sexta-feira, 30 de abril de 2010

o bom e o belo*

olha, os ricos podem:
- cagar na cama e mandar alguém limpar
- jogar coisas fora
- não dar valor a nada, a não ser àquilo que querem fazer no momento mais particular
- não se entender como uma pessoa
- explorar os limites das possibilidades em vida
- temer a morte em sua forma mais livre






*aforisma de "A Gaia Ciência"

segunda-feira, 26 de abril de 2010

pra ter alguma certeza?
origens
qual a origem do universo?
dúvida

então
se os seus padrões todos
podem pulverizar
e você não precisa mais saber onde você o quê antes de crescer,
seus enquadramentos e adequações agora não são sobre sua essência - paira o cansaço:
e você agora se modela pra caber nas instituições que sobrevoam-nos estruturalmente
fluidos pra se amoldar

ANTES DE NASCERMOS

originalmente você deve se adequar ao que está naturalizado há mais tempo
mas o há mais tempo não tem conteúdo, só tem forma

já sei: não vou fazer a barba hoje de novo

domingo, 25 de abril de 2010

persona (non grata)

fácil é
uma palavrinha...

as sinapses são mesmo rápidas
é só ver como consguimos construir e destruir histórias a partir de possibilidades.


quantas vezes eu sacodi meu pé nesse meu último minuto?


ah, que vergonha! Eu sei que na vida real dá pra ser tranquilo...


anormalidade é uma palavra que pressupõe que os normais tenham e defendam a auto-consciência e que os anormais não a compreendam corretamente, sejam perdidos em seus mundos eus

simplesmente relaxar e ser um ego multidecupado

ou melhor, não conseguir exatamente relaxar por não ter a pele nem a força, unas, que devia

- anormais não conseguem ser alguém
- são alguém os anormais que querem ser anormais
- só é alguém quem tem a volta completa da auto-consciência: um
- anormais são corpos que não se entendem corpos e não dão essa tal volta completa

com a rapidez que eu sou, pra ser alguém...
eu esqueço e não escolho
e ainda vou ter que crescer em algo pra brilhar um eu meu

é engraçado,
porque parece que,
só porque você é muita coisa,
você tem que sacrificar todos as suas outras partes, que você tem que chamar de partes,
e ser, sei lá, o você/eu médico ou palhaço, de barba feita ou por fazer; qualquer coisa única

se a gente tivesse preguiça e gula como as melhores coisas da vida, talvez nem compreendêssemos o que é ser um indivíduo.

veja bem:

você têm muita preguiça de escolher e de fazer, mas tem vontade de poder ser tudo ao mesmo tempo.
feições e traços, seria o quê, isso, para esse povo que ama a preguiça e a gula?
todos os homens seriam iguais? ou melhor, existiriam limites físicos da pessoa?


PERSONALIDADE


mas é estranho pensar num povo
mais estranho ainda é pensar em permitirem as pessoas serem preguiçosas e gulosas
"beleza, temos uma cota de 10% da população do brasil que vai ser sorteada pra viver em completos ócio e despersonificação. os indivíduos serão escolhidos por sorteio, podendo refutar sua escolha, que passaria para alguém que quiser. a essas pessoas serão designados os direitos de surtos repentinos, de uso irrestrito de drogas e de acordar às 4 da manhã pra ler só o prólogo de um livro do Hegel."

e ainda tem o amor!
ora, você é o quê pra dar a alguém?
haveria amor na terra da gula e da preguiça?
planeta terra:
nos adentramos em quem quando queremos saber tudo do nosso amado?
um corte de cabelo, uns livros lidos, uma vontade essencial que te faz ser um indivíduo marcado
com traumas lidos, divididos, superados?
você como você é, sim, sozinho, arrumando coisas no quarto e se preparando pra amanhã
e alguém te encontra em algum lugar, algum bar, metrô e se apaixona por você
você é o bom-senso, é a fome e o descanso e um semblante assenhorado
porque você já sabe o que você é.
(se a pessoa já sabe o que ela é, então, são grandes as chances ideais de um amor)

Amor é amor pra quem não sabe o que é nem o que faz nem o que quer e só quer um corpo pra te acompanhar a não fazer nada?


