terça-feira, 27 de novembro de 2007

Censuras e aptidões!

Meus pensamentos: ja acreditei que poderiam transfigurar-se, sem nenhum tipo de filtragem, em palavras. Não é bem assim que a banda toca, argumentei-me, ao ver o que escrevia e analisando o que pensava. O pensamento é bem mais vasto que essas simples combinações de letras.
Muitas coisas podem filtrar os pensamentos. A censura é uma. E uma muito corriqueira. Mesmo que saiba que ninguém vá ler o que escrevo, me recuso a escrever. Poderia sair uma coisa incensurada com um teor de genialidade extremo, e que, por isso, seria obrigado a mostrá-la, publicá-la de alguma forma. Tudo o que escrevo deve, no meu entendimento, ser bom de se ler. E se não me censurar mais, terei mais coisas potencialmente geniais, até porque seriam bem mais sinceras! Todavia, fariam parte do leque de atos e desejos muito embaraçosos. Posso dizer que zelo por minha reputação!
Outro mecanismo, este de impossível controle ou reversão, é a minha incapacidade de tornar legível e inteligível minhas idéias mais metafísicas. Sinto que não tenho o traquejo necessário, a técnica de metáforas perfeitas, não consigo tornar palpável o que cogito mais filosoficamente. E sei, ou pelo menos assim as enxergo, que são idéias realmente novas, revolucionárias, diferentes das de grandes filósofos já consagrados. Contudo, o que me pega mesmo é a minha preguiça. Tenho essa vontade irritante de ficar sem fazer nada reclamando do nada que tenho para fazer, sabendo que poderia estar lendo mais, escrevendo mais, treinando mais a minha maneira de filosofar literariamente. Eu sou mesmo é um descansado, folgado, preguiçoso. E o pior disso é eu saber que poderia, se me dedicasse a fundo, esquecesse tudo o que há na terra, escrever textos maravilhosos, teorias nunca antes pensadas.
Mas a realidade não é essa! Não estou apto, pelo menos por enquanto, a escrever filosofia, nem muito menos a me dedicar à prática da escrita filosófica. Nem também irei, por enquanto, conseguir falar tudo o que penso. E é nisso aqui que vou ficar, até eu tomar jeito e estudar mais, trabalhar com a meta de me desinibir por completo - por completo, impossível -, ou até eu aprender com o tempo, assim brincando de palavras, a escrever tudo o que quero que (muito mais provavelmente, é o que será feito).

sábado, 24 de novembro de 2007

Sente a vibe

Penso que talvez fosse bom se eu nada tivesse para dar certo, se, com certeza, tudo fosse acabar na merda mesmo, se não houvesse possibilidade de ficar bem em nenhum aspecto. Poderia, como diz a comunidade do Orkut (Se nada der certo viro Hippie), virar hippie, sair dessa babilônia, que é muito mais do que estar situado numa cidade cheia de prédios. Sairia da babilônia que há em mim, sairia de todas as maravilhas e possibilidades que a babilônia oferece. Mas o problema não está mais na babilônia oferecer, está em que eu aceito todas as propagandas como verdadeiras. O pobrema é meu, a vida é minha! E essa é a grande merda.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

ética pessoal

Passado um fato ruim, ele não passa de mais uma lembrança, não tem ares de realidade, tem ares de um sonho pesado, de um pensamento desagradável, cuja insurreição na mente não pode ser impedida. Fica só na memória, pois o mundo continua e só você se lembra, o mundo não. Aliás, ele nem chegou a saber, que olhos ele tem sobre nós?

taaaan tan

A dúvida contamina,
sem ter perspectiva.
Nem melhor,
nem pior.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

say cheese

Fotos: a eterna nostalgia em forma de imagem. Nostalgia experimentada e nostalgia a experimentar, a nostalgia já está lá, cravada. Somente depois que ja estamos ha bastante tempo com elas em mãos que vemos, que percebemos, a nostalgia que se reteve por lá. Bastou conhecer melhor a imagem e seus contextos para que a nostalgia se fizesse perceber.

assoviando por aí

Larari, larará

Quanto maior o silêncio
mais se há o que falar.

Percebo: é intenso
e por isso desvio o olhar.

Estou bem mais propenso
a calar-me, pra variar.

Cansei!

