terça-feira, 30 de dezembro de 2008

quantas mais verdades relatadas,
mais verdades relatadas
e mais verdades relatadas.
Quantas mais verdades relatadas?
mais verdades relatadas
e mais verdades relatadas.
todos relatam verdades
que fazem relatar mais verdades
para expor verdades
que enxergam como verdades
e dizem aos outros como verdades
e mais e mais verdades enormes e complexas
incompreensíveis no seu todo
o que faz de todos ignorantes de verdades
alienados da maior parte das verdades
e ainda me vem um crente
e me diz sua verdade
como a verdade toda
Jesus é a verdade
e ele está te chamando
porque você pergunta a verdade
além das verdades
das verdades
uma proposta tola
de uma verdade só
um verdadão
pacotão completo
com lugarzinho verdadeiro no céu
e quanto mais verdades
mais verdades
e mais verdades...
tenho pena do meu bisneto...

domingo, 21 de dezembro de 2008

especulando sobre o pior

mais tarde,
pensando no alarde
chegando:
tom grave bombando -
mais tarde,
chegando no alarde,
pensando.
tom grave chegando,
tom grave pensando:
alarde mais tarde chegando bombando,
pensando.
nariz entupido, macaco
mobilidade, deglutição, cagar, macaco
procurar lugares melhores, posições mais confortáveis, arranjar algumas animosidades, macaco
tem pai e mãe, macaco
faz parte de uma sociedade com algumas hierarquias e sofre quando é inferiorizado, macaco
precisa se distrair e não ficar pensando em sobreviver o tempo todo, macaco
macaquinho

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

o pêndulo é marcado
lascívia
mais calmo
lascívia
mais calmo
lascívia
mais calmo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

desesperado não vou à banca

depois do trabalho feito
da certeza construída
se apercebe o mal-feito:
o que a seqüela me trouxe
foi um esquecimento mortal para a sua própria propagação:
eu não tinha seda
tudo preparado
tabaco queimado
hash dichavado
que esperança maldosa
ou descuido
gavetas reviradas
papéis remexidos,
procurados
e uma luz -
de lanterna:
há colomys esquecidas de propósito na gaveta com chave
pras últimas saídas.
me preparo um alívio inferiorizado

houve uma denúncia

A cena da loucura é preocupante. Porque louco que é louco denuncia. Mas denuncia mitologicamente, como disse um louco que conheço. Com seus delírios de grandeza, nos confronta com a idéia de que nós temos que fazer alguma coisa, de que talvez não sejamos sóbrios, de que talvez sejamos uns apáticos pós-modernos de merda. Mas ele era o louco e todos sabiam e todos agiam como se ele realmente fosse e nós, os não loucos não éramos. Tratamos de encarar tudo o que dissesse como os maiores absurdos já ditos. Não entendíamos a mitologia do esquizofrênico. Mandamos ele descansar, arrumar os pensamentos que lhe fugiam e ele dormiu. O nosso estado de loucura era o de controlar nossos ímpetos: eu queria desbravar o mundo para ajudá-lo ou de repente até compreendê-lo em seu delírio e ir além em minha percepção. Ele não parava de dizer que estava tudo acontecendo, que nós tínhamos que perceber, que não era possível que não estivéssemos entendendo. Estávamos todos, mas o inconsciente coletivo inconscientemente se escondia e brilhava agora o senso de diferenciação pessoal - talvez por instinto. Ele estava ligado a outra coisa que não em si, ele estava ligado no que todos nós estamos vivendo, sofrendo, ruindo. Chamamos o seu responsável e ficou por isso mesmo, conselho de uma psiquiatra. O louco, por ser louco, que denunciou, eu só estou prestando o meu depoimento refletido.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Sei que há um limite
que não se atravessa
que não perdura um olhar
que divide o que é do que há.

Há um rompante represado
um dique super-estruturado
estamento estamentado
e o opaco das coisas em quem não é o que tem.

uma voz de tragado

convectivos afagos

pralguns, não dormi bem
pra você, sei que sabe também

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

visão aristotélica para uma sensação platônica

passividade em cena
quem disse que é preciso agir pra ser quem você é?
então me pergunto quem sou
e sempre parado, reflexivo,
me torno o pior dos platônicos
o que busca conhecer-se a si mesmo
no mundo das idéias
minha metafísica engole qualquer vestígio de intenção de realidade
mas a dialética do materialismo
quer quebrar super-estruturas em mim
quer acabar com essa idéia de mundo das idéias
quer agir
passo a passo
antítese por antítese
porque morremos todos
porque real é real
porque pasmar e ver o tempo passar, achando que pensa sobre o mundo todo,
não é tão eterno quanto aparenta essa imaterialidade do pensamento
conhece-te, de fato, de verdade, na matéria, a ti mesmo
lembremos todos que a existência precede a essência

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

moderno contemporâneo em crise

momento de crise complicada
momento de crise da modernidade
e eu tenho um palpite
um que todo mundo sabe
que desde que a modernidade entrou
ela entrou em crise
porque valorizar o novo
é negar o velho
é negar o agora
é pedir futuro
mas eu me pego na crise
e tento compreender
se essa crise é só mais uma desconstrução modernade valores contemporâneos
ou se seria a grande desconstrução conemporânea, por ser agora, dos valores modernos?
sim, pode ser tanto uma quanto outra
essa crise pode ser só mais um surto de crise de identidade da modernidade, buscando um novo qualquer - pós-modernos, que pretensão,
ou essa crise pode ser um divisor de águas, um novo que finda de vez com o velho paradigma de busca do novo - pós-modernos, com orgulho e convicção
do jeito que a modernidade se tradicionaliza
pode ser que nem o futuro nos diga!
a perplexidade com que a noite nos leva a crer em solidões miseráveis e na falsa individualização dos homens na cultura de massas é dura pra quem é de um país em desenvolvimento de formação católica e que ainda carrega sobrenome de cristão-novo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A cena é um jovem, gordinho, sentado numa cadeira de braço que deixa a massa lipídica dele meio de fora, ele encosta as costas na cadeira e sente que seus pneus estão pra fora. Ele está de frente para uma mesa, onde escreve num lap top, sob a luza amarela do abajur que está sobre a mesa. A parede do quarto é amarela e ele está de cueca samba-canção e uma camisa branca meio fudida. É noite pelo visto, o abajur está aceso e o silêncio toma conta da casa se não fosse pelo barulho dos carros passando na rua. Seu par de chinelos ali por perto. Um monte de tralha por cima da mesa atrapalha-o a esclarecer-se sobre a vida.
Eu entrei na caverna, me perdi no caminho, já tinha saído mas só não sabia o que tinha feito pra chegar lá. Agora eu sei. Agora eu sei qual foi o produto, em que fileira e em que coluna estava o produto que eu tirei da prateleira antes dela desmoronar sobre mim. E agora, eu espero, não vou mais me esquecer dos caminhos que tomar, pra poder sair, pra poder dizer meu endereço, pra que possam me visitar também.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

las cositas más

que beleza
ir
voltar
pra consumir
pra relaxar
pra existir
sem se cansar.
mas trabalhar
pra consumir
e relaxar
pra descansar
de ir e vir
já vai cansar
esse viver
de lá pra cá
daqui pra ali
pra trabalhar
pra que existir
não vá cansar
e aí cansou
e aí é seu
um caixão macio
y muchas otras cositas más

Ê, beleza!

Um absurdo!
Tenho algo a declarar contra essa sociedade. Que piada a sociedade burguesa faz com a velhice. Se por um lado busca-se, através de campanhas, enaltecer os valores que os mais velhos possivelmente têm para o mundo, trazendo benfeitorias quase místicas ao considerarmos a sabedoria e a experiência de vida deles, inutilizamos totalmente a sua participação fática numa sociedade extremamente racionalizada, prática, metódica e que busca resultados palpáveis. O que essas campanhas tentam exaltar é a beleza romântica que há na velhice, no passado, e isso, na prática, não adianta de nada para os bolsos do Estado e dos burgueses. Os velhos não trabalham mais, não participam da população economicamente ativa. A beleza platônica da velhice, que já é uma merda em si, pois se morre depois dela, não se encaixa com as necessidades extremamente aristotélicas da sociedade materialista do capital. E ainda mais: tentam preservar os velhos, como múmias, através da medicina, que se presta às vontades de enriquecimento dos acionistas dos planos de saúde, das indústrias farmacêuticas e todo o mercado geriátrico. O resultado é encontrarmos velhos em asilos, sendo tratados como bebês babões, só que sem o potencial produtivo da criança - por isso ouve-se a velha máxima de que temos que investir em educação e blábláblá, crianças produzirão no futuro, velho já vai morrer. O que nos restou dos valores dos heróis nacionais que os nossos romantismos enaltecem foi o nosso capricho de querer empalhar nossos velhotes para desencargo da consciência com o valor cristão da vida - queremos acertar as contas com Deus, não pecar - motivados pelo setor produtivo que se beneficia dessa mumificação nos bombando de propagandas malditas que exaltam o bem-estar, a saúde e sorrisos branquíssimos de senhores aparentemente de 70 anos pra cima - até parece que não têm tártaro... se o plano ainda cobrisse tratamento odontológico de qualidade... E ainda reclamam de como as pessoas tratam seus velhinhos da família!

a relatividade da beira e do sussudio

quando você se afasta da beira,
porque você conseguiu de alguma forma passear pela terra firme,
você se afasta do sussudio
e não consegue mais vê-lo
você só consegue ver a beira
e a beira é a sua representação do sussudio
e você não se lembra mais dele direito
só da beira
porque você consegue ver
e a beira se torna um sussudio pra você
pra quem não está na beira, a beira é o sussudio
e eles ficam meio na beira
por beirar a beira do sussudio
mas os que estão de fato na beira do sussudio
ao olhar pros que estão beirando a beira
sabem que o sussudio deles não é verdadeiro
e que os seus sussudios que são os verdadeiros
mas como quem beira a beira não se lembra do sussudio,
os seus sussudios, sensivelmente, poderiam ser iguais?
ou pelo menos equiparáveis graças à teoria da relatividade?
não, não são iguais e todos sabem que não são
todos sabem que a distância do sussudio é fundamental para o sossego
mas não há como não saber que o sussuio está lá, mesmo que distante
e os que estão à beira de beirar, beirando?
aplique a mesma fórmula, oras!

sábado, 29 de novembro de 2008

como queijo suíço

é saber e saber
mesmo
e ponto
eu sei que nunca senti
não sei o que é calar o diálogo enlouquecedor da mente
eu não sei o que é amar alguém
e como sei o que é amor
porque é ele que espero
desde sempre
eu sei que todos os meus furos
de queijo suiço
são buracos rotulados
falta amor
e eu como esse queijo
ou seja, mim mesmo
gorduroso
amarelo
não faz bem
e não faz mesmo
porque eu como os vazios
eu corto os vazios
em fatias
e parte por parte
vou engulindo-os
engolindo a mim mesmo
me dando conta de que o amor não está lá
eu como a mim mesmo furado porque não tenho nada melhor pra fazer
aí, viver sem amor excita a fome
viver sem amor e se alimentar mal
viver sem amor é horrível

crise

me brota um medo.
a obra de arte e seu conceito.
e qual o conceito que se procura?
se procura o conceito da crítica
a crítica ao fazer crítica
a arte critica
e por meio dela é criticada
e essas críticas em críticas
e já se perdeu meio caminho andado
e talvez o fio da meada
fico imaginando um artista plástico em nova iorque
já com sua grana no bolso
todos dizendo pra ele que ele é um artista
reconhecimento de artista
mas o seu vazio, o seu sussudio
de não saber muito bem o que ele exprime
de não saber se sabem exatamente o que quer dizer
por ser tão profundo
por ser tão complexo
porque vivemos num mundo
aprofundado
complexificado
a saída pela tangente busca esquecer esse medo
medo de não fazer sentido
medo de não querer isso
(mas e todos e o pra-sempre?)
de não querer a maior liberdade que a civilização oferece
a arte
medo do produto que brota da liberdade
enclausurando-a naquela imagem
medo do produto que se torna um feito
e as críticas feitas a ele
para justificá-lo
para sair pela tangente
e esquecer que a gente é gente
e que o sofrimento inerente
se mente ou não mente
é crescente
aumenta conforme nascem os filhos e brotam problemas e mortes
sussudio é sussudio e enaltecê-lo ou tagarelá-lo não muda nada
é apenas um prazer sofrido
uma realização doída
é tudo o que se pode fazer na vida
pra quem quer ser poeta

péssimo ouvinte

é o momento em que tudo se resume às formas que têm
eu sou posto pra pensar
sou jogado, empurrado para o abismo por uma simples pergunta
não tão simples
cheia de não-me-toques, de introdução, enunciado
eufêmica pergunta
uma fronta a dar a resposta entalada
como um empurrão com um dedo
o último toquezinho que me faltava pra cair
e então todas as coisas parecem idéias simples
não consigo mais ver o tudo que elas abocanharam
e o vazio como uma ventania
reduz-me à amarga simplicidade de um ser-vivo na terra
um hominídio
primata
por causa de umas palavras que não fui amaciado pra ouvir,
eu saí da incandescência da complexidade da existência
em uma derrocada em direção à cansada materialidade
ao depressivo é só isso
mas que falta de tato a sua...

