sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Manifesto Bosta Nova (em construçao)

Pra mim, admitir isto que vou admitir aqui, é critico. Mas, ah, eu prefiro deixar a culpa nos meus desejos, nas superestruturas e infraestruturas - prefiro naturalizar logo os meus atos pra nao me culpar depois por qualquer coisa e ficar com aquela agoniazinha de ter que, pelo menos, rezar o ultimo pai nosso no meu derradeiro momento de moribundice. Tenho medo de acabar com uma esperancinha boba e iludida e profetizar o mal, a decadencia e a podridao que o nosso paisinho espera.

Eu estou dizendo, gente, que temos uma geraçao Bossa Nova de novo, totalmente vazia. Diria que, talvez, nao tao vazia - tem o Los Hermanos cantando suas barbudices num Circo Voador reinventado na Lapa. Ah, a Lapa - ela tem seus encantos, sim, mas eu sinceramente acho mais gostoso saber que ainda assaltam por la e que nao esta tudo tao reinventado como o Circo e a bossa-novice barbuda, caqui e chata do Los Hermanos.

Acho que é essa historia de desenvolvimentismo que encheu a nossa cabeça, desde que deixamos de ser nada pra ser alguma coisa que disseram que nos éramos. Acho que todos os simbolos que foram criados aqui, foram pra exportaçao; pra sustentar um fetiche dos outros, la de outra ilha, que nao tem coco. Ai, agora, temos esse impulso economico infraestrutural que faz a gente crer que indio é gente, que Bossa Nova é verdade, que barba e Nova Lapa sao 'cults' - "o Brasil cresceu", dizem. Ai, que medo de reformarem aquele cais do porto, de tirarem de vez todas as favelas de perto de nos, de apagarem qualquer vestigio de primitivismo, nosso primitivismo, Brasil, pra gente poder cantar Noel Rosa e Pixinguinha, Bezerra da Silva, sem ter que recorrer aos nossos pais, a um imaginario coletivo distaaaante: nossa idade média, nossa formaçao, nossas injustiças! Pra gente poder escutar Funk mesmo, podreira, sem ser na Barô, como se fossemos Nova Iorquinos ouvindo Tom Jobim.

Nova Iorquinos ouvindo Tom Jobim.

O problema, é que talvez essas mudanças, progressos, finalmente, progresso pra esse povo finalmente ordenado! Mudanças e progressos que parecem ser inevitaveis! O mundo inteiro, mesmo, ve o Brasil e a India e a China surgirem ali no horizonte, como macacos inferiores que agora se equiparam. Eh muito dificil encontrar um Francês por aqui que realmente ache que no Brasil as pessoas trabalham e que existem mulheres que nao sao putas. Nao que ser puta ou nao trabalhar sejam menos dignos, nao estou entrando em discussao de valores. Mas acho que agora, esse nosso desenvolvimento, permite que a gente esteja tete a tete com eles, todos somos a mesma coisa, humanos, mortais, consumidores.

Eh, meu povo brasileiro, acho que de tanto vendermos Brasil de sol e praia, depois que Caetano e Gil foram celebrados internacionalmente com sua sertanejice tropical, talvez tao raivosa quanto essa minha indignaçao do desenvolvimento cego, depois que ja se lançou o que é Brasil em filmes e musicas e livros, acho que agora nao precisa mais. Acho que agora temos um ultimo passo, o passo que nos decretara, finalmente, desenvolvidos: a gente precisa reconhecer que a merda que nos somos é a mesma, mesmissima merda que todos esses paises centrais dizem ser. Sempre fomos a mesma merda, mas economicamente ainda estavamos tao abaixo, moralmente estavamos tao submetidos que realmente acreditavamos que eramos um indio, ou um sertanejo triste, ou um bon vivant bossa-novez que nao trabalha e so bebe whisky.

