terça-feira, 31 de janeiro de 2017

esboço de solução da equação sócio-existencial

Todo sociólogo deve ter um pouco de historiador braudeliano e todo historiador deve ter um pouco de sociólogo. Afirmo isso do ponto de vista existencial, para que suas análises não pendam nem para a paixão nem para o distanciamento aristocrático. Qual é o sociólogo que pode querer abrir mão de sua razão presentificada por  uma visão do todo, inumana? Da mesma forma, seria insuportável para o historiador da longa duração se ele não reconhecesse na própria vida uma sociologia do que o oprime, em sua existência finita. Proponho, para o debate que aqui suscito, a criação de dois conceitos fundadores dessas ideias, ainda um esboço: são esses a sociologia do tempo mortal e a sociologia do tempo eterno. No domínio da sociologia do tempo mortal, as análises do poderio simbólico de uns sobre os outros se evidenciam mais do que os problemas estruturais-economicos. Já para a sociologia do tempo eterno, o importante é compreender aquilo de mais inconsciente do comportamento humano, as verdades estruturais sobre os movimentos da humanidade. Um militante marxista ou mesmo um fascista ou um nazista se atém à sociologia do tempo eterno. A transformação social completa é, normalmente, a preocupação principal desse sociólogo, por ser mais importante a resolução dos problemas sociais gerais; esse sociólogo observa a vida humana por viés analítico divino, total, exteriorizado, e é na sua aproximação com o positivismo e com o construtivismo social que pode assustar os sociólogos do tempo mortal. Já esses últimos, os do tempo mortal, que podem ser orientados politicamente para o anarquismo ou para o liberalismo, observam atos que exigem que se aproprie das vidas individuais - e, portanto, da sua própria - como condenatórios, como elementos de dominação. É por isso que se diz que uma militância política por ideal de uma ciência social do tempo eterno pode resultar num sentimento de dominação presentificado, uma vez que os indivíduos preferirão a realização dos seus impulsos vitais e dos seus desejos à canalização dos seus esforços para um bem que não identifiquem o retorno em vida. A realização das utopias sociais, para a sociologia do tempo mortal, é um esforço hercúleo, e a adesão total aos postulados políticos das sociologias do tempo eterno só poderiam se tornar desejáveis com a promessa da imortalidade pelos projetos macrossociais que propõem -- pois tudo se acerta no longo prazo, se não estivermos mortos. A sociologia do tempo eterno, por outro lado, é a verdade superior, e os analistas mortais são obrigados a reconhecê-la, embora se esforcem para atentar para os problemas que a negligência da realidade dos atores como desejosos de suas vidas gera ao justo existencial. (talvez aqui esteja esboçado também o fundamento da separação entre udenistas e socialistas brasileiros).