Hoje, pela primeira vez, apesar de ja ter pensado ter entendido, entendi perfeitamente o que se passa na mente de um suicida. Não que eu vá me matar, cortar meus pulsos ou me atirar da janela: compreendo toda a insatisfação, toda a impaciência, todo o cansaço, todo o não-agüento-mais-viver que quem está prestes a por fim na própria vida sente. É algo como já saber, quase que materialmente, tudo o que irá se suceder em sua vida e concluir que essas coisas não são lá as melhores do mundo, na verdade se parecem muito exaustivas, que já me sinto morto só de imaginar todas as estapas a percorrer.

Consigo ver o meu ingresso na faculdade, meus relacionamentos, minhas brigas familiares, minhas reconciliações progressivas com os familiares que antes briguei, a minha batalha no mercado de trabalho, o meu provável alto nível de stress por não conseguir fazer tudo o que quis conciliando com o que mais queria, que era ter dinheiro. Imagino minhas crises de personalidade ao longo da vida, minhas idas à analista para dizê-la que estou passando pelo processa massacrante e finito que se chama vida.

Vejo minhas invejas, meus amores, minhas admirações, frustrações, solidões, não-solidões, desafios, perseguições, possíveis transtornos psíquicos, viagens, carros, rotinas, apartamento, mae morreu, pai morreu, fiquei sozinho de vez, e ainda ter, como uma imposição ética e moral, por consguinte, que aproveitar ao máximo, pois a vida é única.

Estou realmente cansado de todas essas obrigações, obrigação de ser feliz, de mostrar-se feliz, obrigação de estar dentro de um dos padrões de normalidades existentes. Não agüento mais ser obrigado a compreender, a ponderar, a mudar de opinião, a ter que pensar, no próximo, em mim, em tudo, qualquer coisinha mínima que seja., porque tudo parece se influenciar reciprocamente.

Tudo isso passa pela minha mente. Mas também não tenho coragem de me matar, justamente por pensar em mim, nos outros, na única possibilidade de existência. E ela acaba... Queria, ao menos, cansar-me menos dela.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O de sempre

De lá pra cá,
letra vai, letra vem.
Ímpeto e força não há;
rimo com leve desdém.
Sobre o que, não deves te interessar,
pois não diz respeito a ninguém.
Só diz respeito, quiçá,
ao meu tédio que mando pro além!

sábado, 17 de novembro de 2007

Álcool

Dois pra lá, mais dois pra cá
anda o bêbado sinuoso,
que, apesar de se sentir glorioso,
de manhã certamente nao levantará.

Bebe, bebe, vagabundo
já que só vagas por este mundo.
Passa, passa, tempo imundo,
me leve para o Eu mais profundo.

Te procuras mesmo na bebida?
Vejo que não sabes o que faz.
Se queres ter a vida aprendida
sobriedade terá de ser o que te apraz.

Mas quem disse que quero a mim mesmo?
Quero é não estar reagindo.
Por isso vou comendo um torresmo
e minha cachaça engolindo!

Sobrevivência:

2008 macaquinho quer maconha

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Seja

De tanto que me sufocaram gritando desesperados "SEJA, FDP!!!", acabei desejando desesperadamente ser, para sair do sufoco.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Cagando prá vida

Cá estou, pela segunda vez no dia, num momento de exposição, refletindo. Me situo desta vez sentado ao vaso, pensando – olha a maluquice – que talvez tenha passado a precisar tomar banho e cagar por essas ações me proporcionarem momentos da mais fina e absoluta reflexão metafísica. E não por uma simples necessidade metabólica.

“Foi todo um processo até o que era uma simples cagada tornar-se conseqüência de uma necessidade maior de refletir, quando antes era exatamente o contrário.” assim eu me disse. “Primeiro, quando era criança, apenas ia cagar. Era natural. Era fisiológico. Era... (hormonal?). Enfim, o fato é que não me lembro de devanear sentado ao vaso sanitário quando criança, aliás, pouco me lembro de ter devaneado sobre qualquer coisa quando criança. O tempo passou devagarzinho... Sem questionar-se, a vida não parece tão efêmera. Mas, mesmo assim, o tempo passou. E então, passei a ter que escolher por mim algumas coisas que ainda não julgava tão sérias, ou melhor, nem sabia o significado real de seriedade, não podia perceber situações dignas de se tomar por sérias. Agia como criança ainda, sem pensar. E bati com a cara no poste – estou olhando, nesse instante, para uma propaganda de alerta às escolhas da adolescência, atrás da Megazine, e tem um super-herói, que na verdade se fode, não é tão super assim, a imagem mostra ele batendo a cara no poste e ele é o Capitão Caranoposte. E a frase sobre a imagem: ‘se liga! Você é jovem mas não é indestrutível! MEGAZINE!’ E, opa, mais uma advertência, senhores adolescentes, ali também está escrito: ‘se beber, não dirija!’. A propaganda e a sua arte de ridicularizar! É quase poético, eu admito.