Ah, Brasil, parece que, desde sempre, você so seria você se fosse um você grande, bonito e forte. O Guarani rapidamente foi desbancado pelos realistas, pelo Triste Fim de Policarpo Quaresma e pelos modernistas. Que simpatia eu tenho por esse tom ironico deles! Porque é necessario mais uma vez dar gas a um movimento que a antropofagia desenhou. Essa espécie de sentimento amargo, de ruptura com a ilusao - eles cuspiram na cara de quem matou Policarpo Quaresma. Mas apontaram pra frente pra outro lado. Somos filhos disso: de outro caminho pra frente, da morte de Policarpo, do sarcasmo realista do Machado, do impulso iveterado de Oswald, da brincadeira triste e ironica da Poesia de Mario de Andrade.

Nao, por uma questao de posiçao estilistica e politica e poetica, prefiro nao me aproximar do Drummond. Nem do Vinicius. As auras que perpassam esses nomes, suas linhas, ah, falta nelas essa minha inquietude, essa minha dificuldade, essa minha agonia de quem desvenda e nao sabe parar. O que aqui se pretende é justamente um edipianismo insaciavel, nao vou seguir os conselhos de quem quer que seja, porque a peste esta aih, eu ouço os clamores. A peste é o desenvolvimento!

Me perguntaram outro dia o que que eu achava da policia ter acabado com o trafico em Copa e do Brasil agora ser uma futura sede das olimpiadas. Foi num debate num curso de Francês e civilizaçao francesa. Eu respondi suave, como quem ja sabia o que dizer pra um inglês ver. A menina que me perguntou era uma alema: "ah, é bom, né, mas existem varias questoes por tras." Por aquele momento, ou passei de pseudo-guevarista ou de um total imbecil, porque eu juro, juro, que nenhum europeu me parece realmente querer entender o Brasil para além dos perigos para o seu turismo. Europeu adora ir pra onde ele nao mora, mas ele preza por segurança, e isso é tudo.

Segurança! Nao foi esse o emblema desde sempre? O que foi a Reforma Sanitaria, se nao era pra assegurar que nao haveria doença? O comunismo e a segurança nacional, do brasil esfacelado de Getulio e Prestes ao Brasil esquentado pela Guerra-fria - como eram lindos os japoneses e os chineses! Nao queremos estar seguros de que somos brasileiros, de um pais grande, estavel, seguro? As empresas nao avaliam aquela merda de risco-pais? (Que porra é essa de risco-pais????) A gente nao é brasileiro MESMO porque se sente mais seguro na rua do que um gringo? Ah, mas como é bem mais legal ser gringo e poder estar seguro que nem eles nao importa aonde, nao importa o que. Tenho medo de brasileiro que atora o perigon do Bope.

Mas acho que foi mesmo as custas disso, dessa loucura de desenvolvimento, segurança, Brasil pra frente, do futuro, que chegamos aqui. Tudo bem que a gente pode ficar pensando que as criticas marxistas e primitivistas e libertarias da antropofagia e da tropicalia eram incisivas ao imaginario romantico e desenvolvimentista do Brasil. Sim elas, tinham uma angustia, uma nostalgia, uma melancolia, exponenciada depois por Cora Coralina, que gostava de olhar pro abacateiro, que tossia de ver tanta fumaça em Sao Paulo. Mas a cora perdeu o embalo, corrupta, engolida pela poética padrinha de Drummond e ficou lá em Goiás, num aquário, como a vovó árvore da Pocahontas, que se reservava a dar conselhos num espectro entristecido e bucólico.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

noinha

a cada passo que dava
eu tinha quase certeza que via
e jurava que ouvia
o seu cochicho
eu andava mais rapido para poder escutar o certo


o que realmente você dizia?


mas eu chegava e você poderia se calar
mudar de assunto
e eu via alguma mentira em seus olhos...


ah!, mas que certeza eu tinha?


você lançava seus cabelos na frente do rosto
nao sei - nunca saberei! - se propositalmente...
e ia na frente...


ah, por favor, me conta o que é que você tem pra esconder!


