domingo, 27 de fevereiro de 2011

não subestimar a posteridade

Talvez uma das principais dificuldades para uma mente que começa a divagar sobre o mundo seja conseguir classificar seu tipo de reflexão, a qual natureza ela pertence; mas essa mente não se dá conta de que é precisamente isso o problema! Algum grau de esclarecimento é o que falta a esses tão bem intencionados jovens que se aventuram, "batem no peito" e avançam, lívidos, pelos corredores das universidades, sob os postes amarelados das ruas de dentro de Botafogo; Suas intenções são as melhores mesmo, não duvido! Mas seus meios se tornam muito confusos, porque seus fins não existem! É muito difícil encontrar o pensador jovem que consiga investir suas reflexões num caminho único. Como eu disse, confundem-se e não sabem a diferença que há entre os jeitos de expressão do pensamento e, assim, se desesperam todos no modo de organizar o raciocínio: como a maré, seu pensamento é um ciclo de grandes idéias e violentas castrações. Nesse movimento, para eles perturbador, correm o sério risco de sucumbir à confusão mental e abandonar o Pensamento; ou de desistir de construir, lapidar sua autoria - caem no erro mortal de serem perdidos e, assim, nunca ficarem para a posteridade.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O conforto se confundia com o espaçamento. Ao mesmo tempo em que se via que as cadeiras eram muito gostosas, elas ficavam dispostas umas distantes das outras - e eram poucas delas -, valorizando o branco do mármore do piso, o mar que aparecia atrás do vidro da varanda: havia uma seriedade naquela decoração que alguns poderiam se enganar e dizer "puxa, mas como é moderna", porque só enxergavam o arrojo que era proposto. A frieza que se escamoteava pela praia da vista e depois refletia naquele sorriso estranho, montado de Tunico ao me receber, com aqueles óculos escuros -- não havia nada de errado com os óculos escuros, e sim com Tunico. Eu nunca tinha reparado no tom frustrado que aquele sorriso refletia, só depois de alguns anos de convivência e de muitas horas de conversas regadas a uísque e histórias e desejos do passado que pude dar-me conta de quem era aquele homem rico, em sua cobertura, solteiro, na beira da piscina com três rapazes nas espreguiçadeiras. Tunico não era muito enrugado para seus anos, afinal tinha dinheiro o suficiente. O problema de Tunico é que ele nunca conseguiu ser aquilo que ele queria ser. Não que ele em algum momento tivesse conseguido saber, jamais conseguiu descobrir-se quanto a seus gostos, suas aspirações: foi tornando-se o que se tornou com muito pouca ajuda, com pouquíssimos amigos e com muito, muito trabalho sozinho.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

ouvi meu pai,
tantas vezes,
e ele dizia
que algumas coisas
mudavam
outras
se conservavam...
e que ele mesmo
já tinha mudado
de idéia sobre muita
coisa
e outras coisas, não,
ele pensava igual;
e até no seu corpo
algumas coisas
seguiram
aquele rumo esperado
e outras não
ficou gordo,
mas não ficou careca!

Ele me mostrava na rua
ali tinha um bar ótimo
e contava das histórias
e das viagens
e aí esbarrávamos
com um bar
que ainda existia
desde aquela época,
veja só!
e eu via
o que eu ouvia
do meu pai
eu quase que
via as cenas...

ah, e aquele ali,
quem me levava
era o seu avô
e eu quase quase que
via o meu avô
em um tempo
em que esteve
no mesmo passo que o mundo

o meu avô
no mesmo
passo
que o mundo

"naquela época...
em que meu avô tinha suas idéias
e frequentava uns tais bares
e seu corpo era aquele..."

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

brasil dos jornalistas, fotógrafos, djs

eu concordo com o senso comum em historia num ponto fundamental: a guerra-fria e as ditaduras foram péssimas - para a consolidação de um projetos nacionais críticos. ter feito dos intelectuais algo exilável criou, ao mesmo tempo, uma espécie de vangloria ao que se propõe como boa arte e boa filosofia moral, como se nossa capacidade crítica, tanto pra arte, quanto pra moralidade, fosse inexistente e nos seduzíssemos meramente por uma barra que é forçada no convívio social burguês - nossa capacidade de ligar o "foda-se" para o gosto massificado foi censurada; e criou também um ódio em massa por aqueles que percebem a forçação de barra moral. ser crítico, assim, ou seja, refutar muito do lixo que é socado pseudo-intelectualmente por aí e escolher o seu próprio bem pode ser uma tarefa muito difícil e dolorosa psicologicamente. Como são tratados os "gurus", que moralizam, principalmente em festas? Praticamente são tidos por heróis, que precisam ser suplantados pela sociedade carente do desenvolvimento intelectual, interrompido durante a ditadura - e todos sabemos da extensão ínfima do meio social burguês de qualquer grande cidade para nos darmos conta de como uma tomada de atitude crítica causa medo e é, assim, reprimida.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ribeiro pelos flancos

cresce uma irritação muito profunda no meu ser quando eu acho que estou parecendo ridículo naquilo que, na verdade, estou querendo ser sério. sempre acho que estou sendo muito trágico, muito girly, muito sarcásticuzinho, muito ribeiral