Então, de tanto bater a cara no poste, ou melhor, de tantos informativos e informantes de todas as espécies, pai, mãe, irmão, professor, amigo, outdoor, vinheta, MTV, Palestra Sobre Qualquer Merda, me dizendo para pensar sobre escolhas, passei a ver muitas escolhas! Inclusive onde ela não jaziam. Até bati já cara no poste algumas vezes, mas nunca nada foi tão violento a ponto de me fazer pesar as escolhas. A massificação desses malditos informantes e informativos, por suas vezes, me fizeram pesar. Tudo passou a ser pensado. Pensava sempre sobre as escolhas e não queria mais nelas pensar. Passava todo o meu tempo decidindo: MTV ou MultiShow, CNN ou BBC, Pepsi ou Coca-cola, Cesar Maia ou Garotinho, PT ou PSDB, ou PDT, ou PSTU? Lula ou Serra, ou Heloísa Helena, O Globo ou Jornal do Brasil, Ipanema ou Copacabana, China ou EUA, ou Chávez, Getúlio ou Figueiredo ou Prestes ou Lacerda ou Collor ou Dom PedroII, carne ou frango, azul ou vermelho, exatas ou humanas, direito ou comunicação, praia ou serra, Volkswagen ou Fiat, Brastemp ou Consul... E o tempo pasou a passar bem mais rápido, quase não podia percebê-lo, não me parecia mais que vivia o que tinha que viver, vivia pensando em decisões futuras, de futuro próximo ou distante. Decidia se ia escolher ficar escolhendo tudo para sempre, ou se parava de escolher nessa última escolha. Cogitava: os prós e os contras... que indecisão! Enquanto isso, escolhia, visto que ainda não tinha decidido por parar de escolher, todas as outras escolhas que já estavam-me embutidas e que tomavam meu tempo do dia, junto com a questão principal: continuar ou não escolhendo.

Dessa forma, comecei a perceber as minhas cagadas, assim como os meus banhos. Neles eu não via o mundo, não me permitia censurar, estava nu nas duas ocasiões, me sentia à vontade para estar nu, não percebia a moral nem a ética com o mundo (não via o mundo mesmo), logo não era preciso mais escolher: usava as habilidades racionais desenvolvidas pela/para a neurose das escolhas – o que já me era embutido e não podia controlar – para pensar nos meus momentos amorais. Sem a moral reinando, pensava como se não fosse um indivíduo, já que este é o ser que tem liberdade de escolha – pfffffff... – e ali eu nem sequer pensava em escolher. Pensava fora dos medos e das nóias, fora das sensações, não as tinha por não haver o que me controlasse; pensava fora de mim. E me via, como numa perspectiva de 3a pessoa, pensando com cérebro de quem cogitava.

E assim, quando não estava mais no banheiro, sentia incômodos de tanto pensar, que refletiam na minha fisiologia! Todos sabem que o psicológico influencia! Quando cansava inconscientemente de escolher, sentia vontade de cagar. Sendo inconsciente, a consciência ficava livre deste pensamento, ir ou não ir cagar para pensar? Apenas ia cagar!

E, de tanto exercitar a 3a pessoa – todos devem achar que eu cago o dia todo, depois dessa ‘de tanto exercitar’ –, analisei em 3a pessoa a 3a pessoa através da qual eu me observava, e vi que cagava para ter essa 3a pessoa presente.
Era a minha cagada, coloquialmente falando, para a vida. E era sempre uma das melhores cagadas!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

"Imaginamos a história verdadeira por dentro das palavras e, para fazê-lo, tomamos o lugar do personagem da história, fingindo que podemos compreendê-lo porque compreendemos a nós mesmos. Isso é um embuste. Existimos para nós mesmos, talvez, e às vezes chegamos até a ter um vislumbre de quem somos realmente, mas no final nunca conseguimos ter certeza e, à medida que nossas vidas se desenrolam, tornamo-nos cada vez mais opacos para nós mesmos, cada vez mais conscientes de nossa própria incoerência. Ninguém pode cruzar a fronteira que separa uma pessoa da outra - pela simples razão de que ninguém pode ter acesso a si mesmo."

