deixam tudo
e nao tem jeito, tudo muda e parece que é porque tudo quer
as coisas mudam espontâneamente e por isso é repressão, pura e simples, deliberada, injusta

Porque a estaticidade nao agrada tudo
Por que a estaticidade nao agrada tudo?

Ah, nao sei nem mais a quem eu culpo!

domingo, 27 de dezembro de 2009

quando a grandeza da cidade se mostra

é madrugada
derrete uma neve na minha bochecha
eu caminho, fechado em casacos
fazendo fumaça e cinza com os meus cigarros
com o meu sangue-quente
ouvindo algumas vozes ébrias alheias na rua
encabrestado por um capuz, um cachecol e as mãos que se escondem, nos bolsos, do frio
a neve-agora-gelo pela rua, cinza

(bati a cinza)

não ha cores de pavimentaçao nem de fachada MESMO que possam murchar o cinza de uma cidade altas horas da matina
cinza honesto
cinza notivago
cinza de deixar o movimento ao fundo, vozes e gestos e tanta tanta coisa acontecendo, e você saindo, sozinho
pra virar, pra variar, na sua rua residencial, mais quieta
vendo e ouvindo melhor os seus passos - seus pés são mesmo tortos -
fumando um dos ultimos cigarros, o do andar cabisbaixo,
que so quem precisa olhar pra baixo e se perceber - que asco! -
é capaz de acender - é o cigarro daquele que não precisa de ninguém, nao quer ninguém, nem pra pedir isqueiro
acende com seu proprio fogo mesquinho, catado em alguns dos seus muitos bolsos de seus casacos e calças, tchec, tchec, ffffffffuuu
cinza seu
cinza da cidade

e as luzes nos prédios...
que se não fossem luzes
nem prédios...

ah, andar sobre andar de fogueiras
de fogo pra curar cegueira, pra dizer que guerreia.
Contra a noite e o frio.
"Homem conquista o fogo"
conquista-o pra vida inteira, sempre da mesma maneira...
o fogo sozinho de um fim de sabado antes de um domingo antes de uma segunda-feira
ja é cinza antes de chegar na piteira,
cinza e mais cinza de tanta fogueira
de todo mundo que guerreia
de toda noite, incluindo as de sabado e as de domingo e as de segunda-feira
a noite inteira, a noite inteira, a noite inteira
cigarros e mais cigarros, mais cinza e mais piteira
toda cidade - sempre! - da mesma maneira:
montes de cinzas com picos e abismos
picos e abismos estreitos com beiras.

Cuidado pra não se jogar!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

espreguiçar-se

esses versos
sao para todo pingo de qualquer outra vontade
que justamente surge antes de fazermos alguma coisa
sao para a vantagem
de parar os planos, mesmo os de curta distancia
mesmo os que nos propusemos

esses versos
sao a expressao mais feliz do cansaço
e da preguiça
sao a apatia e a letargia em adornos simples, mas lindos e vistosos
calmantes e alegres
sao a licença gostosa de ficar um pouco mais antes do feito fatal

esses versos
se estendem e se iludem
se iludem de que podem expandir os apenas-alguns-segundos-a-mais - como isso é bom!
porque o tempo mesmo sempre passa igual...
versos atrasados mas desprendidos,
por falta de compromisso, por força do riso
eles sao so pra quem quer mais um pouco de qualquer coisa antes de...
sao como fitas coloridas, suaves, balançando docemente sem objetivo
algum
preguiça da preguiça - e como isso é bom!

porque esses versos
so são
quando a poesia melosa se sobrepõe
tenra
a qualquer nuance nossa
que encaramos
nem que minimamente
como dever

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nao vou te mostrar
nem te ensinar como comer com o garfo!
Nao vou te mostrar
é sua vontade que te enche o prato
tenho pena de te ver pensando
o que comer!

por que me culpar
quando é o mundo todo que é errado?
por que me culpar
e insistir em ser um cara chato
me intrigando e perguntando
como fazer?

Culpo deus,
é mais facil
porque foi ele
que fez tudo isso pra mim

Culpo deus,
desgracado,
eu so' sai
de uma vagina e estou aqui

Nao é problema meu que o mundo seja ruim
Nao é problema meu se você come assim
Nao é problema seu, nao se questione, enfim!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

medo de ser desenvolvido

Olho a vista daqui do velho mundo e é marcante
que todos precisam fazer suas vidas
seus caminhos
sem se lembrarem de rir muito...
à distância, o destino...

é perdido

quantas faces sao minhas?
uma coisa é pensar, outra é fazer
uma coisa é querer, outra é poder
um caminho é entao descaminho
a certeza é entao desânimo
uma casa e seus moveis, um suplicio
do amor que ninguém vai ter

por ser brasileiro
sou dois filhos gemeos
dois impulsos heterogêneos
um do amor e do riso e do risco
e um do serio, do meu e de outro risco
ah! cada caminho e seu descaminho...
ah! as escolas e seus feitos filhos
seus defeitos timidos

uma bomba a se instalar la
(aqui)
por nada mais ser ou achado ou perdido
sem extravio de ensino, nem de bagagem
nao me venham podar meu selvagem!
que medo de ser desenvolvido!

pergunto à moca do achados e perdidos,
lost and founds, por aqui,
pra mim aqui é tudo invertido
primeiro se perde depois se acha, esse é o certo, ela me diz
eu, ouvidos, repito que sim,
esse é o certo, mas a minha mala nao é esta aqui
perdida e depois achada
prefiro achar e depois perder
como a bagagem, com dono, que perdeu seu caminho
como o dono, sem bagagem, que perdeu-se em destino

ah, o primeiro mundo, e todo o esforco
pra permanecer no topo!
ai, que medo de ser desenvolvido!
que agonia de marchar tao certinho e igualzinho!
nao tem agua de marco pra escoar, diluir, confundir os meninos!
uma bomba na escola pra calar o serviço!
uma chuva tropical pra apagar, pra ser livre!
ser pedra sem estar no caminho!

Alguém? Eu repito!

Um intensivo
de amor,
Eu preciso!
Que cada vez que eu me olho
eu repito
que é mais forte
é mais forte que o riso
que é alguém
eu insisto
eu insisto
o amor
o rumor
que eu preciso
pra tudo isso!

Tô aqui pra cair
num abismo
e também pra ser
outro abismo
pra mudar
causar, em alguém, algum vicio
pra dizer
que é amor, que é amor
diz pra mim
alguém
é de um amor
que eu preciso

Alguém me da,
por favor,
o seu viço!
Que eu dou
com carinho
o meu risco
vem amar
vem dizer
eu preciso
eu preciso
de um amor eu preciso!

Sei que é disso
de amor que eu preciso
diz alguém
de um amor eu preciso
faz um bem imenso
vem que eu explico
vamos logo pular desse pico!
tô pedindo um amor
eu preciso!

Sem saber mostrar
eu insisto, vamos
revirar o lixo
e encontrar um sorriso,
toda sorte desse precipicio,
vem pra mim
vem ser o amor
que eu preciso
que é de um amor,
de um amor que eu preciso!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ah, mas eu sinto uma coisa tão boa, mas tão boa quando alguém está fazendo coisas em mim para me cuidar... Eu acho muito gostoso ir ao barbeiro, ao dentista, ao médico... Adoro o fato de ficarem encostando em mim com cuidado, com o objetivo de me manter bem, de melhorar a minha aparência, a minha saúde, o meu bem estar! Eu não sei... Mas é que eu tenho quase que um tesão quando sinto as mãos encostando em mim, me melhorando, me guaribando, me emperequetando: como se me sentir bem estivesse relacionado com a minha aparência e com o meu tesão - é uma espiral, em que o investimento na aparência já é o alcance do objetivo final, que é sentir-se bem, atrair pessoas - e atrair pessoas é um estímulo a continuar me cuidando, é o reflexo do bem cuidar-me. É uma engrenagem: higiene/bem-estar/sexo/higiene/bem-estar/sexo...

domingo, 29 de novembro de 2009

a implosão da metafísica por Mário Quintana - mais brasileiramente impossível

Preciso postar uma linda poesia do Mário Quintana, que conseguiu expressar muito bem essa história de romper os limites entre o mundano e o erudito, ou seja, conseguiu expressar o fim da extratificação de valores - brasileiro adora se despreocupar. É a poesia IV da "Rua dos Cataventos". Aí vai:

Minha rua está cheia de pregões.
Parece que estou vendo com os ouvidos:
"Couves! Abacaxis! Caquis! Melões!"
Eu vou sair pro Carnaval dos ruídos,

Mas vem, Anjo da Guarda... Por que pões
Horrorizado as mãos em teus ouvidos?
Anda: escutemos esses palavrões
Que trocam dois gavroches atrevidos!

Pra que viver assim num outro plano?
Entremos no bulício quotidiano...
O ritmo da rua nos convida.

Vem! Vamos cair na multidão!
Não é poesia socialista... Não,
Meu pobre Anjo... É... simplesmente... a Vida!...
Não sei por que estou dizendo isto, mas vou dizer: gente, leiam tudo o que eu escrevo sempre tentando interpretar e reinterpretar, como se cada palavra estivesse contornada de grandes e gordas aspas, como se os infinitos sentidos daquelas palavras, em seus contextos, pudessem se aflorar borbulhantes na mente de cada um - contestáveis, contextualizáveis. Enfim, o que eu digo é que nenhum texto se encerra nele mesmo, assim como a pintura já implodiu a tela. É como se, aqui, eu estivesse pedindo a minha licença poética pra sempre...

salve malandro!

Vou falar pra vocês: é bom mesmo aproveitar esse papo de liberdade pra argumentar ao favor próprio. É mesmo como se eu estivesse fazendo aqui o advogado da malandragem, mínima que seja. Porque, ai, nessa vida moderna, desses homens modernos cansados, cansados, cansados, o orgasmo se tornou tão raro! E o pior é que eles criam milhares de dispositivos para o orgasmo de todos, mas parece que trabalhar para sustentar tudo é mais imprescindível. Pelo menos essa é a sensação deles. A minha sensação é de que essa história de liberdade pra lá, liberdade pra cá, que é conquista desse grandes homens do trabalho, conquista árdua e muito trabalhosa, é uma ótima, uma excelente desculpa para justificar a utilização indiscriminada de todos esses apetrechos modernos. Mas eu vou logo dizendo que não se pode fazer apologia à malandragem - e não se pode mesmo: o que eu estou fazendo aqui é só uma defesa, porque, oras, todos dizem que somos livres para fazermos o que quisermos! Além disso, logicamente, eu não poderia fazer essa apologia: a possibilidade de argumentar em defesa do malandro só existe se muitos outros homens modernos continuarem vivendo para trabalhar a sustentação imprescindível de tudo. Os malandros têm que ser malandros o suficiente para serem longevamente malandros, têm que sacar que é necessário um monte de coisa, fazer que sim com a cabeça quando toma uma dura; eles têm que mostrar que sabem perfeitamente o que deviam estar fazendo - e aí, quando o guarda der as costas, têm que fazer o que quiserem e, só em última instância, se sua vida estiver em jogo, se sua malandragem estiver sendo ameaçada de integridade, se seu caráter estiver sendo posto em dúvida e quiserem julgá-lo execrável, é que eles devem expor as contradições do paradigma da liberdade, para poderem dizer que tudo é nada e nada é tudo e que tudo pode e nada mais é injusto, porque justiça já não faz mais sentido se podemos interpretar tudo de diversas maneiras. Porque, afinal de contas, toda discussão contemporânea acaba em como cada um interpreta o que acha bom ou ruim. Mas, em todo caso, os malandros só continuam sorrindo e, assim, seduzindo. Sorrindo porque sabem que devem sorrir para terem o que quiserem, sorrindo de um deboche imperceptível de tão bem disfarçado que já está depois de anos de malandragem.

