sábado, 29 de novembro de 2008

como queijo suíço

é saber e saber
mesmo
e ponto
eu sei que nunca senti
não sei o que é calar o diálogo enlouquecedor da mente
eu não sei o que é amar alguém
e como sei o que é amor
porque é ele que espero
desde sempre
eu sei que todos os meus furos
de queijo suiço
são buracos rotulados
falta amor
e eu como esse queijo
ou seja, mim mesmo
gorduroso
amarelo
não faz bem
e não faz mesmo
porque eu como os vazios
eu corto os vazios
em fatias
e parte por parte
vou engulindo-os
engolindo a mim mesmo
me dando conta de que o amor não está lá
eu como a mim mesmo furado porque não tenho nada melhor pra fazer
aí, viver sem amor excita a fome
viver sem amor e se alimentar mal
viver sem amor é horrível

crise

me brota um medo.
a obra de arte e seu conceito.
e qual o conceito que se procura?
se procura o conceito da crítica
a crítica ao fazer crítica
a arte critica
e por meio dela é criticada
e essas críticas em críticas
e já se perdeu meio caminho andado
e talvez o fio da meada
fico imaginando um artista plástico em nova iorque
já com sua grana no bolso
todos dizendo pra ele que ele é um artista
reconhecimento de artista
mas o seu vazio, o seu sussudio
de não saber muito bem o que ele exprime
de não saber se sabem exatamente o que quer dizer
por ser tão profundo
por ser tão complexo
porque vivemos num mundo
aprofundado
complexificado
a saída pela tangente busca esquecer esse medo
medo de não fazer sentido
medo de não querer isso
(mas e todos e o pra-sempre?)
de não querer a maior liberdade que a civilização oferece
a arte
medo do produto que brota da liberdade
enclausurando-a naquela imagem
medo do produto que se torna um feito
e as críticas feitas a ele
para justificá-lo
para sair pela tangente
e esquecer que a gente é gente
e que o sofrimento inerente
se mente ou não mente
é crescente
aumenta conforme nascem os filhos e brotam problemas e mortes
sussudio é sussudio e enaltecê-lo ou tagarelá-lo não muda nada
é apenas um prazer sofrido
uma realização doída
é tudo o que se pode fazer na vida
pra quem quer ser poeta

péssimo ouvinte

é o momento em que tudo se resume às formas que têm
eu sou posto pra pensar
sou jogado, empurrado para o abismo por uma simples pergunta
não tão simples
cheia de não-me-toques, de introdução, enunciado
eufêmica pergunta
uma fronta a dar a resposta entalada
como um empurrão com um dedo
o último toquezinho que me faltava pra cair
e então todas as coisas parecem idéias simples
não consigo mais ver o tudo que elas abocanharam
e o vazio como uma ventania
reduz-me à amarga simplicidade de um ser-vivo na terra
um hominídio
primata
por causa de umas palavras que não fui amaciado pra ouvir,
eu saí da incandescência da complexidade da existência
em uma derrocada em direção à cansada materialidade
ao depressivo é só isso
mas que falta de tato a sua...

sábado, 22 de novembro de 2008

só fugir pra cá quando dá medo,
quando não tem mais jeito,
além de não resolver o problema,
produz incessantemente alguns sonhos estranhos
sonho que ando sozinho numa estrada sem fim,
dirijindo um carro
e a estrada, num deserto,
parece que se mistura com a paisagem
num tom azul meio lilás
sonho outra vez que, depois de andar nessa estrada
(é uma espécie de continuação do outro sonho),
eu paro num motel de beira de estrada do Novo México,
bem de filme americano,
abro a porta de um quarto
e aquilo é um apartamento,
meu,
sala, corredor, havia quartos com certeza,
aconchegante,
iluminado por algum abajur apenas
e a sensação indescritível é de que encontrei você,
que está no apartamento me esperando sublime,
com o sorriso que faltava em mim
emanando o calor de espírito que faltava pra digerir a minha náusea,
e o sonho simplesmente acorda
outras vezes, muitas, sonhei que caía
já sonhei que sentia o mesmo sussudio da vida
e acordava lembrando dele e ia pro banheiro, em seguida,
pensando muito,
e, quando começava a escovar os dentes,
me olhava no espelho
(me olhava no espelho!)
tudo agia afogado
eu continuo sentindo a estranheza ao abrir maçanetas,
adentrar e sair de locais,
dizer aquele tchau na hora que deve ser dito,
na hora do silêncio calado por conversas prolixas
aonde foi que eu encontrei tanta merda em mim?
daonde é que eu tirei que preciso de soluções intragáveis,
revelações nem um pouco anestésicas,
divagações inescrupulosas sobre elas?
esse vício sado-masoquista de vir pra cá
pra falar tanta coisa
desabafar, sabe, diria como a mocinha da novela depois de ter perdido sua fortuna, família, filha, amor da vida,
e no final de tudo concluir que eu venho pra cá
pra falar do que eu taquei em mim mesmo como se eu fosse um saco de lixo, grande, preto:
desenrola, abre, sacode e taca lá dentro
com uma pá de terra
a conscientização e o martírio...
a exposição é vibrar com ela
e é isso o que eu faço
do sonho acordado perdido calado mugido
sonho que eu repito
vida que eu repito
cuidado
poesia
vicia