debaixo da sua retina ambigua,
por tras das suas caras de meiossorrisos


eu tomava distancia
porque podia ser coisa minha
ou por minha causa
acendia um cigarro vendo você andar pela frente,
apressada por nao sei o que...
eu me via atras de você


completamente sozinho...


as pessoas cruzavam minha frente pela rua
eu tentava olhar pros lados, pras vitrines
mas eu olhava sempre pra frente
tentando te procurar - pra onde ir?


eu te seguia
eu te seguia...


por que você às vezes me da essa impressao
de que ha algo de errado
e por outras você me passa tudo ao contrario?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Eu nao caibo mais...

Hoje vi minha priminha Tayna no colo da mãe, minha também prima Joana. 5 meses! Um pacotinho, por causa do frio, enrolado e encaixadinho no colo da mãe. Ai que delicia ver aquilo e que melancolia-que-é-nostalgia!

Fiquei com saudades tão sinceras da minha mãe... Uma falta de calorzinho no peito, uma frustrante sensação de constatar que ela não pode me abraçar mais todo... Que sincero é o amor de mãe! Seu filhote pequeno, em seu colo... E ai que delicia ser assim um filho! Um amor certo e completo, um desejo unico de ser abraçado inteiro realizado - e realizavel! - de uma vez so, quase um voltar pro utero so de olhar pra cima e ver o rosto enorme da mae ali, confirmando o colo.

Ah, mãe, como você me lembra uma calma gostosa, uma alegria nossa, repleta, imovel, perfeita, estatica, estética! Como se a vida não fosse mesmo a vida, tão perigosa! Como se não houvesse crescimento, movimento, o fim e o meio injustos desse nosso começo placido!

Ah, mãe, toda essa nossa mentirinha lactea, tacita, nossa paixão, sorrisos; eu ainda procuro isso em você, no mundo, mas eu não caibo mais nem no seu colo nem em nada! Meu corpo não é mais so o seu braço, meu amor infinito nao tem mais espaço, eu sofro, mãe, de verdade, mas não se preocupe, não é nada, é so um desabafo! De saudade intensa e de desilusão!

Porque, mãe, ah, mãe, o que eu queria mesmo era caber todo ai, sem saber nem ver, nem ouvir, nem falar. Enrolar seus cabelos com a mão, no teu colo, com dedinhos tão pequenos de unhas tão finas de rosto tão fofo de tão desprotegido que sou sem poder ficar.

Ah, mãe, que saudadezona de você e do unico e verdadeiro gesto de amor: o de mãe. Quero, mesmo que ainda me sobre muito amor pra dar e me falte muito amor pra receber, tentar de abraçar e beijar por um tempão, até cansar e perceber que não da, nem que seja, mãe, nem que seja! Ah, mas como eu quero, mãe, fingir estar no seu colo, dar logo esse grande abraço, subir escalando a sua cama e repousar na sua barriga, sem peso! Deixa, mãe, deixa eu me iludir de ter aquela certeza de que com você vai ficar pra sempre tudo bem.

tocado por lirismo

um vazio tremendo
ah!
que oco
sinto os tons das musicas
as vozes das letras
as imagens de um filme
todos os sentidos de fora
me preenchem
e eu transbordo tao ridiculamente
minhas lagrimas vem sem criticas
derrubei os muros
das minhas molduras douradas
ou asceticas lisas modernas
sou tao so eu e mundo
vazio
sozinho
que eu sinto tão tão facil
me emociono e choro mesmo
sentado, isolado
e o mundo inteiro tão grande
e minha vida nada, eu aqui parado
falem, cantem, façam mais enredos
que eu sinto
vai, faz, que eu choro, rio, grito, agonizo, saio
despido, totalmente a esmo

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

fronteira

tudo o que eu te queria
não tive
quando devia ter pedido
falado
nem me cocei
balbuciei qualquer coisa
naquele turbilhao

esse meu silêncio...

