quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Você olhava para o antebraço dele e podia ter certeza de que aquela cara de tédio por causa da sua careca não era à toa. É que o sujeito envelhece mesmo e cria barriga e fica careca e vêm as rugas e nem sempre ele tem consigo o estofo necessário para compensar o acúmulo de idade. Voltando ao seu antebraço: via-se que ele tinha sido um sujeito jovem e minimamente forte, diferente de alguns jovens por aí com braço fraco, pança mole, sedentários - esses, quando envelhecerem, não terão muita dificuldade de lidar com a situação, porque, finalmente, suas reclamações do mundo farão sentido para todos e poderão dizer, finalmente, que estavam certos: serão senhores dos conselhos aos que se entediam só depois de velhos. Para os de antebraço forte será sempre mais doloroso envelhecer, principalmente se não se tiverem tornado ricos. Lembrarão sempre da sua pele jovem, do seu bronzeado e da sua barba por fazer, quando ela era sexy.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

porque ainda há medo de ficar sozinho e preguiça de se engrandecer

alguns esclarecimentos vêm com conquistas.

dois são os tipos que querem namorar:
1. aquele que não recebe muita admiração de todos, portanto qualquer feiura lhe apraz.
2. aquele que encontrou alguém bom para passar seu tempo e para lhe satisfazer sexualmente.

existem muitas características pessoais daqueles que querem namorar de acordo com o primeiro impulso: alguma insegurança com relação a si mesmos, falta de bom assunto, alguma languidez, alguma feiura.

já os que namoram movidos pelos segundos princípios, me parece que buscam de fato a felicidade e que pretendem realmente continuar sua vida seguindo seus verdadeiros desejos, me parecem os mais belos.

é preciso muito cuidado para não sucumbir à força que te estimula a se sentir um alguém das primeiras características, as fracas.
os resultados do trabalho de si mesmo, como bons assuntos, interesses compartilhados, ser belo e ter o belo, são o que nos diz: vale a pena melhorar.

é muito melhor poder ser alguém realmente feliz, mesmo que a conquista não venha tão cedo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

o que eu quero é mais

acordei só pra comer e ver
que tem só você aqui - e tem a tv!

só nós dois é bonzinho demais,

"era pra ser!
nem dá pra falar muito mais,
só você!"

ah! É esquisito demais de clichê!
amorzinho pra lá
amorzinho pra cá
sem falar, só de olhar,
PORQUE É PRA ESCONDER

Copacabana pra graça ser mesmo você! É clichê!
meu prêmio, meu orgulho?
meu pouco, meu "maispraquê"

é melhor então ninguém mais, além de nós dois, saber
de tão, tão fucking clichê!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

caras

Tunico Ribeiro

Gordinho pride. Ele é efusivo, cheio de opiniões contraditórias e está sempre mais oleoso do que o nomral. Muito inseguro, está sempre com algum amigo, em quem se fia para rir e tratar ironicamente as coisas que lhe angustiam. Gosta de falar das pessoas ao redor com algum amigo que irá concordar - faz isso porque não consegue parar de olhar para os outros. Ele é gay e ainda não consegue muita coisa, porque sempre tem que emagrecer. Adora reclamar das estruturas e ter opiniões de tom rodrigueano - parece que seu hobbie expor os tabus subliminares nas conversas e ver o cheiro de peido que isso evoca. Chega em casa, fuma um baseado, come e dorme, bêbado, até acordar lá pras 4 da tarde.


Salamandra Depressiva

É como se fosse o espelho de Tunico Ribeiro. É argentina, e talvez por isso seja crítica demais com a cultura brasileira. Veio para o Brasil para fazer seus estudos, bancada por seus pais argentinos. Fuma cigarros, usa jaqueta de couro curtinha e calça jeans skinny, acompanhados de um chapéu de mafioso. Sua visão pessimista sobre tudo a impede de ingressar o mundo das redes do sucesso, que somente observa crescer - torcendo contra! - nos bares de jazz em Botafogo, bairro onde mora. Não costuma gostar do que escreve, mas sente-se impelida a fazê-lo toda vez que chega em casa ressentida de uma noite de jazz em que não era a estrela e nem tinha amigos para beber. Costuma ir aos shows de jazz e ficar sozinha, enconstada na parede, fazendo pouca atenção à música e muita atenção aos fenômenos sociais de interação na noite alternativa carioca.


Sanduíche de Macarrão

Esse já está morto - se matou muito jovem, diante de uma crise de jovem, pois não sabia se deveria ir para o Rio fazer faculdade de ciências sociais na FGV depois de ter ganho uma bolsa, ou se deveria continuar em Minas, com seu sonho bucólico, infantil - queria ter uma banda de sucesso com seus amigos drogaditos do interior. Matou-se depois de tomar um ácido no alto do Pico do Papagaio, em Aiuruoca, cidadezinha onde nasceu e cresceu.


Doutor Antônio Pinto

Doutor em Ciência Política pela USP, foi eleito deputado federal pelo PSDB paulista dois mandatos consecutivos. Dá pitacos na Folha eventualmente, quando não está compondo algum quadro do governo do estado de São Paulo ou da prefeitura paulistana. Com algum asco em relação ao pós-estruturalismo de botequim, acaba preferindo uma moral liberal, por viver em São Paulo e acreditar no indivíduo racional. Suas idéias são permeadas por um sarcasmo pseudo-refinado, quando, na verdade, está sendo ou reaça ou ridículamente wannabe pontual e sensato.


Antonino dos Anjos

Ele é um cara bom. Não consegue ser exatamente dandy, porque não admite, mas gosta de ler poesia, filosofia, sociologia: o suficiente para tentar justificar um estilo de vida podes-crer contemporâneo. Inspira-se muito no Profeta Gentileza, curte Raul e prefere ausentar-se a discussões políticas com pessoas que beiram o fascismo. Um burguês moderado e bem compreensivo em relação à culpabilidade - seu pai é um juiz completamente alinhado às mais modernas teorias do direito. Sua mãe é psicanalista. Antonino tem 28 anos e ainda vive com os pais num apartamento de quatro quartos, daqueles espaçosos de prédios antigos de Copacabana.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

sobre a desnaturalização do trabalho como um direito

Há, no meu ponto de vista, um perigo moral muito grande em sistemas de governo que aplicam o velho trabalhismo, legando a organizações trabalhistas o poder nas câmaras legislativas. Digo isso, talvez, por ser um cara que não gosta muito do trabalho... O perigo que aponto aqui é justamente para a eternização da ideia de glorificar o trabalho. Sei que posso estar sendo um tanto utópico ao querer suprimir o trabalho... Mas não é disso apenas que se trata minha crítica: a moral do trabalho não pode ser investida de mais benefícios do que aqueles que já lhe são naturalizados pelo sistema de barganha de mão-de-obra. Avento aqui para o mesmo tipo de comportamento fascistóide da população que xinga vagabundos - e, de lá, o Estado Novo manda lembranças. Aumentar a representação de setores trabalhistas é o mesmo que reduzir a importância de pessoas que não trabalham, ainda que essas pessoas façam parte de uma classe que precise financeiramente trabalhar para viver - portanto, aqui, não trato de burgueses dandys, trato de pessoas que buscam uma forma de sobrevivência que não esteja diretamente relacionada a uma necessidade capitalista de criação da moral do trabalho, para que se supram as suas demandas por mão-de-obra. Se o desemprego é o exército de mão-de-obra, ora, basta existirem outras formas de sobrevivência social - sejam elas o que for, se ainda operamos no monetarismo, pra se conseguir dinheiro - que reduzimos o poder que os empregadores teriam sobre as nossas vidas. Diminuir culturalmente a oferta de mão-de-obra, eu vislumbro, pode ser uma forma de valorização material dos trabalhadores - a escassez aumenta o valor da mercadoria -, ou o colapso de um modo de produção que é palco do conflito capital-trabalho, em última instância.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Os Verdadeiros Filhos da Puta

agora imagina
se 200 anos depois de você morrer
cientistas
descobrem como fazer pra evitar a morte
pra sempre
só pra galera daquela geração

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

quanto falta de ridículo para inviabilizar minha poesia e quanto falta de design para que eu queira assiná-la?

vergonha e medo

a idéia de chorar em um ombro amado me emudece
tudo o que eu deveria partilhar me torna frígido
temo que o meu tipo de amor seja muito
tenho vergonha de não poder oferecer

começo a tentar explicar
me dou conta, quieto
não sei se há alguém que queira sentir tanto
porque tenho medo também, como podem ter!

uma troca de fluidos de amor pode mesmo mudar tudo o que eu penso da vida
me fazer sair de casa
para ser um amante?

retiraria meu coração de dentro do peito, é o que penso,
e segurá-lo-ia ao alto, como quem segura uma tocha importante
desfilaria com ele assim vulnerável
de nariz tapado
eu, pronto para contar as coisas
e me deixar cortar sem pai nem mãe