sábado, 22 de novembro de 2008

só fugir pra cá quando dá medo,
quando não tem mais jeito,
além de não resolver o problema,
produz incessantemente alguns sonhos estranhos
sonho que ando sozinho numa estrada sem fim,
dirijindo um carro
e a estrada, num deserto,
parece que se mistura com a paisagem
num tom azul meio lilás
sonho outra vez que, depois de andar nessa estrada
(é uma espécie de continuação do outro sonho),
eu paro num motel de beira de estrada do Novo México,
bem de filme americano,
abro a porta de um quarto
e aquilo é um apartamento,
meu,
sala, corredor, havia quartos com certeza,
aconchegante,
iluminado por algum abajur apenas
e a sensação indescritível é de que encontrei você,
que está no apartamento me esperando sublime,
com o sorriso que faltava em mim
emanando o calor de espírito que faltava pra digerir a minha náusea,
e o sonho simplesmente acorda
outras vezes, muitas, sonhei que caía
já sonhei que sentia o mesmo sussudio da vida
e acordava lembrando dele e ia pro banheiro, em seguida,
pensando muito,
e, quando começava a escovar os dentes,
me olhava no espelho
(me olhava no espelho!)
tudo agia afogado
eu continuo sentindo a estranheza ao abrir maçanetas,
adentrar e sair de locais,
dizer aquele tchau na hora que deve ser dito,
na hora do silêncio calado por conversas prolixas
aonde foi que eu encontrei tanta merda em mim?
daonde é que eu tirei que preciso de soluções intragáveis,
revelações nem um pouco anestésicas,
divagações inescrupulosas sobre elas?
esse vício sado-masoquista de vir pra cá
pra falar tanta coisa
desabafar, sabe, diria como a mocinha da novela depois de ter perdido sua fortuna, família, filha, amor da vida,
e no final de tudo concluir que eu venho pra cá
pra falar do que eu taquei em mim mesmo como se eu fosse um saco de lixo, grande, preto:
desenrola, abre, sacode e taca lá dentro
com uma pá de terra
a conscientização e o martírio...
a exposição é vibrar com ela
e é isso o que eu faço
do sonho acordado perdido calado mugido
sonho que eu repito
vida que eu repito
cuidado
poesia
vicia

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

a pressa compromete a arte
ou a arte compromete a pressa?
depende do ponto de vista...

o que é como se fosse lágrima

é como se fosse uma lágrima
que escorre sendo o final de tudo o que a gerou
é a lágrima, o quanto for de lágrima
e chega dela
é o fim de alguma coisa
a lágrima é o fim, que é choro
o fim das hipóteses
o fim das conseqüências
(será que ainda pensamos em conseqüências depois muita lágrimas debulhadas?)
é assim mesmo
o que é como se fosse a lágrima
não para de ser ele mesmo
ele é o que seus antecedentes o tornaram
ele é o ponto de onde não se pode passar
ninguém vai além das lágrimas
e quem escorre lágrima, pensa lágrima
eu estou onde se cansou de pensar o que é
e agora é o que é
e é nisso que penso.
nesse caminho,
é pra onde se iria de qualquer jeito
e depois disso
copinho d'água
cigarro
televisão
e o futuro é distante e é caro demais pra querer tê-lo

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

nauseabundo
me encontro tragado de fumaça

cof cof

latifundiário de terra improdutiva reclamando de sem-terras
eu sou um deputado da bancada ruralista
um espculador de terras do centro-oeste
interesses que sobreponho aos reais anseios do povo,
dos egos em mim
eu avanço com a fronteira agrícola
eu não messo mesmo os meus atos
comigo mesmo,
eu ignoro necessidades concensuais
eu brinco com leis mal escritas
eu converso comigo e me engano
me convenço, me condeno
e continuo nauseabundo
ironicamente nauseabundo
historicamente nauseabundo

cof cof

nauseabundo

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

secando o suor da sobrancelha e jogando-o fora com os dedos estalando

Eu sentia falta
da tranqüilidade
isso mesmo
da tranqüilidade
de viver
quantas horas no analista...
e foi de uma hora pra outra o estalo
passei a ficar tranqüilo
mesmo que nada vivido
mesmo que o plano falhado
mesmo que o mundo fudido
tranqüilidade
adeus pra náusea do Sartre

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Libertação. Essa palavra vai nos tirar da fossa em que o romantismo nos atirou. Enquanto os românticos, antagônicos ao arcadismo, concebiam a cidade como inevitável fim e viam no campo sua infância querida, a aurora de sua vida irresgatável, a humanidade, em virtude dessa mentalidade romântica, cavou sua prórpia fossa, vendo que a cidade era onde tudo iria terminar e que o campo não tinha mais volta. E a cidade romântica é byronista, é noite na taverna.
Os tempos mudara. E se mudaram, mas a mentalidade demora um pouco. O último suspiro árcade, o movimento hippie, entrou pelo cano. Quando o mundo não permite mais que se tenha uma terra no mato sem que se pague impostos, a idealização árcade se implode. A medida que o mundo extingue com a ruralidade e torna a vida urbana não mais como uma conseqüência de cercamentos de campos, ou seja, uma conseqüência que trouxe malefícios, uma conseqüência que rompe bruscamente com as raízes culturais das pessoas, a medida que a vida na urbana se torna a raíz cultural de todos, é o momento de dizer tchau de vez aos árcades e abandonar essa melancolia romântica chata. É tempo de libertação. Se o problema dos românticos era ter que viver nas cidades, enfrentar os problemas que não existiam no campo, resgatar a cultura feudal para identifica-se, nós, contemporâneos, já nascemos na cidade, nossas raízes são outras - ou quem sabe nenhuma. Nossa raíz é tudo o que a cidade oferece. Talvez estajamos numa época ufanista em relação à cidadde, visto que, segundo a ONU, mais da metade da população mundial já vive nas cidades, e por isso entendamos que a cidade oferece realmente o que há de melhor. Mudamos a concepção da vida na cidade - acho que o american way of life ajudou muito. O mundo busca a cidade, por mais que não seja uma vontade, mas as esperanças que o desenvolvimento traz para muitos países espelha uma libertação dos paradigmas rurais, tais como culturas conservadores e paternalismos, o que traz para a literatura a valorização do que o ubrano oferece: informação, liberdade e questionamento. Entquanto para os românticos a natureza era o que os determinava e, portanto, a fuga dela era melancólica, nós, contemporâneos e urbanóides, vemos na indigência da cidade o valor da dúvida, das estragações ébrias, da velocidade, da efemeridade, da efervescência. Por não conhecermos tudo a nossa volta nas grandes cidades - algo impossível numa cidade como o Rio - é que nos sentimos enraizados. O conhecer tudo, possível em um pequeno vilarejo no campo, é abominado pelos urbanóides, oq ue era valorizado pelos árcades e ainda pelos românticos. O que afligia aos românticos era a infinidade, e isso é o que nos deslumbra.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

desperta-dor

que sairei do banheiro com pendências
abstinências
isso todos sabem
não há o que negar
o barulho agudo me levanta
agudo
e eu me iludo
sonolento
sonhador
que eu não vou seguir firme e forte
porque firme e forte é para os fracos
eu acho que vou simplesmente
que tenho que ir simplesmente
porque se for pra ser tough
vai ser ruim
melhor ir assim
indo
na minha ilusão

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Fa fe fi fo fu
eu nao quero dizer o nome
só quero que todos vão tomar no cu
se todos vocês desconhecem o caminho
eu não digo de quem é que eu falo
eu os levo ao cu direitinho
pra ver se vocês vão tomar mesmo
tomem todos no cu e eu não vou dizer o por que
nem por quem

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Justify your love

Uma história que começa assim deve falar de amor. O amor entre todas as pessoas do mundo, todas as pessoas do mundo conseguem amar, por mais feias que as pessoas sejam. Incomodado desde que saíra de casa, fui caminhando pela rua e observei como todos nós nos dispomos a amar a qualquer custo. Uma mulher, gordinha, mal-vestida, meio paraíba, no telefone parecia estar falando com o amado no telefone e ele estava perto. Ela não sabia onde ele estava, mas estava por perto, e eles tentavam encontrar-se na rua. Até que se encontraram. Ela era feia e ele também. Ela sabia que era feia e ele também. Como sei que sabiam. Bom, ela tentava de todas as formas melhorar o que ela sabia que não melhorava. Cabelo pintado, bijuterias aos montes, calças de marcas bregas, com cortes feios, assim como as camisa, que também tinham estampas horríveis, mas tudo na intenção de melhora - tudo apertadinho, tudo tentando ressaltar nela alguma coisa que ela não tinha e queria ter. E ele, bom, ele sabia e parecia querer confirmar por suas vestes, sem a hipocrisia da amada, vestindo-se do mais normal possível, calça preta e camisa social branca, ele era branquelo, bigode preto, fora de forma, oleoso, estranho. Sabe, ele não era, nem ela, o tipo de gente que você olha e diz que atrai. O amor de pessoas feias não é amor, eu não consigo ver assim, é vontade de amar elevada à enésima potência, em que n é o número máximo que aquela pessoa consegue atingir sem entrar em desespero. Desesperou, amou gente feia. Estou com medo de estar sendo preconceituoso ou na verdade não esteja com essa preocupação - existe também a corrente que diz que isso não é preconceito, é só uma análise do que o sistema injusto nos impõe como verdade. O que importa é que gente feia que se ama não tem amor próprio. A falta extrema que sente em si os impede de querer procurar o amor de verdade, uma pessoa realmente escolhida dentro de todas as possibilidades, e não uma escolha dentro de um campo de possibilidades restrito. Mesmo desesperados, os desejosos de amar são preguiçosos e sem auto-confiança. Não aprimoram-se, não se amam, não buscam o melhor pra si, buscam o que cala, o que parece resolver agora. Gente feia namorando, além de feio, eu acho que não é verdadeiro, é uma forçação de barra forte a que muitos se submetem por praticarem a máxima que diz que é impossível ser feliz sozinho. Mas eu prefiro outra: antes só do que mal acompanhado.

pai e filho

Era mais um causo mal-resolvido, continuação de outros causos mal-resolvidos, que sempre terminavam por tentar se resolver numa conversa, numa exposição de pensamentos, de achismos. Nunca concordaram. O que ocorria era que cada um falava o que achava certo, os dois compreendiam e não concordavam um com o outro, mas achavam por bem fazer que sim com seus semblantes, com os movimentos verticais de cabeça, indo e voltando, tudo para não brigarem mais, para oficializarem um fim de mal-entendido, que se perpetuava. Era na cozinha, um em pé, outro sentado, expondo metáforas, pois o que se conversava era tão intimista que se falassem da verdade, ela pareceria tão pequena... Seria pequena e definitiva: o verdadeiro ponto da discussão era um tema divisor de águas na contemporaneidade. Para que não discordassem, deixavam a verdade, que era simples e pequena, intocada, metaforizada, e assim poderiam compreender e não poderiam discordar. Se dissessem o que era que acontecia realmente, se formariam os partidos, cada um iria para o que pensava e babal, cada um prum lado, cada vida na sua, cada tristeza enorme para cada lado e o pior, desvendariam o que os fazia conversar sobre outras coisas, por estar em suspenso as origens. O mal apercebido, o mal pros olhos abertos, não seria saudável, saberiam dele o tempo todo, palavras doem e marcam, magoam, nada seria como antes, nada poderia voltar a ser como antes, nada jamais poderia ser tentado esquecer novamente. Por isso que enquanto um falava, o outro olhava para o azulejo, cheio de ranhuras, anti-derrapante, geladeira brastemp, começava a desenhar num bloquinho de anotações pro telefone que ficava ali perto. E quando este se calava, o que continuava a falar prolongava-se mais, ia além nas suas metáforas, falava como se tivesse segurando um microfone de ouro, que amasse muito, e falaria tudo o que aquele campo semântico puxava em sua mente para não soltá-lo, coisas que provavelmente ao que ouvia em pé ofendia, mesmo que permanecesse calado. De repente irrompia-se de sei silêncio e esboçava falar algumas coisas, umas confirmações, ponderaçõeszinhas pequenas, que não interferiam no pensamento total de quem falava, porque interromper dava muito trabalho, ir contra, argumentar dava muito trabalho - argumentar poderia trazer a necessidade da verdade à tona, o que arruinaria tudo. O assunto pareceu acabado quando o que falava mais percebeu sua monologuisse. Entediar quando falava de intimismo não era o que se pretendia e, se acontecia, deveria parar, beber seu copo d’água pós-janta e seguir para a sala de TV, assistir à sua novela, clichê, como ele mesmo dizia, enquanto o que ouvia em pé permaneceu na cozinha, sentou numa cadeira lá e continuou um pouco, tomando fôlego para chegar-se junto, na sala de TV, aturar a novela, que falaria das universalidades da forma mais idiotizante do mundo; e iriam se reconhecer, os dois, em um daqueles papéis bobos, irritantes. O sono lhe tomou conta como pretexto inconsciente para levantar-se e rumar para o quarto. Dormir e amanhã era mais um mesmo dia.