Paul Auster - "A Trilogia de Nova York", "O Quarto fechado"

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ridícula Nobre Causa

Vim aqui hoje por uma causa muito nobre. Trar-lhes-ei uma elucidação das tão preciosas, calamitosas e ridicularizantes “reflexões do banho”. Fica-se parado, no banho – imagina a cena! – com xampu na cabeça, recostado sobre o Box, acariciando o couro cabeludo, pensando sobre os pensamentos de sua mãe sobre as coisas que faz, sobre o quanto você terá que fazer para alcançar determinados “X”, o quão qualquer coisa que qualquer coisa pode ser. Fica-se pensando, pelado, com uma agüinha caindo sobre si, num momento em que deveríamos apenas nos limpar. É muito mais do que isso, é um momento de reflexão, assim como o momento de evacuação. Também como uma viagem de ônibus do trabalho, ou da escola, ou da faculdade ao lar. Mas a do banho tem o seu chic-chic-bum. Tem o seu quê de ridículo. Pois é um momento em que se poderia estar muito exposto, mas não está, pois se está sozinho. Mas, como não é de todo incomum, pelo contrário, é mais comum do que a maioria dos pensamentos do mundo, começa-se a se observar por 3a pessoa, como se se pudesse ver. É aí que está todo o ridículo. Você pensa: “que coisa de louco, ficar aqui parado, com xampu na cabeça, com uma aguinha corrente caindo sobre meu corpo, pensando sobre várias coisas que muitos não devem pensar, e ainda mais, estou pelado, numa caixinha de concreto, fazendo algo que muitos devem estar fazendo, me sentindo único numa condição demasiadamente comum a muita gente.” É, tudo na vida tem o seu quê ridículo hoje em dia, é só você querer!

domingo, 11 de novembro de 2007

Back to God-save-us

Volta a menina carioca do seu intercâmbio nos Estado Unidos. Lá, tudo tão clean, tudo tão bright, tudo tão awesome, tudo tão sintonizado, globalizado, organizado, comercializável, comprável, creditável, debitável, manipulável, manipulado, arquitetado, planejado, tudo tão americanizado!
Ela volta, ainda no aeroporto, tudo ainda parece bom, mas ela logo para na alfandega. Tinha comprado perfumes e calcinhas e cremes e eletronicos-em-geral e soluções-de-problemas-cotidianos demais. Ela, que se sentia tão americana, achou um absurdo um brasileiro, mesmo que em nome da lei brasileira, país de sua nacionalidade, quer queira quer não, tentar retirar dela o que havia comprado, argumentou, fechou a cara, mas não teve jeito, "era Brasil", pensou. Ficou tudo para a mulher e as filhas do policial mesmo. Seguiu em frente, né, já que não havia outro modo a não ser ver como estava o tão indomável Rio de Janeiro. Via a favela, empinava o nariz, via a sujeira da rua, empinava o nariz, via a rua mal asfaltada em frente a sua casa, empinava o nariz, via seus vizinhos, todos eles uns latinos, mal vestidos, oleosos, morrendo de calor nessa cidade quente, cumprimentando o porteiro, mais feio ainda, mais suado ainda.
Era Rio de Janeiro, e por mais que morasse na Zona Sul, era Rio de Janeiro. As ruas nao cheiravam, fediam, a favela destacava-se na paisagem, a pobreza parecia brotar dos boeiros, quando não era esgoto que brotava. Mas encontrou logo seus amigos, quem não via fazia tempo. Reclamou de tudo mas dormiu. E no dia seguinte acordou, sentia-se bem, levemente bem. Confortada, à vontade, não mais empinava tanto o nariz, só para o digno de se empinar. Já pensava novamente, por agum motivo qualquer, que era brasileira. O Rio era sujo, subdesenvolvido, feio, pobre, desorganizado, quente, suado, oleoso, menosprezável, mas até que ela gostava dele. Afinal, era o único país que podia ter passaporte, era o unico lugar em que se encaixava tal como era, apesar de não querer. Essa é a alma do brasileiro!

