sexta-feira, 31 de outubro de 2008

cinza com azul e rosa claro

A tristeza é gradativa e seu último estágio é a tristeza absoluta: quando não se consegue mais pensar, enumerar, cogitar possíveis motivos para que ela exista, pois tudo o que se figurava como causa dela já não se vislumbra como verdade. A tristeza, em seu ápice, onde estou, é a pura tristeza, somente ela, envolta nela, ruminante por ser ela, incompreensível, estanque. É nesse momento que eu abdico da poesia, que sempre me ajudou no livre pensamento, nas divagações, nas acertivas, nas conclusões. É na poesia que eu vejo mais fácil. Mas a prosa é quem me faz continuar, me faz discorrer. Somente na prosa acho que poderei expressar a grandeza e a continuidade etérea desse sentimento tão claro agora pra mim. Eu sou a tristeza como pessoa, já não choro mais, já não espero mais, já não mudo mais nada nem procuro nada para mim. Os tempos de lágrimas passaram e eu estou no ponto, no ponto de um suicídio que não virá porque não quero. É o ponto de encontro entre as impossibilidades e a realidade, um par perfeito para a propagação desse mal em mim. Minha cabeça não lateja, meus fluxos sanguíneos encontraram aonde parar e coagularam-me sorumbático. Não há droga no mundo mais depressora, me sinto minguado, muito mais que um bêbado. Mais que incompreensão, já passei dessa fase, mais que choro desesperado, mais que esperança em processo de corrosão. Sou tristeza e ponto.

acho que matei o amor

Me redimir é o que está em questão
e não sei nem se estou errado
nem se o antagonismo entre meus argumentos
e meus sentimentos
expressam a essência da minha miséria
Miséria minha
mais do que de quem me criou
mas o que eu quero é não me redimir
não é nem ter certeza de nada

Sem a confiança de ninguém
sem o diálogo
sem a ajuda necessária dos meus entes até-agora-não-sei-se-queridos
Minha pungência é verve gratuita
mas só é gratuita sob o referencial do momento
acúmulo de vida é que me fez gritar
acúmulo de discrepâncias me fez confundir

Vocês me fizeram confundir os meus erros
com os seus
as minhas mágoas com as suas incertezas
com as suas esperanças
e a minha esperança secou
junto com as lágrimas
e com o desejo de ficar tudo bem entre nós
me tornei perdido
que mesmo se eu tivesse o tão humilde libertador javitudo na Glória
morando sozinho, meu espacinho,
ainda seria tão infeliz
quanto sendo posseiro do meu quarto
com direito a idas e vindas da cozinha e da sala de televisão
Não quero formar meu próprio espetáculo
nem fazer parte do seu
quem dera se eu pudesse matar deus em tempos de sua tão clara ressurreição
quem dera se o dia raiasse e meus hormônios fervilhassem
por todo o meu corpo
em um felicidade inquestionável
quem dera se eu fosse uma estrela, de um sistema em que não tivesse vida inteligente

sem nenhum espectador

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

o mundo que não se entende

inexequível
é toda a vontade que se tem de ser
são todas os entendimentos necessários à mudança
fazer com que quem deve entender o queira
para, assim, conseguir dizer tudo e compartilhar
o inexprimível
todo o pensamento complexo
toda a sensação de isolamento
tudo o que você quer falar e que os outros têm que entender
Mesmo em destaque,
a vida é feita só de dois mais dois é quatro
e também de indivíduos orgulhosos - todos já sabem de suas vidas
irracíveis quanto a antagonismos, paradoxos, verdades
portanto
se fazer entender pra fazer acontecer,
se não há silogismo super-ábil nem falácia extra-forte,
sua dedução magnífica
em palavras soltas e sentimentalismos pulverizados
ilegítimos
se transformará
porque ninguém vai falar por você
fazer te entenderem
ninguém estará na sua bolha
sua melancolia é sua
e eles não estão dispostos a entender sua arte para o mundo mudar
o mundo só muda quando o mundo é mundo
e não quando é eu e você
porque eu e você somos a arte de ter razão
cada um a sua