Dormiu, acordou com o despertador que, em seu sonho, se confundia com um martelo de tribunal martelando a banca, pipipipipi. Era o despertador mesmo, que o fez levantar, reconhecer o mundo, censurar o sonho, mijar, escovar os dentes em frente ao espelho e sair. Girou a maçaneta enquanto acreditava que as coisas iriam sanar, que as oportunidades para ele não paravam de se abrir, que ele era, era... era o que mesmo? E desceu o elevador pelo qual esperava e não aguentava esperar.

sábado, 1 de novembro de 2008

dor-teimosia

Saber, saber, saber, saber, saber
saber o que foi aquilo que senti outro dia
que me fez bradar faíscas brutas,
esbravejar tolices, atos-falhos, falei o que não queria
as tais vontades escuras
desconhecidas amargurar
que saíram pelo ar que sai da boca
passando pela traquéia, que vibrarva forte
eu gritava.
Mas foi pedido.
O meu berro de socorro,
ao mesmo tempo em que espantava,
era o berro mascote
era ícone do que eu representava
era a imagem que se tinha de tudo esvaindo
mesmo longe de ser as verdadeiras causas
Então
náuseas
lancinantes olhares perturbadores
desconfortável lembrança sempre presente
meu nódulo
e eu não sei o que é
o que o trouxe para cá
por que fez isso comigo
Não é nada disso
é um erro qualquer na minha vida
no que fizeram com o meu dia-a-dia
se é que não era eu que fazia
Saber, saber, saber, saber, saber
maldita dor-teimosia

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

cinza com azul e rosa claro

A tristeza é gradativa e seu último estágio é a tristeza absoluta: quando não se consegue mais pensar, enumerar, cogitar possíveis motivos para que ela exista, pois tudo o que se figurava como causa dela já não se vislumbra como verdade. A tristeza, em seu ápice, onde estou, é a pura tristeza, somente ela, envolta nela, ruminante por ser ela, incompreensível, estanque. É nesse momento que eu abdico da poesia, que sempre me ajudou no livre pensamento, nas divagações, nas acertivas, nas conclusões. É na poesia que eu vejo mais fácil. Mas a prosa é quem me faz continuar, me faz discorrer. Somente na prosa acho que poderei expressar a grandeza e a continuidade etérea desse sentimento tão claro agora pra mim. Eu sou a tristeza como pessoa, já não choro mais, já não espero mais, já não mudo mais nada nem procuro nada para mim. Os tempos de lágrimas passaram e eu estou no ponto, no ponto de um suicídio que não virá porque não quero. É o ponto de encontro entre as impossibilidades e a realidade, um par perfeito para a propagação desse mal em mim. Minha cabeça não lateja, meus fluxos sanguíneos encontraram aonde parar e coagularam-me sorumbático. Não há droga no mundo mais depressora, me sinto minguado, muito mais que um bêbado. Mais que incompreensão, já passei dessa fase, mais que choro desesperado, mais que esperança em processo de corrosão. Sou tristeza e ponto.

acho que matei o amor

Me redimir é o que está em questão
e não sei nem se estou errado
nem se o antagonismo entre meus argumentos
e meus sentimentos
expressam a essência da minha miséria
Miséria minha
mais do que de quem me criou
mas o que eu quero é não me redimir
não é nem ter certeza de nada

Sem a confiança de ninguém
sem o diálogo
sem a ajuda necessária dos meus entes até-agora-não-sei-se-queridos
Minha pungência é verve gratuita
mas só é gratuita sob o referencial do momento
acúmulo de vida é que me fez gritar
acúmulo de discrepâncias me fez confundir

Vocês me fizeram confundir os meus erros
com os seus
as minhas mágoas com as suas incertezas
com as suas esperanças
e a minha esperança secou
junto com as lágrimas
e com o desejo de ficar tudo bem entre nós
me tornei perdido
que mesmo se eu tivesse o tão humilde libertador javitudo na Glória
morando sozinho, meu espacinho,
ainda seria tão infeliz
quanto sendo posseiro do meu quarto
com direito a idas e vindas da cozinha e da sala de televisão
Não quero formar meu próprio espetáculo
nem fazer parte do seu
quem dera se eu pudesse matar deus em tempos de sua tão clara ressurreição
quem dera se o dia raiasse e meus hormônios fervilhassem
por todo o meu corpo
em um felicidade inquestionável
quem dera se eu fosse uma estrela, de um sistema em que não tivesse vida inteligente

sem nenhum espectador

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

o mundo que não se entende

inexequível
é toda a vontade que se tem de ser
são todas os entendimentos necessários à mudança
fazer com que quem deve entender o queira
para, assim, conseguir dizer tudo e compartilhar
o inexprimível
todo o pensamento complexo
toda a sensação de isolamento
tudo o que você quer falar e que os outros têm que entender
Mesmo em destaque,
a vida é feita só de dois mais dois é quatro
e também de indivíduos orgulhosos - todos já sabem de suas vidas
irracíveis quanto a antagonismos, paradoxos, verdades
portanto
se fazer entender pra fazer acontecer,
se não há silogismo super-ábil nem falácia extra-forte,
sua dedução magnífica
em palavras soltas e sentimentalismos pulverizados
ilegítimos
se transformará
porque ninguém vai falar por você
fazer te entenderem
ninguém estará na sua bolha
sua melancolia é sua
e eles não estão dispostos a entender sua arte para o mundo mudar
o mundo só muda quando o mundo é mundo
e não quando é eu e você
porque eu e você somos a arte de ter razão
cada um a sua

E eu só queria que você saísse
parasse de falar
fosse embora
me deixasse em paz
e você não fez
só pra ter razão
que eu sei

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Nocauteie-me

Inconfessas,
as discrições mal-expressas
envitrinam-me:
malícias
carícias
carisma
Minha sociabilidade anciolítica avança
convexa,
oca,
e, nesse vazio que a infla,
jaz desequilíbrio,
desjeito psíquico,
químico
(genético?)
E eu sei o por quê.
A vida é assim.
Através de olhos de vidro,
sob opaco estampido.
Minha bolha, não entram.
Isolado acusticamente para a minha música.
Meu baixo e meu violão dão o tom,
e à melancolia do violino me inclino,
em vão.

Ouço vozes ao longe,
como um chamar de atenção surdo,
abafado,
do chão.

domingo, 26 de outubro de 2008

Polícia e Igreja

A polícia é como a igreja na idade média. Respalda e faz valer a vontade do livro das condutas. Travestem-se de portadoras e viabilizadoras da segurança - na sociedade cristã, segurança por moral e segurança de vida eterna, na sociedade contemporânea, garante a tranquilidade do consumo e a distância da morte tão voluptuosa quanto os hábitos dessa sociedade. A polícia se apresenta como portadora da ilusão em vida de um Estado Laico, que livraria-nos do estado de natureza hobbesiano em direção à liberdade, enquanto, na verdade, apenas garante o consumo e a propriedade, como a igreja garantia a legitimidade da nobreza e de seus poderes. São dois instrumentos de manutenção do estamento.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vestibular

Muitas pessoas reunidas, semblantes diferenciados, o mesmo propósito os fazia estar lá. Eu foco em uma pessoa, que não tem foco. Eu foco nessa pessoa que argumenta ferozmente sua vaguinha no topo da pirâmide social, nessa pessoa diminuída pela posição que assume nessa estrutura: naturalmente inferiorizada. Mas há o que sustente suas argumentações, sua insistência: papéis, papéis, contratos, termos, leis, livros, palavras, palavras, todos esses atestando a relatividade de tudo, e, por isso, a tal pessoa argumenta, persiste, esperançosa. Eles confirmam uma possibilidade, AS possibilidades, múltiplas, de realizar suas vontades, tão abafadas pelo que o seu superego lhe vive atestando, pelo que a material e histórica luta de classes lhe sinalizou a vida toda. A contratualização das relações humanas, sociais, de trabalho, a super-estrutura; a justiça escrita para que não haja submissão inquestionável, a palavra, a norma, as teorias e artes sobrepondo-se à voz moral implícita que os antigos fortes, os nobres, exerciam lá pela Idade Média. Sempre haverá a burguesia - essa pessoa é um burguês, pequeno, mas burguês -, como uma classe, que estará lá no alto, graças às leis, à propriedade, mas, também, os burgueses, os indivíduos burgueses, os pequenos burgueses, classe-média, que precisam esforçar-se para tornar-se o topo do topo, que para isso buscam conhecer as leis, as palavras, os livros, a história, apenas argumentam, galgam mérito, mérito retórico, politiqueiro, equacionado sobre as normas, que instrumentará a vitória do burguês fraco sobre a estrutura social estanque e injusta. É nas leis que ele se pauta, somente com leis se transforma num grande burguês e de lá não sai se soubé-las bem, tão bem quanto soube pra subir. Mil milhas e milhões de pessoas para baixo é o que essa pessoa espera ver do vértice superior dessa pirâmide. Sem o foco natural, ou de berço, é nos argumentos, nas palavras, que vislumbra o pódio, de onde nunca mais pretende descer.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O zumbido do silêncio

Minha vida é vazia
Minha vida é vazia
e sempre foi.
E eu, com todas as unhas,
nela finco-as e faço ranhuras,
agarro-a e arrasto mais linhas
é minha!
empano em palavras minha mudez nua
porque minha avalanche é crua.
O lençol entre os dedos apertado,
de punho cerrado, cerrado:
minha vida vazia
como sempre foi

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

inconscientemente

O seu fígado,
exaltava a repórter,
havia sido doado para uma menina pobre do ABC paulista,
enquanto a TV brilhava
e a morte sussurrava
toda a sua escatologia,
toda a sustentabilidade
e o valor social da reciclagem.
E os pensamentos tradicionais cristãos,
de respeito ao corpo
à integridade,
ao pós-morte,
inconscientes,
eriçavam meus pêlos,
davam frio na espinha,
faziam algo em mim estranhar esse fato
que se transmitia belo pela tal notícia,
muito embora, é claro
que também doaria.

Perdoava,
mas que se fizesse justiça,
era o que pedia a mãe da vítima.
Chorando compreensiva?
Eu entendia vingança
olho por olho, dente por dente
via bondade messiânica
que degladiava com a Babilônia Antiga.
Os dois, sentir eu também podia
e ainda criticava
depreciava
como um bom cidadão pós-copérnico
como digno herdeiro do marquês de Sade.

Aquilo
era só notícia.
Era só notícia?

moral da história:
há mandamentos tão intrínsecos
em nosso inconsciente
que são inegáveis
em nossas sensações -
mesmo que apercebidos.

Família, ê!