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ainda por novas forças, ou o esboço de um verdadeiro nascimento

dar o bote é qualidade daquele que está assentado
e reina.
Depois do banquete cru e voraz,
senta
e fuma
e bebe

fazer pouco é privilégio dos que tiveram sorte de nascer certo.


semear é o primeiro passo de quem vem vindo por fora
ver florescer é a vitória!
o trabalho,
o cuidado,
o amor,
o afresco -
não a espera à toa! -
estão ali no meio

desfrute

a risada maior é dos últimos!
é que caçar é a força é dos... filhos da puta!

domingo, 24 de outubro de 2010

vem tam bém

eu vou, eu vou
num novo, novíssimo
humanismo
eu vou, eu vou
atravesso outro istmo
salto de outro abismo
eu vou, eu vou
olhando o meu caminho
andando mesmo
eu voo passarinho
eu vou, eu vou
detalhe por detalhe na mudança
novos meios, novos fins,
nova balança
eu vou, eu vou
sem escapismo
olhando à minha volta
deixo as estrelas-do-nunca-ver às traças
eu vou, eu vou
cantando o que pra mim dá forças
pra viver mais uma vez tudo
pra viver mais uma vez bem
vem!
vem comigo também!

de subestimar

É preciso tomar muito cuidado para não subestimar justamente o que achamos ser subestimável. O que pensamos de prima raramente é o importante.

Drops de Razão do Doutor Antônio Pinto

Existe uma idade ótima na vida, que chamamos de juventude, algo que vai dos 18 aos 30 e poucos. Existe um certo tipo de gente ótimo na vida, que chamaríamos nobres, algo que vai do corpo no shape, a uma conta bancária estável.

Esses dois pontos ótimos combinados são o maior desejo de todos.
Sacrifícios são feitos, abrimos mão de coisas de valor em si insignificantes, mas que para nós, por mais que digamos "não é nada", é um absurdo ter que ceder; sacrifícios para chegar lá.

Existe também aquele comportamento ótimo de saúde psíquica para quem não é ótimo. Uma espera plácida pela morte e uma subestimação do sofrimento. Uma superestimação do ponto ótimo da vida. "Não é para mim!"
Um cala a boca na sensibilidade de si.

Há uma guerra acontecendo, e o prêmio da vitória nos beneficia sobremaneira. É preciso muita estreiteza para tornar-se ótimo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sintomas da idiotice

Para parecerem melhores, algumas pessoas podem se esforçar muito tentando apagar da memória fatos e eliminar da consciência tabus: fingem que não conhecem pessoas, não tocam em determinados assuntos que consideram delicados ou inapropriados, e acabam se congelando em uma casca que, conforme se iludem, estaria vazia, a espera do melhor tipo de recheio: aquele que ainda não veio, aquele mais belo, aquele mais. Entre desencontros forçados de olhares e um medo de falar, desvendam, para quem é capaz de discernir, o caráter egoísta mais profundo de si mesmos. O seu desespero por felicidade ideal expõe toda a sua capacidade de ser injusto com a memória, com o passado, com a verdade - e com os outros! Ignorar - e todo sentimento que há daquilo que você faz questão de fingir que não viu? Toda a verdade que você partilhou com outras pessoas e tudo vira pó, porque você cruzou um olhar no supermercado. Na esperança de se lançarem (pra onde...), passam longe do que lhes garante identidade, tranquilidade, aquele conforto animal espontâneo, sem lucro. Se arriscam em perigos que lhes angustiam tanto, porque lhes falta certeza; a memória é subestimada, e a consciência da realidade de si mesmos é quase nula: projetam-na, em maior parte - sem nenhuma acuidade. Esses coitados... talvez não tenham percebido ainda que a angústia e a ansiedade são os piores dos males de espírito e, não encontrando a raiz do problema, começam a tentar se curar cada vez mais longe do ponto de onde deveriam começar, indo além e além na sua busca ignorante - eles têm preguiça de si mesmos e gula, muita gula com a vida.

domingo, 10 de outubro de 2010

O maior absurdo que poderíamos ouvir hoje em dia seria alguém dizer: "Mas que droga! Por que é que eu tenho que ter uma merda de uma vontade?!" É possível que quase todos respondam algo mais ou menos assim: "Ainda bem, né? Imagina se você não pudesse, tivesse que fazer as coisas por ser obrigado? Ainda bem, ainda bem que fazemos o que queremos!" Eu gostaria muito que vocês lessem-ouvindo essa resposta como eu a imagino: saindo da boca de uma tia velha! Porque a vontade, para nós, é a priori: o que fazer com seu dinheiro, com a sua vida, no seu tempo de lazer? Com quem se casar, como se vestir, o que escolher? Que pessoa eu quero ser? Passando pelo existencialismo Sartriano, a sua vontade - e a sua escolha reificadora dela - mostra quem você é. Nós nascemos livres - para decidir o que queremos! Mas não escolhemos nascer!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Talvez uma das maiores injustiças do mundo seja a cobrança de um professor com seu aluno. Compreender está muito, muitíssimo além da boa leitura - ora bolas, tem algo a ver com aquilo que é esperado. A nota baixa é o cúmulo, é taxar o aluno de culpado por aquilo que não pôde saber.

domingo, 26 de setembro de 2010

porque ainda há inconsciência: o esquecimento

Existe, ainda, aquela ideia de que podemos controlar nossas atitudes e que, por meio de tal tábula rasa, que médicos e técnicos nos receitam, conseguiremos, lindos, chegar lá: ficarmos magros, não quebrarmos o aparelho novo que compramos, evitarmos acidentes - se seguirmos tudo direitinho. Mas, ah, muitas vezes nos esquecemos de que temos um prazer imenso em agir no automático - como se gostássemos inconscientemente de que o acaso pudesse se infiltrar pelas ranhuras das certezas, porque já não ligamos mais tanto para evitar o erro. Cansa. Nós achamos mesmo que já aprendemos o suficiente, todos nos vemos adestrados, cheios de bom-senso - ora, o que quer dizer o risco, então? E as companhias de seguro, pra que serviriam?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Do Ciclo Moral

Uma determinada atitude moral de uma sociedade pode vir a ter sucessos tão imprevisivelmente grandes, que pode ser que se comece a perceber algumas de suas injustiças, das mais intrínsecas às suas práticas morais. Pode-se começar a achar injusto que determinada prática seja feita e, devido à abundância, à riqueza, ela pode ser sumariamente ultrapassada, como se tivesse havido uma ruptura, uma grande revolução que teria extinguido com aquele hábito indevido, inapropriado, mau. E então nós vemos: opa! mais um hábito escroto, e mais um e mais um e o espírito revolucionário parece nunca cessar nessa sociedade. À medida que essas concessões são legitimadas, vai se alastrando um inchaço pressionando as estruturas que sustentam a vida dessas pessoas em torno daqueles valores morais, em torno daquelas atitudes, das formas de andar, de pedir, de fazer, de cantar. É nesse período fértil dessas sociedades, justamente nesse cume, por mais contraditório que seja, que os homens descobrem-se pessimistas - MADEEEEEIIIRA!!! Ora, é nesse momento que eles percebem as injustiças, é nesse momento que eles podem percebê-las - e a conjuntura os permite tentar extingui-las - é nesse momento que elas parecem mais injustificáveis. A expansão da cidadania em Atenas se deu na medida de sua expansão colonial, de sua riqueza de comércio: no galope ao seu apogeu! E lá também estava a tragédia. Ah, o pessimismo metafísico de que tanto Nietzsche trata no prefácio do Nascimento da Tragédia, esse modo específico de imaginar injustiças, de inventar pra onde expandir! E o pessimismo moderno, em relação à morte de deus, à descrença no em-si, como consequências revolucionárias do desgaste da atitude moral cristã, que nos permitiu todo o nosso aparato moderno, nossas grandes cidades! - como ele é essa repercussão de uma atitude moral que chega à beira de sua decadência! Ah, Nietzsche e sua consequência pós-estruturalista, que nos desacredita em éticas universais e nos impele ao constante revolucionar, ao constante identificar de determinadas injustiças do conhecimento! Vivemos a decadência, sim, vivemos a decadência! Ou pelo menos a Europa vive essa decadência! Está para vir um helenismo, ou, se quisermos ver sinais proféticos, a globalização! Nietzsche desbravou a fronteira, ele é o Socratismo às avessas que a decadência da moral escrava necessitava! Esse é o sentido do pessimismo e o sentido da esperança em uma nova moral - aquela que ressucita a mais antiga de todas, a moral dos primeiros e mais belos homens: os homéricos! Ainda há muito, muito a construir até a próxima decadência! Sem rancores, por favor! "Interessem-se" - Nietzsche diria!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

a sexta-feira é a liberdade
toda sexta: revolução
nos damos o direito
nós temos o direito!
porque eu queria era ser nobre
e vou à festa e uso roupa boa
e a segunda-feira me perdoa
me perdoa
eu finjo a ser boa pessoa
de boa
com trabalho, com escravidão