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

a pressa compromete a arte
ou a arte compromete a pressa?
depende do ponto de vista...

o que é como se fosse lágrima

é como se fosse uma lágrima
que escorre sendo o final de tudo o que a gerou
é a lágrima, o quanto for de lágrima
e chega dela
é o fim de alguma coisa
a lágrima é o fim, que é choro
o fim das hipóteses
o fim das conseqüências
(será que ainda pensamos em conseqüências depois muita lágrimas debulhadas?)
é assim mesmo
o que é como se fosse a lágrima
não para de ser ele mesmo
ele é o que seus antecedentes o tornaram
ele é o ponto de onde não se pode passar
ninguém vai além das lágrimas
e quem escorre lágrima, pensa lágrima
eu estou onde se cansou de pensar o que é
e agora é o que é
e é nisso que penso.
nesse caminho,
é pra onde se iria de qualquer jeito
e depois disso
copinho d'água
cigarro
televisão
e o futuro é distante e é caro demais pra querer tê-lo

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

nauseabundo
me encontro tragado de fumaça

cof cof

latifundiário de terra improdutiva reclamando de sem-terras
eu sou um deputado da bancada ruralista
um espculador de terras do centro-oeste
interesses que sobreponho aos reais anseios do povo,
dos egos em mim
eu avanço com a fronteira agrícola
eu não messo mesmo os meus atos
comigo mesmo,
eu ignoro necessidades concensuais
eu brinco com leis mal escritas
eu converso comigo e me engano
me convenço, me condeno
e continuo nauseabundo
ironicamente nauseabundo
historicamente nauseabundo

cof cof

nauseabundo

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

secando o suor da sobrancelha e jogando-o fora com os dedos estalando

Eu sentia falta
da tranqüilidade
isso mesmo
da tranqüilidade
de viver
quantas horas no analista...
e foi de uma hora pra outra o estalo
passei a ficar tranqüilo
mesmo que nada vivido
mesmo que o plano falhado
mesmo que o mundo fudido
tranqüilidade
adeus pra náusea do Sartre

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Libertação. Essa palavra vai nos tirar da fossa em que o romantismo nos atirou. Enquanto os românticos, antagônicos ao arcadismo, concebiam a cidade como inevitável fim e viam no campo sua infância querida, a aurora de sua vida irresgatável, a humanidade, em virtude dessa mentalidade romântica, cavou sua prórpia fossa, vendo que a cidade era onde tudo iria terminar e que o campo não tinha mais volta. E a cidade romântica é byronista, é noite na taverna.
Os tempos mudara. E se mudaram, mas a mentalidade demora um pouco. O último suspiro árcade, o movimento hippie, entrou pelo cano. Quando o mundo não permite mais que se tenha uma terra no mato sem que se pague impostos, a idealização árcade se implode. A medida que o mundo extingue com a ruralidade e torna a vida urbana não mais como uma conseqüência de cercamentos de campos, ou seja, uma conseqüência que trouxe malefícios, uma conseqüência que rompe bruscamente com as raízes culturais das pessoas, a medida que a vida na urbana se torna a raíz cultural de todos, é o momento de dizer tchau de vez aos árcades e abandonar essa melancolia romântica chata. É tempo de libertação. Se o problema dos românticos era ter que viver nas cidades, enfrentar os problemas que não existiam no campo, resgatar a cultura feudal para identifica-se, nós, contemporâneos, já nascemos na cidade, nossas raízes são outras - ou quem sabe nenhuma. Nossa raíz é tudo o que a cidade oferece. Talvez estajamos numa época ufanista em relação à cidadde, visto que, segundo a ONU, mais da metade da população mundial já vive nas cidades, e por isso entendamos que a cidade oferece realmente o que há de melhor. Mudamos a concepção da vida na cidade - acho que o american way of life ajudou muito. O mundo busca a cidade, por mais que não seja uma vontade, mas as esperanças que o desenvolvimento traz para muitos países espelha uma libertação dos paradigmas rurais, tais como culturas conservadores e paternalismos, o que traz para a literatura a valorização do que o ubrano oferece: informação, liberdade e questionamento. Entquanto para os românticos a natureza era o que os determinava e, portanto, a fuga dela era melancólica, nós, contemporâneos e urbanóides, vemos na indigência da cidade o valor da dúvida, das estragações ébrias, da velocidade, da efemeridade, da efervescência. Por não conhecermos tudo a nossa volta nas grandes cidades - algo impossível numa cidade como o Rio - é que nos sentimos enraizados. O conhecer tudo, possível em um pequeno vilarejo no campo, é abominado pelos urbanóides, oq ue era valorizado pelos árcades e ainda pelos românticos. O que afligia aos românticos era a infinidade, e isso é o que nos deslumbra.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