Porque estar no topo é pra poucos.
Porque trabalhar pouco é pra poucos.
Porque é preciso outros pra se viver no total lazer.
Porque é preciso servos para haver senhor.
E quem, no fundo, não quer ser o senhor do lazer?
Parece que o mundo sussurra que isso é o que é pra ser, pra quem tem bons ouvidos...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

poema de si

Tem essa instância
a cultural
que é tão mais rápida
e automática

(que querer vê-la)

é quase tão cultural
de tão automático
que voa

aqui tem a praia, computador e toda sorte de coisas
ouviu uma voz que falou um desejo?

(um não, dois!)

faça e saiba um por que
sem temer, nem tremer, nem chover
vai querer e saber e querer saber e saber querer

é automático e cultural
o movimento e a velocidade e a felicidade da coisa
é natural

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

só lembrar o grosso

me perguntaram meu nome
e eu respondi
Antônio
olharam pra mim de novo
e eu aqui
não sou outro
aí, eu apaguei meus detalhes
e só restou
o grosso

me vi voltando pra casa e pensando
se era um
se era oco
se tudo é
tudo é pouco
ah, o oco que sou
e eu sou louco
por ter um nome, uma voz
e ser rouco
não falar ao certo, ao todo
mas saber
que esquecer é limpar o sufoco
é ser eu
sem perguntar a ninguém
é ser eu
sem ser só mais alguém
é ser eu
e não ser um refém
é ser oco, é ter pouco, é ser louco
sem dever um vintém

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Na copa em Copa antes da copa no Brasil

Ele estava acima do peso, isso era claro, mas todos diziam pra ele que isso não era problema pra muita gente e que até conhecem pessoas que com certeza o achariam interessante. Aí, mesmo assim, porque ele sabe que sempre pode ser melhor e que normalmente está se sentindo pior, conseguiu pensar mais em ser melhor do que em estar pior e comeu, talvez só por hoje, apenas frango grelhado e salada.

Ele mesmo grelhou o seu frango, porque já era mais de nove da noite e a empregada, que já estava lá além do tempo que podia, também não era a cozinheira, era a passadeira. O mais engraçado é essa empregada preferir ficar até mais tarde no trabalho todo dia pra não acumular roupa pro dia seguinte. Sim, ela é crente e muito provavelmente acredita que acredita mesmo que é sendo eficiente no trabalho que você (ela, no caso) alcança o céu. Ou talvez ela só seja uma crente qualquer, de uma igreja qualquer que só bitola as pessoas. Enquanto ele comia o seu frango com salada, viu sua mãe fechando a porta que tem da cozinha pra sala. A cozinha acesa, branca, e a sala, com uma iluminação aconchegante, azulzinho da tv ligada no meio escurinho, um sofá - o horário nobre reluzia da tela da tv para todos os tons da sala, aquela sala, em Copacabana...

Para a empregada, que conhecia o gostinho de ver a novela sentada no sofá de casa, aquilo era um exercício da sua religião, quase que um dever de casa difição de matemática, ou um projeto de tese de doutorado que você sempre deixa pra fazer de última hora. A empregada, mulata, já senhora, sentia a nobreza daquele horário naquela sala. Ela ainda estava no trabalho e aquela situação tinha seu aspecto de já-vi-isso-antes, não sei. Ela estava na casa dos outros/no seu trabalho, na casa, na vida ínitma de uma pessoa mais rica que paga ela e nem a novela ela estava sentada em casa pra ver. Aquela sala, bem, aquela sala era bem melhor que a sua, mas ela podia transitar por ali durante o dia, o que tirava de certa forma o tabu. Ninguém estava em casa durante o dia, um na faculdade, outros todos no trabalho e ela andava por ali, de vez em quando a patroa estava em casa, mas tudo bem, porque ela era honesta e sincera e era justo que ela não pudesse assistir TV às nove horas da noite na sala de estar no horário nobre com a sua patroa.

Mas durante a noite as coisas mudavam. As outras empregadas iam embora, ficava a patroa - os filhos em seus quartos - esperando o patrão. Quando o rapaz que comia frango grelhado com salada saiu da cozinha e fechou a porta, adentrou naquele ambiente de horário nobre, luzinha azul da tv, móveis aconchegantes, clima familiar, a mãe perguntou: "A Dona Graça já foi embora?" E ainda não tinha ido, estava lá varrendo o chão da área de serviço sem motivo aparente. Era chato que ela ainda estivesse ali por dois motivos: parecia que estavam explorando a mulher, mesmo ela, crente, dizendo estar tudo tranquilo e melhor pra ela; e também era chato mesmo uma mulher ali, que não era da família, excluída mesmo da família, porque não é da família mesmo, quase que pedindo esmola ali nos arredores do quarto de empregada. Seguiu pro quarto.

um buraco do céu despenca

Um buraco do céu
despenca e o azul
esbanja e esparrama no vidro!
Toda a luz se misturando a tudo
e eu não sei o que é fim do mundo
nem tenho por que começar, mas tô vivo!
- ir pra onde? se não se pode andar
ninguém entende, ninguém vai gostar!
mas vou sair, vou andar, vou andar
ninguém me atende, mas alguém vai me amar!

o derrame é mais que tudo o que eu faço
um banho não é só molhar o braço
abra espaço pra ser tudo o que há
a onda vai te levar
azul no céu, na mente e no mar - e no ar!
pra sempre
pra nunca acabar!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Rio

O que eu amo no Rio é a facilidade com que conseguimos, aqui, achar na erudição sua mundaneidade. Que diferença tem a poesia lida, falada ou vivida? Eu adoro poder esquecer os nomes dos astros e lembrar somente dos nomes dos bares; poder pensar e viver o mundo sem me prender a fluxos restritos ou a amores prescritos. Aqui no Rio nós podemos dizer que temos nossa memória livre pra ser seletiva como quiser, porque controlar e direcionar experiências, ah, isso é tão aflitivo que deve ser coisa de paulista ou de europeu. O mar e o sol e o carioca expande-se para além de pilhas de livros, de gabinetes do frio - aqui é quente e o outro parece estar tão mais presente que queremos lançar nossas mãos para fora do nosso corpo e sentir (ler na praia e de repente parar, porque tem companhia). Aqui o tempo é mais rápido, o tédio dói mais, o lá-fora te convida mais convincente; e a cabeça tem que ser livre-mente, pra muitos conselhos e vida e livros poderem se mesclar. Um passeio sem objetivo não pode fechar-se ao que se propõe: se surge alguém que te toca, esqueça que você mora em algum lugar até que infelizmente o sério venha te buscar...
Correr e pular e gritar
sorrindo e rindo
me rasgar da emoção
esgarçar o funil, mais paixão!
acreditar que está vindo
e acordar pra ir encontrar

Inquieto eu prefiro no bar
diluído, iludido
e cantar
lalalalalala
esquecendo o que é pra lembrar
resistindo pra só melhorar

nem mistério nem nada no chão, não!
peço um trago e um chorinho a mais
fecha o livro, eu não quero mais paz, não!
me jogar, me jogar, me jogar

domingo, 22 de novembro de 2009

relato de uma escolha

sem me perder pelos abismos que surgem
em entrecortadas filosofias

vou me prender ao último fio que sempre resta

porque estranho seria se fôssemos loucos
e nos jogássemos dentro dos buracos que cavamos conversando
só de encontrarmos as vistas

então eu vou
dizer e olhar e fazer alguns gestos
e crer no que falo
sem sair do que queremos do real
pra não nos vermos pelados
pra que não viremos animais

pelo visto, escolhemos manter o tom suave da música
que você botou pra tocar

nossas tentativas de flutuar e planar sobre o tempo
ficaram restritas àquela mesa de bar

íamos longe
de mentira
enquanto
expandíamos pouco
de verdade

- mas a emanação
que se vê com a luz tácita!

- mas o normalmente
que nos fecha pelas paredes!

conversa vai, conversa vem

seguíamos sem cair nos abismos que víamos que criávamos...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

pra coragem de não ficar em casa

minha amargura é que se rasga em vontade
como se toda a gente sentisse a vida
em completa estiagem
minha tristeza é que vira a mesa
espalha cacos no chão e incerteza -
ao entorno do caos e da beleza
ficam todos em vão,
quando eu vou

passo ali no bar pra bater minha larica
penso em tudo, em nada, e no porque e na saída
um tapa, uma volta, um gozo selvagem
um qualquer-coisa-que-sirva
pra vida contada
pra coragem de não ficar em casa

domingo, 15 de novembro de 2009

molhado e hedônico

eu acreditei em tudo
certa vez eu me pedi pra acreditar

ah, porque pra mim o mundo era mundo
e a palavra tinha sentido extenso
pretenso de aconchegar

a chuva é que me veio então
prontificada a me inundar
obstinada a me molhar
a me desvendar
o olhar

o mundo em seu desarranjo
o céu a densificar
a paisagem a se esconder:

a longa distância desapareceu
eu só olhava meu caminho
desviante de poça em poça
hesitando o percurso certo, cego
e me lembrando o que eu queria lembrar:

o sossego não é algo que se possa ter
o destino não se pode prever

a vontade
em sua nova forma
veio a mim
irritado, encharcado
de ter que voltar, eu queria gritar

ah, se tudo não fosse um ter que chegar lá
e se o simples desejo
diabólico mesmo
pudesse surtar:

quem disse
que a vida não é pra ignorar
o destino
que se tem pra alcançar?

Uma vontade de domingo

Eu tenho uma mania, ou melhor, duas. Uma é que eu sempre acho que meus pensamentos já foram pensados por alguém (sempre tendo a dizer pra mim "ah, mas isso, fulano já falou..."), e a outra, (quase que) decorrente dessa primeira, é que eu sempre tenho muita vontade de escrever e poucas vezes tenho ideias que deixei germinar livremente na minha cabeça para passar pra palavras. Perante essa situação, consigo vislumbrar alguns pensamentos que sempre me decorrem. Um, o mais clássico, é que devo persistir em pensar que uma hora eu vou chegar a falar algo que alguém não falou, mesmo que venham e me taxem de interpretação. Outro pensamento é o de que, não caindo nas armadilhas de qualquer pensamento longamente prolongado, eu percebo a realidade cruamente, sem nenhum desligamento abstrato dela, um ateu sem prendimentos teóricos - um ateu de verdade abole qualquer instância abstrata que possa confortá-lo, ainda que só pessoalmente. Outro pensamento é mais emocionado: como é injusto que a sociedade ofereça que "todos-podem-ser-tudo", por que a gente compra essa ideia e depois fica com cara de taxo, transferido de atendente pra atendente de telemarketing do SAC do mundo, vulgo DEUS, até que a gente se toca e vê que esse QUASE tudo que ainda não foi dito é muito escasso e tem muita gente e você provavelmente não vai conseguir. Aí, às vezes eu acho que é natural, sabe, a pessoa nasce com isso, sei lá, genialidade pode ser algo que você tenha sem saber e só vão descobrir depois da sua morte, ou depois, quando você estiver um pouco mais velho, lá com seus 30, mais ou menos - porque passando os arredores dos trinta talvez já tenha passado a fase (nunca nos esqueçamos de Cora Coralina, um achado de Drummond. Mas, porra, ela é uma velhinha-inha, vovó do interior fofa roots, nunca serei algo tão pop quanto ela). Ou de repente, ficar nessa de pensar filosoficamente, abstratamente, já seja uma coisa meio babaca de se fazer, sei lá, já somos tão modernos que não precisamos disso, porque é perda de tempo, então o melhor, talvez, seja só viver o concreto, nada de abstrato, e qualquer interpretação mais profunda das coisas é abstrato demais para o meu entendimento. Depois dessa frase, me senti metalinguisticamente impedido de continuar a professar baboseiras pela internet, mas aí eu pensei que isso é só uma possibilidade de interpretação dentre várias que existem dentro de mim, dentro várias que existem dentro do mundo! E que justamente esse impedimento que eu vejo de não conseguir ir longe nas ideias, por meus pensamentos já terem sido pensados, é que me faz gerar tantas interpretações menores dentro de mim, todas mais rasas, simples, porém são muitas. Talvez aconteça da nossa sociedade gerar, por especialização do trabalho, por tédio, por preguiça,seja pelo que for, um impulso à criação abstrata em massa, por não haver mais sustentação para um único sentido, porque agora tudo o que é humano já pode ser interpretado em livros - tudo se misturou, tudo interagiu. A falta de sentido do um nos fez criar vários. Eu criei vários, e esse é um, bem longo e globalizante. O problema dessa necessidade abstrata é quando ela se fixa em um pensamento e vai embora (doença mental?). Agora, perante esses pensamentos e esses devaneios abstratos longos, eu deva parar e perceber que todos eles já foram ditos e calar-me, muito embora eu saiba que esse papo de que não posso falar porque já foram ditos nunca me fez calar, e se você perceber bem, eu tô até agora dizendo coisas aqui que com certeza qualquer um já pensou, mas estou falando porque estou com vontade e espero que alguém tenha vontade de ler. Diante disso, eu assumo pra mim mesmo, que quero parar de escrever e ir dormir porque já são 8 horas da manhã. Parei de abstrato, vou pro concreto - é a natureza humana.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ADORO METALINGUAGI OU ATORON METALINGAGEMMMMM OU ADORO METALINGUAGEM, PORRAAA!!! OU adoro metalinguagem... (beicinho) OU AdorO METalingUAGEM (esquizo)