Só Merda

Falar merda, graças a Deus, é um dom restrito a poucos. É um dom pois permite a quem fala - a merda - discursar ininterruptamente sobre qualquer assunto e ele, por mais que importantissimo, passara a ser uma merda qualquer que se esteja falando. Você, que fala merda, pode tratar qualquer seriedade, qualquer preocupação ou ocupação como a-mais-digna-de-gargalhadas-compulsivas merda.

Mas aquele que traz a merda para o assunto se diferencia daquele que torna merda o assunto, embora muitas vezes seja a mesma pessoa que o faz. É tudo uma questão de know-how. Basta esperar o momento propício, aquele em que o assunto está se tornando sério, que apenas alguns conseguem acompanhar. É aí que entra o Senhor da Merda. Ridiculariza o assunto, dando a entonação necessaria, avacalhando qualquer vestigio de chatice. Falar merda é tirar do sério. Tirar o assunto do sério, daquele peso de avaliar importâncias. Tirar do sério aquele que falava, que ficará extremamente irritado, proporcionando, assim, mais observações merdáceas sobre a falta de fair-play do indivíduo metido a sério.

Se o assunto não há, a merda vem de fora. Em geral. Vem a merda sobre o garçom, sobre a velha do lado, sobre os hábitos alimentares do gordo da frente, sobre o jeito inaceitavelmente engraçado da bicha-louca sentada naquela mesa, sobre a dança exótica que as quarentonas cismam em continuar fazendo, mesmo sabendo que são quarentonas.

Enfim, minha gente, a merda está no meio de nós. E se me dizem: "Pare de tocar na merda: quanto mais o faz, mais ela fede". Acho que esse que me fala uma barbaridade dessas não sabe o que diz, senão uma grande seriedade chata. Mexamos, e cada vez mais, nas merdas que jazem neste mundo. Se elas fedem, lembramos do fedor que elas exalam. E fedores, assim como qualquer coisa inusitada, nos prende a atenção, e reparamos nas excentricidades do fedor. E tudo o que é excêntrico, é fora do padrão: torna-se ridículo. E assim rimos de alguma coisa. É genial quem consegue jogar a merda de tudo no ventilador.

Mas pera lá! Se todos mexerem nas merdas do mundo, ou seja, se todos forem capazes de trazer à tona a merda que existe infiltrada na essência de tudo, a merda tornar-se-á o padrão. A merda não será mais o excêntrico, logo não mais o ridículo!
A natureza, entretanto, é sábia: são poucos os que sabem tornar merda, para, assim, ela continua propícia.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Persuating

I don't want to be here to prove anything to anybody, but it's more than I can take, it's just like something I was born with. I feel forced to speak out my point of view, even if I don't have a concrete point of view about the subject. It's just about making myself there. It's just about yelling for attention, but not any kind of attention, I talk about the attention I want people to have on me. I want them to listen pretty much interested in the things I like contemplate. I want to talk about my things, no matter what, you can be talking about football and, if I am one of the participants of the conversation, you can be sure, I'll try to put my ideas in the situation, talk about what I talk, transvesting it with the language of the talking. I love to have persuasion skills.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Estratégia

Não quis,
fiz.

Se tentei,
não pretendia,
dormia,
não me envolvia,
apenas tinha sido,
tão somente tentado,
e não importava
se tinha conseguido.

Nunca pensei em me envolver.
Nunca tentei me envolver.
Sempre preferi nao me envolver.
Mas não pude mais não me envolver.

Achei melhor não pagar pra ver,
achei melhor seguir o mesmo rumo,
conseguir finalmente prumo
pra articular comigo mesmo
capacidades futuras,
por enquanto obscuras
que precisam de tempo,
sim, tempo
para sentirem-se seguras
e virem para cá,
pro lado de fora,
pro lado do povo,
pro lado da vida
e não o da não-ela.

Aí, sim!
Direi que fiz
aquilo que sempre quis!

Pode escrever!