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Do livre-arbítrio como a expressão máxima da ingenuidade.
(daqui ainda sai um texto)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

correr porque correr

Quando nos apercebemos de que o mundo, mesmo que ande muuuito devagarzinho, já anda assim há muito mais tempo do que pensávamos e que, portanto, todo o nosso esforço pungente, seja tecnológico, seja racional, seja conceitual de chegarmos junto e finalmente andarmos, calmos, a seu passo de tartaruga, é apenas uma atitude que nos gera alguma alegria por essas grandes conquistas (a nossos pequeninos e formigatômicos olhos) - ah! esse é o momento em que vivemos mais do que nunca o beirar - e exultamo-nos de não cair! Porque as etapas que concluímos em direção ao ideal sossego nos felicitam tanto, mesmo que nos percebamos tão possivelmente presos, iludidos por nosso tempo-espaço-pessoa determinado, que nos contentamos em dizer que, se não estamos lá ainda, esse foi o mais quase-lá que conseguimos chegar. Beiramos, assim, a certeza do caminho certo à calmaria que brilha em espasmos de luz em algum lugar ao longe; beiramos, assim, toda a incerteza que poderia nos levar à loucura (ou à barbárie); beiramos, assim, toda a incoerência e também toda a coerência; beiramos: equilibristas do meio termo, heróis de respirar fundo e soltar, budas da sabedoria nublada. Nos demos o direito de saber o que falar - falar pouco! - e, sem outra perspectiva por enquanto, de reconhecermos em nós mesmos essa nossa capacidade indescritível, incomunicável de sentir, pelo menos, o tudo que o tudo é - ou o nada. E continuamos por continuar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

três vivas à metáfora histórica
três vivas ao mundo moderno
três vivas à insatisfatória gramática latina
três vivas ao holismo lapidado

domingo, 15 de agosto de 2010

ribeirisses

Eu tenho uma confissao tragicomica a fazer. Eu sempre tento dar um tom de ironia aos meus textos quando eu os releio, eh quase como se eu fosse tomado por uma inspiracao poetica primaria quando eu escrevo o que eu escrevo, e depois eu acho aquela coisa tao cheia de inetncao que me da vontade de zuar. Mas eh meu! Eu que fiz! Fico enclausurado naquela dicotomia sou legal/sou um merda, quase que ofendido de querer apagar ou mudar significativamente o conteudo do texto que estagno.

Eh entao que recorro aos titulos. Nao sei por que, mas eu me vejo acreditando que um titulo descolado possa me garantir um tom ironico pos-ironico (to com essa expressao na cabeca ha alguns dias desde que eu li uns dos and donts na vice magazine), mas um tom ironico pos-ironico somente pra quem sacasse o titulo. So pra quem valoriza! Acaba que eu me dou muito credito, e quando me vejo estou escrachando o meu proprio poema (isso eh mais recorrente com eles, que tendem a ser mais usts) com um titulozinho chulo de um autor que quase cagou em cima do que fez, do que ele "foi". Uma ansiedade por novidade que nao tem bom senso.

Este eh o Tunico Ribeiro. Ele fuca atras de tudo pra poder rir ate o ultimo pilar ruir. mwhahahaha

beirando pelas beiradas do campo

Sob um determinado tipo de olhar, ele ativou suas defesas, sutilmente, como se faz. A acao que executava antes desse olhar era recheada, envolta de sentido e agora tinha perturbada a sua consciencia. Se o observador estivesse buscando observa-lo sem que ele notasse - seus gestos, seu comportamento - tudo teria ido por agua abaixo no momento em que seu olhar tipico, instigado, cruzou o olhar ingenuo do observado. Toda a naturalidade se havia ido, e quase tudo aquilo que ele tinha naturalizado, depois daquela olhadona, se viu balancado e ele perdeu sua personalidade.

Quando eh que se para de observar para que se saiba definir o comportamento essencial do outro? Esse olhar instigado poderia vir a revelar, como que extraindo uma confissao, as idiossincrasias de uma mente ingenua? Ou eh a ingenuidade que garante a identidade de um humano?

Olhar fatal

domingo, 8 de agosto de 2010

esqueceratualizar

a flutuacao das palavras no mundo
no tempo e no espaco
e a flutuacao das coisas
suas intensidades, suas relevancias

os sentimentos, por exemplo
sensacoes, desejos
como podem se tornar intensos e se chamarem dor
ou abrandarem e poderem ser chamados de cosquinha

isso tudo tem haver com renascer
usar os nomes que as coisas tem
os novos nomes das novas coisas
sem duvidar, nem achar estranho nao usar uma palavra antiga -
isso eh coisa de quem quer parecer rebuscado!
sofredor e fino!

eh para nao se assustar, entendeu?
para nao achar que esta esquecendo alguma coisa
ou faltando alguma coisa que voce nao tem e nao sabe
porque voce nao sabe dizer o nome,
expressar a essencia
isso ja deve eh estar tao antigo pra voce
que ja se tornou outra coisa e ja ganhou outro nome

sábado, 7 de agosto de 2010

calminha

podemos dizer que a modernidade de um homem
eh um estagio atingido
um avanco
que nos resulta uma magnanimidade
uma quase soberba sobre os eventos e sobre inquietacoes
a modernidade se assenhora de um homem
e lhe garante
que seus habitos e modos
nao sejam uma derrota do seu lado rasgante
e que o que lhe colocam na frente
nao sao desconhecidos
nem ele precisa ser tao desconfiado
eh que quando a modernidade se abate
sobre um homem, ele eh
mais facil

consigo

terça-feira, 3 de agosto de 2010

personalidade

se numa conversa ha algo
que nao sejam as sombras
das vozes dos locutores

e seus remorsos e polidezas
conduzindo uma cortesia

se numa postura ha algo
a nao ser a roupagem
que cada um tem pra si

e as proezas e destrocos
escolhidos pra viver

se numa mascara nao ha nada
por tras -

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tem certos amigos que parecem poder compensar todas as perdas e acompanhar todos os ganhos das nossas vidas. Mas, ah, se nao fosse o sexo! Porque a vida com os amigos eh apenas um ir pra la e pra ca em busca de boas risadas. A vida com os amigos tem ate suas cores bem-definidas, embora sua fotografia nao seja digna de filme algum. Sao apenas as cores que uma vida levemente feliz proporcionam. Rimos, nos divertimos, contamos... O sexo eh o motivo. Enquanto entre amigos podemos observar tudo, tudinho, o sexo nos impulsiona a um quase foco total nos olhares e sorrisos do pretendente. Foco. A brisa, o olhar torto, os assuntos de fora: irrelevantes, imperturbadores perante uma demonstracao de reciprocidade afetiva. Eh so se ver olhando no olho, encostando o que tiver que encostar do corpo, coincidindo com toques indecentes a mais intensa expressao emotiva do animal homem. Eu sei, eu sei que eu devo eh estar com saudades, gamado por voce, meu principal pretendente, mas aquela hora, de dia porque ja tinha amanhecido, que voce me foi reciproco, ah, eu so penso em sexo desde entao. Algum sorrisinho seu, algum charme que eu ainda nao desfrutei todo. So sei que meus olhos focaram nos seus, e nunca mais te ver depois de um sexo platonico (porque nunca fudemos) pode me estrepar em hormonios.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

o que da e o que nao da pra ser nao da pra saber ao certo

se olhar:
almocar
dormir
escrever
se vestir
entender

a agonia que da na gente de achar tudo estranho
pensar como se coisas nao fossem passiveis de concepcao
e se nao -

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Modernidade, a Civilidade e o Feminino

Se por muito tempo a filosofia falava do que podia ver, a modernidade trouxe acurácia ao tentar fundamentar o que não via.

Se no início da fundação da cidadania somente as armas e a força eram o que garantiam os direitos, a modernidae tornou a cidadania siônimo de civilidade.

Se era o homem que conseguia a comida e a riqueza por meio da guerra no tal estágio mais bárbaro de sociedade, a modernidade viu o quão profunda pode ser uma vagina, e o quão valiosos são seus frutos: os filhos, a paz, a agricultura, o cuidado, a espera, a razão-fruto-proibido.

Chega de crescer o falo em direção a deus, diga tchau para a torre de babel! Penetre-se!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Perder a Copa é...

Há uma lição muito profunda que pode se extrair dessa nossa derrota na Copa do Mundo. Porque fazemos muita questão de que o Brasil seja o melhor do mundo - digo isso a respeito de tudo, somos um país enorme, pungente, imperial e que sempre sonhou com o melhor de tudo. E no futebol isso sempre nos pareceu uma espécie de premonição, como se Nostradamus tivesse deixado em alguma escritura que o melhor país do futebol seria o país que lançaria uma nova moral sobre o mundo, depois da queda das Torres Gêmeas.