PERSONALIDADE


pra ser geléia, como é que faz?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Alguma descrição, alguma justificativa

Olá, eu sou uma salamandra e meu nome é Salamandra. Sei que esse não é o melhor jeito de começar qualquer coisa escrita, mas é que eu não costumo fazer essas coisas. Aliás, poucas vezes acreditei realmente que fosse capaz de escrever alguma coisa sobre alguém, sobre mim, sobre o mundo. Sempre que penso em escrever, me sinto ou muito afobado, botando as carroças nas frentes dos bois e dizendo uma grande mentira, ou então muito cuidadoso, ao ponto de elucidar tantas nuances adversas que meu pensamento se anularia. Mas há alguém, uma figura, uma pessoa que freqüenta um mesmo bar (poderia chamar de boate?) em Botafogo que eu. Na verdade, há tempos que não o via por lá; e esse livro (se é que chegará a seu cabo, do jeito que sou...) só surgiu em razão deste sumiço. Seu desaparecimento mexeu comigo. Sua imagem, confesso que um pouco chata e desgastada, de tão espalhafatoso e recorrente que ele era nesse lugar que eu frequento, era algo como que típico, original, de certa forma até fascinante. falava alto, por estar sempre bêbado, gesticulava muito e, se não estava rindo de alguém, estava rindo tão anti-cristãmente que parecia muito estar rindo alguém mesmo. Do jeito que sou salamandra, de espécie e de nome, já paranoiei inúmeras vezes com sua risada - e não duvido nada que ele já tenha rido de mim. Ele em geral vivia meio suado, era gordinho e seus trejeitos, suas risadas, mesmo que rodeado de amigos dos mais variados, não escondiam, pelo menos para mim: ele era homossexual. Já fiquei na dúvida, mas ele não queria saber de nada e às vezes aparecia com algum affair. Tunico Ribeiro (esse era seu nome), como era de se esperar, já fez muitos de seus amigos passarem vergonha e já constrangeu muitos outros semi-conhecidos. Quando você achava que ele já não podia mostrar mais nenhuma chatice, inconveniência, ele vinha com mais uma neurose sua, com mais um comentário ofensivo, ele parecia um enorme buraco por onde saíam pontos de exclamação às profusões! Ah, o Tunico Ribeiro era ótimo, na verdade, uma grande figura, e eu não pude ficar parado frente ao seu desaparecimento. Havia naquele sujeito uma sujeira, uma indiscrição e ao mesmo tempo uma pertinência que só diz respeito a almas de artistas! Mas ele era tão poeta que sua poesia era ele mesmo, com sua rispidez, com sua risada, com seus eventuais perdigotos esbravejados com seus amigos e meros conhecidos, com suas idiossincrasias (já vi Tunico Ribeiro chorar! sempre gritando e xingando e chocando, é claro!). Ah, Tunico, você era de uma existência tão sarcástica e tão típica que seu sumiço não podia sumir com a sua figura! Como filmes que fazem sobre célebres mortos, resolvi escrever sobre Tunico Ribeiro, homem que nunca mais surgirá igual, foi uma última gota de um esgoto a céu aberto canalizado! Tunico, você que nunca cumprimentei, exceto uma vez que me apontaste do outro lado da rua e eu te levantei meu chapéu, irritado, envergonhado; Tunico, você vai se tornar obra de arte, embora fosse muito mais enquanto cuspido e escarrado! Você sumiu e é preciso fazer essa denúncia, explanar essa tragédia, mostrar a todos o que aconteceu com você!

indo pra casa às 2 da tarde

Ah, medo eu tenho!
muito!
de que você me solte assim as mãos...
mas sou artista na vida!
rio lá dentro e te pergunto as horas
pra você pensar em me perder...
eu respondo suas horas com um cheiro no cangote
te deixo entender
que o tempo é curto
que eu não sei viver

fico com os olhos assim iguais aos seus
ora parados te fitando
ora tontos de um desesperado
inseguros!
apaixonados!
até que um beijo, um abraço,
um sexo e um sorriso, fortes
façam do nosso um bom dia

um insight, de tunico ribeiro

da timidez
ao descontrole
eufórico e hesitante
alguma paranóia há
de vir
sobre o ponto
do ponto do ponto
do ponto
que nos faz crer
que saberemos algo além
de que terra é terra
mar é mar
e céu é céu

poema secreto de tunico ribeiro

o silêncio oco dos sozinhos dita
são as cores daquela parede
da janela
e do chão

eu choro o sonho de quem acredita
negando a minha própria sede
perdendo um trem
pra amsterdam

Sair? eu tento...
mas é friiio
é que eu to tão sozinho
eu tô tãão sozinho... quietinho...