Pertenço a uma família peculiar e bem normal, acredito, nos tempos atuais. Pra começar, ela é freudianamente planejada, por pais psicanalisados e teoricamente resolvidos. Uma família burguesa de ideais comunistas; e, como tal, nela, a figura da mulher é livre, apesar de ainda assim ser inferiorizada na dinâmica empírica, mesmo que havendo um contrato social de igualdade: é bem subliminar - bem século XXI! E não havia como não ser idealmente comunista se não tivesse um passado burguês - no caso um presente que se pretende passado. Mas, como a família de que faço parte é um país de capitalismo em desenvolvimento e as remessas de capital ainda não são muitas, nem muito gordas, se transmite a idéia do socialismo, sob práticas capitalistas que possam inchar o bolo para depois reparti-lo. Só se faz isso através de atitudes que valorizam a família e hostilizando figuras que venham a representar algum tipo de subversão para a volta ao subdesenvolvimento: esses são amigos ditos más-influências. Normalmente também escolhem algum membro como exemplo por ter cometido práticas indevidas. Esse aí, eu acho que sou eu; não sou exemplo para ninguém na família. O nosso regime socialista/capitalista, a la China, Venezuela, Bolívia, entende que é de suma importância o desenvolvimento da ciência e da tecnologia interna suficientes para a implantação do comunismo, para que se façam as mudanças drásticas necessárias, a fim de que atinjamos a paz e o fim da história. Ou, para o meu pai, grande líder da nação-família, o fim da sua história em paz. Por isso é importante o estudo, uma boa faculdade e os conhecimentos mais acertados, que trarão mais dinheiro, que permitirão, através das conquistas burguesas, estruturar uma vida de luxos para todos os seus iguais, sua família: todos os filhos devem ser abastados. O comunismo para essa família é a libertação que o capital proporciona - para essa família e, ouso afirmar, para Marx também, que entende a necessidade do desenvolvimento do capitalismo. A minha família é pautada nos pensamentos freudianos de estrutura familiar - papai, mamãe e dois filhos, em que os pais se dedicam, acima de tudo, aos filhos; e todos se devem amar. Por outro lado, se baseia nos ideais marxistas de liberdade coletiva, de que todos devem ter as mesmas concepções - olha o amor ideal aí, gente! -, e quem não tem, paredão. Para servir de exemplo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

o córtex frontal e suas sinapses errantes

Quem nunca cavucou a memória, o passado e estabeleceu sentidos entre as relações e com o todo acontecido, não é ninguém senão uma folha em branco. Uma folha em branco, pois refletem todas as luzes, não são folhas escritas, não absorvem nas superfícies das letras, preta, todas as luzes, nem que somente no espaço onde foram escritas. É muito importante, ao se ser uma folha escrita, saber que só se sabe tudo nas superfícies preenchidas pelas letras: é uma questão de progressão geométrica, em que quanto mais se sabe, mais se tem a saber.

ps sobre como acho que me comportei nesse texto: as áreas do conhecimento se entrelaçam ou é só o período vestibuleiro que deixa as pessoas assim?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

tanto para nada, tanto do nada e tanto por nada

enérgicas
estéticas
imagéticas,
produzem
réplicas
geométricas -
antiéticas!
discutem
métricas
herméticas,
sintéticas
que concluem
idéias
hipotéticas,
maquiavélicas -

o mais novo,
é meu!

sábado, 11 de outubro de 2008

Privada do banheiro dos filhos, entupida

São as minhas banhas
de fato são elas
e o sexo também
nunca completamente
nunca liberta-mente
nunca toque quente

Mas não
não é só isso
me recuso a acreditar que tudo esteja sendo por causa disso.
Talvez uma infância insalubre
mal-temperada
numa família freudianamente planejada
pai e mãe casados, dois filhos
unidos pelo amor que disseram: nós temos
e assim desarrumada

Alguma notas baixas me deixaram no fundo do poço:
mais uma causa ou mais uma conseqüência?

Então tá;
é tudo lindo sob outro ponto de vista -
sinapses minhas negam,
outras balanceiam
e sintetizam, ficando em questionar:
é?
O céu, eu vejo, está azul
em contraste com o verde da mata urbana do Rio
e a praia está lá
e algumas pessoas usam óculos escuros e fazem esportes por aí
enquanto outras se vestem daquilo que não é mais
e se divertem, querendo tavernas, querendo esbórnias, bossa
criação de uma ilusão nostálgica, plástica, falseada, pós-fordista
mata urbana?
enrolaram o meu arcadismo!

Seria química a minha causa de todas as conseqüências?
metabolismo e drogas e sedentarismo
uma tríade e tanto

Somos todos crianças
curiosos
inquietos
prontos para entubar nossos desejos por qualquer estímulo externo
que nos obrigue
como se não conseguíssemos dizer:
assim, assim, assado, cozido e frito, eu quero.
somos tão crianças que não sabemos
as palavras que dirão o que queremos
ou as crianças são o mesmo que nós
e acabou que somos todos a mesma coisa
impedidos por nós mesmo de tocar na tomada porque dá choque
e a sua mãe lhe disse o preço da curiosidade

se disse...
da esperança,
do amor que nós temos!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

reinsidente lei da vida ou acende um cigarro porque acabou

De repente se acaba
toda a vontade escrachada
o furor saliente,
a lascívia e conseqüentemente
foge a resposta esperada
a certeza do nada
sem saber mais o que se tente.

Quanto ao medo surgido
emergido
pulsado
provindo do fim do motivo,
se esgueira no mundo,
se finge de surdo
mas logo faz um amigo,
- vou escrever um livro!
e se acomoda encantado
porque pode esperar descansado
pelo próximo chamado afobado
e intempestivo do instinto.

in vino veritas

Se o dia corre
como a semana passa
e o velho morre
tudo perde a graça
o tempo se corrói
fico assim sem massa
encefálica que prove
que eu não tenho asas
que eu não tô de porre

make up leaving

Let's drink some sad pain
instead
of living bored way
forehead
spill off some mistakes
get where?
dream up some feelings
in head

There's no life,
I'm turning inside,
I'm so tired.
I show my sin
like that
to live death within.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Se houvesse mais sobre o que escrever que não fosse já escrito, que já não tivesse sido filmado, que já não tivesse sido sentido e em conseqüência estudado... Poderia escrever um livro. A condição humana, é ela, a grande pedra no sapato da contemporaneidade, a barreira que precisamos quebrar para alcançar o que tantos ocultistas e espiritualistas crentes esperam encontrar em breve, em vão.
A vacuidade do ser já me cansa, já não é mais tão motivadora nem mais tão linda. A vacuidade do ser sou eu, o querer não é mais poder, e eu estou cansado. Dar a volta por cima de quem? Dar a volta por cima é contra as leis da gravidade, e a gravidade parece estar pesando mais do que nunca, afinal, depois de tantas máquinas, eu acredito que o peso da Terra tenha aumentado drasticamente. O produto final, o ideal, a eficiência máxima, a genialidade não encontrada, o poeta do nosso tempo. Lapidar mais é doloroso e utopicamente gratificante. Quando nós vamos conseguir dizer chega?

domingo, 28 de setembro de 2008

fudeu

a beira é mais presente que o sussudio em si
porque nós temos que ir pelas beiradas do sussudio
a gente só anda na beirada
o sussudio mesmo a gente só vê de longe
o sussudio você tem meio que perceber, a beira ela já tá beirando você tanto quanto você beira ela, então já fica mais facil de beirá-la
mas sera que é o sussudio que te leva à beira ou a beira que te levou ao sussudio?
ein?

pronto pra beirar a vida?
de beira em beira se completa um todo diz ae
as beiras são tudo
foi só eu falar isso que nublo o céu
beiroso isso
tá chovendo aqui em casa
é
e muito
isso é tudo conseqüência da beira
a gente chegou muito longe
tem que amenizar as beiras
as beiras estao se vendo livres do aninimato. Mas sera que é a boa esplanar sobre as beiras?
nunca se sabe se a beira vai fazer você beirar ou se entregar a beira
imaginei a beira como uma outra forma humana sua que te dá certos limites e te mantem meio na linha
se não tivesse a beira
a gente já tinha caido há muito tempo

é... pensamento totalmente beiroso
só quem já anda pela beira há um tempo consegue achar o equelibrio exato pra ficar na beira sem balançar pro lados
por isso só dá pra se viver bem se você está há muito tempo na beira
beirando a beira de beirar sua vida
à beira do sussudio

tipo
a gente não tá nem mais na viagem do sussudio
a gente já foi pra beira
desvirtuou, mas para o nosso bem talvez
a beira é nervosa também
vai ver rola uma competição mental sobre quem é melhor, o sussudio ou a beira
ela ficou nervosa que a gente falou no sussudio de novo
e rola uma competição entre eles
pra chegar mais perto de você
e te transformar num sussudio ou numa beira
mas parece que a gentet quer ser um sussudio beiroso
aí rola o caos

tendo q ir pelas beiradas

é porque quem tá na beira vê a beira mais fácil
de longe você não consegue analisar a real da beira
é so mais uma beiradinha qualquer
mas pode ser a beira do sussudio
e se você não sabe qual é a da beira, você não vai saber se é a do sussudio
por isso é importante se arriscar pelas beiradas das beiras
de possiveis sussudios

claro, ninguém mais anda pelo meio que é o convencional, agora eu vou pela beirada somente

considerações finais do sussudio?

o sussudio, vc sempre fica na beira
so que cada vez mais na beira
até chegar nele, que nunca vai contecer, você vai beirando a beira, cada vez mais
sem nunca poder cair no sussudio
o unico modo de entender a real do sussudio é caindo da beira
que deve ser a morte ou a loucura
ou passar pra proxima beira sem cair
que nunca acontece, só muito doidão
hoje aconteceu só umas 2 vezes
é
mas passando pra outra beira você não entende
você supera
quem cai que entende
quem passa da até uma leve esquecida,
porque já pensou tanto um modo de ultrapassar o sussudio
que quando consegue, sente vontade de esquecer
quem sabe se você se mantiver muito tempo na beira você entende
que quando consegue, sente vontade de esquecer

acho que vou fumar uma beiradinha
ou eu fumo um sussudio?
esse fumo beiroso que beira a beirada

a existencia e o sussudio

rolou umas surtadas sobrio
cara
temos q fazer a teoria do sussudio
materia na faculdade
vc faz o que? sussudiologia
eu juro que eu imaginei
no banho eu pensei nisso
pessoas ensinando sussudio pros outros e aquilo era uma maluquice
pessoas anotando coisas sobre o sussudio
hahaha
o sussudio tinha lógica e parâmetro
paranóia
e tinha bom senso dentro do sussudio
as pessoas não se ligam no sussudio como um todo, deveriam.
se ligam só nos seus sussudios
neurose
por isso nunca conseguem dizer pros outros que têm sussudio
o sussudio, sozinho, não tem graça.
o sussudio de cada sozinho não tem graça individualmente para os que o têm.
a gente ri porque todo mundo tem sussudio, aí fica normal.