Se pensarmos um pouco sobre a nossa formação enquanto nação, sempre quisemos dar uma lição de lifestyle a todos os outros países do mundo. Éramos o Império dos Trópicos; nos tornamos depois Estados Unidos do Brasil, com essa intenção ironicamente embutida no nome; depois viemos com um modernismo nunca antes visto - pelo menos a nossos olhos - que, antropofagicamente, criava um protótipo de moral, que digeria, que misturava, forçados, sim, mas que conseguíamos tirar disso um fruto - digerido e expelido, se quisermos levar a cabo a ingestão antropofágica. Aí veio o primeiro fruto, os primeiros olhares para o popular brasileiro, a primeira grande lição, para exportação: a Bossa Nova, o resultado de uma educação bem-sucedida da elite, a culminância de uma elite brasileira, que podia desgutar de seu próprio povo e ainda vendê-lo pra qualquer inglês que quisesse ver: porque era lindo, de verdade, lindo, talvez as únicas boas canções de amor do mundo tenham surgido nessa época.

Mas como não tínhamos a qualidade de potência - e vivíamos a Guerra-Fria - quase não conseguimos nos promover e precisamos dar uma lição em nós mesmos. Nos questionamos com o Cinema Novo, com a Tropicália, com todo esse movimento que enfocava a realidade social brasileira. Eu repito, a Realidade Social brasileira. Nesse momento, o Brasil precisou ouvir algumas poucas e boas para voltar para o seu lugar, para olhar para si mesmo de novo; ainda não éramos um país tão consciente de que era um país. Como a antropofagia, que precisava indicar qual o método que o Brasil devia seguir para se tornar um Brasil Realmente Existente, o sessentismo no Brasil teve funçõ semelhante de autoreflexão.

E é nessa onda que eu vejo necessário extrair uma lição dessa nossa derrota na Copa. Talvez seja realmente necessário que o Brasil perceba que o seu desenvolvimento econômico pungente não pode garantir tudo. Se somos bons no futebol, somos realmente muito bons, mas é futebol. I mean, o nosso amor pelo nosso país não deve ser fruto de um orgulho de mãe que olha o filho fazer aquilo que ela quer pra impressionar o chefe. Devemos amar o Brasil como amamos a nós mesmos, procurando fazer os esforços necessários para melhorar, procurando continuar o processo que nos tem levado a progredir e não devemos nos abater por alguma derrota - porque, sim, se o Brasil se torna bom, não é somente futebol que conta, é tudo além; futebol era a nossa válvula de escape!

Devemos, além de tudo, compreender que a consequencia da antropofagia é o cocô e que cocô não é lição para ninguém no mundo, cocô é a mesma consequência de todos os países que, violentamente, foram forçados a sê-los. Falta desconfundir desenvolvimento econômico - que nos fará chegar a um patamar em que muitos outros já estão - com lição de vida, de lifestyle. Só nos tornaremos aquilo que devíamos nos tornar, uma vez que queremos ser Brasil.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

agradecendo por não ter um louvre

Rio de Janeiro
ah
aqui eu não preciso
aqui eu não preciso ser alguém
ah, o Rio!
(zona sul?)
se nós somos brasileiros
e mesmo quem tem
quem pode
nunca poderá como lá fora podem
no Rio
endorfina, endorfina, endorfina!
umas voltas de bike na praia
um mergulho no fim da tarde
um aplauso cafona ao por do sol
uma tarde de bermuda e camiseta no parque laje
fumando um de adidas ou vans
ah, o Rio!
o estresse aqui é calmo
porque a gente tem o que fazer
ninguém precisa tanto assim ser pra se satisfazer
o Rio é bom porque o Rio, até pra nós cariocas, é só lazer!

terça-feira, 29 de junho de 2010

tornar civil

A espiral do abrandamento da expressão violenta dos impulsos.

Conforme o tempo passa e se aprende com ele sublima-se tanto mais tudo em amor que os impulsos comprimem-se em linha reta sem dois nem mais pólos não oscilam no caminho da espiral ou não se pode ver a oscilação mais que a curvatura leve já parece uma linha e a vida de cada um é tão mais só de cada um menos importante pros outros fica só uma linha reta de amor com amor que se cura o ódio é com ele que ganha-se força pra melhorar é com amor que a origem de tudo deixa de ser o caos e é com ele também que o destino desabita o mundo é com amor que a gente esquece e escreve o sentido que a gente vê no que passou e naturaliza a doença que nos fez cristãos.

amor filia

O que seria dos pais se não fosse esse sentimento de solidão que têm? Porque aí não seriam pais, se não tivessem a quem recorrer pra falar algumas filosofias de vida, quem os escutasse e, por algum respeito moral, não desconsiderasse por completo uma tal opinião de uns tais seres humanos mandões. Porque os pais não conseguiram lidar com tudo aquilo que a vida lhes exigiu - e exige todo dia até a morte - aí eles mesmos pensaram: filhos eu me exijo pra alguém-eu-de-alguma-forma acerte tudinho, algum meu haverá de saber lidar melhor com tudo, esbravejando seu sobrenome ou código genético; pra que exigissem dos filhos o aprendizado que eles lhes transmitiram, "não cometam esses e esses erros (voz fininha zuada)." Você, filho, talvez aprenda mesmo com eles a solução de tudo, que foi ter filhos, a melhor coisa que seus pais fizeram pra eles mesmos - e eles não vão querer que você desaprenda o bom caminho, porque, aí, quem sabe, ele terá um neto perfeito. Isso, é claro, quem teve filhos por opção: é só passar a bola.

Mas esse texto ainda nao acabou. Porque todo filho confronta sua variabilidade existencial a de seus superiores. E seus superiores envelhecem, e seus ensinamentos, sem muito por que, tornam-se velhos e chatos. Rabugentos. Escutam desaforos, impoem-se por muito tempo, como se uma lona apertada pudesse abafar essa pressao jovem que a impulsiona pra cima. Por debaixo, os jovens dizem dos pais "uns velhos!" e a lona vai rasgando conforme eles ficam adultos. A criacao do amor comeca ai. Se antes o "amor" era dito dos pais, que ensinavam, agora o amor passa a ser esse sentimento reciproco de frustracoes e superacoes: um eterno querer estar junto por aquele coisa que chamamos convivio.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A crise do primeiro dia

Quando me dei conta de que éramos só nós dois na minha cama de solteiro, ninguém nos via, não resisti: levantei incrédulo o lençol que nos cobria - nos cobri e armazenava o nosso calor de dois sobrepostos, ao quadrado; levantei-o pra ter certeza de que era mesmo a sua perna encostada na minha, os seus pelos roçando com os meus, o seu corpo ali pra mim, comigo, deitado, nós dois pelados e eu te olhando enquanto você dormia. Ou talvez tenha sido uma olhadela de orgulho próprio, só para que eu mesmo pudesse entender - vendo - que eu, um sozinho no mundo, também conseguia, também me mexia e amava, como eu queria.

Depois, você ia embora contrariado, e eu quis ficar deitado olhando você se vestir: fechando a fivela e rindo pra mim como quem via que eu via.

E então você partia e não saberia mais - até quando? - se você voltaria, ah!, te conheço tão pouco! Me dá seu telefone! Eis a crise do primeiro dia.

jovens

chegar ao fim da vida
e concluir que ganhei

perder a batalha:
sinal de guerra em crise pro meu lado
mas ainda há vida, há futuro, há guerra.

olhar por cima e ver que ganhei
olhar do céu e ver que vivi
viver aqui vencendo constantes batalhas

a vontade da guerra hoje encontra paredes
esse é o problema
porque eu não ganho guerra sozinho,
se não reduzir meu universo...
mas não é o universo que está em expansão?
e os indivíduos... reduzidos aos seus leitos!

ser um só e não vencer o sol
ser um só é não vencer o sol

'Eu' é alguém que não tem time
mas não há guerra que se vença sem homens
e não há homens se não nos pensarmos belos guerreiros
de belas guerras e belas histórias
Juntem-se, pertençam-se, poetizem-se!
sejam juntos, em time, seu time tem que ser sua vontade, os seus amores!
(o problema é que há tantos amores e tanta gente com os mesmos, espalhados, que é preciso buscar homens por aí para serem do seu time...)

Só se vence o sol com poesia e amigos
só se faz vontade quande se vence o sol

lá de cima, de cima do sol

terça-feira, 25 de maio de 2010

relato da censura

Vou evitar escrever versos que enrolem minha língua. É, sim, a inconstância dos pensamentos; é também o medo do clichê do drama e da tragédia; é, além de tudo, um respeito pela honestidade, pela honra de um sentimento tão verdadeiro que, em versos quaisqueres, poderia acabar meramente feio, ou ridículo. Não se trata de tragédia, sequer de comédia.