antôniO_ diz:
http://www.youtube.com/watch?v=byCG-eGYgyo
emmannuelly diz:
o ser humano é fascinante né
emmannuelly diz:
o conceito das pessoas de que tipo de coisa eu vou upload no youtube é tudo muito genial
emmannuelly diz:
mas vou te dizer que to meio enojada acabei de jantar
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA
antôniO_ diz:
dá uma penazinha
antôniO_ diz:
mas a parte do meu ser que clama por gargalhadas fala mais forte
emmannuelly diz:
HAHAHAH exato, que nem aquela historia oriental dos dois cachorros que existem dentro da gente e que ganha o que a gente alimentar mais
antôniO_ diz:
hauahuahuahuahau
antôniO_ diz:
irado isso ein
antôniO_ diz:
interpretei esse resumo de mito em tds as suas profundezas
antôniO_ diz:
APLIQUEI NA MINHA VIDA, SABE
emmannuelly diz:
acho que essa era intenção do mestre que contou isso para seu discípulo
emmannuelly diz:
REFLITÃO
emmannuelly diz:
E APLICÃO
antôniO_ diz:
hauahuah
emmannuelly diz:
hahahahahaha
antôniO_ diz:
OBRIGADO, MESTRA
emmannuelly diz:
FIKDIK AMG
antôniO_ diz:
adoro metalinguagem
antôniO_ diz:
ahuahuahuahuah
emmannuelly diz:
hahahahahahaha both of us
antôniO_ diz:
vo postar esse diálogo
antôniO_ diz:
hauhauhauahuahuahauha
antôniO_ diz:
foi irado
antôniO_ diz:
HAHAHA
emmannuelly diz:
HAHAHAHAH FICA PRA POSTERIDADE
antôniO_ diz:
o problema agora vai ser ate onde eu copio e colo
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHA
antôniO_ diz:
fudeuuu
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAH saber por onde começar, o mais dificil
emmannuelly diz:
o problema
emmannuelly diz:
é que tudo começa com o videozinho nefasto
emmannuelly diz:
aí que pega
antôniO_ diz:
aham
antôniO_ diz:
vo começar pelo link do videozinho
antôniO_ diz:
e vo finalizar quando tudo for cinzas
antôniO_ diz:
HAHAHAHAH
antôniO_ diz:
(quando terminar de fumar um cigarro, ou um beque talvez)
emmannuelly diz:
hahahahahahah dissemina este precioso fenomeno midiático
antôniO_ diz:
(agora já escrevo pensando que vou postar
emmannuelly diz:
ih tá SUGESTIVO isso
antôniO_ diz:
não tem mais a mesma originalidade)
emmannuelly diz:
ai tô me sentindo na prova do líder
antôniO_ diz:
AHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA
emmannuelly diz:
vamos ter um pouco de privacidade aqui HAHAHAH
antôniO_ diz:
JA EH
emmannuelly diz:
tô mais leve agora
antôniO_ diz:
eh já postei
antôniO_ diz:
(ou não)
antôniO_ diz:
caralho, to com um demonio no corpo
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHA tu tá com o capeta
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAH perai tá rolando um papococo ali
emmannuelly diz:
cara eu tenho uma coisa com publicar conversas no msn eu sempre quero fazer isso e me controlo mas é que vicia e talvez nao seja mt saudavel e que da vontade de ter um blog so disso hahahahah
emmannuelly diz:
nossa eu escarrei a frase acima ao inves de digita-la mas ta certo isso é msn
antôniO_ diz:
eh, o objetivo aqui é ser natural
antôniO_ diz:
cara
antôniO_ diz:
mas aí
antôniO_ diz:
um blog só de conversa de msn seria irado
antôniO_ diz:
eu posto algumas
antôniO_ diz:
na verdade, tive a ideia de postar esse pq postei uma que eh o ultimo post
antôniO_ diz:
SITTING ON THE TOILET (8)
emmannuelly diz:
CARA É SER NATURAL MAS ISSO QUE FICA LINDO (opa esse caps foi sem querer nao estou tao empolgada) só que se vc entrar numa séria de postar sempre você se transforma numa daquelas pessoas que adoram se superexpor se vc exagerar
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHA NOOOO
emmannuelly diz:
já tinha esquecido
antôniO_ diz:
hahhahahhahahahahhahahahahahahaahahahhaha
antôniO_ diz:
não sei mais o limite do real
antôniO_ diz:
fico lendo e superinterpretando a porra td
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAH eu tenho esse problema também é bastante sério
antôniO_ diz:
http://matagaense.blogspot.com/
antôniO_ diz:
ó, ficou irado
emmannuelly diz:
HAHAHAH já tô lá
antôniO_ diz:
vo botar só mais essa sua ultima frase, pra equilibrar

(Antônio fecha a janela de conversação com Manuela e perde algumas tiradas ótimas. Os motivos podem ter sido muitos, sendo perturbação e acaso os de maior probabilidade. Estas foram as palavras que Manuela copiou e colou da conversa alegando ter sido na íntegra, só nos resta acreditar - repare que, se ela tiver mentido, utilizou o artifício de recuperar parte da conversa anterior, que já estava no blog e ela sabia:

antôniO_ diz:
http://matagaense.blogspot.com/
ó, ficou irado
emmannuelly diz:
HAHAHAH já tô lá
antôniO_ diz:
vo botar só mais essa sua ultima frase, pra equilibrar
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAH cara rolou uma parte em off também ISSO É BIGBROTHER que beleza
você tá coçando a bunda amigo, e o brasil inteiro tá de olho
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHHA
VO DAR UMA ZUADA NO TITULO)

emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
emmannuelly diz:
ATORON é a maior baixaria
antôniO_ diz:
cara, fechei a janela e pensei q queria colocar no texto a parte q vc falou q teve ate conversas em off
emmannuelly diz:
antôniO_ diz:
http://matagaense.blogspot.com/
ó, ficou irado
emmannuelly diz:
HAHAHAH já tô lá
antôniO_ diz:
vo botar só mais essa sua ultima frase, pra equilibrar
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAH cara rolou uma parte em off também ISSO É BIGBROTHER que beleza
você tá coçando a bunda amigo, e o brasil inteiro tá de olho
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHHA
VO DAR UMA ZUADA NO TITULO

antôniO_ diz:
OBRIGADO AMIGA
emmannuelly diz:
HAHAHAHHAHAHAHAHA D ND, MAS ASSIM, TU TÁ VICIADO, FIKDIK
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHH podia ser peor podia ser o crack
antôniO_ diz:
AHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHA
antôniO_ diz:
CARALHOOOOOOOOOOOOOOOOOO
emmannuelly diz:
alias vou mandar uma parada pra vc via facebook pq a gente é mt multimídia
antôniO_ diz:
TO RINDO Q NEM UMA POTRANCA
antôniO_ diz:
caralho
antôniO_ diz:
fudeu
antôniO_ diz:
chega
antôniO_ diz:
na moral
antôniO_ diz:
ri q nem um maluco
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAH obg pelo feedback
emmannuelly diz:
foda que o pessoal de casa fica achando vc esquizofrenico
emmannuelly diz:
vou mandar ein é mt fofo
antôniO_ diz:
via facebook a paradinha ne?
antôniO_ diz:
fiquei interpretando mil vezes a frase e era a parada mais obvia
antôniO_ diz:
hahahahahhaahah
antôniO_ diz:
duvida metódica perturbada
antôniO_ diz:
(acertei?
emmannuelly diz:
CARA VC É UMA MAQUINA
antôniO_ diz:
to mt viciado
emmannuelly diz:
mandei
emmannuelly diz:
um vício virtuoso se é que eu posso dizer isso
antôniO_ diz:
ai que medo de vc
antôniO_ diz:
merda de vício escroto
antôniO_ diz:
to na fase de reconhecimento do vicio
emmannuelly diz:
passou a fase de negação agora vamos em frente
antôniO_ diz:
postar, assim como escrever um livro autobiográfico de drogas e sexo, é a afirmação de que consigo mudar
antôniO_ diz:
mas até meu vício é metalinguístico com sua cura
antôniO_ diz:
(cara, reli a parte dos cachorros lá, do oriente)
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHH vc é um monstrinho que destrói as cidades aqueles que os power rangers tem que formar um megazord pra ficar num nivel justo de ultimate fight
antôniO_ diz:
hauhauhauahuahuahauhauhauah
emmannuelly diz:
descontrói mesmo
emmannuelly diz:
pinto no lixo
antôniO_ diz:
cara, quando a ironia vai voltar a ser a mesma? (tristinho)
emmannuelly diz:
(beicinho)
antôniO_ diz:
e a crítica tb? (começando a me dar conta das proporções)
emmannuelly diz:
cara vamos nos agarrar no restinho esmagado e esgarçado que fica tenho certeza que um mestre oriental diria isso
antôniO_ diz:
(seria justo eu falar q vi aqui q o "emmannuelly está escrevendo uma mensagem..." ficou hesitante?)
antôniO_ diz:
eu to malvado hj
antôniO_ diz:
HUAHAUAHUAHUAHUAHAUHAUHAUAHUAHAUHAUHAUAH
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA EVOL
emmannuelly diz:
EVIL
emmannuelly diz:
CARA
emmannuelly diz:
EU NEM LEMBRO MAIS ME DISTRAI AQUI
antôniO_ diz:
agora, com esse conhecimento, podemos nos enganar mutuamente
antôniO_ diz:
fudeu
emmannuelly diz:
ficou um vácuo no lugar da minha idéia não germinada
antôniO_ diz:
(eu sei q vc gosta)
emmannuelly diz:
ou ainda: FOI MAL TO FUMANDO UM CRACK AQUI
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAH
emmannuelly diz:
"ATORON" (tu me fez usar sa palavra-nojeira)
antôniO_ diz:
falei pra uma amiga minha q vo postar algo q vai abalar as estruturas da contemporaneidade, esmigalhar os nossos valores
antôniO_ diz:
ATORON
antôniO_ diz:
sem aspas...
antôniO_ diz:
taaaantan
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH transformar em pó toda certeza IN FIVE
emmannuelly diz:
FOUR
emmannuelly diz:
(...)
antôniO_ diz:
huahauhauahuahauhauha
antôniO_ diz:
ASSIM
antôniO_ diz:
EU GOSTO DE VC AINDA TA
antôniO_ diz:
SE EH Q FICOU ALGUMA DUVIDA
antôniO_ diz:
just in case
emmannuelly diz:
cara vamos nos agarrar no restinho esmagado e esgarçado de crítica e graça que fica tenho certeza que um mestre oriental diria isso
emmannuelly diz:
AH QUE BOM
antôniO_ diz:
ahhh
antôniO_ diz:
vc respondeu antes
antôniO_ diz:
eu ia escrever uma parada e vc escreveu antes, agora eu esqueci... tvz eu edite se lembrar (o editor não lembrou da parte que queria editar)
antôniO_ diz:
ja sei
emmannuelly diz:
ah sim
antôniO_ diz:
vo botar antes entre aspas
antôniO_ diz:
entre parenteses, digo
antôniO_ diz:
e dps como se fosse original
antôniO_ diz:
sem os parenteses (o autor não fez nada disso porque tinha pensado chapado o suficiente para esquecer pra sempre)
emmannuelly diz:
bom vc é o grande editor da situação eu confio no teu senso estético
antôniO_ diz:
obrigado, mas eu gosto de romper com alguns padrões, sabe, desconstruir... o que é o belo? Só sei q nada sei, ne
antôniO_ diz:
(you know world, you got me cornered again, im gonna roll another joint)
emmannuelly diz:
cara desculpa a ignorancia/ preguiça de usar o google de onde é essa frase? é muito boa resume bastante meus dias
antôniO_ diz:
eh do jon lajoie
antôniO_ diz:
aquele canadense
antôniO_ diz:
acho q te passei o link
emmannuelly diz:
HAHAHAH grande pensador contemporâneo
antôniO_ diz:
hahahahahahhahahahahahahahahah
emmannuelly diz:
hahahaha famo fer isso
antôniO_ diz:
high as fuck acho q eh o nome da msk
antôniO_ diz:
(cara, a gnt eh mt metalinguistico, arrasamos)
emmannuelly diz:
AAAAAAAAAAAAA
emmannuelly diz:
eu lembro eu ouvi isso sim
emmannuelly diz:
have you ever been high as fuuuck
emmannuelly diz:
this is how we roll
emmannuelly diz:
ai odeio quando baixa o negao norte americano do hip hop em mim
emmannuelly diz:
uma entidade indesejada
emmannuelly diz:
passou
antôniO_ diz:
HAUAHUAHAHAUHAUAHUAHUAHUAHAUHAUAHAU
antôniO_ diz:
boa
antôniO_ diz:
(essa foi inconsciente, consta no da naturalidade)
emmannuelly diz:
isso magina se ia sair sob aquela pressão toda