sussudio

susso
sussagem
sussetividade
loucura, na verdade

Considerações de beira de sussudio

Considerar sobre a beira do sussudio. O sussudio é um nome, portanto, como todos os nomes, não é aquilo que é, é só uma representação. O sussudio é sintomático, não é totalmente racionalizável. Quem tem sussudio comenta com outras pessoas sobre o sussudio e elas também percebem que o que elas tem é o sussudio e, a partir do nome dado, conseguem fazer milhares de associações sobre os sintomas do sussudio. Os sintomas do sussudio só são perceptíveis através de uma arte; para se poder considerar racionalmente sobre o sussudio é preciso que já se tenha sentido e que já se tenha entendido sensivelmente, sintomaticamente, o que é o sussudio, só não havia o nome. O sussudio, me canso de repetir, é a emoção que move a sociedade. Por não conseguirmos dizer o que era o sussudio e também devido às suas características imorais, o sussudio só conseguiu ser dito depois dos anos 60 e 70, depois daquelas considerações em busca da real verdade. Nos anos 60, conquistou-se a liberdade para poder falar sussudio e comunicar aos outros, comunicar aos outros o sussudio era possível. Não que se pudesse esmiuçar o sussudio, só podia-se nomeá-lo. Não se viu possível descobrir o que é o sussudio como um todo e acredita-se que não é a liberdade que vai nos guiar para isso. A liberdade, aquela que veio com a ciência e a razão na virada copernicana, só se viu capaz de dar nome aos bois. A moral restante da idade média, cristã, até hoje impede que se fale de todo o sussudio, de todas as coisas que se relacionam com ele. A liberdade talvez consiga atingir o sussudio pleno se conseguirmos nos libertar da moral cristã. A liberdade vai nos permitir relacionar todos os nossos sintomas ao sussudio e, dessa forma, ver todas as suas formas, descobri-lo todo, todos os seus funcionamentos. Mas vamos ficar sem saber a origem do sussudio. A origem do sussudio deve ser a mesma origem do universo e não vejo pouca possibilidade de isso ser uma verdade completa. Partindo do sussudio já nomeado, se pode considerar muito profundamente sobro o sussudio, ele pode ser instrumento de criações de verdades mais verdadeiras que as outras que descobrimos. O sussudio é extremamente importante para as nossas vidas, saber dele eu digo, ou melhor, se senti-lo, é melhor sabe-lo como sussudio. A partir desse conhecimento, o sussudio se torna um instrumento para resolver questionamentos contemporâneos até então insolúveis. É como o número imaginário na matemática, criou-se porque sem ele não se resolvia e, como não é verdade o não resolver das coisas, pressupôs-se que existia algo que seria o que resolveria a equação. E funcionou, resolveu. Passamos dessa fase do jogo. Agora já podemos chegar na próxima, agora temos mais um conceito que deve ser estudado. Aulas de teoria do sussudio. O sussudio é imaginário e só podia ser, porque de acordo com as leis normais da física ele não existia. Mas, como as leis normais da física não explicavam e precisavam de uma linguagem imaginária que pudesse ir além daquilo tudo, nomeou-se e definiu-se o que seria esse novo instrumento: a noção de sussudio, a aceitação do sussudio como algo real. O sussudio não poderia surgir em outra época que não a nossa. A histeria neurótica da sociedade pós-moderna. O vazio da falta de fé por causa da razão e da liberdade pra dizer qualquer coisa. Falou-se daquilo que ninguém tem coragem de deixar de ser, nem consegue e que, pra poder aliviar a barra, ri disso. Ri do sussudio. O sussudio é imaginário e tão real, por ser necessário, que parece estúpido. E risível. O sussudio físico não existe. Por isso há sensação de beira. A sensação de beira é proveniente da crise da razão, de não conseguir explicar através da empiria o sussudio, que é algo extremamente imaterial. Por estarmos à beira do surto, fomos capazes de perceber o sussudio, precisamos nomeá-lo para podermos não cair dentro do sussudio, só beirá-lo e olhá-lo de cima, nomeando-o todo. Para quê nomeá-lo todo, descobri-lo todo? Para não nos dar mais interesse pelo sussudio, para já sabermos tudo o que há naquilo e nos sentirmos confiantes de seguirmos em frente, tendo já beirado o sussudio, analisado-o todo e ido, seguindo em frente na vida, com a sensação de que se conhece toda a estrutura do sussudio, sem nunca tê-la vivido, imergido nela, caído da beira. Nos sentimos inseguros e à beira dele; nunca conseguimos achar que estamos nele totalmente, achamos que a loucura é cair da beira, rimos de termos cogitado tamanho absurdo. O medo que temos de ir além no sussudio é ter que tentar descobrir mais conceitos imaginários para solucionar os problemas que o sussudio pode vir a trazer - não sabemos se ele traz outros problemas porque temos um medo, ainda da moral cristã, de falar abertamente dele, de aprofundarmo-nos nele; queremos somente beirá-lo, como se fosse o primeiro de muitos precipícios pelos quais teremos que passar daqui pra frente. Diria que a humanidade caminha agora sobre outro tipo de relevo, mais montanhoso do que as planícies que se vinha vivendo. A liberdade, quem nos encaminhou para essa terra de relevos montanhosos, traz o sussudio ao debate. Se alguém sente ele e mais gente também sente, é possível de se discutir sobre a existência do sussudio e a partir daí nos deixarmos permitir descobrir se o sussudio trará ou não problemas. Não sabemos se devemos tentar descer ou se devemos permanecer pelo alto. O sussudio, infelizmente, sofre movimentos de resistência a ele. Poucos querem descer. Existem terroristas que se matam em resistência ao sussudio, em nome do medo do sussudio, mobilizando a opinião pública, tentando mostrar o sussudio como algo prejudicial: eles são os suicidas de todo o mundo e aqueles que matam amigos no colégio nos Estado Unidos e no cinema aqui no Brasil. O sussudio é fundamental e soberano, acredito que nada conseguirá deter o sussudio. É questão de tempo a sociedade toda perceber a importância do mapeamento do sussudio, não adianta resistir. É quase como que uma revolução ao inverso; não agirmos para segurá-lo é que irá alcançá-lo. O sussudio deve agir; nós devemos estudá-lo, seguindo em frente, pro futuro, pra verdade (?) ou pros próximos sussudios. Devemos ir olhando, fazendo cálculos, anotando coisas sobre o precipício, construieremos máquinas e desceremos, segmentando-o, a nosso modo, ou então nem nos interessarmos por ele, que é também uma opção plausível.
e é irado pq parece um musical
que nem faziam em 1950
só que naquela época falavam de coisas boas
agora a galera tem que se divertir com o sussussudio
que pode ser uma coisa boa
cara nós estamos acima
entendendo todo ele acontecendo e a gente só dá risada dele
e faz uma parada bonitinha, um musicalzinho falando do sussussudio, q eh a merda nomeada
cara
mas todo mundo faz isso
tipo
é isso que ele passa com a música
todo mundo dá risada do sussussudio
nem todos
todo mundo se entretem com ele
mas ele diagnostica o sussusudio
como se fosse uma doença
quem tem o sussussudio vai saber
você sente os sintomas
caralho
muleque!
muito viagem
to com a impressao d q alguem levou meu isqueiro
e isso me desvirtua do sussudio
sussudiando-me
eu nao tenho essa indole
nao uso isquero acendo meus becks no gas

achei aqui
tava na gavetinha
vo, finalmente, tomar banho dando um dois sussudiado e reflexivo
com o isqueiro achado

meu irmao acorda daqui a pouco
e eu to com a impressao de que parte do sussudio vai embora
com a acordada dele

como assim?
ele fico boladao com o sususu?
não
ele nem acordou ainda
mas tipo
ele acordando o sussudio perde a legitimidade
ele fica parecendo um surto realmente

tem nome?

não esqueça de onde veio o sussudio
e nao passe por cima da origem
?
fazendo coisas querendo fazer com que o sussudio se torne real
?
está tudo dentro do conceito
que cada um vai ter
óbvio
o sussudio eh um surto, vc compreende?
logico
cuidado para ele nao se tornar real
e cada um tem seu proprio
como assim?
ou seja, não passe por cima daquilo que criou ele
se ele é um surto ele não é real, certo?
tipo, para não fazer a sua vida virar em funçao do sussudio, apesar de ela já ser
o sussudio surgiu de algo
isso é obvio
o que origina o sussudio?
fudeu
o sentimento de vazio
de nos mesmos
que é, ou também é, o sussudio em si

eu viajei muito as nossas mentes saão mais antigas do que a gente imagina
tudo que não é o nosso pensamento é o sussudio do momento
a gente já sabe disso mas sussudio é tudo
menos o nosso pensamento
o nosso pensamento não é sussudio porque eu sou eu e você é você

mas eu não quero ter a sensação de que as coisas que me cercam sejam sussudio
isso meio que te faz ser uma pessoa melhor
mas tudo é sussudio
como vamos fazer pra limpar todo esse sussudio do mundo
criando mais sussudios
meio que não dá
criando mais sussudios pra gente
ou descobrindo cada vez mais fundo a origem do sussudio, o que é de certa forma criar um sussudio

Isso é do mal

Na beira do sussudio,
caí da beirinha.
quero dormir mas a beira nao deixa
estar na beira me faz lembrar que eu posso cair aí eu nao consigo dormir

mas cara
vai ser bizarro
nossos relatos
sobre o distanciamento do sussudio
e as proximidades repentinas
ou os simples devaneios e brincadeiras de palavras que sussudio e beira conseguem fazer, fazendo sentido

a parada é que estando na beira, qualquer sussudio faz sentido.

A gente tem que escrever a antologia do sussudio hoje,
estando a gente já fazendo ela sem sentir.

Na verdade, parece que ela já tá feita e a gente só tá percebendo;
isso é do mal.

Olha esse significado de beira no dicionário também:
goteira, fenda do telhado, de onde cai a água para dentro de casa.
É total isso.

po, tá foda o dia amanhecendo e eu na beira do sussudio
amanhacendo virgula, o sol a pino

I'm lost.

porra tô na beira da oportunidade também
quero uma oportunidade de dormir
podia ter uma beira aconchegante que dessa pra ficar sussu na beira
essa parada de beira tá ficanto tensa
tá ficando foda
a gente tá só na beira da real face da beira

porra, daqui a poco vai anoitecer e eu ainda tô na beira dos pensamentos
dormir na beira é foda
pra dormir na beira, só caindo da beira

e aí, beirando?
muito
ainda não fui

ih, nem vai mais
a beira não te deixa sair
você fica preso a ela
assim como a beira se prende a você
aí, assim, ninguém cai, nem você nem a beira
fica tudo em paz num sussudio sem fim
acho que vou deitar e tentar socializar com a beira
é a boa
tô pensando nisso

quem sabe a beira não se mostra uma beira legal
por um momento fiquei só na beira e esqueci do sussudio
um problema.
muitos dos nossos diálogos viraram textos.
duas coisas:
- cuidado para não beirar o surto com essa frase.
- pense com cautela nas suas subliminaridades.

9 hrs da manhã é trash

a beira é o sussudio
o sussudio pode ser a beira também
sim
a=b
se a=b, a=a, b=b e b=a, assim como a=b

Mas e se a for igual a c????
(muito preocupado, aflito, coração pulsando forte)
boa,
bem pensado

cético, dialético

Eu fui um tolo em achar que podia estar com a inspiração pra tudo.
Eu fui mesmo um tolo em achar que podia sair da cadeira onde estou, há horas seguidas, pensando, e depois dizer mais coisas legais.
Eu fui meio babaca em acreditar que podia esperar passar o tempo, que estando aquilo ali, já sentido, seria o suficiente para dizer coisas legais a todo momento.
Eu tenho que falar na hora que veio e pensar mais e mais, porque é a hora que veio, é a hora que sinto e depois não vai rolar.
Depois eu não consigo porque não vai ser mais isso.
Abafado, incomodando, nunca será todo olhado, todo dito, se continuar tentando se abafar.
Eu ouvi como se fosse um chamado e estou me rasgando todo, pois o caminho é feito por várias plantas com espinhos e eu estou indo.
Mas é um fruto tão lindo que vai vir que eu digo que é a hora, eu digo que essa hora é certa deve ser registrada.
A hora em que estou me rasgando inteiro.
E tem que ser essa hora, se não,
Não é nada.

um, novo

Eu estou sujo e estou até agora não conseguindo ir tomar banho.
Por causa da sujeira, de toda a sujeira, acabei ficando com medo de tomar banho.
Mas eu devo ter cuidado:
existe uma diferença entre a sujeira física e a metafísica.
Não confundamos símbolos nem tentemos ir longe demais, com palavras e modos de dizer enobrecidos.
Tenho que parar.
Não há nada de nobre no mundo das idéias, não há nada de belo nele:
ele é tudo e a beleza está nele.
Difícil dizer, mas ele não é isso aqui.
Ele não é isso aí.
Se fosse Aristóteles, diria, então ele não é nada, só para irritar Platão e não deixar que ele termine de explicar, o que ele provavelmente nunca termine de explicar.
Mas você sabe, você vê, não está lá nunca, por mais que passe a mão sentindo o ar de lá.
Ele existe, ele é normal e ele não merece arte para ele.
Por que é que sempre quiseram fazer dele arte?
Admiração, talvez, mas a arte devia ser bela.
E essa sujeira, que parecia estar tão lá no começo, continua aqui esperando o banho.
E ela não é bela.
Alcancei o ponto mais alto:
ela é bela?