(Devo admitir:
Sou demasiado cauteloso
e de perdas temeroso)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Auto-conclusão

Foi só Henrique bater o olho que logo viu: "Ih, uma seda de celulose! Ainda bem que achei antes que alguém pudesse achar, só o fato de imaginar a sensação de repreensão de minha mãe ou meu pai pegando essa seda...". Em seguida, lembrou como possivelmente teria esquecido aquela seda lá - tirando, é claro, o fato de ela ser uma mini folha transparente. Surgiram em sua mente imagens dele mesmo tentando separar duas celuloses grudadas, desesperadamente. Lembrou-se que havia pensado que não tinha comprado a seda pra ficar separando uma da outra, e sim para usá-la. E se perdia tempo separando sedas perderia tempo de fumar, o que acabaria fazendo em bem menos quantidade ao longo de um dia. Também pensara que - óbvio que muito improvavelmente - o fato das sedas não desgrudarem era uma manobra de alguma conspiração para diminuir o consumo, logo diminuiria o rendimento do tráfico e, consecutivamente, o número de armas de fogo e assim ficariam todos - habitantes da zona sul - muito mais seguros.

Ainda pensando sobre a seda que acabara de achar, e como - ainda não tinha descoberto - ela havia parado ali, lembrou-se minuciosamente de tudo o que foi feito no mesmo ambiente onde a seda foi encontrada uns quatro dias depois. Lembrou-se dos dias que não dormiu, que ficou na presença de muita gente, das pessoas que dividiram aquele ambiente, de todas as drogas que rolaram ali, de tudo o que havia sido apertado numa daquelas sedas transparentes grudadas, quantos mais poderiam ter sido apertados se não fosse o fato daquele pacote conter sedas grudadas, quanta coisa repreensível havia feito naquele ínterim. Era incrível como a simples não-presença de alguém que repreenderia nos deia livres para agir sem repreensão.

"Mas não era nisso que deveria estar pensando. Pelo menos inicialmente eu queria descobrir como deixei a porra da seda aqui explanando durante quatro dias!". Esforçou-se mais. Lembrou das possíveis reflexões que teve nos momentos de embriaguez. Possíveis pois estava muito doido para lembrar se era exatamente aquilo. "Acho que pensei sobre escolhas, sobre riscos que impugnamos a nossas ações. Expectativas... Era por aí...". Mas queria porque queria descobrir como aquela merda foi parar lá.

"Foi isso!" na sua mente, estabeleceu a possível lógica do acontecimento: estava lá separando sedas e, por ela ser transparente, ao catar todo o lixo que havia sido gerado no ambiente naqueles momentos de comportamentos irrepreendidos, nao a viu. "Deve ter sido isso" e assumira para si aquela verdade. Aquela provável verdade. E possível mentira. E aquilo já não mais o perturbava, havia respondido à pergunta, argumentara plausivelmente consigo mesmo e aquilo era o que mais se encaixava com uma verdade. Talvez fosse a resposta mais abrangente também.
-

Moral da história: com memória falha, vive-se de mentiras, tal qual o ausente. Mas a irrelevância que julga-se terem alguns fatos permite construir mentiras que interpreta-se como verdades. Abram os olhos para tudo. Ou então nem sequer comece a questionar, pois se começar, apresentará para si prórpio uma versão que irá acolher, além de refletir sobre outras coisas que não eram o foco. Mas se o que queres é refletir...

sábado, 3 de novembro de 2007

rindo à toa

É incrível como tudo o que é feito com o intuito de ser o melhor tem a sua verdadeira essência ridícula, e como verdadeiras ridicularidades são incondicionalmente o melhor a se fazer.

Deve ser o velho cansaço, a saturação, que tornam o melhor no ridículo, e, em conseqüência, como em momentos de renascentismos ideológicos, o que era ridículo pode ser reinterpretado como o melhor. Só não se pode esconder a nota de roda-pé: RIDÍCULO - pelo menos já tido como.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Marcelo

Marcelo sempre estudou, sempre pegou todas, sempre surfou, sempre buscou, sempre conseguiu, sempre encantou, a conta, sempre pagou, nunca trabalhou, sempre viajou, nunca se preocupou, muito escolheu e de pouco se arrependeu. Marcelo nunca existiu. Até poderia, como tudo já pôde algum dia passar a ser. Mas não, nunca existiu. "NUNCA SERÃO!" - já dizia Capitão Nascimento.