(o texto acabou, sem motivo aparente, ou por pressão da materialidade ou da integridade ética entre os dois dialogantes, ou até porque nunca mais se falaram depois, se é que isso importa, ou você queria mais?)

CONTINUE ESPIANDO


veja também:
FÁBIA, A ESQUIZO-MASCOTE DESSA BRINCADEIRINHA

sábado, 7 de novembro de 2009

quanto o homem pode intervir no destino do cocô?

.Thiago diz:
que cocô esse mundo
antôniO_ diz:
hahahahhahaha
antôniO_ diz:
tranquilo
antôniO_ diz:
esse é o cocô
antôniO_ diz:
se não cagar
antôniO_ diz:
vai ficar entupido
antôniO_ diz:
o cocô vai te engolir
antôniO_ diz:
porque você vai morrer
antôniO_ diz:
se você não cagar nele
antôniO_ diz:
vai ser tudo em vão
antôniO_ diz:
hauhauhauhauah
.Thiago diz:
uahuahuahuha
.Thiago diz:
seria legal guardar seus cocôs para eles não serem em vão
antôniO_ diz:
let's get to the real thing, para toda a eternidade
antôniO_ diz:
hahahhahahhahaha
antôniO_ diz:
aham
antôniO_ diz:
hauahuahauhauh
antôniO_ diz:
eh, em cápsulas
antôniO_ diz:
a vácuo
.Thiago diz:
com datas
antôniO_ diz:
ahaauhuahauhauhauahuahuahauha
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAAHHA
.Thiago diz:
e horários
antôniO_ diz:
arquiva
antôniO_ diz:
aham
antôniO_ diz:
põe uma categoria nele
antôniO_ diz:
"ah
antôniO_ diz:
esse tá parecendo um cocô de cabrito
antôniO_ diz:
esse parece mais uma canoa"
.Thiago diz:
uqhuahuah
antôniO_ diz:
ou então esquematiza por cores
antôniO_ diz:
sei lá
.Thiago diz:
pqp mlk
.Thiago diz:
daria um filme isso
.Thiago diz:
um curta
.Thiago diz:
uahuaha
antôniO_ diz:
aí vai de acordo com a sua vontade, né

terça-feira, 3 de novembro de 2009

um regresso do progresso

ser estático:
uma sensação expandida
uma intuição calma:

é tudo o que me falta!

porque homem virou referência de homem,
nada mais sagrado tem razão,
toda a minha arte é criação,
não é completa,
nem direta,
é estímulo à continuação
da vida dos humanos, que se viram
nada.

esperança na arte

Em meio a uma empolgação de coerência, de conseguir fazer sentido com a minha linguagem, com a linguagem da minha sociedade, acabo de me encontrar padecendo do mal da tristeza. Tristeza, por favor vá embora! A questão não é mais dizer ou não dizer ou o que dizer, sinto talvez que eu não tenha mais vontade, porque não tenho mais em que desafogá-la: não encontro mais meios eficazes de me fazer adequar ao projeto de que todos nós fazemos parte. É só a tristeza que bate, que fez eu me acomodar e me reacomodar algumas vezes no banco do metrô, que tornou minha alma um silêncio perceptível aos outros, mesmo quando eu ria com eles, tristeza que bate de olhar a foto velha da minha identidade assinada há tanto tempo atrás. É ela que vem e se afirma no momento em que, ao ver tudo um imenso absurdo - por que entrar debaixo da terra pra pegar o metrô, por que contato de corpos definidos visivelmente, por que tudo e não nada - eu respiro fundo, olho em volta pra toda essa insensatez esculpida em detalhes e declaro-a: a minha tristeza, a minha total prostração, a minha fuga do plano da vontade. Vim me tratar aqui, e espero que, ao lerem, contemplem essa minha purgação, vejam nela a arte, pra que eu possa sentir que minha tristeza tem meios eficazes de se expressar, por mais que ainda borrados; pra se consolidar vontade.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

uma volta inteira

Porque a vida é realizar vontade
é adequar-se à realidade
que se impõe, é você
é inevitável
é inevitável
é inevitável
e pra ser concebível
você tem que querer
querer todo dia
todo momento
querer estar vivendo
como é pra você viver
porque o que a vida quer
é você
e o que você quer
é a vida
porque te deixaram
enquanto eu
enquanto você
e você querer
é viver você
é viver o eu

é uma volta inteira:
todo o mundo e você

refletindo um pouco sobre a vida e a morte

Não sei por que, nem tenho muitos fundamentos para isso, mas tive um insight e preciso reportar: como num estalo eu vi de que maneira o existencialismo de botequim pode repercutir em uma atitude ascética em relação à vida. Existe coisa mais distante da vida que a morte? Pensar a vida como uma busca incansável de vencer a morte pode nos levar a pensar a vida com os olhos na velhice.

Meu pai é um homem que se declarou outro dia para mim como um existencialista - e ele é uma das pessoa que eu conheço que mais bebe uísque e que mais se preocupa com a sua qualidade de vida quando velhinho (sem querer queimar seu filme, pai, só pra encaixar no existecialismo de boteco, te amo). Sua tabelinha de despesas, assim como imagino que aconteça com muitas pessoas, sempre, desde que eu me entendo por gente, esteve apertada com muitas despesas, porque é necessário guardar algum para os dias mais mórbidos. Seu sossego quando velho tem que estar garantido e, pra isso, ele se priva de determinadas coisas que poderia fazer com o dinheiro que guarda. Não o julgo mau por isso, nem mesmo insensato. A velhice é mesmo uma realidade que se planeja viver, ninguém pretende morrer aos 40 anos num acidente de avião que te levava para férias em Paris.

Uma visão boteco-existencialista da vida, portanto, não é uma visão condenável, mas pode tender a uma visão sofrida. As vontades se tornam nubladas por essa morte que fica rondando as reflexões que antecedem uma tomada de atitude. Mas olhando agora com os olhos de um boteco-existencialista, a vida na nossa sociedade parece mesmo nos levar a esse sofrimento perene da reflexão sobre a morte. À medida que criamos técnicas que buscam criar um aumento da longevidade, somos instigados por um espírito ateu a querermos realizar nossas vontades; e aí esbarramos nas questões materiais que podem nos impedir de realizá-las. O dinheiro curto, a morte certa e a velhice sempre provável fazem da vida na nossa sociedade uma eterna batalha, já que queremos ser felizes.

Uma frase de Sartre me lateja para finalizar esse texto: "Liberdade não é fazer o que se quer, é querer o que se faz." Com essa frase, termino pensando, gótico-positivamente, como um existencialista de botequim animado-e-nas-últimas, que o esforço da vida acaba sendo por nos desligarmos dessas preocupações mundanas e criarmos um aparato de compensação abstrato para continuarmos vivendo, que se pauta numa perspectiva de vida: estar vivo ter que ser o suficiente em face da morte, já que estar vivo, sensualmente, é em si melhor que morrer, que é aquilo do que se foge.

sinta-se à vontade

tente pensar comigo:
se encararmos
tudo de forma total
ou seja
você e seu pessoal
você e seu cultural
se encararmos
todas as formas do mundo
como todas nossas formas
e que estar vivo num momento
é o mesmo que estar vivo num outro
se pensarmos que viver
em si
já é antítese o suficiente à morte
quantas mais riquezas veremos
quantas mais vontades teremos
quantas mais razões nós suportaremos
porque viver
se encararmos assim
já supera tudo
porque essa é a vontade de quem tem vontade e vontade quer ter
tudo passa a ser o que tem, sem nada além

da minha impressão do noumeno

Gostaria de deixar clara uma coisa, para depois não virem me dizer que eu nego a instância do intangível ou do infinito. Até porque, está mais que óbvio que não se conhecem as coisas em sua essência e que o observador é que determina o fenômeno. Não estou aqui para ignorar o que foi sedimentado, só penso a respeito do valor que o intangível tem para as nossas vidas hoje. Sinto é que o incognoscível não se nos impera mais de maneira a determinarmos estritamente as nossas ações, a calcularmo-las tão profundamente, evitando um erro, fatal.

A nossa aspiração pela felicidade e pela vida boa porque-se-vai-morrer nos condiciona a uma atitude que foge dessa subordinação a uma ordem suprema quase que imposta noumenicamente. Não que não haja o noumeno, não que ele não possa interferir e nos causar um mal, mas é que simplesmente não desejamos olhar para ele, ele já não se nos impõe como objeto de estudo para a resolução de normatismos, para a criação de moralismos. A vida de cada indivíduo cabe a cada indivíduo, e também cabe a ele encontrar a sua felicidade - ou suicidar-se. O que acontece é que os homens hoje acham que seus desejos não podem mais ser impedidos pelo noumeno, como se fosse injusto; como se uma moral nobre nos assoprasse uma vida e que agora so reconhecer como valorável qualquer atitude individual cujo fundamento é o próprio bem-estar, cada um de si. Eu diria que agora os homens querem mais é ser felizes, e foda-se!

domingo, 1 de novembro de 2009

todos precisam falar

as coisas vão acontecendo
conforme você as declara
dizer uma coisa
é sua vontade
de que ela seja
pra que todos vejam
pra que todos também queiram
pra que todos também sejam
uma interpretação
no hall
das vontades ditas
e libertadas
diga diga diga
essa é a sua vontade
assim é a sua sociedade

daquilo que se aflorou inicialmente como protestantismo

O protestantismo... Ah, o protestantismo... Há tanta coisa que se procura ler em suas entrelinhas que eu também me aventurei a tentar descobrir seu espírito, seu significado para além da mera constatação de que ele existiu. Assim, para que eu pudesse considerar qualquer coisa sobre o protestantismo, eu teria que ter sido movido por algum impulso, que vou apresentar primeiramene, e teria que estabelecer um metodozinho, uma listinha de perguntas encadeadas que eu fiz para conseguir ler alguma coisa pelas brechas desse "acontecimento" histórico.