Beirando a beira, ou o sussussudio é aqui

Beirando a beira,
Estou à beira do surto,
Beirando o surto,
O surto que vai me fazer compreender o sussussudio.
O surto que vai me fazer conseguir dizer sussussudio,
Que é o que eu sempre quis dizer, desde os meus quinze anos, quando comecei a fumar maconha: sussussudio.
Sussussudio.
Eu só estou à beira do surto.
Eu só estou à beira do surto.
Eu só estou à beira do surto.
Um pêndulo, um marcapasso,
É música!
Beirando a beira, dando um passo pra fora quando toco a água fria, mas não paro de querer entrar: é como antes de mergulhar na cachoeira.
Na verdade, é à beira de um precipício, e não de um riozinho, ou lago, que você pode dar um mergulho e tirar proveito.
Mentira, é possível tirar proveito do precipício, senão não pintariam quadros.
A beira de beirar beirando.
Como é possível ficar assim?
Como é possível tirar proveito disso?
Eu estou com vontade de tomar banho mas com medo de me perder no sussussudio porque estou beirando o precipício que eu já cheguei a pensar que pudesse ser uma cachoeira.
Meus pais vão chegar.
Mas nunca lá.
Nunca
Lá.

imaginei uma charge
cada um na beira de um precipicio falando
to numa beira sinistra
é eu tb to numa beira bizarra
hahhahaha
e o precipicio fosse tipo o grand kenyon e passasse um rio chamado Rio Loucura
huahuahua
porra ta foda
preciso sair da beira
haahahaha
eu to sentindo q eu to saindo
q eu to me afastando um pouco
perdendo o interesse
é so vc olhar pra sua beira q vc vai ver q nao ta
se você me deixasse terminar eu diria sobre os meus passos se afastando do precipício, da terra que piso sobre o precipício, querendo, na verdade, não estar à beira de beirar beirando.
Parece uma palavra só: abeiradebeirabeirando
Parece nome de gente: Abeira de Beirar Beirando
mas tudo muda por que o a é craseado e, portanto, há uma preposição ali, era óbvio que não seria um nome nem uma palavra só; a crase!
Acho que vou ficar deitado na beira.

Não pense que é só isso nem que isso vá superar toda a burocracia, mas sim, seja superior ao sussussudio, não caia tão profundamente na viagem

O sussussudio precisa começar de algum lugar, mesmo que todos os que sentem antes que lhe digam o que é, já saibam, já o tenham sentido. Eu ouvi uma música chamada sussussudio, uma música que já foi eleita injustamente a 24ª das 40 incrivelmente piores músicas ever do VH1, segundo alguma revista americana nesse mundo de nova ordem mundial. Eles não entendem. Eu não tomei banho desde aquela hora, no início de tudo, e estou com uma cara de louco, desesperado, angustiado, vermelho e não é por falta de compreensão. Certamente por excesso. O sussudio só é sussudio quando fala-se sobre o sussussudio e se entende o susussudio. Se não falarem, não expressarem o sussussudio, é possível que nem falem sobre muitas coisas.

Chama-se: sussussudio e entendemos tudo o que a ânsia humana quer dizer. Antes de tudo, um detalhe no sussussudio pode mudar tudo a seu respeito ou signifcar apenas um detalhe? O sussussudio. Muitos e muitos – eu disse MUITOS – já sentiram, já representaram; é o sussussudio. As pessoas falam sobre sussussudios diferentes, muitas vezes. Um amigo meu tomou um ácido e ficou falando sobre o sussussudio. Ele já cantou mil vezes o sussussudio e, AAAAAHHH – muito irritado! – é o sussussudio. Mas... o problema entre a Bolívia e o Brasil sobre aquele gasoduto lá tinha a ver com o sussussudio. Todas as coisas do mundo falam sobre o sussussudio, é exatamente isso que eu quero dizer, o sussussudio está em tudo está em todos e o sussudio é desconfortável. Alô-ô: o sussussudio é superficial; não. O sussussudio está superficial. O coração acelera. Pensei sobre o dia de aula amanhã, as conversas, os olhares, eu senti de novo o sussussudio. O sussussudio, o sussussudio, o sussussudio, aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!! Como você não conseguiu compreender o sussussudio? Eu ouvi uma música de um cara que sentiu pensou sobre isso, era exatamente isso! E isso é tão vago. Somente um ponto de interrogação eu poderia escrever aqui, ao querer falar sobre o sussussudio. E, por isso, eu vou botar: ? Eu quero mais um sussussudio, para relaxar. Todos aplaudem o sussussudio, num show, milhões e o cara canta o sus-sus-su-di-o! É incrível, mas, se era tão trágico, me sinto um sádico, estou espantado, me vejo fazendo mil facetas e semblantes surpresos, apesar de eu nunca conseguir saber direito como que eu represento o sussussudio pras pessoas. Todo mundo já falou sobre o sussussudio e eu estou ficando triste em saber que eu sou mais um que estou falando sobre o sussussudio. Eu pressupunha que devesse ser algo novo e não o sussussudio. Isso é sussussudio. O sussussudio é sério e é uma ilusão. O sussussudio e ponto, como se bastasse. Lembrando que o sussussudio é engraçado e por causa dele produzimos muitas coisas! Se não fosse essa nossa busca pela explicação do sussussudio, nada teria acontecido. Eu sei, todos sabem, é o sussussudio e eu estou sendo repetitivo ou não. Vamos parar de pensar no sussussudio, pelo amor de Deus. Existem detalhes aos quais devemos ficar atentos. Vou mostrar o sussussudio, te ensinar, te fazer sentir o sussussudio. Cada coisa já tem o seu sussussudio em si, ou em nós. Não era necessário começar toda essa viagem. Parei. Não parei na verdade, só parei de escrever aqui sobre ele porque se não eu não vou parar e vou ficar maluco. Tem gente que toma os tóxicos e não volta nunca. Eu já falei pra parar de falar sobre o sussussudio, ele vai trazer coisas que a gente não quer, só por causa do sussussudio. Será que vale a pena? Pra dizer o que que é o sussussudio? Ah, não, parei mesmo agora. Espero que eu consiga parar, espero que todos tenhamos conseguido. Porque que eu comecei a pensar sobre o sussussudio? Tento não pensar ser ridículo – pensar sobre o sussussudio?!?!?! Pra isso existem os economistas. É muito ridículo, estou beirando o surto com o sussussudio e o que você lê é uma obra de arte e o que ela passa pra você é universal e extremamente individual e isso é o sussussudio. Não ser único. Os meus amigos já saíram daqui, a gente já não fala mais sobre o sussussudio e eu estou aqui sentado na mesa da minha casa escrevendo sobre o sussussudio. Agora, não, não, agora – com muita ênfase – eu parei. Eu quero as coisas limpas por causa do sussussudio, outra possibilidade é que eu queira limpar as coisas por causa do sussussudio, se é que me fiz entender. Alguém vai fazer alguma coisa do sussussudio. Alguém, vá fazer alguma coisa do sussussudio. Alguém foi fazer algo do sussussudio? Tenho medo de que, a cada dia que passe eu queira adicionar alguma coisa aqui, para dizer sobre o que é o sussussudio. Auto-ajuda? Continuar o capítulo.

[ ] [ ]

Depois de anos e anos e anos, um velhinho na cadeira de balanço, ele quase não consegue existir direito, banguela, enrugado demais, com um óculos de lente muito muito grossa, do lado da cadeira está a sua bengala e no sofá, sentada, vendo televisão, está a sua enfermeira, afinal ele é um velho caquético. Ele está vendo televisão e toca uma música ao fundo de qualquer coisa que estivesse passando na TV.
Pega o telefone, porque tocou. Seu amigo, de anos atrás.
- Você ainda pensa no sussussudio?
- Sim, e sempre penso naquela música do red hot que a gente ouviu depois, “Fight Like a Brave”.

Não foi preciso matar o velho.

Limite.

E eu digo sim ao sussussudio, pelo produto.
Muita coisa já foi dita do sussussudio pelo produto.

http://www.youtube.com/watch?v=gB775nB3YBI
http://en.wikipedia.org/wiki/Sussudio

sábado, 27 de setembro de 2008

Vamos falar de aquecimento global, mais uma vez

Devo confessar que minhas reflexões sobre o tema andaram se conceituando melhor; mais nomes de mais bois já foram identificados. O aquecimento global, quer queiramos, quer não, é um acontecimento real conseqüente de práticas de seres que surgiram naturalmente nesse nosso tão redondinho planeta. O que digo é o seguinte: todos esses desastres ecológicos vividos agora são decorrentes do nosso nicho, e o nicho, por sua vez, não é algo estanque. Conforme mudanças no habitat vão ocorrendo, as espécies entram em competição pela sobrevivência, sendo essa modificação em algo considerável e importante para a manutenção das tais espécies. No caso da nossa espécie, mudamos o nosso habitat, migramos, como costuma ocorrer com muitos animaizinhos da floresta, da savana ou até das pradarias, e acabamos modificando aqueles habitats para os quais fomos também. Ao mesmo tempo em que estabelecemos uma relação de competição em relação a outras espécies – em geral vencendo –, nossos rejeitos, acumulados, alteram a formatação do ambiente. O que deve acontecer, naturalmente, segunda as leis da ecologia para que as espécies sobrevivam? Mudam seu nicho. É isso mesmo, nós humanos, ao percebermos que estamos mudando nosso habitat tão severamente, nos propusemos à mudança de hábitos, à mudança de nicho. Reciclagem, consumo consciente, criação de energias renováveis, nos propomos inclusive outros estilos de vida. Em uma era ambientalmente consciente que se espera atingir em breve, o que estaremos fazendo será nada mais que reestruturando nossas atividades de maneira que sobrevivamos, em função de uma competição com outras espécies e de mudanças ecológicas no espaço onde vivemos; vou repetir, mudança de nicho. A consciência é um mecanismo de perpetuação da espécie.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

rotinerário

Era constrangedor.
Parado sobre o balcão da lanchonete chinesa era onde ele estava – pela milésima vez no ano. Comeu três salgados, três! Porque era irresistível, havia naquilo um encantamento noir, aquele sulco gorduroso típico de salgados de lanchonete de 5ª, a pressa incomum com que se comia aquilo, a agonia afobada da fome interminável.
Ele tinha preocupação com a sua forma.
Mas não dava. Aquilo tudo tinha uma beleza oleosa, incompreensivelmente sedutora. Seduzido, comia e se arrependia, desgostava da sua gula inabalável.
A chinesa, que raramente entendia o que era dito e pedia, com um sotaque horrível, para repetir o que havia pedido: acertar as contas. Ela o encabulava:
– 3 salgados e um caldo de cana.
– Tlês salgado e u caldo?
Não era necessário que ela respondesse a pergunta buscando confirmar o que tinha dito, se disse, estava dito; e dito duas vezes! Ele estava envergonhado; os colegas, acostumados, já o tinham julgado por seu apetite voraz desde priscas eras, desde muitas outras vezes. Aquilo era apenas mais uma evidência real.
Empanzinado.
Aquela chinesa feia, no calor, contou o dinheiro pago, mexeu no troco, serviu outro cliente. Sem nenhuma luva, sem nenhuma higiene básica. Era lá, nessa merda, que ele sempre voltava para encher e perpetuar sua pança.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

só e desacreditado

Como perder-te temo
quando ages aflita;
trago teu veneno,
que me nubla a escrita.

Contornar-te em tema,
transcrever meu grito.
Mas me vês problema
e eu atrito hesito.

Se te mostro meu poema,
se te digo que és meu lema,
ris sem jeito e com o olhar me evitas,

cala em mim a emoção já dita
e se extravia desse meu dilema;
bate a porta, enfim, sou tristeza plena.

domingo, 21 de setembro de 2008

Literatura, modernismo e totalidade

Acho que não se pretendia chegar a esse ponto com a literatura. Não se imaginava pretender, acho que esse é o melhor termo, com a liberdade desbravada pelo modernismo, alçar toda essa complexidade, toda essa possibilidade de explicação do mundo, que se confirma, obra após obra, ineficiente. As palavras nunca serão a totalidade, nem da emoção, nem do pensamento. A literatura não consegue; Clarice, Pessoa, muitos já cansaram e cansaram de nos dizer isso da maneira mais exuberante e poética do mundo. É triste dizer, mas eu digo: o sonho fomentado acabou. Pelo menos pra mim, que acreditava poder na literatura descrever e enunciar tudo, desde as mais vácuas emoções aos pensamentos mais profundos. Fui iludido pela libertinagem. A literatura, impossível de se acreditar, é a literatura. Só literatura - um suspiro, e como a literatura é só! E ela é linda, não vamos negar, apesar de ela não ser a nossa resposta para o mundo e nem será nela que a vamos encontrar ou por meio dela exprimi-la. Portanto, aquela vontade impetuosa de liberdade do modernismo, de desprender-se e assim chafurdar conceitos, pensamentos e idéias, se ruiu com o choque que as palavras nos trouxeram ao não conter tudo, ou ao não poder esmiuçá-lo todo. Mas não se deve menosprezar a liberdade alcançada, por mais que ela não tenha sido capaz da obtenção dessa tal verdade, afinal nós que a guiamos para esse caminho. A liberdade nos trouxe a nós mesmos; nos trouxe mais pra perto do como nós queremos dizer o que pensamos/sentimos. Ela nos encaminhou à consciência sobre a arte, não sobre o que ela pode ser, mas nos mostrou de certa forma até onde ela não consegue chegar, o que ela não consegue ser: aquilo que eu nem vou começar a tentar dizer o que é.

nelson + calderón

Nelson Rodrigues:
O Sábado é uma ilusão.