Achei digno, sóbrio fazer um relato da censura.

"Não podia mostrar miseravelmente a miséria, nem me deixar levar por qualquer ânsia poética - deveria primeiro encontrar um fio e desabrochar o poema com a beleza que só a arte tem. De poesia de fracos estou farto! Farto, farto, farto de um não saber reconhecer um erro - é, minha poesia tende a se incomodar com tudo e, quando muito se deixa levar, escamoteia a palavra suicído.

Já a prosa, percebe?, mostra a preguiça do poeta, que espera que os outros relativizem seu gosto e seu entendimento. Qualquer dúvida é qualquer dívida, meu caro poeta. Esta prosa será um respeito: um desejo guardado, um suspiro respirado."


quinta-feira, 20 de maio de 2010

a pedra do meio do caminho

O desande em que me encontro com a expressão vem me enganando e me errando por mesmos caminhos usados. É novo o tempo, e eu ainda não. Se dissesse que atropelo as palavras - não é isso. Sinto uma latência poética enoooooorme - mas meu palavreado, alguns vícios e birras me fincam, ridículo, ao saber lidar de uma vida antiga... Eu estou gastando a sola de um sapato feio-de-fora-de-moda, só porque julgo que "acabar" seria seu desgaste absoluto.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

em pé

Ao som das ruas é preciso vê-las ruas, sabê-las ruas, senti-las ruas
mas é preciso crer ouvi-las mar
ter respeito pelo que acontece














o seu é o seu
(ne espera lenta
debaixo de flechadas
sobrevivendo no nada)


é seu


respeito, vambora

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Como se fosse fácil perguntar pra gente se agora e depois, pra nós mesmos, nos nossos atos, estão vinculados. A repetição de um relógio de ponteiro que faz barulhinho, um caminho ou um ritmo? Sempre perguntei ao nada, até que certa vez eu li um livro. Por alguns dias, perguntei pra mim mesmo, mas aí eu tive que simplesmente fazer, porque - como era difícil estar sob uma condição de escolha... eu preferi trocar a interrogação por reticências e pontos finais.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

existe diferença entre coquetismo e ideal ascético?

sexta-feira, 30 de abril de 2010

o bom e o belo*

olha, os ricos podem:
- cagar na cama e mandar alguém limpar
- jogar coisas fora
- não dar valor a nada, a não ser àquilo que querem fazer no momento mais particular
- não se entender como uma pessoa
- explorar os limites das possibilidades em vida
- temer a morte em sua forma mais livre






*aforisma de "A Gaia Ciência"

segunda-feira, 26 de abril de 2010

pra ter alguma certeza?
origens
qual a origem do universo?
dúvida

então
se os seus padrões todos
podem pulverizar
e você não precisa mais saber onde você o quê antes de crescer,
seus enquadramentos e adequações agora não são sobre sua essência - paira o cansaço:
e você agora se modela pra caber nas instituições que sobrevoam-nos estruturalmente
fluidos pra se amoldar

ANTES DE NASCERMOS

originalmente você deve se adequar ao que está naturalizado há mais tempo
mas o há mais tempo não tem conteúdo, só tem forma

já sei: não vou fazer a barba hoje de novo

domingo, 25 de abril de 2010

persona (non grata)

fácil é
uma palavrinha...

as sinapses são mesmo rápidas
é só ver como consguimos construir e destruir histórias a partir de possibilidades.


quantas vezes eu sacodi meu pé nesse meu último minuto?


ah, que vergonha! Eu sei que na vida real dá pra ser tranquilo...


anormalidade é uma palavra que pressupõe que os normais tenham e defendam a auto-consciência e que os anormais não a compreendam corretamente, sejam perdidos em seus mundos eus

simplesmente relaxar e ser um ego multidecupado

ou melhor, não conseguir exatamente relaxar por não ter a pele nem a força, unas, que devia

- anormais não conseguem ser alguém
- são alguém os anormais que querem ser anormais
- só é alguém quem tem a volta completa da auto-consciência: um
- anormais são corpos que não se entendem corpos e não dão essa tal volta completa

com a rapidez que eu sou, pra ser alguém...
eu esqueço e não escolho
e ainda vou ter que crescer em algo pra brilhar um eu meu

é engraçado,
porque parece que,
só porque você é muita coisa,
você tem que sacrificar todos as suas outras partes, que você tem que chamar de partes,
e ser, sei lá, o você/eu médico ou palhaço, de barba feita ou por fazer; qualquer coisa única

se a gente tivesse preguiça e gula como as melhores coisas da vida, talvez nem compreendêssemos o que é ser um indivíduo.

veja bem:

você têm muita preguiça de escolher e de fazer, mas tem vontade de poder ser tudo ao mesmo tempo.
feições e traços, seria o quê, isso, para esse povo que ama a preguiça e a gula?
todos os homens seriam iguais? ou melhor, existiriam limites físicos da pessoa?


PERSONALIDADE


mas é estranho pensar num povo
mais estranho ainda é pensar em permitirem as pessoas serem preguiçosas e gulosas
"beleza, temos uma cota de 10% da população do brasil que vai ser sorteada pra viver em completos ócio e despersonificação. os indivíduos serão escolhidos por sorteio, podendo refutar sua escolha, que passaria para alguém que quiser. a essas pessoas serão designados os direitos de surtos repentinos, de uso irrestrito de drogas e de acordar às 4 da manhã pra ler só o prólogo de um livro do Hegel."

e ainda tem o amor!
ora, você é o quê pra dar a alguém?
haveria amor na terra da gula e da preguiça?
planeta terra:
nos adentramos em quem quando queremos saber tudo do nosso amado?
um corte de cabelo, uns livros lidos, uma vontade essencial que te faz ser um indivíduo marcado
com traumas lidos, divididos, superados?
você como você é, sim, sozinho, arrumando coisas no quarto e se preparando pra amanhã
e alguém te encontra em algum lugar, algum bar, metrô e se apaixona por você
você é o bom-senso, é a fome e o descanso e um semblante assenhorado
porque você já sabe o que você é.
(se a pessoa já sabe o que ela é, então, são grandes as chances ideais de um amor)

Amor é amor pra quem não sabe o que é nem o que faz nem o que quer e só quer um corpo pra te acompanhar a não fazer nada?


PERSONALIDADE


pra ser geléia, como é que faz?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Alguma descrição, alguma justificativa

Olá, eu sou uma salamandra e meu nome é Salamandra. Sei que esse não é o melhor jeito de começar qualquer coisa escrita, mas é que eu não costumo fazer essas coisas. Aliás, poucas vezes acreditei realmente que fosse capaz de escrever alguma coisa sobre alguém, sobre mim, sobre o mundo. Sempre que penso em escrever, me sinto ou muito afobado, botando as carroças nas frentes dos bois e dizendo uma grande mentira, ou então muito cuidadoso, ao ponto de elucidar tantas nuances adversas que meu pensamento se anularia. Mas há alguém, uma figura, uma pessoa que freqüenta um mesmo bar (poderia chamar de boate?) em Botafogo que eu. Na verdade, há tempos que não o via por lá; e esse livro (se é que chegará a seu cabo, do jeito que sou...) só surgiu em razão deste sumiço. Seu desaparecimento mexeu comigo. Sua imagem, confesso que um pouco chata e desgastada, de tão espalhafatoso e recorrente que ele era nesse lugar que eu frequento, era algo como que típico, original, de certa forma até fascinante. falava alto, por estar sempre bêbado, gesticulava muito e, se não estava rindo de alguém, estava rindo tão anti-cristãmente que parecia muito estar rindo alguém mesmo. Do jeito que sou salamandra, de espécie e de nome, já paranoiei inúmeras vezes com sua risada - e não duvido nada que ele já tenha rido de mim. Ele em geral vivia meio suado, era gordinho e seus trejeitos, suas risadas, mesmo que rodeado de amigos dos mais variados, não escondiam, pelo menos para mim: ele era homossexual. Já fiquei na dúvida, mas ele não queria saber de nada e às vezes aparecia com algum affair. Tunico Ribeiro (esse era seu nome), como era de se esperar, já fez muitos de seus amigos passarem vergonha e já constrangeu muitos outros semi-conhecidos. Quando você achava que ele já não podia mostrar mais nenhuma chatice, inconveniência, ele vinha com mais uma neurose sua, com mais um comentário ofensivo, ele parecia um enorme buraco por onde saíam pontos de exclamação às profusões! Ah, o Tunico Ribeiro era ótimo, na verdade, uma grande figura, e eu não pude ficar parado frente ao seu desaparecimento. Havia naquele sujeito uma sujeira, uma indiscrição e ao mesmo tempo uma pertinência que só diz respeito a almas de artistas! Mas ele era tão poeta que sua poesia era ele mesmo, com sua rispidez, com sua risada, com seus eventuais perdigotos esbravejados com seus amigos e meros conhecidos, com suas idiossincrasias (já vi Tunico Ribeiro chorar! sempre gritando e xingando e chocando, é claro!). Ah, Tunico, você era de uma existência tão sarcástica e tão típica que seu sumiço não podia sumir com a sua figura! Como filmes que fazem sobre célebres mortos, resolvi escrever sobre Tunico Ribeiro, homem que nunca mais surgirá igual, foi uma última gota de um esgoto a céu aberto canalizado! Tunico, você que nunca cumprimentei, exceto uma vez que me apontaste do outro lado da rua e eu te levantei meu chapéu, irritado, envergonhado; Tunico, você vai se tornar obra de arte, embora fosse muito mais enquanto cuspido e escarrado! Você sumiu e é preciso fazer essa denúncia, explanar essa tragédia, mostrar a todos o que aconteceu com você!

