quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Você olhava para o antebraço dele e podia ter certeza de que aquela cara de tédio por causa da sua careca não era à toa. É que o sujeito envelhece mesmo e cria barriga e fica careca e vêm as rugas e nem sempre ele tem consigo o estofo necessário para compensar o acúmulo de idade. Voltando ao seu antebraço: via-se que ele tinha sido um sujeito jovem e minimamente forte, diferente de alguns jovens por aí com braço fraco, pança mole, sedentários - esses, quando envelhecerem, não terão muita dificuldade de lidar com a situação, porque, finalmente, suas reclamações do mundo farão sentido para todos e poderão dizer, finalmente, que estavam certos: serão senhores dos conselhos aos que se entediam só depois de velhos. Para os de antebraço forte será sempre mais doloroso envelhecer, principalmente se não se tiverem tornado ricos. Lembrarão sempre da sua pele jovem, do seu bronzeado e da sua barba por fazer, quando ela era sexy.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

porque ainda há medo de ficar sozinho e preguiça de se engrandecer

alguns esclarecimentos vêm com conquistas.

dois são os tipos que querem namorar:
1. aquele que não recebe muita admiração de todos, portanto qualquer feiura lhe apraz.
2. aquele que encontrou alguém bom para passar seu tempo e para lhe satisfazer sexualmente.

existem muitas características pessoais daqueles que querem namorar de acordo com o primeiro impulso: alguma insegurança com relação a si mesmos, falta de bom assunto, alguma languidez, alguma feiura.

já os que namoram movidos pelos segundos princípios, me parece que buscam de fato a felicidade e que pretendem realmente continuar sua vida seguindo seus verdadeiros desejos, me parecem os mais belos.

é preciso muito cuidado para não sucumbir à força que te estimula a se sentir um alguém das primeiras características, as fracas.
os resultados do trabalho de si mesmo, como bons assuntos, interesses compartilhados, ser belo e ter o belo, são o que nos diz: vale a pena melhorar.

é muito melhor poder ser alguém realmente feliz, mesmo que a conquista não venha tão cedo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

o que eu quero é mais

acordei só pra comer e ver
que tem só você aqui - e tem a tv!

só nós dois é bonzinho demais,

"era pra ser!
nem dá pra falar muito mais,
só você!"

ah! É esquisito demais de clichê!
amorzinho pra lá
amorzinho pra cá
sem falar, só de olhar,
PORQUE É PRA ESCONDER

Copacabana pra graça ser mesmo você! É clichê!
meu prêmio, meu orgulho?
meu pouco, meu "maispraquê"

é melhor então ninguém mais, além de nós dois, saber
de tão, tão fucking clichê!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

caras

Tunico Ribeiro

Gordinho pride. Ele é efusivo, cheio de opiniões contraditórias e está sempre mais oleoso do que o nomral. Muito inseguro, está sempre com algum amigo, em quem se fia para rir e tratar ironicamente as coisas que lhe angustiam. Gosta de falar das pessoas ao redor com algum amigo que irá concordar - faz isso porque não consegue parar de olhar para os outros. Ele é gay e ainda não consegue muita coisa, porque sempre tem que emagrecer. Adora reclamar das estruturas e ter opiniões de tom rodrigueano - parece que seu hobbie expor os tabus subliminares nas conversas e ver o cheiro de peido que isso evoca. Chega em casa, fuma um baseado, come e dorme, bêbado, até acordar lá pras 4 da tarde.


Salamandra Depressiva

É como se fosse o espelho de Tunico Ribeiro. É argentina, e talvez por isso seja crítica demais com a cultura brasileira. Veio para o Brasil para fazer seus estudos, bancada por seus pais argentinos. Fuma cigarros, usa jaqueta de couro curtinha e calça jeans skinny, acompanhados de um chapéu de mafioso. Sua visão pessimista sobre tudo a impede de ingressar o mundo das redes do sucesso, que somente observa crescer - torcendo contra! - nos bares de jazz em Botafogo, bairro onde mora. Não costuma gostar do que escreve, mas sente-se impelida a fazê-lo toda vez que chega em casa ressentida de uma noite de jazz em que não era a estrela e nem tinha amigos para beber. Costuma ir aos shows de jazz e ficar sozinha, enconstada na parede, fazendo pouca atenção à música e muita atenção aos fenômenos sociais de interação na noite alternativa carioca.


