terça-feira, 30 de dezembro de 2008

quantas mais verdades relatadas,
mais verdades relatadas
e mais verdades relatadas.
Quantas mais verdades relatadas?
mais verdades relatadas
e mais verdades relatadas.
todos relatam verdades
que fazem relatar mais verdades
para expor verdades
que enxergam como verdades
e dizem aos outros como verdades
e mais e mais verdades enormes e complexas
incompreensíveis no seu todo
o que faz de todos ignorantes de verdades
alienados da maior parte das verdades
e ainda me vem um crente
e me diz sua verdade
como a verdade toda
Jesus é a verdade
e ele está te chamando
porque você pergunta a verdade
além das verdades
das verdades
uma proposta tola
de uma verdade só
um verdadão
pacotão completo
com lugarzinho verdadeiro no céu
e quanto mais verdades
mais verdades
e mais verdades...
tenho pena do meu bisneto...

domingo, 21 de dezembro de 2008

especulando sobre o pior

mais tarde,
pensando no alarde
chegando:
tom grave bombando -
mais tarde,
chegando no alarde,
pensando.
tom grave chegando,
tom grave pensando:
alarde mais tarde chegando bombando,
pensando.
nariz entupido, macaco
mobilidade, deglutição, cagar, macaco
procurar lugares melhores, posições mais confortáveis, arranjar algumas animosidades, macaco
tem pai e mãe, macaco
faz parte de uma sociedade com algumas hierarquias e sofre quando é inferiorizado, macaco
precisa se distrair e não ficar pensando em sobreviver o tempo todo, macaco
macaquinho

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

o pêndulo é marcado
lascívia
mais calmo
lascívia
mais calmo
lascívia
mais calmo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

desesperado não vou à banca

depois do trabalho feito
da certeza construída
se apercebe o mal-feito:
o que a seqüela me trouxe
foi um esquecimento mortal para a sua própria propagação:
eu não tinha seda
tudo preparado
tabaco queimado
hash dichavado
que esperança maldosa
ou descuido
gavetas reviradas
papéis remexidos,
procurados
e uma luz -
de lanterna:
há colomys esquecidas de propósito na gaveta com chave
pras últimas saídas.
me preparo um alívio inferiorizado

houve uma denúncia

A cena da loucura é preocupante. Porque louco que é louco denuncia. Mas denuncia mitologicamente, como disse um louco que conheço. Com seus delírios de grandeza, nos confronta com a idéia de que nós temos que fazer alguma coisa, de que talvez não sejamos sóbrios, de que talvez sejamos uns apáticos pós-modernos de merda. Mas ele era o louco e todos sabiam e todos agiam como se ele realmente fosse e nós, os não loucos não éramos. Tratamos de encarar tudo o que dissesse como os maiores absurdos já ditos. Não entendíamos a mitologia do esquizofrênico. Mandamos ele descansar, arrumar os pensamentos que lhe fugiam e ele dormiu. O nosso estado de loucura era o de controlar nossos ímpetos: eu queria desbravar o mundo para ajudá-lo ou de repente até compreendê-lo em seu delírio e ir além em minha percepção. Ele não parava de dizer que estava tudo acontecendo, que nós tínhamos que perceber, que não era possível que não estivéssemos entendendo. Estávamos todos, mas o inconsciente coletivo inconscientemente se escondia e brilhava agora o senso de diferenciação pessoal - talvez por instinto. Ele estava ligado a outra coisa que não em si, ele estava ligado no que todos nós estamos vivendo, sofrendo, ruindo. Chamamos o seu responsável e ficou por isso mesmo, conselho de uma psiquiatra. O louco, por ser louco, que denunciou, eu só estou prestando o meu depoimento refletido.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Sei que há um limite
que não se atravessa
que não perdura um olhar
que divide o que é do que há.

Há um rompante represado
um dique super-estruturado
estamento estamentado
e o opaco das coisas em quem não é o que tem.

uma voz de tragado

convectivos afagos

pralguns, não dormi bem
pra você, sei que sabe também

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

visão aristotélica para uma sensação platônica

passividade em cena
quem disse que é preciso agir pra ser quem você é?
então me pergunto quem sou
e sempre parado, reflexivo,
me torno o pior dos platônicos
o que busca conhecer-se a si mesmo
no mundo das idéias
minha metafísica engole qualquer vestígio de intenção de realidade
mas a dialética do materialismo
quer quebrar super-estruturas em mim
quer acabar com essa idéia de mundo das idéias
quer agir
passo a passo
antítese por antítese
porque morremos todos
porque real é real
porque pasmar e ver o tempo passar, achando que pensa sobre o mundo todo,
não é tão eterno quanto aparenta essa imaterialidade do pensamento
conhece-te, de fato, de verdade, na matéria, a ti mesmo
lembremos todos que a existência precede a essência