E eu só queria que você saísse
parasse de falar
fosse embora
me deixasse em paz
e você não fez
só pra ter razão
que eu sei

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Nocauteie-me

Inconfessas,
as discrições mal-expressas
envitrinam-me:
malícias
carícias
carisma
Minha sociabilidade anciolítica avança
convexa,
oca,
e, nesse vazio que a infla,
jaz desequilíbrio,
desjeito psíquico,
químico
(genético?)
E eu sei o por quê.
A vida é assim.
Através de olhos de vidro,
sob opaco estampido.
Minha bolha, não entram.
Isolado acusticamente para a minha música.
Meu baixo e meu violão dão o tom,
e à melancolia do violino me inclino,
em vão.

Ouço vozes ao longe,
como um chamar de atenção surdo,
abafado,
do chão.

domingo, 26 de outubro de 2008

Polícia e Igreja

A polícia é como a igreja na idade média. Respalda e faz valer a vontade do livro das condutas. Travestem-se de portadoras e viabilizadoras da segurança - na sociedade cristã, segurança por moral e segurança de vida eterna, na sociedade contemporânea, garante a tranquilidade do consumo e a distância da morte tão voluptuosa quanto os hábitos dessa sociedade. A polícia se apresenta como portadora da ilusão em vida de um Estado Laico, que livraria-nos do estado de natureza hobbesiano em direção à liberdade, enquanto, na verdade, apenas garante o consumo e a propriedade, como a igreja garantia a legitimidade da nobreza e de seus poderes. São dois instrumentos de manutenção do estamento.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vestibular

Muitas pessoas reunidas, semblantes diferenciados, o mesmo propósito os fazia estar lá. Eu foco em uma pessoa, que não tem foco. Eu foco nessa pessoa que argumenta ferozmente sua vaguinha no topo da pirâmide social, nessa pessoa diminuída pela posição que assume nessa estrutura: naturalmente inferiorizada. Mas há o que sustente suas argumentações, sua insistência: papéis, papéis, contratos, termos, leis, livros, palavras, palavras, todos esses atestando a relatividade de tudo, e, por isso, a tal pessoa argumenta, persiste, esperançosa. Eles confirmam uma possibilidade, AS possibilidades, múltiplas, de realizar suas vontades, tão abafadas pelo que o seu superego lhe vive atestando, pelo que a material e histórica luta de classes lhe sinalizou a vida toda. A contratualização das relações humanas, sociais, de trabalho, a super-estrutura; a justiça escrita para que não haja submissão inquestionável, a palavra, a norma, as teorias e artes sobrepondo-se à voz moral implícita que os antigos fortes, os nobres, exerciam lá pela Idade Média. Sempre haverá a burguesia - essa pessoa é um burguês, pequeno, mas burguês -, como uma classe, que estará lá no alto, graças às leis, à propriedade, mas, também, os burgueses, os indivíduos burgueses, os pequenos burgueses, classe-média, que precisam esforçar-se para tornar-se o topo do topo, que para isso buscam conhecer as leis, as palavras, os livros, a história, apenas argumentam, galgam mérito, mérito retórico, politiqueiro, equacionado sobre as normas, que instrumentará a vitória do burguês fraco sobre a estrutura social estanque e injusta. É nas leis que ele se pauta, somente com leis se transforma num grande burguês e de lá não sai se soubé-las bem, tão bem quanto soube pra subir. Mil milhas e milhões de pessoas para baixo é o que essa pessoa espera ver do vértice superior dessa pirâmide. Sem o foco natural, ou de berço, é nos argumentos, nas palavras, que vislumbra o pódio, de onde nunca mais pretende descer.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O zumbido do silêncio

Minha vida é vazia
Minha vida é vazia
e sempre foi.
E eu, com todas as unhas,
nela finco-as e faço ranhuras,
agarro-a e arrasto mais linhas
é minha!
empano em palavras minha mudez nua
porque minha avalanche é crua.
O lençol entre os dedos apertado,
de punho cerrado, cerrado:
minha vida vazia
como sempre foi

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

inconscientemente

O seu fígado,
exaltava a repórter,
havia sido doado para uma menina pobre do ABC paulista,
enquanto a TV brilhava
e a morte sussurrava
toda a sua escatologia,
toda a sustentabilidade
e o valor social da reciclagem.
E os pensamentos tradicionais cristãos,
de respeito ao corpo
à integridade,
ao pós-morte,
inconscientes,
eriçavam meus pêlos,
davam frio na espinha,
faziam algo em mim estranhar esse fato
que se transmitia belo pela tal notícia,
muito embora, é claro
que também doaria.