desperta-dor

que sairei do banheiro com pendências
abstinências
isso todos sabem
não há o que negar
o barulho agudo me levanta
agudo
e eu me iludo
sonolento
sonhador
que eu não vou seguir firme e forte
porque firme e forte é para os fracos
eu acho que vou simplesmente
que tenho que ir simplesmente
porque se for pra ser tough
vai ser ruim
melhor ir assim
indo
na minha ilusão

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Fa fe fi fo fu
eu nao quero dizer o nome
só quero que todos vão tomar no cu
se todos vocês desconhecem o caminho
eu não digo de quem é que eu falo
eu os levo ao cu direitinho
pra ver se vocês vão tomar mesmo
tomem todos no cu e eu não vou dizer o por que
nem por quem

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Justify your love

Uma história que começa assim deve falar de amor. O amor entre todas as pessoas do mundo, todas as pessoas do mundo conseguem amar, por mais feias que as pessoas sejam. Incomodado desde que saíra de casa, fui caminhando pela rua e observei como todos nós nos dispomos a amar a qualquer custo. Uma mulher, gordinha, mal-vestida, meio paraíba, no telefone parecia estar falando com o amado no telefone e ele estava perto. Ela não sabia onde ele estava, mas estava por perto, e eles tentavam encontrar-se na rua. Até que se encontraram. Ela era feia e ele também. Ela sabia que era feia e ele também. Como sei que sabiam. Bom, ela tentava de todas as formas melhorar o que ela sabia que não melhorava. Cabelo pintado, bijuterias aos montes, calças de marcas bregas, com cortes feios, assim como as camisa, que também tinham estampas horríveis, mas tudo na intenção de melhora - tudo apertadinho, tudo tentando ressaltar nela alguma coisa que ela não tinha e queria ter. E ele, bom, ele sabia e parecia querer confirmar por suas vestes, sem a hipocrisia da amada, vestindo-se do mais normal possível, calça preta e camisa social branca, ele era branquelo, bigode preto, fora de forma, oleoso, estranho. Sabe, ele não era, nem ela, o tipo de gente que você olha e diz que atrai. O amor de pessoas feias não é amor, eu não consigo ver assim, é vontade de amar elevada à enésima potência, em que n é o número máximo que aquela pessoa consegue atingir sem entrar em desespero. Desesperou, amou gente feia. Estou com medo de estar sendo preconceituoso ou na verdade não esteja com essa preocupação - existe também a corrente que diz que isso não é preconceito, é só uma análise do que o sistema injusto nos impõe como verdade. O que importa é que gente feia que se ama não tem amor próprio. A falta extrema que sente em si os impede de querer procurar o amor de verdade, uma pessoa realmente escolhida dentro de todas as possibilidades, e não uma escolha dentro de um campo de possibilidades restrito. Mesmo desesperados, os desejosos de amar são preguiçosos e sem auto-confiança. Não aprimoram-se, não se amam, não buscam o melhor pra si, buscam o que cala, o que parece resolver agora. Gente feia namorando, além de feio, eu acho que não é verdadeiro, é uma forçação de barra forte a que muitos se submetem por praticarem a máxima que diz que é impossível ser feliz sozinho. Mas eu prefiro outra: antes só do que mal acompanhado.