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

moderno contemporâneo em crise

momento de crise complicada
momento de crise da modernidade
e eu tenho um palpite
um que todo mundo sabe
que desde que a modernidade entrou
ela entrou em crise
porque valorizar o novo
é negar o velho
é negar o agora
é pedir futuro
mas eu me pego na crise
e tento compreender
se essa crise é só mais uma desconstrução modernade valores contemporâneos
ou se seria a grande desconstrução conemporânea, por ser agora, dos valores modernos?
sim, pode ser tanto uma quanto outra
essa crise pode ser só mais um surto de crise de identidade da modernidade, buscando um novo qualquer - pós-modernos, que pretensão,
ou essa crise pode ser um divisor de águas, um novo que finda de vez com o velho paradigma de busca do novo - pós-modernos, com orgulho e convicção
do jeito que a modernidade se tradicionaliza
pode ser que nem o futuro nos diga!
a perplexidade com que a noite nos leva a crer em solidões miseráveis e na falsa individualização dos homens na cultura de massas é dura pra quem é de um país em desenvolvimento de formação católica e que ainda carrega sobrenome de cristão-novo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A cena é um jovem, gordinho, sentado numa cadeira de braço que deixa a massa lipídica dele meio de fora, ele encosta as costas na cadeira e sente que seus pneus estão pra fora. Ele está de frente para uma mesa, onde escreve num lap top, sob a luza amarela do abajur que está sobre a mesa. A parede do quarto é amarela e ele está de cueca samba-canção e uma camisa branca meio fudida. É noite pelo visto, o abajur está aceso e o silêncio toma conta da casa se não fosse pelo barulho dos carros passando na rua. Seu par de chinelos ali por perto. Um monte de tralha por cima da mesa atrapalha-o a esclarecer-se sobre a vida.
Eu entrei na caverna, me perdi no caminho, já tinha saído mas só não sabia o que tinha feito pra chegar lá. Agora eu sei. Agora eu sei qual foi o produto, em que fileira e em que coluna estava o produto que eu tirei da prateleira antes dela desmoronar sobre mim. E agora, eu espero, não vou mais me esquecer dos caminhos que tomar, pra poder sair, pra poder dizer meu endereço, pra que possam me visitar também.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

las cositas más

que beleza
ir
voltar
pra consumir
pra relaxar
pra existir
sem se cansar.
mas trabalhar
pra consumir
e relaxar
pra descansar
de ir e vir
já vai cansar
esse viver
de lá pra cá
daqui pra ali
pra trabalhar
pra que existir
não vá cansar
e aí cansou
e aí é seu
um caixão macio
y muchas otras cositas más

Ê, beleza!

Um absurdo!
Tenho algo a declarar contra essa sociedade. Que piada a sociedade burguesa faz com a velhice. Se por um lado busca-se, através de campanhas, enaltecer os valores que os mais velhos possivelmente têm para o mundo, trazendo benfeitorias quase místicas ao considerarmos a sabedoria e a experiência de vida deles, inutilizamos totalmente a sua participação fática numa sociedade extremamente racionalizada, prática, metódica e que busca resultados palpáveis. O que essas campanhas tentam exaltar é a beleza romântica que há na velhice, no passado, e isso, na prática, não adianta de nada para os bolsos do Estado e dos burgueses. Os velhos não trabalham mais, não participam da população economicamente ativa. A beleza platônica da velhice, que já é uma merda em si, pois se morre depois dela, não se encaixa com as necessidades extremamente aristotélicas da sociedade materialista do capital. E ainda mais: tentam preservar os velhos, como múmias, através da medicina, que se presta às vontades de enriquecimento dos acionistas dos planos de saúde, das indústrias farmacêuticas e todo o mercado geriátrico. O resultado é encontrarmos velhos em asilos, sendo tratados como bebês babões, só que sem o potencial produtivo da criança - por isso ouve-se a velha máxima de que temos que investir em educação e blábláblá, crianças produzirão no futuro, velho já vai morrer. O que nos restou dos valores dos heróis nacionais que os nossos romantismos enaltecem foi o nosso capricho de querer empalhar nossos velhotes para desencargo da consciência com o valor cristão da vida - queremos acertar as contas com Deus, não pecar - motivados pelo setor produtivo que se beneficia dessa mumificação nos bombando de propagandas malditas que exaltam o bem-estar, a saúde e sorrisos branquíssimos de senhores aparentemente de 70 anos pra cima - até parece que não têm tártaro... se o plano ainda cobrisse tratamento odontológico de qualidade... E ainda reclamam de como as pessoas tratam seus velhinhos da família!

a relatividade da beira e do sussudio

quando você se afasta da beira,
porque você conseguiu de alguma forma passear pela terra firme,
você se afasta do sussudio
e não consegue mais vê-lo
você só consegue ver a beira
e a beira é a sua representação do sussudio
e você não se lembra mais dele direito
só da beira
porque você consegue ver
e a beira se torna um sussudio pra você
pra quem não está na beira, a beira é o sussudio
e eles ficam meio na beira
por beirar a beira do sussudio
mas os que estão de fato na beira do sussudio
ao olhar pros que estão beirando a beira
sabem que o sussudio deles não é verdadeiro
e que os seus sussudios que são os verdadeiros
mas como quem beira a beira não se lembra do sussudio,
os seus sussudios, sensivelmente, poderiam ser iguais?
ou pelo menos equiparáveis graças à teoria da relatividade?
não, não são iguais e todos sabem que não são
todos sabem que a distância do sussudio é fundamental para o sossego
mas não há como não saber que o sussuio está lá, mesmo que distante
e os que estão à beira de beirar, beirando?
aplique a mesma fórmula, oras!