A motivação, o impulso, foi aparentemente intuitivo - seria de fato se eu não estivesse lendo coisas, tanto pra faculdade, como avulsas. Estava vendo um filme de comédia satirizando o dogmatismo católico ("Dogma") e percebi que a sátira era feita justamente sobre toda uma espécie de cosmologia, mitologia determinista católica que, no tom da sátira, soavam completamente absurdas. Eu pensei, em seguida, "ora, os EUA são um país protestante, e essa crítica aos dogmas da igreja, ou seja, a essa historinha contada que o fiel simplesmente escuta e acredita, por medo, que seja aquilo mesmo, é nada mais que um reflexo de uma perspectiva protestante no que diz respeito ao contato com deus." E pensei logo em seguida: "enquanto o catolicismo impõe um esquema de regras escritas pela divindade institucionalizada que não podem ser transpostas, ou seja, conserva o contato com deus numa espécie de burocracia própria mediadora, em que o bem é institucionalmente prescrito, o protestantismo traz o contato com o divino para um campo mais terreno, mais acessível ao homem; o protestantismo proporciona ao indivíduo criar para si mesmo a sua ideia de divindidade, de espiritualidade: o divino, o espiritual, ou seja, aquilo que vai dar valor e riqueza e motivação à sua vida, é criação do próprio indivíduo, é cada um que reconhece em si mesmo o seu conceito de deus. O estímulo, a intuição foi essa, basta agora esquematizar as minhas perguntas e meus argumentos que se sucederam a essa catarse.

Primeira pergunta: com o que essa legitimação da liberdade de conceituação do divino está relacionada ainda? Essa pergunta necessita que se estabeleça uma relação de alteridade entre o catolicismoe o protestantismo. O que quero fazer evidenciar do catolicismo é essa distância do indivíduo com deus, é essa falta de liberdade que há na capacidade do entendimento do que é o divino: o catolicismo acaba por impor a palavra de deus, tolhindo a capacidade humana de criação por si próprio dos valores que vão guiar suas vidas. O catolicismo, com seus dogmas, estrutura a necessidade de uma concepção metafísica que guie, imperceptivelmente aos homens, o rumo das coisas. Mas eu gostaria de ir além nessa reflexão sobre o catolicismo: na verdade, a metafísica seria um elemento de um tipo de posicionamento do homem diante das suas próprias ações: a forma mais amedrontada como ele encarava suas ações, o que implicava que para ele, homem, suas vontades não pudessem ser aquilo que ele soubesse que estava lhe guiando - haveria ainda uma "ditadura" do noumeno. O protestantismo, então, em oposiçao ao catolicismo, trouxe uma relação entre deus e o homem muito mais próxima. Deus, instância que determina valores para a vida, estava na capacidade criativa de cada homem, o que é dizer que o mesmo motor do protestantismo é o motor da vontade: a metafísica já se encontrava a um passo de acabar quando a religião deu aos homens legitimidade para criarem eles mesmos a sua ideia divina, o seu arcabouço de valores que os fariam continuar vivendo. É quase uma implosão da necessidade de se trabalhar com o intangível aos homens - os homens finalmente conhecem deus intimamente.

A segunda pergunta: se a igreja antes estipulava limites de contato entre deus e os homens, não seria também dizer que a igreja impedia os homens de buscarem conhecer dentro de si aquilo que os motivaria a continuar vivendo? Não teria sido a igreja católica uma instituição que buscava cristalizar o espírito dentro de uma jaula exterior e intangível, tornando aquilo DIVINO? O protestantismo, então, não teria dito que o espírito está nos homens, ou que eles são capazes de encontrá-lo, como que desmistificando o DIVINO? Vejo aqui que o protestantismo foi a expressão religiosa de um movimento que trazia o espírito para cada indivíduo: um passo apenas atrás do desvendar do espírito totalmente individualizado, esse espírito contemporâneo que valoriza a vida sem a necessidade da compreensão do toque divino na existência. O protestantismo, portanto, trouxe o espírito, isto é, aquilo que dá o tom da manifestação dos homens, para o nível dos homens. (A proximidade dessa espiritualidade individualizada com a ideia mais apaixonada de vontade parece-me inegável. A busca, dentro de si mesmo, por um espírito e a busca, dentro de si, por motivos importantes para si para continuar vivendo - mesmo que não sejam mais motivos divinamente encaixados.)

Terceira pergunta: essa apropriação humana do espírito só com o protestantismo não seria o mesmo que dizer que antes os homens não conheciam o espírito, apenas concebiam sua ideia? O que resultaria que o espírito, ou seja, a motivação "sincera", "feliz", individual, só teria surgido com a reforma? Sim, foi assim que eu vejo ter se sucedido. A noção de espírito, apropriada pelo homem, desmistifica a existência, traz ao indivíduo uma perspectiva mais material, mais concreta da existência: aquilo que ordena o mundo é aquilo que ele mesmo encontrou em si para justificar tal ordem. É uma espécia de libertação de uma visão vendada, mais ascética, que o catolicismo gerava. Enjaulando o espírito num exterior, a vida terrena, material, perde totalmente o seu sentido e o homem fica totalmente dependente das considerações que a igreja fazia sobre a existência - ele ouvia e concordava e não lhe cabia criatividade para tentar figurar as coisas a seu jeito: o catolicismo, o dogma, veda qualquer precipitação de imaginação, de desenvolvimento do pensamento.

Quarta pergunta: já que com o protestantismo o espírito desceu aos homens (o que mais futuramente na linha histórica vai se expressar transfigurado de motivos individuais, paixões, vontades para viver - sempre tenho medo de ser progressista, mas, enfim...), de que maneira os homens passaram a interpretar o que seria esse espírito? Eu palpito que os conteúdos mentais desses homens é que embasavam as suas concepções sobre o divino. Dessa forma, homens de um mesmo tempo e espaço, sim, dividem algumas concepções de espírito, por mais que tenham ainda ascepções bem particulares. Mas o que há além disso é que o protestantismo legitimou uma cadeia de reconstrução constante da ascepção do espírito, legitimou a historicização dos valores dos homens. Digo isso porque o espírito, assim como deus, ao que tudo indica, não é uma instância eterna, é mais uma concepção humana, uma instrumento pra balancear a tabela de compensações da vida. Deus, após o protestantismo, passou a ser somente o espírito - acho que esse termo melhor define, porque deus deixou de ser metafísico e tornou-se individual. Fui e voltei, mas ainda não respondi totalmente a quarta pergunta. A maneira como os homens vão determinar seu espírito é correspondente à sua eduação e àquilo que é universal humano, seja o que for. Empresto a educação, aqui, o sentido mais largo possível, o sentido das experiências que o indivíduo tem, o sentido da cultura na qual está inserido. Ou seja, o protestantismo garantiu aos homens que eles poderiam desenhar naquilo que lhes era educado, na sua cultura, traços dos próprios homens, traços de sua própria vontade. Eu diria que o protestantismo é a pontinha do iceberg, é o que nos aparece de todo um movimento por trás, multicausal, que se engatilha no "momento" protestantismo. O espírito, que agora toma o lugar antes ocupado por deus, metafísico no catolicismo, é a possibilidade do homem olhar através da sua cultura, daquilo que lhe foi ensinado, e escolher, dentro daquilo, os motivos que o fazem viver, o seu espírito. O protestantismo, então, abriu aos homens a possibilidade que o catolicismo os tirava: a possibilidade de olhar para o mundo, para os processos, as consituições das coisas. O protestantismo é imagem de um mundo em que os homens aplicam suas vontades às universalizações, aplicam suas vontades como guia da sua vida.

Quinta pergunta: se a vontade dos homens, que se sobrepôs ao espírito dos homens do protestantismo, assim como o espírito, também é movida por circunstâncias culturais, que aspectos podem ser observados desse movimento histórico todo? Primeiramente, é preciso esclarecer algumas questões referentes às formas e aos conteúdos da cultura ocidental depois dessa apropriação individual do espírito preconizada pelo protestantismo. A individualização do espírito, ou seja, essa maleabilidade do conceito do que vai valorizar a vida dos homens, marca o caráter engatado, alavancado da nossa sociedade. Os valores não são mais estanques nem hegemônicos, os valores da nossa sociedade, ou seja, suas estruturas morais, os conteúdos para as vontades dos homens, estão espalhados igualmente entre os homens sob o nome de bom senso. O que aconteceu foi que, com a sobreposição do espírito sobre deus e da vontade sobre o espírito, a consciência, nem que seja uma sensação disto, se aflorou como elementar à manutenção de determinados valores culturais e de modificação de outros. A vontade dos homens que vai passar a determinar, por seus desejos, que totens serão mantidos ou quebrados, e isso também valendo para os tabus. Peguemos o exemplo da arte. O nível de abstração a que ela chegou, como li num texto de Lygia Clark, uma neoconcretista, demanda que o homem tenha um espécie de comportamento ético-religioso em relação à arte. O que ela quereria dizer com isso, seguindo a linha de pensamento que venho defendendo aqui? Que deve haver uma vontade entre os espectadores da arte, assim como houve do autor, de que ali, na arte, ainda reste algum espaço para a contemplação. Ou seja, para nossa tese aqui, a arte é uma manutenção, por "consciência", ou por vontade, de um comportamento religioso contemplativo, mas que depende de uma ética da vontade dos indivíduos por contemplarem. Eu diria que nós despejamos na arte a nossa necessidade aflitiva que despejávamos na religião, justamente porque a arte foi se tornando mais abstrata e dependia da vontade. É como se, com a arte, nós estivéssemos contemplando a composição da nossa cultura ao máximo: vendo como a vontade é capaz de construir sentido universal pela simples historicidade e culturalidade inerentes aos homens. Ver como a arte ainda funciona, mesmo que abstrata, é ver como os homens ainda se portam de maneira social e se unem por algo que transcende a vontade, e a arte é ter a consciência de que nossas vontades não são más, são legitimadas, são culturais, são afirmação do nosso espírito, do nosso direito, livrando a vontade do fardo diabólico que a ela sempre foi apontado pelo catolicismo.

sábado, 31 de outubro de 2009

Quantos acúmulos mais?
precisam
precisarão
precisaram
precisariam

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

momento arte

sujeito e objeto
elementos do mesmo
formas de um todo
que perpassa tudo
o universo.

somos forma vazia
assoprada de vida.
somos linhas e linhas
cheias de tudo
de impulso.

é nesse momento
desse silêncio,
não o silêncio de fato,
mas esse silêncio

o silêncio

o silêncio

que implode compreensão
implode razão,
quando como que um beijo
vem a nós
e nos inunda
de um peculiar respirar
e nós contemplamos
o infinito movimentado
de que fazemos parte:
esse momento
é arte.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

humanamente encaixado

São símbolos novos
novos na medida do movimento
novos símbolos de novas medidas
novas medidas de novos símbolos
e aí se tornam velhos, velhos símbolos, trajeto mapeado do caminho traçado pelas palavras e estruturas passadas até as palavras e estruturas de agora

é ser ciente, suspenso

a cada novo momento
um apêndice à cosmologia
um acúmulo à compreensão
indispensável de se agregar à memória quando se é movimento
é rever os caminhos e as posturas que desde o início indicaram quem eu era
ler e reler seu passado é o primeiro passo, é o fim último daquele que quer reescrever todo dia o final da sua história.

razão é o motor movimentando a razão e o movimento (e você ali no meio)