Individualmente juntos

Maria estava andando pela cidade, toda atarefada. “Tenho que levar a mamãe no médico às cinco hoje, mas que droga, por que sempre eu tenho que fazer as coisas sozinha? A mamãe também... ainda tenho que pagar essa merda dessa cirurgia que ela já fez, por que ela não foi responsável o suficiente para perceber que necessitaria de dinheiro para ela? É, na verdade acho que ela pensou mesmo, por isso teve três filhos, algum deles se responsabilizaria moralmente por ela, e essa pessoa sou eu. Será mesmo que a mamãe só quis ter filhos para poder viver tranqüilamente, sem que pudesse ficar sozinha, sem que tivesse que se preocupar sozinha com seus problemas? Será essa a verdadeira face da minha mãe? Como posso estar pensando uma coisa dessas, ela está muito próxima da morte e eu a culpando por tudo. Mas, sei lá, pode até ter sido essa a intenção primordial dela, mas até que desenvolvemos, por todos esses anos, um amor profundo entre nós duas, melhor, entre a família toda. Com o papai morto agora ela ficou só com a gente. Ainda bem que ela tem a gente. Imagina se não tivesse? Mas às vezes essa não foi a intenção dela, ela apenas viu, com o passar dos anos, que seria para isso que nós serviríamos, porque com os Gugu e a Lilinha eu não penso assim, tive eles porque quis, porque queria passar o que eu poso passar para alguém. Mas a mamãe tem estado diferente demais nesses últimos dias, acho que ela está arrependida de alguma coisa, algo me diz que é isso, mas o que poderia ser? Não sei, às vezes agora ela está se tocando de que nós somos a única coisa que ela tem, e que antes éramos apenas a coisa que ela teria como base. Mas a base ficou mais importante que os topos, ela não tem mais o papai, os amigos que sobraram ela não tem tempo para encontrar, fica indo de médico em médico, coitada. Deve ser duro saber que se pode morrer, a todo momento. Talvez seja isso que a leve a pensar nas coisas da vida dela. E ela pensar nas coisas da vida dela está me fazendo pensar na vida dela, que coisa mais doida! Será que há mais gente pensando nela agora, será que aquelas velhas chatas amigas dela estão pensando nela, os fatos vividos? Será que os meus irmãos estão pensando nela também? Devem estar. Devem estar pensando que ela agora morre e eles não têm como ajudá-la. E como que envergonhados não têm coragem de aparecer, mesmo que não possam ajudar. E acabam cada vez mais fugindo. Fogem porque ficam com vergonha de ter se omitido por vergonha de não poder ajudar. Então eles não vão por vergonha da vergonha. Mas que bobo isso! Até parece que eles não sabem que a mamãe queria vê-los. Mas a mamãe, do jeito que é, com certeza soltaria uma indireta diretíssima para eles a respeito da grana que eles não podem dar para ela. Que merda! Será que a mamãe pensa que se ela tivesse nos criado melhor talvez todos estivessem hoje cheios da grana, podendo ajudá-la muito mais, prolongando sua vida? É capaz, d jeito que ela só pensa nela!”

De súbito, o pensamento teve que dar uma desacelerada, Maria chegara ao hospital e acabara de encontrar com o Doutor Joaquim. Via todas aquelas enfermeiras andando de um lado para outro, levando comida para os enfermos nos quartos – era hora do almoço –, outras filhas e outros filhos indo encontrar seus pais, ou parentes enfermos, com tantas preocupações quanto as de Maria. Pegavam, da mesma forma que ela, o Doutor Joaquim de cada um no contrapé, os médicos estavam indo almoçar, sair daquela inhãnha de trabalho e ainda vinha uma filha de paciente, ou parente de paciente, perturbar seu momento de refresco da mente, podia ter chegado um pouco mais cedo, enquanto eu ainda estava no meu expediente, mas teria que atendê-la e ainda transparecer segurança, esperança, pois é isso que querem, e ao mesmo tempo apreço pelo paciente, mostrar-se preocupado com a situação, não deveria parecer indiferente. Cada paciente, apesar de pacientes todos eles, deveriam parecer não-mais-um. Deveriam parecer o paciente João, a paciente Márcia, particularmente determinados. Além de tudo, tinha que entender que os acompanhantes que chegavam nessa hora muitas vezes estavam trabalhando e preocupando-se com seus entes queridos.

Mas que diferença fazia no que ele sentia agora? Doutor Joaquim continuava insatisfeito em ter que permanecer mesmo que só mais dez minutos ali dando esclarecimentos indiferentes a alguém que tinha preocupações, como todos os outros acompanhantes de pacientes que já haviam o pegado de contrapé ao longo desses anos todos de profissão que detinha Doutro Joaquim. A impaciência turva, diluída em compreensão e ética profissional, continuava ali, mesmo que racionalmente soubesse que aquilo “não era legal”.