sucumbi à duvida
que suas olhadas maldosas
geravam em mim...
Enxerguei nelas
um medo
as grades
que me separavam de você

você, que eu queria tanto
e nao tive
você que nao estava longe
eu, que fiquei triste

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Fogo em Aquarius

Garanto que todos nos, mortais, humanos e brasileiros, ja chegamos a pensar "poxa, minha vida nao é tao boa como a daqueles caras ali, mais bonitos, mais felizes, mais bem vestidos, sei la, eles simplesmente tem cara de se divertirem mais." Ainda mais agora, com essa coisa de orkut, facebook e tal, que todo mundo esta sempre ali, com um perfil - as pessoas dificilmente somem das vidas umas das outras e se pavoneiam como querem para a eternidade e para cada nova fase da vida. Mas ai me esforço pra pensar um pouco mais sobre isso, e nao ficar na simples tristeza parada, recalcada, esperando um milagre ou um suicidio, e tento ver o que que pode haver de especial no tom daquelas fotos novas que eles postam, daquelas roupas, daquelas coisas, que nao ha em mim, nos meus amigos. Acho que o que falta é declarar todo o amor que jaz latente entre nos, amigos. Porque, ora, acredito que haja pessoas que olhem minhas fotos, minha vida, meus amigos e que invejem minha felicidade, minha descoladisse, enfim, qualquer sinal de superioridade, de nobreza que possa pulsar das minhas imagens - e não vejo motivos pra nao acreditar nisso, porque tudo é tudo e nada é nada, liberdade e igualdade oficializadas ja mataram deus! Tudo se torna tão igual, tão livre e tão relativo... Assim como eu posso ridicularizar qualquer perfil de qualquer um, qualquer gosto, também podem faze-lo comigo. Deus esta morto, eu repito, e quem tem o direito de definir o que é maneiro? O que faltaria entao para que conseguissemos superar essa mediocre submissao às aparências orkutianas, facebookianas, sussudianas? Porque, se sao somente aparencias, e todas as mazelas do ser humano, a inveja, a cobiça, tudo isso do ruim e do pior estao ali, mesmo que escondidinhas atras dos computadores, em todos os seres humanos; qual seria entao o motivo pelo qual aceitariamos essa ditadura da aparencia e nos direcionariamos para o terraço pra nos tacarmos, ou pelo qual ficariamos, cristãmente, passivos, inuteis, a espera de um milagre? - invejando, sorrindo com cara de cu, remoendo em nos tudo o que nao somos. O motivo, acho que os nossos poetas brasileirissimos ja cansaram de elogiar: o motivo é a falta de amor declarado, falta de impulso jorrado, falta de fogo nas palavras sinceras quando trocamos qualquer ideia com nossos amigos. Ah, sim, declaremos amor aos nossos proximos, massageemos os egos, eu o seu, voce o meu, meu amigo, meu namorado, meu proximo; gritemos nossas vontades de rir, de chorar, pra que nao fique aquela inveja sonsa do olhar de lado e do falar nos ouvidos! Nossa! Como falta auto-estima a nossos provincianos brasileiros! Liberem seus amores, façam valer suas vidas, seus momentos, suas paixoes, suas amizades! Nao estou aqui dizendo pra amar incodicionalmente, eternamente, babacamente qualquer pessoa a sua volta, o que seria o mesmo que nao ter coragem de expressar suas paixões, talvez a mesma coisa que continuar oacato da mesma foram; mas estou aconselhando um abraço e um sorriso e um porre e um berro ao ver quem voce sente que ama! Uma animaçao, um gas que falta ao outro, a voce, mas que so se conquista se todos os que se amam o exercitarem, um com o outro - nao ha por que esperar por um milagre, nem o suicidio me parece ser o mais agradavel a se fazer na vida! Tente captar o melhor angulo da foto, que real ela sera, mas o autor, ah, como ele pode influenciar no foco, na intençao, na aparencia! Faça ela parecer o que você quer parecer!