Perdoava,
mas que se fizesse justiça,
era o que pedia a mãe da vítima.
Chorando compreensiva?
Eu entendia vingança
olho por olho, dente por dente
via bondade messiânica
que degladiava com a Babilônia Antiga.
Os dois, sentir eu também podia
e ainda criticava
depreciava
como um bom cidadão pós-copérnico
como digno herdeiro do marquês de Sade.

Aquilo
era só notícia.
Era só notícia?

moral da história:
há mandamentos tão intrínsecos
em nosso inconsciente
que são inegáveis
em nossas sensações -
mesmo que apercebidos.

Família, ê!

Pertenço a uma família peculiar e bem normal, acredito, nos tempos atuais. Pra começar, ela é freudianamente planejada, por pais psicanalisados e teoricamente resolvidos. Uma família burguesa de ideais comunistas; e, como tal, nela, a figura da mulher é livre, apesar de ainda assim ser inferiorizada na dinâmica empírica, mesmo que havendo um contrato social de igualdade: é bem subliminar - bem século XXI! E não havia como não ser idealmente comunista se não tivesse um passado burguês - no caso um presente que se pretende passado. Mas, como a família de que faço parte é um país de capitalismo em desenvolvimento e as remessas de capital ainda não são muitas, nem muito gordas, se transmite a idéia do socialismo, sob práticas capitalistas que possam inchar o bolo para depois reparti-lo. Só se faz isso através de atitudes que valorizam a família e hostilizando figuras que venham a representar algum tipo de subversão para a volta ao subdesenvolvimento: esses são amigos ditos más-influências. Normalmente também escolhem algum membro como exemplo por ter cometido práticas indevidas. Esse aí, eu acho que sou eu; não sou exemplo para ninguém na família. O nosso regime socialista/capitalista, a la China, Venezuela, Bolívia, entende que é de suma importância o desenvolvimento da ciência e da tecnologia interna suficientes para a implantação do comunismo, para que se façam as mudanças drásticas necessárias, a fim de que atinjamos a paz e o fim da história. Ou, para o meu pai, grande líder da nação-família, o fim da sua história em paz. Por isso é importante o estudo, uma boa faculdade e os conhecimentos mais acertados, que trarão mais dinheiro, que permitirão, através das conquistas burguesas, estruturar uma vida de luxos para todos os seus iguais, sua família: todos os filhos devem ser abastados. O comunismo para essa família é a libertação que o capital proporciona - para essa família e, ouso afirmar, para Marx também, que entende a necessidade do desenvolvimento do capitalismo. A minha família é pautada nos pensamentos freudianos de estrutura familiar - papai, mamãe e dois filhos, em que os pais se dedicam, acima de tudo, aos filhos; e todos se devem amar. Por outro lado, se baseia nos ideais marxistas de liberdade coletiva, de que todos devem ter as mesmas concepções - olha o amor ideal aí, gente! -, e quem não tem, paredão. Para servir de exemplo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

o córtex frontal e suas sinapses errantes

Quem nunca cavucou a memória, o passado e estabeleceu sentidos entre as relações e com o todo acontecido, não é ninguém senão uma folha em branco. Uma folha em branco, pois refletem todas as luzes, não são folhas escritas, não absorvem nas superfícies das letras, preta, todas as luzes, nem que somente no espaço onde foram escritas. É muito importante, ao se ser uma folha escrita, saber que só se sabe tudo nas superfícies preenchidas pelas letras: é uma questão de progressão geométrica, em que quanto mais se sabe, mais se tem a saber.