– O quadro de sua mãe está estável, ela deve permanecer na Unidade Intensiva durante mais uns quatro dias, pois ela chegou ontem, então tem que passar a realizar suas funções básicas sem os aparelhos. Então, somente então, ela irá para a Semi-Intensiva. Somente depois ela irá para o quarto. Ela está lúcida, bastante lúcida diria, ficou reclamando do hospital comigo hoje quando fui examiná-la de manhã. Temos que esperar mais um pouco para que possamos avaliar o sucesso da cirurgia, amanhã faremos alguns exames. Agora, me desculpe, mas é minha hora de almoço! A senhora vai ficar aí até mais tarde?

– Sim, vou ficar, mais tarde nos falamos!

– Então tá certo! E fique calma, ao que tudo indica, ela está reagindo bem!

“Por que essa necessidade extrema de ficar tantos dias em cada setor do hospital? Han, não devia nem ter me perguntado, o hospital deve sugar o quanto pode do plano de saúde. E minha mãe no meio disso tudo. E esse médico, pareceu-me confiante, acho que vai dar tudo bem. Mas câncer é complicado. Ela pode desenvolver metástase muito rapidamente. Foi o que a Mariana me disse uma vez. Ai, tenho que ver a mamãe!” pensava Maria, depois de despedir-se do Doutor.

Ao cruzar o corredor para chegar ao quarto de sua mãe, Maria viu um filho conversando com um médico, que parecia empanzinado de alguma coisa, mas não tirava o sorriso de conforto e compreensão da cara. Maria pensou se esse era o semblante do Doutor Joaquim ao conversar com ela, pois não percebeu se foi, estava pensando demais sobre outras questões mais importantes como a vida de sua mãe para perceber, mas com certeza era esse mesmo. Viu o senhor despedir-se do médico, que também ia almoçar, e encaminhar-se para o quarto de seu ente querido, ou não tanto, apenas um ente. O homem estava com uma pasta na mão, devia estar no trabalho antes, assim como Maria. Vai ver pensava em aflições tanto quanto Maria. Ela olhou e, por algum motivo, sentiu compaixão. Sentiu-se depois indiferenciada. Era tão contribuinte para o plano quanto ele, era tão chata quanto ele para um médico, era tão filha de alguém doente quanto ele, trabalhava e ia visitar seu ente no horário de almoço tanto quanto ele, preocupava-se tanto quanto ele, sentia-se como ele. E no mundo em que só pensamos em nós mesmos, como Maria que não percebera de cara o semblante enauseado do Doutor Joaquim, como não percebera que tantas pessoas passavam por problemas em virtude da saúde de alguém, e eram todos jogados no mesmo saco, talvez tivesse conta no mesmo banco que ele, seu carro poderia ser da mesma marca que o dele. Poderia ser que morasse num prédio tanto quanto ela e que tivesse que resolver, além de tudo isso, questões com os condôminos na reunião de condomínio sobre algum jovem fumando maconha no prédio. Estavam juntos numa cidade de seis milhões de habitantes, onde tudo o que se faz é em bloco, mas calma, segundo o que dizem, é a era do indivíduo! E se todos dizem, deve realmente ser!

(suspiro assentimental)

Antes de escrever qualquer ficção factual, ou qualquer texto criativo e pouco reflexivo (minha meta por enquanto), queria deixar claro para quem quer que leia isso, que simplesmente escrever, deixar o dedo soltar, descontroladamente, indepedentemente, seus próprios sentidos, me é muito, MUITO mais agradável, parazeroso, fluído e natural. Escrever algo elaborado, pensado profundamente, que não passa de uma ficção de realidade é muito mais trabalhoso. Criar é, para mim, extremamente apolíneo, enquanto transcrever sentimentos é muito mais dionisíaco, para mim também, quero deixar claro. Mas o mais chato é que eu acho transcrições sensíveis pouco realizadoras, me sinto faendo aquilo que todo mundo faz, me exclui da minha concepção de individualidade, me torna o todo, logo o nada, e não realmente alguma coisa. Contudo, enfim, é isso aí minha gente, escrevo muito melhor o que sinto, porque o gosto!