Eu ouvi, lá do fundo de mim mesmo, aquilo que me ensinaram. Ouvi tão fundo, tão fundo que aquilo que ouvi era tudo o que era, eu vi que me conhecer sinceramente era o mesmo que conhecer as minhas vontades que era o mesmo que conhecer o meu mundo que era o mesmo que conhecer, dentre todas as possíveis possibilidades da moderna modernidade, aquilo que você está aprendendo a ser, reconhecendo-se, de novo e de novo e de novo. Ao ouvir esse chamado lá do fundo de mim mesmo eu percebi todo o sentido da existência no caos. Lá ao longe eu ouvia: e o caminho para chegar lá que tornara-se o problema, porque eu via, eu ouvia, eu sabia, quase intuitivamente, qual era a minha maior vontade, eu sabia o que era aquilo, tão novo, tão meu, que eu queria expressar, mas havia todo o processo e todo o processo fazia parte também daquilo que eu queria expressar. Era como se eu sentisse-me atraído por mim mesmo enquanto vontade de representar, enquanto impuslo a ser formalizado, e o processo até lá, lá esse que envolvia o processo, eu repito, é que era árduo. Mas existiam, então, duas opções: restar na inexpressão, na incompreensão, na masmorra, revoltado, indignado, escravizado e cansado desse trabalhão que ainda faltava, ou ia, seguia, perseguia, continuava, movido pelo motor de mover-se, a caminho, incansável, inabalável, um protestante comigo mesmo, com o meu estado de morbidez tradicional hedônica. Buscar a mim mesmo, eu descobri isso pelo caminho da vida, era o mesmo que viver todas as vicissitudes da nossa cultura: trabalhar, arduamente, e continuar trabalhando, focando a arte, a minha arte, aquilo que eu consigo expressar de mim mesmo, o melhor de mim mesmo, o meu objetivo maior, aquilo que, no final de tudo, eu gostaria de ser: racionalizar e racionalizar, porque quanto mais se racionaliza, mais se otimiza a sua produção de si mesmo, mais se descobre os caminhos dentro de si mesmo, dentro da sua cultura, cara, porque o sujeito e o objeto já se fundiram em um só, você é aquilo que é a sua cultura que é o objetivo individual que é a tentativa de estruturar a vida para que se coniga estruturar os pensamentos em direção à realização de si mesmo, de sua vontade e aqui eu decreto o fim da fé, pois o objetivo não está mais na inércia. Acontece que a razão, enquanto instância reguladora da história, sobrepôs-se à fé e, esquizofrenicamente, tenta sobrepor-se à cultura, e aí a nossa cultura virou a própria razão, que dse sobrepõe à cultura, que agora é a razão: a sobreposição da razão sobre a própria razão, e eternamente assim, um sobre o outro, o além do além do além do outro, e a estrutura se tornou cultura que se tornou estrutura e que se tornou cultura, e o que ninguém consegue não fazer é parar de pensar sobre si mesmo, o que trás conhecimento sobre o mundo como ele é, instável, pois as estruturas, a todo momento mutáveis, que são elas mesmas os conteúdos das nossas culturas, são o movimento constante das expressões estruturantes dos indivíduos quando tentam dizer a sua ideia, sempre fugaz, sobre o que é o mundo. O problema de tudo, meus caros, é que já se falou tanto que eu tenho medo de que, para conhecer-me, para conhecer minha cultura, eu deva ler realmente tudo o que foi dito, conhecer mesmo tudo o que já foi estruturado, para poder estruturar mais profundamente aquilo que sou eu, que é o mundo. (Não poderia ser algo mais antropológico?). O problema, e aí que talvez esteja a dicotomia moderno/pós-moderno, é o cansaço que a gente já sente ao ver todos os caminhos árduos necessários para concluir a minha expressão, que sempre vai mudar, porque movimento é o que mais há. O movimento, pra quem está parado, cansa, mas o motor do movimento é o próprio movimento e não se pode nunca ter parado: você está obrigado a andar e andar e andar, com a correnteza, e tentar ser o primeiro, guiar a correnteza, se quiser ser o melhor, mas saiba: alguém pode vir e te tirar do primeiro lugar, é só uma questão de dedicação protestante ao trabalho da razão prática - a prática racional da sua vida.

domingo, 18 de outubro de 2009

conceituando vontade num lugar histórico moderno

Partindo do pressuposto de que somos ensinados a sobrepor a moral às nossas ações, procuro vislumbrar as consequências da atitude contrária: nossas ações virem à frente das nossas morais. Mas é então que me confundo, me confundo nos meios pelos quais se poderia inverter esse mecanismo moral, me confundo ao pensar a que grau de ações isso se refere, me confundo ao pensar as consequências disso, se for aplicado a tudo, a toda e qualquer instância em que a moral - ou qualquer outro dispositivo - minimamente controla os homens e mantém certa ordem, certo respeito.

Para que eu mesmo possa compreender melhor essa reflexão, resolvi mapear como se formam as vontades dos homens, aquilo que vai lhes guiar as ações, aquilo que é o que será impedido ou movido pela moral, se ela vier de cima pra baixo ou de baixo pra cima, respectivamente. Porque sim, os homens podem ter muitas vontades, das mais variadas possíveis, e não pretendo classificar essa vontades em categorias. Assim, o lugar aonde quero chegar com essa reflexão é basicamente este: que instância seria aquela que limita inconscientemente as vontades e as aspirações dos homens, e a que essa instância estaria relacionada, se não é com a moral?

Para responder a essa pergunta, procuro recorrer ao meu precário conhecimento sobre Hegel. Do pouquíssimo que aprendi, entendi que Hegel lança a perspectiva histórica da razão, ou seja, a razão é histórica porque a razão é a história. Recortei essa informação e tentei aplicá-la, encaixá-la nas minhas divagações: essa razão história também seria aplicável a padrões morais. Sendo assim, a moral não seria algo estanque; a moral de cada tempo e espaço (pegando emprestado a terminologia de Kant), isto é, a moral de cada lugar histórico é determinada pela razão história. Isso determinaria que os homens hoje têm vontades que condizem mais com as disponibilidades de seu lugar histórico.

Essa hipótese me pareceu satisfatória por um motivo principal: o fato de os homens terem, de acordo com seu momento histórico, motores diferentes para ações, ou seja, são apresentados aos homens determinadas circunstâncias que os homens absorvem por viverem naquele tempo e espaço. Essas circunstâncias é que determinariam que tipo de vontades essas pessoas podem ter, fisicamente falando. Uma pessoa que nasceu no Egito antigo teve tais e tais experiências que uma pessoa que nasceu no tibete da atualidade não teve; as possibilidades físicas pras vontades têm que ser anteriores à vontade.

O que eu conclui dessa reflexão acerca dos limites das vontades foi justamente que as vontades que surgem nos homens estão relacionadas ao seu lugar histórico, ou seja, a razão história vai expor aos homens as circunstâncias em que eles se encontram, e as vontades que surgirem nos homens em cada época vão estar restritas aos limites da condicionante razão história. As consequências da inversão moral que se vem propondo, portanto, não quer dizer que vamos agir como bufões na Idade Média. Pode até ser, em casos individuais, por motivos de uma biografia. Mas se formos tratar de um ponto de vista mais amplo, aquilo que motiva os homens modernos é a realização. Os homens, na contemporaneidade, conseguem compreender a necessidade da civilidade, mas têm dificuldade de ir atrás de suas próprias realizações.

Assim, entendo que os homens, que racionalmente (razão história) encontram motivos para conservarem algumas conquistas civis, e políticas, por consequência, devem agir de acordo com suas vontades de realização, e não que os homens devessem exercitar atitudes diabólicas. Os homens devem buscar, em si mesmos, no seu conhece-te a ti mesmo, quais são as suas vontades, tendo em vista toda a disposição racional histórica de seu lugar. Entendo também que a educação, para essa proposta, não deve ser banida permitindo, portanto, que os homens ajam animalescamente por aí - me arrisco a dizer que cultura é da natureza humana. As conquistas civis e políticas, dessa forma, devem ser mantidas e deve ser mostrado aos homens todas as possibilidades de realização de vontades que há na sua sociedade. A educação deve instigar os homens a realizarem-se na própria cultura, na própria razão história de seu lugar, e não deve ser despoticamente moralizadora, indicando o correto e o incorreto eternos, o que gera a culpa, o medo, o ódio e a inércia. A moral de cima para baixo impede os homens de conhecerem-se a si mesmos, isto é, de irem buscar em se lugar histórico os caminhos para a sua realização, os caminhos para sentirem-se exercedores de suas vontades.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

o mundo é não-familiar

rebentado
porque me fui
deslizante
fui, aguado

restei
desacomodado
os braços e as pernas
abertos, mexendo
tudo havia mudado

sábado, 3 de outubro de 2009

reflexões modernas

Começo a me perguntar o que é o novo, já que quero persegui-lo. Algumas hipóteses: o novo é buscar conhecer aquilo que te envolve; o novo é um olhar que se tem sobre as coisas que te faz querer vê-las de outras formas, de formas novas, para conhece-las mais, de outro prisma, de novo; o novo é o que te impele a continuar o movimento da vida, em direção às várias direções do infinito; o novo é produzido por aqueles que querem ver o infinito na vida - o que talvez seja a arte para a modernidade; o novo é aquilo que fala mais alto nas paixões dos homens, aquilo que nos leva, se não fosse o medo travestido de tédio, em direção ao poder sobre a nossa volta; o novo é o caminho para as expansões dos olhares, da moral; o novo é criar novidade sobre o velho tudo, é tornar obsoleto, inadmissível e desnecessário o que se tinha conhecido; o novo é o novo de seu tempo, o novo empolga o novo de seu tempo.

Aí eu parto para uma segunda parte da reflexão. Que tipo de comportamento-postura diante da vida-ela-mesma, ou seja, das interações humanas (humanos com humanos e humanos com o seu mundo), seria mais propício à descoberta do novo, esse novo que pode se apresentar em qualquer instância? Gosto de figurar um sorriso-riso como imagem dessa postura. O sorriso-riso, sim, porque o sorriso-riso é o indicativo de que se está disposto a viver uma nova experiência, é empolgação, é atração de novidade. Conhecer algo implica querer conhecer algo; e ultrapassar a barreira do conhecimento do familiar, buscar conhecer o novo, predispõe um ver-com-bons-olhos o por-vir-do-conhecimento - e se animar rindo quando ele vem! - porque o novo só se apresenta para quem vai até ele, com vontade de encontrá-lo - e só é bom quando apropriado, rido. Os caminhos deixam de ser cheios de medo à medida que a vontade de continuar a vida boa nos faz ir ao encontro das novidades que podem nos fazer ser senhores de nós, do que nos rodeia. O sorriso-riso é o fim do medo, é se dispor e conseguir; a segurança pelo sorriso-riso é o fim de uma expectativa de moralidade recíproca em que todos têm medo de todos, não caminham, não se cruzam, se acusam, não morrem, mas se prendem. O sorriso-riso, seu vigor e sua calma do passo a passo, de infinito em infinito, do gosto pela descoberta, rindo a cada etapa cumprida: o sorriso-riso é o peito aberto de todos os que fazem da arte, o produto do novo, a sua motivação para seguir na guerra contra o medo, em direção aos melhores frutos - partilhados para os meus bons, os que sorriem pro novo que encontram na minha e em toda a arte... e riem ao concluirem que as conhece!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

moderna vida-ela-mesma

o medo do novo
e a passividade
da espera:
nesse ponto
desonramos o que nos motiva,
nós
modernos

mas isso talvez seja necessário
porque somos renascidos:
antes
um período de finco
de medo
de fé
em paradigmas passados
uma boa vontade
uma caridade com os estatutos
de uma rotina
do costume

e depois
como uma consequência
dos anos no medo
seja antítese a antítese
seja por uma vontade maior, sua
seja pelo que for, cara
você vai se cansar desse tudo
divinamente encaixado
instituído
e vai experimentar o nada
o nada
e estará renascido
em branco
desalienado
vontade puríssima

por você

você vai se cansar de trabalhar o velho
você vai estar esfolado de tentar compreender um deus
você vai finalmente iniciar o projeto seu, novo
você, que é moderno, vai buscar a realização na sua cultura

um sentido pequeno atrás do outro
uma coragem latente numa busca para si
e o argumento maior da sua vida vai ser você
é você, coisa pensante de corpo que sente
você vai desmistificar a existência do nada
vai se encaminhar pelas novidades que enxergará
no infinito
e vai viver, vai se empenhar, vai desanuviar
sabendo do nada
sabendo da morte
mas com uma pretensão sua
a pretensão de novo
e que por isso não quer mais parar
de experimentar e se cansar e experimentar
de novo - mesmo sabendo
do nada
e de pouco.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

perceber que tudo na Terra pode mudar em teoria
mas que tudo anda mais ou menos na mesma linha de sempre:

olha pro céu e vê como tudo é tão absurdo
vê o tamanho de tudo
e o tamanho da palavra dos homens
avalia bem

porque aí vai importar somente que os homens têm
e não têm tudo
olham pro céu e só
acumulam
e fazem sua guerra da escassez
guerra de gritos e vontades de homens, um nadinha perante o Universo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Deus
Homens
Sujeito
Indivíduos

Crise
Tudo
nada
Crise
tudo
nada
crise
tudo
Nada
...
...
...