indo pra casa às 2 da tarde

Ah, medo eu tenho!
muito!
de que você me solte assim as mãos...
mas sou artista na vida!
rio lá dentro e te pergunto as horas
pra você pensar em me perder...
eu respondo suas horas com um cheiro no cangote
te deixo entender
que o tempo é curto
que eu não sei viver

fico com os olhos assim iguais aos seus
ora parados te fitando
ora tontos de um desesperado
inseguros!
apaixonados!
até que um beijo, um abraço,
um sexo e um sorriso, fortes
façam do nosso um bom dia

um insight, de tunico ribeiro

da timidez
ao descontrole
eufórico e hesitante
alguma paranóia há
de vir
sobre o ponto
do ponto do ponto
do ponto
que nos faz crer
que saberemos algo além
de que terra é terra
mar é mar
e céu é céu

poema secreto de tunico ribeiro

o silêncio oco dos sozinhos dita
são as cores daquela parede
da janela
e do chão

eu choro o sonho de quem acredita
negando a minha própria sede
perdendo um trem
pra amsterdam

Sair? eu tento...
mas é friiio
é que eu to tão sozinho
eu tô tãão sozinho... quietinho...

segunda-feira, 22 de março de 2010

Bota-Abaixo

vem vindo um vento
frio
qualquer boca que esbraveja muito
vai falar mansinho, mansinho... Tagarela!
vem vindo ese tal de amor ao respeito:
o medo
e ninguém mais poderá rolar a manhã quente toda na cama umidecida
porque o suor vai secar em gelo
é frio

o cigarro aceso agora será o cansado
de quem trablha e ainda precisa muito delirar, delirar, delirar!
é frio
é frio
é frio!
linhas retas
arquiteturas certas
fechando em fluxo
o que era caos

morre hoje o avô errado que gastou toda a fortuna do bisavô
morre hoje o cais sujeira dos perigos daonde eu for
eu falei, veio o medo
e eu vou ter que endireitar

terça-feira, 16 de março de 2010

Arte é preconceito

domingo, 14 de março de 2010

Qual é a do tipo de gente que olha uma pessoa meio depressiva e sente aquela simpatia compaixonada de otário?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Mulheres (homens fazendo papel de mulheres) conversando sobre filosofia, na cesta, numa sala separada dos homens. Os homens assistem à nova televisao comprada, um jogo de futebol ineditamente trasmitido em imagens, e as mulheres "tricotam" filosoficamente, sem seguir um rumo especifico. Debatem Machado de Assis, José de Alencar, Oswald de Andrade, falam se deus personagens, das nuances de seus comportamentos, falam dos cenarios, sem se procuparem com rigores de um emprego academico - elas nunca integrarão mesmo a academia brasileira de letras... O ano é 1940. A conversa, para quem nao esta ainda familiarizado com o tema, que é sempre o mais abstrato e obscuro possivel, como o interior das vaginas, pode parecer um tanto quanto incompreensivel e superficial, como se estivessem debatendo sobre personagens de filmes e de livros, analisando suas personalidades e suas nuances. Essas sao mulheres que riem dos seus maridos nessas salinhas escondidas e sabem de tudo o que se passa la na sala deles, onde estao assistindo o jogo de futebol. A guerra mundial ocorre, Getulio esta no poder, mas quem se importa? Sao apenas mulheres...
Um homem entra bruscamente pela porta e grita, raivoso, repressor:
- Ahhh, mulheres! Vocês nao entendem nada de futebol mesmo!
Fim.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

meta poema meu de amor - como eu escreveria um poema de amor

(interjeiçoes de falta
e de amor nao correspondido!!!
devaneios arrastados
fluidos mas meio densos
sobre as delicias macias e quentinhas
dos seus braços seus...

uma escorregada sobre a minha dependencia de amor
do seu amor
e uma pequena crise de individualidade
divagada e concluida totalmente superflua
graças às maravilhas que uma coxa encostando na outra
de noite
no frio
faz a quem quer amor e ganha!

Aih, continua um suspiro, um gemido doce
sobre pernas bambas
sobre apertoes nas gordurinhas do pneu
mas em uma tentativa de explicar sinestesicamente
a vontade que da na gente de que as nossas peles desapareçam
e se fundam num corpo so, que nao é de ferro:
que é quente e beijoso
e prazeroso e cheio de tesao e amor
num eterno fluxo ciclico de dar e receber...)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Questões de Estilo

Eu consigo ver o processo de proletarizaçao mais do que nunca, eu diria, seguindo a ideia de que o capitalismo é contraditorio. Vejo a proletarizaçao do pos-fordismo: a mais velada de todas, a mais escondida de todas, a mais aparentemente contraditoria de todas. Porque ela segue um fio, que é o fio do estilo. Hoje eu fiz umas compras e consegui, por meio dos produtos que comprei, compor um estilo meu, que na verdade é um estilo mais ou menos de todos, mas com o olhar-la-na-frente pro meu estilo; ou seja, todos nos seguimos um parametro ideal que é o nosso estilo proprio, unico, individual, e o capitalismo, por sua lei da demanda e da oferta, se esforça para seguir essa produçao cada vez mais especializada - mas a individualidade do estilo é sempre incipiente na sociedade industrial. O que eu estou dizendo, galére, é mais esquizofrenico do que parece (e exatamente por isso capitalista): o que vem a uniformizar o proletariado é justamente essa vontade classe-média de ser unico - ora! todos querem ser unicos, todos buscam ser unicos, todos negam a sua massificaçao, que é justamente uma massificaçao negativa (uso esse termo porque o esforço das forças produtivas, logo das matrizes produtivas, é por camuflar a essência, ou seja, todos querem as mesmas coisas, por meio de produtos de cores diferentes, que nos enganam, fazendo-nos crer que, por usar um casaco com bolinhas rosas e uma calça quadriculada marrom eu sou extremamente diferente daquela pessoa la que chama de playboy, ou de teffeur ou do que quer que seja em seu pais). A questão do fetiche me parece latente quando associamos o nosso estilo pessoal à nossa total diferenciaçao do proximo. Quem disse que o proximo, que usa amarelo, nao come, nao dorme, nao se veste, nao faz sexo, nao tem vontades individuais? Eh uma virada muito simples perceber a igualdade que as estruturas carbonicas, atomicas nos dao. Nao acho problema nenhum no fetiche em si mesmo, o problema talvez maior seja fetichizar o fetiche! E o que seria isso, oh, meu deus? A gente cria uma ilusao de que nossos fetiches de estilo pessoal sao algo além do que simples fetiches, simples nuances de estilo; nos fazemos crer que nosso estilo pessoal vai praticamente nos tornar deuses ou seres superiores de uma outra especie pos-humana, que so VOCÊ atingiu...
Mas eu nao olho so com nojo pra questao do estilo, ate porque o estilo é algo que surge naturalmente com o capitalismo. E eu vejo o estilo como um dos principais fatores gerados pelo capitalismo que contribuem para o seu proprio colapso. Havera uma busca cada vez mais refinada por um estilo pessoal, nas vestimentas, nos pratos, nos desejos, enfim, os gostos de cada ser humano vao ganhando lugar na sociedade civil. Legalizaçao de drogas, casamento homossexual, escatologia, cortes de cabelos extravagantes, sei la, todas essas coisas que fogem ao padrao tradicional teocratico que se conserva na sociedade pos-revoluçao francesa passam a ganhar lugar de aceitaçao na sociedade por uma questao de principios republicanos e democraticos. Assim, os gostos de cada grupo menor tendem a encontrar espaço de aceitaçao, nem que seja pelo menos pra debate. Imagino que as minorias com seus desejos cada vez mais estapafurdios (ou nao, visto que vivemos numa sociedade idealmente livre) passem a ser sufocadas pelo "bom senso" do estado, que tendera a tacha-los de desejos absurdos. Sera a indignaçao gerada pelo conceito de liberdade e igualdade e fraternidade e res publica e democracia que colocarao na forca o "bom senso" laico do estado burgues. Porque, ca entre nos, a partir do momento em que deus se tornou uma figura absolutamente dispensavel nos entraves e picuinhas politicas, a relativizaçao do bom e do mau, do certo e do errado, ganham, mais do que nunca, o papel principal no palco parlamentar. O certo e o errado serao os gostos pessoais, serao a liberdade para fetichizar como quiser, e nao fetichizar o fetiche, achando que existiria um modo correto de fetiche, ou um modo super-humano e, por isso, idealmente moderno e civilizado. Vejo também, como uma consequencia desses esforços por exercer gostos, o engordar da marginalidade, da malandragem, da produçao individual, isolada, das materialidades necessarias pra sustentar as vontades. A força produtiva passarà a ser vista como individual: customizar, plantar hortinha, enfim, os utensilios serao postos em uso somente sob uma inspeçao individual de sua funcionalidade personalizada. Cada um tera suas coisas de seu jeito, por uma questao de estilo, que é gosto e funcionalidade para o gosto - porque o gosto ja implica em si uma questao de necessidade: se vc gosta de uma comida, voce gosta de algo pra comer. O envolvimento do homem com seus gostos e com seus costumes direcionam-no às suas concepçoes de necessidade e também às suas necessidades organicas... Comida é comida, roupa é roupa, sexo é sexo, espirar é respirar! Como se o estilo nao estivesse somente ligado a uma questao de beleza pura, mas também vinculado à necessidade. Melhor ainda: os gostos, o estilo, a vontade e a necessidade serao a mesma coisa - o objetivo de produçao material do homem.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

