terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Uma família toda reunida em volta de um sentimeno de não ter alcançado. O preço alto a pagar pelo sucesso fácil, por vender-se. Mas um preço, talvez ainda mais alto, a pagar por ficar para trás num teatro onde o alcance das expectativas de sucesso que cada um deve cumprir é o que vale. O contato estranho com aqueles que não partilham com eles desse código de honra; a necessidade de conviver com outros para obter o mínimo, pois há escassez de amigos. A superimportância dada ao trabalho, porque o simples vender-se não é permitido. Viver, para eles, é mais complicado, pois vivem, ano após ano, querendo crer que um dia serão recompensados, sabendo que não serão, na verdade, uma vez que vêem essa inexorável politicidade inerente ao sistema econômico em que vivem.

domingo, 17 de janeiro de 2016

amante parvo

eu ainda não sinto aliviado o passar do tempo

eu penso sobre todo mundo como um homem branco

(eu silencio-me quanto ao meu desejo, porque platônico e ultrapassado,
e minto toda falta de culpa e de medo por ser solitário
me escondo, sempre a ser eu mesmo, e, um a um, vou cumprimentando
mas segundo a cada segundo tudo ainda tem seu rosto)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Um pedido de desculpas se aproxima e pede para sentar. No início, ele é bem vindo, e toda cordialidade dele é retribuída, conforme servem-lhe mais uma taça. Como pedido que é, aposta na delicadeza da etiqueta para não ser posto para fora, já que há o risco dos termos em que se apresenta não serem exatamente aqueles que deveriam ser cotejados, segundo quem concederia as desculpas. Alguma palavra, no entanto, é recebida por esse pedido de modo atravessado: ele percebeu uma grosseria, tépido. Ele é um pedido de desculpas, então dificilmente sairá de perto, insistindo em ser bem recebido, até que consiga desaguar e se decompor no coração daquele a quem se endereça. Como as desculpas são consequência de um mal-feito, alguma aspereza ele já esperava. Permanece, aceita outra taça de vinho, conversa um pouco com os outros comensais. O álcool sobe à cabeça e o pedido de desculpas é humilhado na frente de todos: tacam-lhe um copo d'água na cara, jogam-lhe o guardanapo, esbravejam tudo aquilo de péssimo de que tentava se desculpar e deixam-no com cara de pastel à mesa chique. Ele olha para todos, todos o olham, poker face, e nao consegue levantar da mesa, por não saber o que fazer. Fica até a sobremesa. Fala com todos sobre assuntos superficiais. Vai embora do jantar sem ter cumprido seu objetivo, embora tenha certeza de que foi educado.

domingo, 10 de janeiro de 2016

erramos em pensar assim pois a vida é real e a metafísica não existe mais, é o que dizem, portanto devemos resolver a vida na prática cotidiana, é o que dizem

alívios psicológicos são fluxos que saem da nossa mente para uma esfera metafísica do universo aparentemente infinita. como despejos de lixo ou esgoto no oceano, despejamos nossas neuroses, a fim de obtermos alívio, para o "espaço".