Primeiro existia o divino e não havia crise, pois não havia nada que não fosse de sua vontade. Até que a palavra de Deus desceu aos homens: e eles eram a expressão dos deuses, fizessem o que fizessem, comprovassem o que comprovassem, mandassem como mandassem, mas eram eles, os homens, eram eles que sabiam das leis do mundo, das leis dos homens. Então mais e mais e mais homens soltaram o verbo, os seus verbos e verbos e verbos: e não havia mais Deus enquanto substância, não havia mais leis enquanto essência, não havia não se sentir à vontade para exigir ao querer - ninguém mais pedia. Aí tudo começou a soar mentiroso, porque, afinal de contas, querer, todos querem - e não querem perder -, querem voar o alto dos seus sonhos! Mas se há sociedade, há escassez, escassez, escassez, escassez... como é escassa a possibilidade de viabilizar os sonhos, como é escassa a materialização de vontades; mas quantos não são os sonhos, as vontades, os verbos, as verdades a serem ditas! Ah, essas são muitas... Essa nossa vontade tão grande, que se via possível, potente perante o poder conquistado dos homens de deus pelos homens; esse nosso prêmio de guerra pela morte de Deus precisou ser repartido - mas o Tudo é escasso e atraente, precioso, e acaba retornando a alguns. Sim, eu sei, você sabe, todos deveriam ter tanto nada quanto tudo em suas vidas e assim ficariam todos iguais, justiçados, serenos, quietos, neutros, racionais e em paz. O tudo escasso, o tudo escasso, escasso, tão escasso que não tem graça espalhá-lo igualmente entre os homens: alguns indivíduos famigerados, como qualquer um, pegaram o tudo e reservaram-no a seu acesso restrito; e o nada se espalhou pela maioria dos homens, o nada tornou-se a verdade, porque agora, entre os homens, que se sabem homens e potentes, a verdade é a verdade da maioria dos homens, assim a democracia faz pensar. Agora, porque o negócio é cá embaixo, entre os homens, tudo ficou tão menor e tão superficial, que o que há de mais profundo e total é ter. Os que têm, os poucos que têm, têm tudo, pequeno em essência, superficial em sentido, em letra minúscula, mas é tudo. O nada, em letra maiúscula porque verdade da maioria, mas em fonte pequena, se apoderou dos indivíduos que, diante de tanta mentira dita e desdita, nem lhe dão mais tanta importância assim: tanto o tudo e o nada são pequenos e superficiais, porque agora só dizem respeito aos homens... Talvez os maiores malefícios do apercebimento filosófico do poder dos homens sejam a pequenez a que tudo se reduziu e a vileidade e a baixeza das suas ações e vontades - os homens só querem ter, e é isso aí. Porque tudo ainda é deles, e eu e todos o queremos, simples tudo. Mas não, não é mais tempo MESMO de retornar a deus para nos aquietarmos, e temo que isso seja impossível para o que nós já somos... e agora, josé?!

domingo, 20 de setembro de 2009

por que você sorri pra mim?

Paro tudo por pensar em você.
E até me engano achando que devo escrever sobre ti,
pois estará para sempre, para o resto da minha vida,
você, escrito nos meus versos.
Digo isso porque sei que vou guardar os versos.
Digo isso porque sei que guardo todos os versos que escrevo.
Paro, paro tudo mesmo por pensar em você!

Vejo a sua imagem, andando, ereto, altivo, pé ante pé
e eu não te toco, porque você anda sem sair do lugar
e só a sua imagem andando parada...
Você, você, você é o meu principal martírio,
você é o meu fundamental desejo,
você é a minha maior vontade!

Mas eu não te tenho!
E é por isso que me engano ao escrever meus pensamentos sobre você.
Porque eu não tenho, tudo indica que não terei, por isso, aquilo e aquilo outro:
construtos, sim, mas sólidos, por mais que não para sempre, como prédios, que tendem a cair com o tempo, mas não caem enquanto houver quem mantenha, quem apare as fissuras.
Deixar tudo isso escrito... conforme cada letra se forma nesse papel, eu penso que você estará nelas para sempre, e nem amadurecimento, nem análise, nem nenhum bem vai fazer se apagar essa sensação em mim
porque eu escrevi você!
porque eu nunca vou ter você!
Nunca, nunca, nunca!

Construto sólido até então
Você vive nesse construto e vai morrer nele,
isso é um indivíduo: algumas estruturas não mudam nem com a mais paradoxal ciência!
Eu também vou morrer no meu construto, que não atrai você.
Mas eu me atraio pelo seu!

Eu preso aqui no meu olhando a janela do seu e você me sorri porque não te há motivo pra não sorrir porque tentar sair do meu construto pela janela em direção à sua é suicídio.
Eu fico olhando o seu construto da janela sem conseguir sair.
Essa é a sina do meu construto.
Escrever sobre você da janlea e sobre a minha sina com você,
isso é o meu construto, isso é a minha sina,
é aqui que eu posso morar.
Não escolhi ser eu, nem ser esse eu na vida cotidiana, muito menos quando sei que sou construto.

Você é lindo, você é lá e eu aqui.
Mas como eu penso estar errado!
Mas como eu quero estar errado!
Cada sujeito, um predicado
que pode perfeitamente estar enganado.
Eu posso ter me enganado sobre a verdade
eu posso ter me iludido quanto à sua verdade.
Mas há o medo da janela do meu construto,
eu vejo você fazendo suas coisas sem nem se importar nem perceber que eu vejo você.
Eu não me jogo da janela para alcançar a sua, mesmo imaginando que pudesse voar.
Descarto, assim como te imagino me dizendo: "quero que descartes essa possibilidade, essa de me alcançar, pois não dá no meu construto, não quero."

E eu procurei descartar, depois do seu discurso que imaginei, depois do discurso seu que imaginei, depois dessa verdade que eu consegui imaginar, você me dizendo docemente que não, cheio de direitos, eu constrangido, resoluto, fechando as cortinas da janela e me escondendo agora toda vez que quisesse te ver.
Não é preciso testar, pois testar seria me jogar e provar, sim, mas morrer muito provavelmente.
Nunca vivi a morte, mas tenho medo!
Nunca fui a você, mas como quero!
Aí escrevo, escrevo, com medo, eu quero, não posso, ou talvez seja cedo muito cedo para afirmar qualquer coisa.
Eu vejo você, andando, em minha direção, mas, sendo imaginação, parado, mesmo que realmente isso fosse impossível, você nunca chegando em mim. Andando, porque você anda; parado, porque nunca chega.

Eu? Parado e olhando e te eternizando em verso...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

quero viver seu grande amor

algo vinha se desenvolvendo em mim sem nenhum foco
sem nenhum, nenhum mesmo, eu sofria, sofria, sofria
ardia
sem saber direito por que
sem saber discernir os motivos, nem as vontades
e eu andava como se fosse vendado
espalhando incerteza, desconfiança, desânimo
não visava descobrir, porque me era mais seguro ficar, muito embora tedioso...

agora
é diferente.
o processo todo, do antes ao agora, não é lá tão poético.
alguns anos na terapia, alguns porres, tédios
e o normal da vida, um processo ocorrendo,
cujo único método de observar é
antes, depois
motivos e consequências
e o meio é como se fossem vários antes e depois, motivos e consequências,
o meio é dividido em antes e depois menores, como secções, partes do todo,
antes e depois, motivos e consequencias são os seus limites, o seu contorno

mas isso não era poético
porque o que importa é que agora é diferente
o meu sofrimento, terrível
não é mais espraiado, expandido, irresoluto
é porque agora você é meu foco maior
você, eu não canso de repetir, você é a minha maior vontade
e suspirar agora na vida ainda é difícil, sim, porque a vida ainda é difícil
mas eu não me perco mais, em possibilidades mil de soluções,
sem esperanças por não vislumbrar como alcançar o pleno.
o que acontece é que você passou a ser o objetivo da minha vida,
eu encontrei um objetivo, um por-onde-escapar
e eu só preciso que você queira também...
eu penso, eu penso, eu penso
eu penso que é muito simples, porque é só você querer também
e não vejo motivos pra não crer que minha imaginação seja possível,
plausível!
porque a distância física é tão pequena, que eu vejo que o que nos separa
é a mesma distância que me separa de alguém no ônibus (queiram me compreender)
o que você faz comigo é sem saber, eu sei, como se você estivesse no seu direito,
e eu sei que está
e eu não posso ir além, porque não - por que não?!

aí,
não sendo como devia talvez ser
não podendo ser
de jeito nenhum
levantar da mesa do bar e retornar pra casa é o mínimo que se poderia fazer
porque amanhã tenho que acordar cedo, porque eu estou cansado,
porque eu não pretendia ficar muito mesmo, eu falo tudo isso pra todos
porque eu pretendia ver como seria com você hoje
e depois ia ver no que ia dar
se nada, como o previsto (previsível...) desde sempre, eu iria me recolher, levemente casmurro, disfarçando
não que eu tivesse que ir embora, poderia ficar casmurro ali mesmo, na mesa do bar
mas a pressão foi tanta, não sei nem que pressão era essa direito,
mas veio

uma frustração das maiores
pior, muito pior do que nos tempos de antes,
muito, muito pior
você, o meu deus, meu destino, o meu bem, a minha paz
(com você eu seria um nada feliz)
você, não que por maldade, não por nada, não sei
mas você não me quer, mesmo
e isso é triste demais
pra mim;
pra você não, não sei nem se você sabe, porque é tão velado
e você, meu tudo, não quer nada comigo
eu sofro, talvez mais um tanto que antes
porque eu sei que meu objetivo é inalcansável
e isso me parece ser o verbo da minha vida

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

objetivo

As nossas mãos dadas
entrelaçadas
nossos dedos se perpassam
Ah, nossas mãos dadas...
Que são levantadas!
em seguida abaixadas
pelo nosso lascivo movimento involuntário.
Até que se soltam!
e você me pega um pouco acima da nuca,
dedilha, tateia, ara meu cabelo curto
eu te olho nos olhos e logo me deixo levar por um sorriso:
eu pestanejo e levanto o rosto
você encosta em mim
e eu sou aqui...

você é a minha maior vontade!

domingo, 13 de setembro de 2009

contornar o contorno

Eu
às vezes
acho que sou
não.
Vejo
a essência da
minha vida
em negar,
em propor
qualquer questão.
Mas então
me lembro
que me esqueço
que assim
só posso ser sim,
já que que venho dizer:
falo não, crio questão -
logo
defendo essa afirmação!
E aí vou
e volto
do sim
do não
mudo de idéia sempre
pra poder
contestar
toda e qualquer opinião,
tanto a do
sim
como a do
não.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Família, ê!