Calderón de la Barca:
Que es la vida? Un frenesi
Que es la vida? una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.

Portanto...
A vida é uma ilusão,
se o sábado é uma ilusão,
porque a vida é buscar o sábado,
o sábado que a vida pode oferecer.
E os sábados, sonhos ou sábados - tanto faz agora - são.
(Um suspiro de decepção contentada com o movimento pendular de cabeça, como sins repetidos, expressando compreensão)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Não pega, porque não pega!

Se vive de fantasias,
de penumbras metalingüísticas,
tudo o que é seu
em estilística
e estética
é lábia sentimental descrita;
a tragédia
é bela, catártica;
é obra de arte.

A tragédia:

Falta-lhe amor porque lhe falta sossego.
E falta-lhe sossego por errata auto-estipulada:
lista normativa tendenciosa, acre e esbaforida.

Ahh... Agora eu já sei!
já sei, já sei, já sei...
E então...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sobre a metalinguagem

Quando se lê algum grande filósofo, pensador ou artista, é impossível que não se deixe envolver totalmente pelo que ele diz, se há a total compreensão. Mas como bom humano, que vive em situações diferentes, qualquer um tem a obrigação de tentar refutá-lo. A vontade é tanta que muitas vezes se rende à oposição; toma-se, então, o caminho da superação. A partir daí, surge a análise metalingüística, da qual se utilizam todos os enauseados que buscam afirmar-se, como quem quer expor - e fazer com que compreendam - sua impressão digital. Eis que emerge o desejo nato da universalidade.

domingo, 14 de setembro de 2008

ebulido

Não é o silêncio: é amor em falta.
É aquele ir e vir do sangue que transporta o engano.
A lascívia mascante, o etéreo marcante.
O meu corpo,
as palavras lidas, afogadas.
A realidade -
a cama entulhada, dormida
e o cinzeniro no qual se transformou minha mesa.
Eu que me transformei num isqueiro.
Eu acendo e entormento o que penso primeiro.

Um carinho.
Um canino abraçado.
Beijado pelos lábios quentes e refutados de um dono.
Enojado pela mão gelada e indiscutível de perguntas,
sobrancelhas no tom, curvadas.
Eu era as respostas, tantas.
Esculpido em carrara.
Cuspido e escarrado.
O sol ainda não se pôs: é dia, sol a pino atrás das nuvens cinzas.
Ninguém aplaude um dia nublado, ninguém circula, ninguém diz morte.

Sou vivo e vivo as cores, assim como as marcas
e os estômagos doídos e os pulmões encatarrados.
A baba na boca curvada, confessa.
O entalo no esôfago movimentado
e todo o jeito embebido do afago.

O relógio de corda empendulado.
Os parturientes chocados distanciados,
de seus invernos anestesiados;
nos seus filhotes esperançados.

No celular, falado.
O ar é o que certo é,
sua fala diz,
se barulho faz.
Eu sou vácuo, então.

Eu sou mormaceira -
queimo forte,
escondido, e sensibilizo à pele.

O forte e o ingrato,
um faminto enebriado.
O azedume em tratos de gente.
Um fogo fraco esquentando a sala da televisão.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

frescor

Tinha um som, o som que explicava como é que estava. E do som podia-se ver um movimento, uma forma. Como as luzes continuaram lá altas nos postes, como a noite continuou nublada, céu rosa, com os braços cruzados por um frio ansioso, o início de seu dia viera à tona.

Era dia, quente, muito quente, subindo uma ladeira, escondendo lágrimas e soluços de quem podia avistar na rua pelo caminho. Aquela roupa que usava o engordava, o incomodava, aquelas pessoas com quem se relacionava intimidavam-no, sim, intimidavam, e eram amigos, de longa data. Também não tinha superado suas expectativas, nem atingido-as, um xoxo 6,5. E seguia subindo, com a mochila puxando a camisa pelas costas, quente, o suor, toda aquela avalanche de não pensamento, era só sentimento, era só a sua cabeça pulsando, o rosto enquentando, molhando, e um soluço louco. Não havia pensamento.

Mas o que era mesmo era noite e o som que explicava e tinha forma e movimento acompanhava os postes da Lagoa, um a um, altas luzes, altas, lâmpadas HPS, holofotes nas fumaças dos cigarros expelidas. E essa nem de longe plenitude, mas que compensava... o calor, a ladeira, a angústia. O movimento do som era branco, fosco e translúcido.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

anencéfalo

Se era efêmero de fato,
não sabia.
Só sentia o pensar como um ato,
que a seu engano não correspondia.

Duas faces, dois momentos fraco.
Fraco por melancolia;
Fraco por sua covardia:
negava o espírito como em fé opaco -
mas consigo, nem um deus jazia.

Era mal inato,
de ciência fria.
Homem um macaco:
noite vem, vai dia.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

In order to not spank her children, to be the best mum, she bought for herself a spank-boy, a revolutionary new polishop product: every time any of the two brought her angry, she locked herself up in the bedroom and started to hit the thing as strong as she could.

She became addicted.

The kids, as the time came through - and also as it certainly would be - never learned, neither by violence, neither to love her. And she also didn't exercised how to live without violence, or how to love them even if they were the worst behaved children ever. They came worse as she went more to the bedroom. It was ciclic, it was progressive. She also didn't thought abou how weird was the habit of arguing or gatting stressed with her two sons and then going punch that fucking spank-boy. She didn't realized she allowed herself to hate furiously her children - and they didn't know what love was.

By the time she got in to her bedroom once again in that day, she saw the sapnk boy kind of wasted by usage, she stopped in front of it and hugged the boy: it was the only thing she loved and she could hit it.

Then, she hit it.

domingo, 7 de setembro de 2008

passou pela soleira

Ele sempre entrava por último pelaquela porta, ele, nunca em silêncio, sabia que o estavam esperando. Antes entrava um amigo seu, um bonitão, alto, simpático. E em seguida vinha ele, gordo, meio mulambento, geticulante e falador. Insuportável. Todos atentos à sua chegada - ele gritava por isso, por bem ou por mal, sempre aguardavam. Sim, e ele chegava e se fazia presente, falava alto, chamava a atenção dos outros e não se cansava de contar piadas só por contar piadas - ele era muito chato. Sempre com um chapéu, que de vez em quando tirava e se podia ver sua cabeça oleosa, seus cabelos achatados, há tanto tempo abafados dentro daquela estufa quente e nojenta que o chapéu fazia com a sua cabeça e cabelos. O país era tropical, a umidade relativa do ar era alta e ele usava chapéus quentes e camisas de botão e não parava de gesticular: era até um pouco afeminado. De vez em quando, desafinava a voz propositalmente, sempre durante uma piada sem graça. Sentava no chão, sim, gostava de sentar no chão e gostava que todos olhassem para ele, no chão, assim que começava a falar alto nada com nada. Não admitia que outra atividade tivesse seu foco de atenção, ele era carente, portanto, se começassem a mexer no computador ele teria que trazer todos para o computador e ele não pararia de falar sobre o computador, até que pegaria o mouse da mão de quem controlava antes, escolheira alguma coisa para se fazer, faria piadas sobre aquilo, perturbaria alguém de alguma forma com o novo site acessado como pano de fundo. Perturbou até que um foi embora e ele percebeu, perdeu por alguns segundos a pose e logo lançou seu comentário depreciativo-piadista sobre a ida de quem ia por causa de sua presença. Resumindo: ele era um gordo escroto.
festa que bomba em silêncio.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

falei!

Seu juízo estético magro, esquálido -
incumbido -
é desprovido de saudade,
é desprovido de pureza,
de proeza e autenticidade.

Gorjeia-se e apresenta-se:
lista,
um a um,
todos os seus não-trejeitos viciosos;
e elucida,
uma a uma,
as almas diminuídas,
retiradas de sua vida,
que os tais mal-feitos têm.

Seu senso de fraqueza,
sua noção de espaço, deturpada,
e a de liberdade, mandada,
sentenciam relatos e pessoas,
familiarizam características
a críticas
e as personificam
nos atores
do teatro real que ele cria
por necessidade.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O que eu vou pensar vai ser em nuvens brancas no céu, ao som de um bom rockabilly, seguindo bem bonitinhas em direção ao Norte. São nuvens da uma massa de ar antártica. E no meio da virada, um avião fura a nuvem e voa sinuoso, dando piruetas no céu.

Mas a música acabou. E ele continuou dando piruetas. Mas a música já tinha acabado. Ele não se importou, não queria voltar para a base, continuou dando piruetas. A música, reiterava-se, já tinha acabado. Voltar era inevitável, e ele não voltava. A mudança na feição, que foi começando a partir do fim da música, era visível. Os seus dentes montados um no outro, com os lábios a mostrá-los, era um sorriso, era tranquilidade, era leveza ao som do rockabilly. O dentes não saíram de cima um dos outros e nem os lábios deixaram de dá-los licença, mas já era outra coisa: pura tensão, pura vontade de continuar lá, bem, no rockabilly tranquilo, na vida tranquila, do sorriso. Se a música tinha acabado e ele deveria voltar para a base, ele não desejava voltar nem dava sinais de que iria. Suas piruetas sinuosas ficaram agressivas. Preocupava, alarmava; reprovavam. Ele suava. Ele massacrava o volante de tanto que o pressionava com as mãos.

Ele continua voando sinuoso, agressivo e ainda especula um plano. Os aviões da base já são avistados ao horizonte.

domingo, 31 de agosto de 2008

resistência ao enem

Hoje eu quero ser fascista, darwinista e determinista. O aquecimento global não deve ser levado a sério, e isso o governo americano faz muito bem. Por que? Ora, porque eles são muito cristãos - protestantes! -, porque eles têm formação cultural influenciada pela ethos alemã (logo após a proclamação de independência, houve um plebiscito que decidiria se o idioma americano seria o inglês ou o alemão - espaço vital e destino manifesto, algo em comum?). O aquecimento global vai selecionar somente os bons: é o apocalipse que a bíblia descreve tão bem, e todos os maus, ou seja, os pobres do mndo interio e os africanos vão morrer.
Através do aquecimento global, o mundo vai ficar mais seleto, vou me sentir alguém melhor e por isso eu acredito nele - só vai sobrar a elite do mundo: vou continuar comprando todos os meus produtos poluidores e vou continuar sendo esse burguesinho de merda.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Marasmo retumbante
engasgo fumegante
fechado basculante
caixote sufocante

empaco no instante
não penso o restante
tolero vacilante
as marcas no semblante

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

espalmadas na parede chapiscada

Agora já passou algum tempo.

Mas quanto mais se pensa em si, mais se sente a própria vida.

Depois de falar e falar e falar, gesticular, olhar no fundo daqueles olhos verdes e não sentir mais os pensamentos, só atropelar gaguejadas palavras com mãos inquietas e caretas explicativas, escutei algumas perguntas, algumas ponderações, alguns encaminhamentos e comecei a fazer sentido, sem que as caretas nem os gestos fossem tão mais necessários para o entendimento. Levantei, porque era hora e a campainha já tinha sido tocada, conversei sobre o pagamento e me despedi.

- Então, eu esqueci de trazer o pagamento do mês passado, aí eu trago semana que vem dos dois meses juntos - eu iniciei o assunto.

- Ok. É, isso mesmo - prosseguiu ela ao mesmo tempo em que eu terminava minha fala - acabou que os pagamentos ficaram trepados! Olha que engraçado a palavra que veio! - ela só podia ter estudado Freud a vida toda. Me dirigiu até a porta. Quem tinha chegado com a campainha estava no banheiro e uma pasta, que devia ser sua, estava na cadeira.

- Tchau, até quinta! - dissemos os dois, ao mesmo tempo. Virei, a porta fechou.