Sanduíche de Macarrão

Esse já está morto - se matou muito jovem, diante de uma crise de jovem, pois não sabia se deveria ir para o Rio fazer faculdade de ciências sociais na FGV depois de ter ganho uma bolsa, ou se deveria continuar em Minas, com seu sonho bucólico, infantil - queria ter uma banda de sucesso com seus amigos drogaditos do interior. Matou-se depois de tomar um ácido no alto do Pico do Papagaio, em Aiuruoca, cidadezinha onde nasceu e cresceu.


Doutor Antônio Pinto

Doutor em Ciência Política pela USP, foi eleito deputado federal pelo PSDB paulista dois mandatos consecutivos. Dá pitacos na Folha eventualmente, quando não está compondo algum quadro do governo do estado de São Paulo ou da prefeitura paulistana. Com algum asco em relação ao pós-estruturalismo de botequim, acaba preferindo uma moral liberal, por viver em São Paulo e acreditar no indivíduo racional. Suas idéias são permeadas por um sarcasmo pseudo-refinado, quando, na verdade, está sendo ou reaça ou ridículamente wannabe pontual e sensato.


Antonino dos Anjos

Ele é um cara bom. Não consegue ser exatamente dandy, porque não admite, mas gosta de ler poesia, filosofia, sociologia: o suficiente para tentar justificar um estilo de vida podes-crer contemporâneo. Inspira-se muito no Profeta Gentileza, curte Raul e prefere ausentar-se a discussões políticas com pessoas que beiram o fascismo. Um burguês moderado e bem compreensivo em relação à culpabilidade - seu pai é um juiz completamente alinhado às mais modernas teorias do direito. Sua mãe é psicanalista. Antonino tem 28 anos e ainda vive com os pais num apartamento de quatro quartos, daqueles espaçosos de prédios antigos de Copacabana.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

sobre a desnaturalização do trabalho como um direito

Há, no meu ponto de vista, um perigo moral muito grande em sistemas de governo que aplicam o velho trabalhismo, legando a organizações trabalhistas o poder nas câmaras legislativas. Digo isso, talvez, por ser um cara que não gosta muito do trabalho... O perigo que aponto aqui é justamente para a eternização da ideia de glorificar o trabalho. Sei que posso estar sendo um tanto utópico ao querer suprimir o trabalho... Mas não é disso apenas que se trata minha crítica: a moral do trabalho não pode ser investida de mais benefícios do que aqueles que já lhe são naturalizados pelo sistema de barganha de mão-de-obra. Avento aqui para o mesmo tipo de comportamento fascistóide da população que xinga vagabundos - e, de lá, o Estado Novo manda lembranças. Aumentar a representação de setores trabalhistas é o mesmo que reduzir a importância de pessoas que não trabalham, ainda que essas pessoas façam parte de uma classe que precise financeiramente trabalhar para viver - portanto, aqui, não trato de burgueses dandys, trato de pessoas que buscam uma forma de sobrevivência que não esteja diretamente relacionada a uma necessidade capitalista de criação da moral do trabalho, para que se supram as suas demandas por mão-de-obra. Se o desemprego é o exército de mão-de-obra, ora, basta existirem outras formas de sobrevivência social - sejam elas o que for, se ainda operamos no monetarismo, pra se conseguir dinheiro - que reduzimos o poder que os empregadores teriam sobre as nossas vidas. Diminuir culturalmente a oferta de mão-de-obra, eu vislumbro, pode ser uma forma de valorização material dos trabalhadores - a escassez aumenta o valor da mercadoria -, ou o colapso de um modo de produção que é palco do conflito capital-trabalho, em última instância.