tudo o que é solido desmancha, nanarinaaaaaa

que as vontades oscilam em duvida
bruscamente
entre dois pontos extremos
de modo que uma sempre anula a do extremo oposto,
ah! isso é antigo!

mas soterrado que ja esta pela erosao e pelo tempo
esse entendimento sempre brota
como semente plantada
e seus ramos crescem tao rapido
que se tem que cortar.
e isso ocorre de novo e de novo a cada fraçao de tempo
a verdade da duvida
fica velha
e renasce
fica velha
e renasce
e, esgotados, vivemos entre a duvida
e a ignorancia completa
a cada segundo que passa...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Manifesto Bosta Nova (em construçao)

Pra mim, admitir isto que vou admitir aqui, é critico. Mas, ah, eu prefiro deixar a culpa nos meus desejos, nas superestruturas e infraestruturas - prefiro naturalizar logo os meus atos pra nao me culpar depois por qualquer coisa e ficar com aquela agoniazinha de ter que, pelo menos, rezar o ultimo pai nosso no meu derradeiro momento de moribundice. Tenho medo de acabar com uma esperancinha boba e iludida e profetizar o mal, a decadencia e a podridao que o nosso paisinho espera.

Eu estou dizendo, gente, que temos uma geraçao Bossa Nova de novo, totalmente vazia. Diria que, talvez, nao tao vazia - tem o Los Hermanos cantando suas barbudices num Circo Voador reinventado na Lapa. Ah, a Lapa - ela tem seus encantos, sim, mas eu sinceramente acho mais gostoso saber que ainda assaltam por la e que nao esta tudo tao reinventado como o Circo e a bossa-novice barbuda, caqui e chata do Los Hermanos.

Acho que é essa historia de desenvolvimentismo que encheu a nossa cabeça, desde que deixamos de ser nada pra ser alguma coisa que disseram que nos éramos. Acho que todos os simbolos que foram criados aqui, foram pra exportaçao; pra sustentar um fetiche dos outros, la de outra ilha, que nao tem coco. Ai, agora, temos esse impulso economico infraestrutural que faz a gente crer que indio é gente, que Bossa Nova é verdade, que barba e Nova Lapa sao 'cults' - "o Brasil cresceu", dizem. Ai, que medo de reformarem aquele cais do porto, de tirarem de vez todas as favelas de perto de nos, de apagarem qualquer vestigio de primitivismo, nosso primitivismo, Brasil, pra gente poder cantar Noel Rosa e Pixinguinha, Bezerra da Silva, sem ter que recorrer aos nossos pais, a um imaginario coletivo distaaaante: nossa idade média, nossa formaçao, nossas injustiças! Pra gente poder escutar Funk mesmo, podreira, sem ser na Barô, como se fossemos Nova Iorquinos ouvindo Tom Jobim.

Nova Iorquinos ouvindo Tom Jobim.

O problema, é que talvez essas mudanças, progressos, finalmente, progresso pra esse povo finalmente ordenado! Mudanças e progressos que parecem ser inevitaveis! O mundo inteiro, mesmo, ve o Brasil e a India e a China surgirem ali no horizonte, como macacos inferiores que agora se equiparam. Eh muito dificil encontrar um Francês por aqui que realmente ache que no Brasil as pessoas trabalham e que existem mulheres que nao sao putas. Nao que ser puta ou nao trabalhar sejam menos dignos, nao estou entrando em discussao de valores. Mas acho que agora, esse nosso desenvolvimento, permite que a gente esteja tete a tete com eles, todos somos a mesma coisa, humanos, mortais, consumidores.

Eh, meu povo brasileiro, acho que de tanto vendermos Brasil de sol e praia, depois que Caetano e Gil foram celebrados internacionalmente com sua sertanejice tropical, talvez tao raivosa quanto essa minha indignaçao do desenvolvimento cego, depois que ja se lançou o que é Brasil em filmes e musicas e livros, acho que agora nao precisa mais. Acho que agora temos um ultimo passo, o passo que nos decretara, finalmente, desenvolvidos: a gente precisa reconhecer que a merda que nos somos é a mesma, mesmissima merda que todos esses paises centrais dizem ser. Sempre fomos a mesma merda, mas economicamente ainda estavamos tao abaixo, moralmente estavamos tao submetidos que realmente acreditavamos que eramos um indio, ou um sertanejo triste, ou um bon vivant bossa-novez que nao trabalha e so bebe whisky.

Ah, Brasil, parece que, desde sempre, você so seria você se fosse um você grande, bonito e forte. O Guarani rapidamente foi desbancado pelos realistas, pelo Triste Fim de Policarpo Quaresma e pelos modernistas. Que simpatia eu tenho por esse tom ironico deles! Porque é necessario mais uma vez dar gas a um movimento que a antropofagia desenhou. Essa espécie de sentimento amargo, de ruptura com a ilusao - eles cuspiram na cara de quem matou Policarpo Quaresma. Mas apontaram pra frente pra outro lado. Somos filhos disso: de outro caminho pra frente, da morte de Policarpo, do sarcasmo realista do Machado, do impulso iveterado de Oswald, da brincadeira triste e ironica da Poesia de Mario de Andrade.

Nao, por uma questao de posiçao estilistica e politica e poetica, prefiro nao me aproximar do Drummond. Nem do Vinicius. As auras que perpassam esses nomes, suas linhas, ah, falta nelas essa minha inquietude, essa minha dificuldade, essa minha agonia de quem desvenda e nao sabe parar. O que aqui se pretende é justamente um edipianismo insaciavel, nao vou seguir os conselhos de quem quer que seja, porque a peste esta aih, eu ouço os clamores. A peste é o desenvolvimento!

Me perguntaram outro dia o que que eu achava da policia ter acabado com o trafico em Copa e do Brasil agora ser uma futura sede das olimpiadas. Foi num debate num curso de Francês e civilizaçao francesa. Eu respondi suave, como quem ja sabia o que dizer pra um inglês ver. A menina que me perguntou era uma alema: "ah, é bom, né, mas existem varias questoes por tras." Por aquele momento, ou passei de pseudo-guevarista ou de um total imbecil, porque eu juro, juro, que nenhum europeu me parece realmente querer entender o Brasil para além dos perigos para o seu turismo. Europeu adora ir pra onde ele nao mora, mas ele preza por segurança, e isso é tudo.

Segurança! Nao foi esse o emblema desde sempre? O que foi a Reforma Sanitaria, se nao era pra assegurar que nao haveria doença? O comunismo e a segurança nacional, do brasil esfacelado de Getulio e Prestes ao Brasil esquentado pela Guerra-fria - como eram lindos os japoneses e os chineses! Nao queremos estar seguros de que somos brasileiros, de um pais grande, estavel, seguro? As empresas nao avaliam aquela merda de risco-pais? (Que porra é essa de risco-pais????) A gente nao é brasileiro MESMO porque se sente mais seguro na rua do que um gringo? Ah, mas como é bem mais legal ser gringo e poder estar seguro que nem eles nao importa aonde, nao importa o que. Tenho medo de brasileiro que atora o perigon do Bope.