pai e filho

Era mais um causo mal-resolvido, continuação de outros causos mal-resolvidos, que sempre terminavam por tentar se resolver numa conversa, numa exposição de pensamentos, de achismos. Nunca concordaram. O que ocorria era que cada um falava o que achava certo, os dois compreendiam e não concordavam um com o outro, mas achavam por bem fazer que sim com seus semblantes, com os movimentos verticais de cabeça, indo e voltando, tudo para não brigarem mais, para oficializarem um fim de mal-entendido, que se perpetuava. Era na cozinha, um em pé, outro sentado, expondo metáforas, pois o que se conversava era tão intimista que se falassem da verdade, ela pareceria tão pequena... Seria pequena e definitiva: o verdadeiro ponto da discussão era um tema divisor de águas na contemporaneidade. Para que não discordassem, deixavam a verdade, que era simples e pequena, intocada, metaforizada, e assim poderiam compreender e não poderiam discordar. Se dissessem o que era que acontecia realmente, se formariam os partidos, cada um iria para o que pensava e babal, cada um prum lado, cada vida na sua, cada tristeza enorme para cada lado e o pior, desvendariam o que os fazia conversar sobre outras coisas, por estar em suspenso as origens. O mal apercebido, o mal pros olhos abertos, não seria saudável, saberiam dele o tempo todo, palavras doem e marcam, magoam, nada seria como antes, nada poderia voltar a ser como antes, nada jamais poderia ser tentado esquecer novamente. Por isso que enquanto um falava, o outro olhava para o azulejo, cheio de ranhuras, anti-derrapante, geladeira brastemp, começava a desenhar num bloquinho de anotações pro telefone que ficava ali perto. E quando este se calava, o que continuava a falar prolongava-se mais, ia além nas suas metáforas, falava como se tivesse segurando um microfone de ouro, que amasse muito, e falaria tudo o que aquele campo semântico puxava em sua mente para não soltá-lo, coisas que provavelmente ao que ouvia em pé ofendia, mesmo que permanecesse calado. De repente irrompia-se de sei silêncio e esboçava falar algumas coisas, umas confirmações, ponderaçõeszinhas pequenas, que não interferiam no pensamento total de quem falava, porque interromper dava muito trabalho, ir contra, argumentar dava muito trabalho - argumentar poderia trazer a necessidade da verdade à tona, o que arruinaria tudo. O assunto pareceu acabado quando o que falava mais percebeu sua monologuisse. Entediar quando falava de intimismo não era o que se pretendia e, se acontecia, deveria parar, beber seu copo d’água pós-janta e seguir para a sala de TV, assistir à sua novela, clichê, como ele mesmo dizia, enquanto o que ouvia em pé permaneceu na cozinha, sentou numa cadeira lá e continuou um pouco, tomando fôlego para chegar-se junto, na sala de TV, aturar a novela, que falaria das universalidades da forma mais idiotizante do mundo; e iriam se reconhecer, os dois, em um daqueles papéis bobos, irritantes. O sono lhe tomou conta como pretexto inconsciente para levantar-se e rumar para o quarto. Dormir e amanhã era mais um mesmo dia.

Dormiu, acordou com o despertador que, em seu sonho, se confundia com um martelo de tribunal martelando a banca, pipipipipi. Era o despertador mesmo, que o fez levantar, reconhecer o mundo, censurar o sonho, mijar, escovar os dentes em frente ao espelho e sair. Girou a maçaneta enquanto acreditava que as coisas iriam sanar, que as oportunidades para ele não paravam de se abrir, que ele era, era... era o que mesmo? E desceu o elevador pelo qual esperava e não aguentava esperar.

sábado, 1 de novembro de 2008

dor-teimosia

Saber, saber, saber, saber, saber
saber o que foi aquilo que senti outro dia
que me fez bradar faíscas brutas,
esbravejar tolices, atos-falhos, falei o que não queria
as tais vontades escuras
desconhecidas amargurar
que saíram pelo ar que sai da boca
passando pela traquéia, que vibrarva forte
eu gritava.
Mas foi pedido.
O meu berro de socorro,
ao mesmo tempo em que espantava,
era o berro mascote
era ícone do que eu representava
era a imagem que se tinha de tudo esvaindo
mesmo longe de ser as verdadeiras causas
Então
náuseas
lancinantes olhares perturbadores
desconfortável lembrança sempre presente
meu nódulo
e eu não sei o que é
o que o trouxe para cá
por que fez isso comigo
Não é nada disso
é um erro qualquer na minha vida
no que fizeram com o meu dia-a-dia
se é que não era eu que fazia
Saber, saber, saber, saber, saber
maldita dor-teimosia