Algumas coisas mudam o rumo das coisas. Um fato hoje me fez refletir sobre coisas que eu não vinha refletindo. Agora eu reflito sobre o poder econômico que rege as relações familiares na sociedade moderna, capitalista, burguesa, contemporânea, chame como quiser. A intuição que lateja incessantemente é exatamente essa, de que há um poder econômico que determina a perpetuação das relações familiares, pois se não houvesse, qualquer momento que se quisesse ir embora, iria-se, independentemente de qualquer dependência da família que a vida moderna lhe impusesse. Porque família é praticamente quem pode ter poder indiscriminado sobre você, pois a qualquer momento você pode perder a sua vida na família, se eles, os seus pais bem o quiserem (ainda mais se você não tiver mais avós). Porque, para eles, basta dizerem que vão lhe cortar a mesada que nada você pode fazer, a não ser tentar se virar pra tentar arrumar um dinheiro, se você já tiver idade para tal. O poder da família termina onde o seu consegue se impor. E o poder da família é econômico e ideológico, o que é praticamente o mesmo que dizer só econômico. No seio da família jaz o filho com medo de não conseguir suportar as exigências da sociedade capitalista, e se emaranha na família enquanto pode e enquanto aprende o que é necessário para viver tão bem como os pais. Mas essa necessidade de ser remunerado as well as parents are at least é o mais repugnante fetichismo. Pois o homem livre, dessa nossa sociedade modena, desde que maior de 18 anos, pode vender a sua força de trabalho tal qual qualquer outra pessoa, e suas necessidades materiais mínimas são as mesmas de qualquer ser humano, vestimenta, comida, água, o normal... Basta surgir um momento de crise para que as ilusões que se mantinham sobre as relações políticas do capitalismo se desmanchem no ar, e assim se possa ver toda a hipocrisia e todo o conservadorismo de uma sociedade que cultua a propriedade privada. Família, suck my dick!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

a dificuldade se abateu sobre mim. não consigo mais ler todos os textos da faculdade, e parece que eu não entendo mais o que eles querem dizer, e eu quero desistir logo de tudo e tentar uma vida como uma pessoa burra que acha que sabe de tudo e vive dando algumas acertivas sempre erradas, porém com a convicção de um discurso de um esquizofrênico. mas aí, quando eu penso no que eu quero ser, no que eu quero saber, no que eu quero poder conversar, eu me frustro tanto de perceber agora que eu não gosto do esforço que eu achei que fosse gostar, eu me arrependo tanto de ter sonhado esta noite que eu mesmo me convencia de que eu não gostava tanto assim de ler que nem um filho da puta...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

então vem cagar comigo!

Finalmente sinto que não dá mais para engolir. Se tudo o que comemos deve ser digerido e cagado em algum momento, eu digo que agora estou satisfeito e faço a digestão, espero cagar, é somente o que falta para completar esse ciclo. De tudo aquilo do mundo que comia e comia e comia, desesperadamente, procurando satisfação, agora sobraram algumas coisas mordidas, alguns farelos e muitas coisas pela metade, o que pode ser visto como um desperdício, mas era o que eu quis comer até o momento em que me empanzinei. É preciso agora que eu cague tudo o que eu consumi do mundo nesse ciclo da minha vida, mas nesse momento ainda estou na digestão. Eu diria que agora foi o momento de pico do hormônio que traz saciedade: empurrei o prato pra frente e levantei, com uma cara de desgosto pra comida e com olhos agora pra qualquer tipo de coisa que me ajude a digestão, como uma boa diversão, uma tv, um carinho, um baseadão. Tenho a sensação de que parar de comer é o vislumbre da cagada, e por isso é de certa forma sublime, porque já se está satisfeito, já não há mais por que comer e tudo o que se segue agora é uma espera pela cagada, pela certeza da liberdade, aproveitando o máximo que puder, esse tempo de espera, desde que não atrapalhe a digestão. A única coisa que não pode ser é a cagada vir somente com a morte, muito embora eu não acredite muito nessa libertação para além da vida, sou moderno o suficiente para saber que cagar faz parte da vida assim como a morte, ou seja, para saber que as duas coisas vão acontecer independentemente uma da outra, por mais que simbolicamente recorrentemente sejam aproximadas, o que é um total engano. O negócio é que a cagada é especialmente mais importante e feliz para a vida. É com a cagada que você consegue deixar para o mundo aquilo que você criou com aquilo que ele te deu pra consumir: a cagada é arte, a cagada é a realização na cultura, a cagada é fazer a sua parte; diferentemente da morte, que é fim, a cagada é expressão da vida, que se mostra operante. Esse momento em que estou agora, de digestão, é, portanto, um dos momentos mais animadores e extasiantes. É o momento em que já não há mais aquela angústia do comer sem saber quando vai acabar a fome, é momento em que há, sim, todo o regozijo do fim do trabalho e do início do fim de semana, que se encaminha para o domingo, o momento maior do mundo, o dia do descanso, homenageado com uma grande cagada; é o que nós, homens, somos capazes de fazer, de criar pra seja lá o que for que se chame de deus - essa instância abstrata e possivelmente inexistente que tudo vê. Veja, então, deus, o meu cocô, aquilo que eu faço com o mundo, aquilo que é o clímax, o gozo, a arte, o belo, o ponto final de um ciclo, o objetivo maior de tudo, uma bela cagada, um domingo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

uma canção

marchar e marchar
contra o vento
porque o tempo
já não é mais de quem quer ficar

sofrer e viver
ao relento
sem intento
já não dá mais pra quem quer brindar

se o mundo em si
não fosse tão descabido
não tinha o porque do alarido
eu cantava o que fosse cantar!

mesmo que eu não
tenha lá bem um abrigo
vou buscar um sorriso
e um por quê pra rimar!
O homem infeliz não consegue dizer a justificativa para ser infeliz. O homem infeliz é infeliz. Suas palavras sempre tenderão ao absurdo, e o sentido delas sempre será o do homem infeliz, que será lido como infelicidade, e nunca como justificativa. Temos aqui um problema. Ou estão todos tão massificados que não conseguem abstrair um conceito, o que talvez seja uma generalização meio recalcada, ou o homem infeliz é louco - ou somente infeliz.

domingo, 30 de agosto de 2009

o silêncio ouviu

De estalo em estalo no pensamento é que você faz as suas barreiras, é que você decide o porque de não ver mais tristeza: você entende as situações que não são pra você e procura relacionar-se mais diretamente com as pessoas de que você gosta. Mas agora me acabaram os motivos pra não ser infeliz o tempo todo. Como se houvesse uma relação de proporcionalidade inversa entre a minha vontade e a sua possibilidade de se objetivar. Eu quero muito e não vejo vir mais nada.

Olhar pessoas sentadas numa sala de um apartamento de alguém e restar, ser reservado a um lugar num sofá macio, tão macio que não há nem vontade de levantar. A observação que o meu silêncio me segredou não me deixa não ver aqueles momentos em que as vistas de todos descansam do entretenimento. Mas as pessoas mesmo não cansam, só seus olhares, elas não se deixam abater por um cadáver de olhos abertos no sofá, eu. Que eu veja, há o movimento delas, das pessoas na sala, ainda impulsionadas por não sei o quê, com suas barreiras ainda em pé, seus motivos pra não ouvir o silêncio, e elas vão e vêm da cozinha pra sala pro banheiro e ninguém vai embora pela porta: isso tudo é um mar preso num aquário, e o que eu vejo com o silêncio é o ondular clássico de qualquer água com gente dentro: bate nas bordas e volta, em reação, a se juntar ao resto da água que vai agitar-se com as mãos, com as vozes; o ir e vir que em nenhuma água calma.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

tristeza e ponto

Alguma coisa tem que acontecer pra mim.
pra mim, porque é muito ruim
viver como se você fosse ninguém.
Uma caixa em cima da outra
empacotado num apartamento
ou sob a luz tenra de um bar melhorzinho
ou sob o céu estrelado de Aiuruoca
você vive como se fosse ninguém
porque passa
porque tudo
porque nada

eu conto as minhas vontades
e sei todas as causas para não poder fazê-las
essas causas são as suas consequências
cada escolha determina consequências que devemos avaliar
são elas que devemos avaliar

o que é felicidade, meu amor?
se é que há tranquilidade, sem torpor
se é que todas as vontades são da dor...
mas não, não são, porque a dor é a consequência
e não causa, não ponha como causa, como motivo, como desculpa...
vontade é vontade e disso já sabemos todos
mas ainda assim
(eu sempre caio no ainda assim...)
ainda assim há tanta coisa apertada no meu peito
há tanto furor castrado por respeito
vontade finda, dor que já fez o seu leito
que eu vejo a vida já não ter mais jeito...

me responda quem nunca pensou em sentar na janela e se jogar...
em meio ao nada, tudo, passa, basta!
eu já!
mas aí não
porque o que pode, pode...
ainda pode!
ainda assim pode!
caixinha sobre caixinha e ainda pode!
espero ser feliz...
sozinho...

sábado, 22 de agosto de 2009

a natureza é uma instância em movimento
a natureza não é algo que está lá
o natural, portanto, não é um ponto que se procure encontrar
basta ser pra ser natural
tudo o que acontecer será natural, tudo o que ainda não aconteceu não é
a vida é assim
conforme for sendo
qualquer atitude é natural
porque natureza é uma instância em movimento
não há pontos de partida, nem pontos de chegada
não há eternidade em nenhuma ideia
natural é o que se é agora
tudo pode ser
o que é, é natural
porque é
porque nato
de tudo o que pode ser,
é
natural.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

confissão

aflito

porque digo o que digo
e não sei se é dito
o que encerra sentido!
digo ou não digo?
minto ou não minto?
se conceito perdido,
o que é ilusão?
dizer ou não dizer,
tentar ou não tentar,
eis a questão...

Há tanto conflito
sobre o dito e o desdito...

perdemos o início
e tudo o que discurso acaba sendo sobre mim,
(e tu, também, sobre ti)
dá pra ver nos meus olhos
(e também nos teus)
que as minhas palavras
(e as tuas, no teu caso)
são muito mais os gestos
(também é assim contigo)
exponho-me
(expõe-te)
difamo-me
(difama-te)
falo muito
(e tu, se falas...)
e mostro-me um abismo
sem fim
dentro de mim...
(e tu, o mesmo, aí dentro de ti)

é muito melhor observar
e perceber
esse velado não-dito:
o absurdo,
(impacto)
quem somos nós.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Resquícios morais

É que deus é uma ideia, e ideia, me desculpe, Platão, ideia é muito vago. É muita presunção sua crer que os filósofos vejam a ideia, é muita presunção crer que o paraíso está na terra. Eu odeio você, Platão, eu te odeio, porque você reforçou a educação, iludiu à construção de mais muitos andares dessa torre, torre de babel, e agora estamos tão lá em cima que é impossível criar coragem pra descer e fugir dessa sua tirania. Quais são os limites da ideia?, porque a torre já me consome muitas e muitas horas do dia. Trabalho, trabalho, trabalho, procuro perfeição em cada detalhe e não vejo nem sombra do céu. Eu me incomodo por estar na torre, você não?

República Democrática Representativa

Apaixonados, desiludidos, desinteressados
banalizados, prostituídos e partidários...
Esterotipados: são meus amigos!
O convívio quer paz e também harmonia.
Um ou outro quer ideologia,
mas todos cansados de tempos de guerra,
Guerra-Fria.
Massificados, consumidores, incluídos:
marginalizados.
Num bololô incomensurável,
os sórdidos,
os ironizados, teatralizados,
em debate e
democraticamente,
racionalmente
postos de lado.
Temos a possibilidade de eleger nossos filósofos!
À campanha!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Torre

Eu estou na torre e estou na maior dúvida; eu duvido até das hipóteses que crio pra estar-na-dúvida. De uma coisa eu sei: alguma hora essa torre vai ruir. Além disso eu não sei mais nada, acaba que só fico esperando. Não sei se já chegamos o mais alto que podíamos chegar com essa torre. Já não sei mais se tenho medo de deixar a torre e seguir meu caminho particular, pelos campos, porque está alto, ou se é porque ainda não cheguei na total incompreensão e inexpressão que o caminho a deus traz; e, mesmo que contrariado, começando (começando?) a me desconfortar, ainda não tomo coragem para descer da torre. Também chego a pensar que posso não ter descido ainda, porque até agora não encontrei gente o suficiente que fale mais ou menos do mesmo que eu, para seguirmos juntos um caminho e formarmos uma nação. Passaríamos juntos - em caravana, porque é necessário - a desbravar os campos, entrar, e saberíamos, nós, o nosso caminho ao nosso estabelecimento - e lá estaria deus, nos depararíamos com ele, enfim, inacreditavelmente, pois cansados estaríamos de fugir da torre. A glória seria aos poucos, aos passos, sem pensar nele, caminhando... O paraíso não tem portão que indique seu território, não se chega de uma hora pra outra lá. O paraíso vem conforme a Terra. A Torre vai ficando pra trás, em ruína completa, e dela não se poderá lembrar...