Mas acho que foi mesmo as custas disso, dessa loucura de desenvolvimento, segurança, Brasil pra frente, do futuro, que chegamos aqui. Tudo bem que a gente pode ficar pensando que as criticas marxistas e primitivistas e libertarias da antropofagia e da tropicalia eram incisivas ao imaginario romantico e desenvolvimentista do Brasil. Sim elas, tinham uma angustia, uma nostalgia, uma melancolia, exponenciada depois por Cora Coralina, que gostava de olhar pro abacateiro, que tossia de ver tanta fumaça em Sao Paulo. Mas a cora perdeu o embalo, corrupta, engolida pela poética padrinha de Drummond e ficou lá em Goiás, num aquário, como a vovó árvore da Pocahontas, que se reservava a dar conselhos num espectro entristecido e bucólico.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

noinha

a cada passo que dava
eu tinha quase certeza que via
e jurava que ouvia
o seu cochicho
eu andava mais rapido para poder escutar o certo


o que realmente você dizia?


mas eu chegava e você poderia se calar
mudar de assunto
e eu via alguma mentira em seus olhos...


ah!, mas que certeza eu tinha?


você lançava seus cabelos na frente do rosto
nao sei - nunca saberei! - se propositalmente...
e ia na frente...


ah, por favor, me conta o que é que você tem pra esconder!


debaixo da sua retina ambigua,
por tras das suas caras de meiossorrisos


eu tomava distancia
porque podia ser coisa minha
ou por minha causa
acendia um cigarro vendo você andar pela frente,
apressada por nao sei o que...
eu me via atras de você


completamente sozinho...


as pessoas cruzavam minha frente pela rua
eu tentava olhar pros lados, pras vitrines
mas eu olhava sempre pra frente
tentando te procurar - pra onde ir?


eu te seguia
eu te seguia...


por que você às vezes me da essa impressao
de que ha algo de errado
e por outras você me passa tudo ao contrario?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Eu nao caibo mais...

Hoje vi minha priminha Tayna no colo da mãe, minha também prima Joana. 5 meses! Um pacotinho, por causa do frio, enrolado e encaixadinho no colo da mãe. Ai que delicia ver aquilo e que melancolia-que-é-nostalgia!

Fiquei com saudades tão sinceras da minha mãe... Uma falta de calorzinho no peito, uma frustrante sensação de constatar que ela não pode me abraçar mais todo... Que sincero é o amor de mãe! Seu filhote pequeno, em seu colo... E ai que delicia ser assim um filho! Um amor certo e completo, um desejo unico de ser abraçado inteiro realizado - e realizavel! - de uma vez so, quase um voltar pro utero so de olhar pra cima e ver o rosto enorme da mae ali, confirmando o colo.

Ah, mãe, como você me lembra uma calma gostosa, uma alegria nossa, repleta, imovel, perfeita, estatica, estética! Como se a vida não fosse mesmo a vida, tão perigosa! Como se não houvesse crescimento, movimento, o fim e o meio injustos desse nosso começo placido!

Ah, mãe, toda essa nossa mentirinha lactea, tacita, nossa paixão, sorrisos; eu ainda procuro isso em você, no mundo, mas eu não caibo mais nem no seu colo nem em nada! Meu corpo não é mais so o seu braço, meu amor infinito nao tem mais espaço, eu sofro, mãe, de verdade, mas não se preocupe, não é nada, é so um desabafo! De saudade intensa e de desilusão!

Porque, mãe, ah, mãe, o que eu queria mesmo era caber todo ai, sem saber nem ver, nem ouvir, nem falar. Enrolar seus cabelos com a mão, no teu colo, com dedinhos tão pequenos de unhas tão finas de rosto tão fofo de tão desprotegido que sou sem poder ficar.

Ah, mãe, que saudadezona de você e do unico e verdadeiro gesto de amor: o de mãe. Quero, mesmo que ainda me sobre muito amor pra dar e me falte muito amor pra receber, tentar de abraçar e beijar por um tempão, até cansar e perceber que não da, nem que seja, mãe, nem que seja! Ah, mas como eu quero, mãe, fingir estar no seu colo, dar logo esse grande abraço, subir escalando a sua cama e repousar na sua barriga, sem peso! Deixa, mãe, deixa eu me iludir de ter aquela certeza de que com você vai ficar pra sempre tudo bem.

tocado por lirismo

um vazio tremendo
ah!
que oco
sinto os tons das musicas
as vozes das letras
as imagens de um filme
todos os sentidos de fora
me preenchem
e eu transbordo tao ridiculamente
minhas lagrimas vem sem criticas
derrubei os muros
das minhas molduras douradas
ou asceticas lisas modernas
sou tao so eu e mundo
vazio
sozinho
que eu sinto tão tão facil
me emociono e choro mesmo
sentado, isolado
e o mundo inteiro tão grande
e minha vida nada, eu aqui parado
falem, cantem, façam mais enredos
que eu sinto
vai, faz, que eu choro, rio, grito, agonizo, saio
despido, totalmente a esmo

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

fronteira

tudo o que eu te queria
não tive
quando devia ter pedido
falado
nem me cocei
balbuciei qualquer coisa
naquele turbilhao

esse meu silêncio...

sucumbi à duvida
que suas olhadas maldosas
geravam em mim...
Enxerguei nelas
um medo
as grades
que me separavam de você

você, que eu queria tanto
e nao tive
você que nao estava longe
eu, que fiquei triste

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Fogo em Aquarius

Garanto que todos nos, mortais, humanos e brasileiros, ja chegamos a pensar "poxa, minha vida nao é tao boa como a daqueles caras ali, mais bonitos, mais felizes, mais bem vestidos, sei la, eles simplesmente tem cara de se divertirem mais." Ainda mais agora, com essa coisa de orkut, facebook e tal, que todo mundo esta sempre ali, com um perfil - as pessoas dificilmente somem das vidas umas das outras e se pavoneiam como querem para a eternidade e para cada nova fase da vida. Mas ai me esforço pra pensar um pouco mais sobre isso, e nao ficar na simples tristeza parada, recalcada, esperando um milagre ou um suicidio, e tento ver o que que pode haver de especial no tom daquelas fotos novas que eles postam, daquelas roupas, daquelas coisas, que nao ha em mim, nos meus amigos. Acho que o que falta é declarar todo o amor que jaz latente entre nos, amigos. Porque, ora, acredito que haja pessoas que olhem minhas fotos, minha vida, meus amigos e que invejem minha felicidade, minha descoladisse, enfim, qualquer sinal de superioridade, de nobreza que possa pulsar das minhas imagens - e não vejo motivos pra nao acreditar nisso, porque tudo é tudo e nada é nada, liberdade e igualdade oficializadas ja mataram deus! Tudo se torna tão igual, tão livre e tão relativo... Assim como eu posso ridicularizar qualquer perfil de qualquer um, qualquer gosto, também podem faze-lo comigo. Deus esta morto, eu repito, e quem tem o direito de definir o que é maneiro? O que faltaria entao para que conseguissemos superar essa mediocre submissao às aparências orkutianas, facebookianas, sussudianas? Porque, se sao somente aparencias, e todas as mazelas do ser humano, a inveja, a cobiça, tudo isso do ruim e do pior estao ali, mesmo que escondidinhas atras dos computadores, em todos os seres humanos; qual seria entao o motivo pelo qual aceitariamos essa ditadura da aparencia e nos direcionariamos para o terraço pra nos tacarmos, ou pelo qual ficariamos, cristãmente, passivos, inuteis, a espera de um milagre? - invejando, sorrindo com cara de cu, remoendo em nos tudo o que nao somos. O motivo, acho que os nossos poetas brasileirissimos ja cansaram de elogiar: o motivo é a falta de amor declarado, falta de impulso jorrado, falta de fogo nas palavras sinceras quando trocamos qualquer ideia com nossos amigos. Ah, sim, declaremos amor aos nossos proximos, massageemos os egos, eu o seu, voce o meu, meu amigo, meu namorado, meu proximo; gritemos nossas vontades de rir, de chorar, pra que nao fique aquela inveja sonsa do olhar de lado e do falar nos ouvidos! Nossa! Como falta auto-estima a nossos provincianos brasileiros! Liberem seus amores, façam valer suas vidas, seus momentos, suas paixoes, suas amizades! Nao estou aqui dizendo pra amar incodicionalmente, eternamente, babacamente qualquer pessoa a sua volta, o que seria o mesmo que nao ter coragem de expressar suas paixões, talvez a mesma coisa que continuar oacato da mesma foram; mas estou aconselhando um abraço e um sorriso e um porre e um berro ao ver quem voce sente que ama! Uma animaçao, um gas que falta ao outro, a voce, mas que so se conquista se todos os que se amam o exercitarem, um com o outro - nao ha por que esperar por um milagre, nem o suicidio me parece ser o mais agradavel a se fazer na vida! Tente captar o melhor angulo da foto, que real ela sera, mas o autor, ah, como ele pode influenciar no foco, na intençao, na aparencia! Faça ela parecer o que você quer parecer!