ps sobre como acho que me comportei nesse texto: as áreas do conhecimento se entrelaçam ou é só o período vestibuleiro que deixa as pessoas assim?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

tanto para nada, tanto do nada e tanto por nada

enérgicas
estéticas
imagéticas,
produzem
réplicas
geométricas -
antiéticas!
discutem
métricas
herméticas,
sintéticas
que concluem
idéias
hipotéticas,
maquiavélicas -

o mais novo,
é meu!

sábado, 11 de outubro de 2008

Privada do banheiro dos filhos, entupida

São as minhas banhas
de fato são elas
e o sexo também
nunca completamente
nunca liberta-mente
nunca toque quente

Mas não
não é só isso
me recuso a acreditar que tudo esteja sendo por causa disso.
Talvez uma infância insalubre
mal-temperada
numa família freudianamente planejada
pai e mãe casados, dois filhos
unidos pelo amor que disseram: nós temos
e assim desarrumada

Alguma notas baixas me deixaram no fundo do poço:
mais uma causa ou mais uma conseqüência?

Então tá;
é tudo lindo sob outro ponto de vista -
sinapses minhas negam,
outras balanceiam
e sintetizam, ficando em questionar:
é?
O céu, eu vejo, está azul
em contraste com o verde da mata urbana do Rio
e a praia está lá
e algumas pessoas usam óculos escuros e fazem esportes por aí
enquanto outras se vestem daquilo que não é mais
e se divertem, querendo tavernas, querendo esbórnias, bossa
criação de uma ilusão nostálgica, plástica, falseada, pós-fordista
mata urbana?
enrolaram o meu arcadismo!

Seria química a minha causa de todas as conseqüências?
metabolismo e drogas e sedentarismo
uma tríade e tanto

Somos todos crianças
curiosos
inquietos
prontos para entubar nossos desejos por qualquer estímulo externo
que nos obrigue
como se não conseguíssemos dizer:
assim, assim, assado, cozido e frito, eu quero.
somos tão crianças que não sabemos
as palavras que dirão o que queremos
ou as crianças são o mesmo que nós
e acabou que somos todos a mesma coisa
impedidos por nós mesmo de tocar na tomada porque dá choque
e a sua mãe lhe disse o preço da curiosidade

se disse...
da esperança,
do amor que nós temos!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

reinsidente lei da vida ou acende um cigarro porque acabou

De repente se acaba
toda a vontade escrachada
o furor saliente,
a lascívia e conseqüentemente
foge a resposta esperada
a certeza do nada
sem saber mais o que se tente.

Quanto ao medo surgido
emergido
pulsado
provindo do fim do motivo,
se esgueira no mundo,
se finge de surdo
mas logo faz um amigo,
- vou escrever um livro!
e se acomoda encantado
porque pode esperar descansado
pelo próximo chamado afobado
e intempestivo do instinto.

in vino veritas

Se o dia corre
como a semana passa
e o velho morre
tudo perde a graça
o tempo se corrói
fico assim sem massa
encefálica que prove
que eu não tenho asas
que eu não tô de porre

make up leaving

Let's drink some sad pain
instead
of living bored way
forehead
spill off some mistakes
get where?
dream up some feelings
in head

There's no life,
I'm turning inside,
I'm so tired.
I show my sin
like that
to live death within.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Se houvesse mais sobre o que escrever que não fosse já escrito, que já não tivesse sido filmado, que já não tivesse sido sentido e em conseqüência estudado... Poderia escrever um livro. A condição humana, é ela, a grande pedra no sapato da contemporaneidade, a barreira que precisamos quebrar para alcançar o que tantos ocultistas e espiritualistas crentes esperam encontrar em breve, em vão.
A vacuidade do ser já me cansa, já não é mais tão motivadora nem mais tão linda. A vacuidade do ser sou eu, o querer não é mais poder, e eu estou cansado. Dar a volta por cima de quem? Dar a volta por cima é contra as leis da gravidade, e a gravidade parece estar pesando mais do que nunca, afinal, depois de tantas máquinas, eu acredito que o peso da Terra tenha aumentado drasticamente. O produto final, o ideal, a eficiência máxima, a genialidade não encontrada, o poeta do nosso tempo. Lapidar mais é doloroso e utopicamente gratificante. Quando nós vamos conseguir dizer chega?