Como sempre, saí pelo corredor batendo com a mão espalmada na parede chapiscada do corredor daquele prédio comercial em Copacabana e suspirei fundo ao som do pensamento simbólico ‘tiro na cabeça’. Um enjôo me perseguia – lembranças de Sartre. Desemboquei no hall dos elevadores, eram dois.

Os dois elevadores passaram direto o andar onde eu estava. Sozinho, as figuras recém surgidas naquela sala da qual acabara de sair fervilhavam. Eu era uma metade do partido Andrógeno de Prometeu. Eu buscava amor em todas as suas formas, eu queria o brilho. Eu andava de bicicleta com meu pai aos 8 anos de idade e queria ser dono do Copacabana Palace. “Cuidado com os sonhos altos, você pode se frustrar quando ficar mais velho” era, sim, aos 8 anos que eu ouvia isso tanto do meu pai como da minha mãe. E o elevador chegou, o social, o que tem um espelho. Lancei um chiclete. Estômago?

O caminho para casa era um tanto quanto longo e eu pensava e sentia muito e ia a pé. A cada passo eu pensava, eu sentia e eu queria sentar e escrever. Toda essa história de amor não recebido, de amor procurado, de dependência do riso e do aplauso. Aquele caminho de sempre, as muitas pessoas variadas da Avenida Copacabana e eu e a minha mochila sacolejava. O barulho do ônibus parando, tsss, andando, seu carburador soltando a fumaça que eu nem via, mas imaginava, só pelo barulho do ronco. O céu me dizia que era noite e as luzes acesas me diziam de mim. Eu, sentado no sofá da sala, conversando com meu pai que não ouvia minhas poesias, nem minhas reflexões metafísicas. Falava dele, do Direito dele, da sua Jurisprudência e os dogmas e mais dogmas e mais dogmas do seu Direito, que enclausuravam, encaixotavam, acachapavam meu amor Filia. O enjôo.

Eu parei no sinal da Barata Ribeiro com a Bolívar. A mulher ao meu lado, eu olhei, era feia e me olhou nos olhos – continuava muito feia. A faixa de pedestres atropelada pelos carros, pois o sinal estava verde, e lá do outro lado, a calçada do meu caminho que continuava. Mais roncos, mais ônibus, mais carros. Gosto de fumaça na boca. Aquecimento global? Meu estômago não desembrulhava de jeito nenhum. Eu tinha meus 14 anos, na casa de umas pessoas apenas conhecidas, sentado no braço do sofá, vendo um filme na televisão muda para que se pudesse conversar, o qual ninguém se interessava – e eu ria. Nesse mesmo dia, eu discuti gritando minhas ideologias com quem me ridicularizava.

Só voltei a olhar para o mundo na pracinha da frente de casa. Moderna, haviam acabado de construir o metrô ali. Lembrei-me do que não era da conversa da sala dos olhos verdes, lembrei-me da vida não-minha. A vida, além de tudo isso, ainda é se sentir bem. Mascava o chiclete e a Náusea bombava. Passo, outro passo, latejava na minha mente, outro passo, o amor que eu não tinha, mais um passo, e a vida que eu vivia, mais outro, minha casa que não chegava para eu escrever – eu mascava e mascava arritmado o Trident. Meu amor era Eros, por isso eu dependia dele.

Um degrau e o outro, uma perna e depois a outra. Subi os dois degraus que antecipavam a porta do prédio e subi pelo elevador de serviço. A chave, ao chegar no meu andar, não estava no esconderijo de sempre, um pequeno susto que a rotina me deu, mas estava na mochila. Entrei, casa vazia, fui para o banho. Eu tinha falado para a moça dos olhos verdes, eu estava me sentindo sujo, oleoso, mal-tratado por mim mesmo. Como de prache, a masturbação. Dessa vez mais rápida e mais espontânea que o normal – será que eu estava com vontade? Gozei rápido e no mesmo instante soltei meu pau. Aturdido. Mas fiquei sentado ainda um tempo com o chuveiro caindo água na minha nuca, que escorria pela barriga, pela púbis, pelos pentelhos sujos do esperma; a água escorria pela ponta do meu nariz – minha cabeça estava baixa. Shampoo, sabonete, foi tudo passado de uma vez só, o que não era o normal. Estava me limpando do meu calor, tirando meu óleo, estava limpando o meu esperma, estava ensaboando o meu Eros.

A porta do box escorregou para o lado pelas minhas mãos, que puxavam a maçanetinha. Eu pisei no tapete do banheiro e puxei a minha toalha, branca. Me sequei, esfregando bem a cabeça, e me enrolei na toalha, segui para o quarto, sentei na minha cadeira verde e velha de plástico e comecei o que já era plano desde o primeiro elevador: escrever, mesmo que já tivesse passado algum tempo desde que os olhos verdes me olharam da última vez.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

um presidente eleito
alguns ministros e alguns deputados
alguns senadores, vereadores, prefeitos, governadores.
E seus acessores.
E todos os empregados e encarregados de tudo.
E seus empregados dométicos
E seus filhos
E os professores deles, coordenadores,
inspetores, baleiros do caminho, trocadores
e motoristas dos ônibus que pega
e seus colegas.
E os pais dos colegas
os empregados deles
e toda a malha rodoviária da cidade
e seus projetos ultrapassados de receptamento de esgoto
e as leis e as mamatas conseguidas
o trânsito
a viatura
a ambulância abrindo um vão no meio do engarrafamento
e os carros que vão atrás dela

a Terra, em processo de degradação ambiental, nesse momento gira em torno do sol e de si mesma graças ao Big Bang

Eu estou no meu corpo no meu quarto

outro achado do caderno:

"Eu sou o foco maior e não quero mais me dissuadir.
Amigos
Deveres
Prazeres
Dinheiro
Em tudo o que mais importa sou eu
Eu
Eu
Eu
me dá a chupeta, muá, muáááá!!!"
reclamávamos nós, filhinhos únicos da consciência na Terra.

devaneio paralelo:
"derretam logo, calotas polares!
venha logo, maldito Tsunami!"

Achei isso no meu caderno:

"Do tempo que sobra para mim, para minha introspecção, faço mau uso: durmo. Enquanto poderia estar equacionando temores, refeltindo sobre minhas diretrizes, sobre minhas relações. Mas eu durmo.
E prefiro assim. Antes que mergulhe em extremas profundidades, não me permito. Fico num sofrimento superficial, numa sensação insatisfeita tão sem propriedade que não me julgo digno de lamentar. Não me permito chorar, não reclamo, não faço lástimas, nem discorro sobre, por não ter conhecimento de causa.
Só queria chorar e saber que chorando eu vou saber mais e tudo vai encaminhar-se a dar certo.
PS: tenho me achado muito teen."
O mundo cai esparramado em cima de mim de uma altura de mais de 30 metros. Seu impacto me achata contra o piso de pedras portuguesas da calçada da Atlântica. Eu fico lá, estatelado, com o mundo sobre as minhas costas mais que fraturadas e observo o que há nas ranhuras entre as pedras. Sujeira preta e musgo. Esquecimento e vida nova.
(Uma mãe, moradora do topo do morro da providência, negra, tem um filho, negro.)
O mundo me pede licença grosseiramente e sai como se não tivesse sido com ele. E eu saio andando, todo quebrado, aterrorizado, de fininho.
"Mal-algradecido?"

marcas

Os flashs acontecidos,
conectados, malditos!
engrandecem e recheam o drama,
dão forma, cor
e chamam:
você a pensar,
as más vibrações para o mundo girar,
todas as manifestações do caos.

São momentos vividos,
passados e repassados sem prol;
são ingratos.

Como a brisa que refresca sem atrapalhar,
sou lembrado, sem interrupção de nada.

E eu olho pra fora,
vejo prédios, vejo plantas,
não figuro mais nada daquilo,
mas está tudo muito bem informado.
Existir-me exala.

tripalium

Empolado de abraços mal-dados,
engravatado, tolhido dos confortantes afagos;
esquecido, a bobas quimeras fadado;
mal-dormido, na porta batida do quarto, escorado.

De enfado, amalgamado.

À procura dos mais categóricos -
e satisfatórios -
produtos irrisórios do mercado.

Engavetado, marido e mal-pago.

domingo, 24 de agosto de 2008

- é a ânsia, pensou

São o sim, o não
e a questão!
Lamúrias em vão...

A disciplina entoada:
o livre-arbítrio descrito e empanado
cada vez mais crocante e mais macio,
mais moderno, mais veloz e mais vazio,
de martelos e suspiros ecoados,
imitados, propagados, desmentidos,
pretendidos.
Não escoro mais ninguém, decoro – e o sentido?
Eu não sou nada.

sábado, 23 de agosto de 2008

porque a sua cama estava bagunçada,
ele olhava as horas e contava o tempo de tudo o que perdia.
enfim,
só depois de olhar as horas e pensar mais um pouco,
esqueceu o quanto estava tarde.
mas era tarde nas suas sinapses,
nos ponteiros.
na sua janela, o sol soltava seus últimos raios.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

o narrador

Acometiam-lhe algumas idéias, umas bem vagas de seu passado, nem tão distante assim, outras do período que ele compreendia como presente, apesar de já terem acontecido. E era isso mesmo: o que ele tinha vivido há mais tempo, as primeiras impressões que teve quando formava-se como um homem de fato, com os primeiros pentelhos e bigode de porteiro, determinavam-lhe algumas situações - desde uma empostação de voz característica, aos motivos de olhares lancinantes. Mas isso vinha vivendo em completo coma. De uma hora para outra, entre um trago e outro, no meio de uma conversa de casa de amigo com os amigos, num daqueles momentos que não importa onde esteja você desliga um pouco do mundo, apareceu no consciente essa noção que ele não tinha. Seu silêncio era ardido. Seu aparecimento calava.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

modus vivendis

Ela, soltinha,
quer o agora.
Quer ser paulatina
por isso nubla a hora
de quando tudo já tiver que ter sido.
E eu a invejo,
pois o que nublo é o manejo
de quem vive e aproveita e adqüire
e consome sua própria individualidade,
sua prosperidade e sua excentricidade.
Ela tem uma garra,
uma marra;
e eu um medinho
e uma perseverança encardida
que vão,
permeando-me o enredo,
construir meu futuro
ou destruir-me os ensejos.
Nas vezes que a chuva cai,
ela cai.
Nas vezes que o tempo nubla,
e só,
descuidado e hiperativo,
eu ranjo meus incisivos,
sufoco sem escapismos,
enxergo com estrabismo;
é como o impossível desate de um nó:
não se pode abrir o que embrulha -
simplesmente não cai a chuva.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

há mais de um tempo sem chover

Nas vezes que a chuva cai,
ela cai.
Nas vezes que o tempo nubla,
e só,
descuidado e hiperativo,
eu ranjo meus incisivos,
sufoco sem escapismos,
enxergo com estrabismo!
É como o impossível desate de um nó:
não cai a chuva.

Não era dia

Ouviu-se o pianinho, a fumaça do cigarro não se deformava pela inexistência de qualquer janela aberta e só se via o cigarro e a mão dela - sim, uma mulher. As paredes pretas, o chão preto e somente a luz branca de um abajur modernoso. Havia também a mão do tal alguém que se sentava numa poltrona de couro preta, com aqueles tão ordinários botões que pressurizam as almofadas. Era velha, os esmaltes eram rosa e sua roupa era escura numa cor indizível - era a cor do momento todo. Ela não via nada, não fazia nada, apenas estava sentada, fumando seu cigarro, com um de seus cotovelos apoiados na poltrona, o cotovelo da mão do cigarro, que estava solta, meio desmunhecada. O outro braço acompanhava o corpo e a sua mão depositava-se próxima à sua pubis, por conforto. suas pernas cruzadas e sua roupa da tal cor era uma espécie de túnica, que ia até depois de seu joelho, mesmo sentada; suas sandálias eram jesuítas. Não fazia nada, não ventava nada e a funmaça subia retinha. Até que se desfez. A linha vertical que se formava da brasa do cigarro até o momento em que ela se misturava ao ar se desfez e vários movimentos circulares fez a fumaça e ela tragou e a brasa comeu mais um pouco do papel e seus pulmões encheu de fumaça: era possível ver seu tórax cheio. Por pouquíssimo tempo, quando soltou a fumaça num biquinho muito característico dela, voltou a mão para a posição de antes, desmunhecada sobre o cotovelo apoiado no braço da poltrona, e continuou a estar ali. Nas primeiras respirações que se seguiram à tragada expirada, resquícios de fumaça saíram pelo seu nariz. Uma ou duas vezes.