sexta-feira, 28 de maio de 2010

A crise do primeiro dia

Quando me dei conta de que éramos só nós dois na minha cama de solteiro, ninguém nos via, não resisti: levantei incrédulo o lençol que nos cobria - nos cobri e armazenava o nosso calor de dois sobrepostos, ao quadrado; levantei-o pra ter certeza de que era mesmo a sua perna encostada na minha, os seus pelos roçando com os meus, o seu corpo ali pra mim, comigo, deitado, nós dois pelados e eu te olhando enquanto você dormia. Ou talvez tenha sido uma olhadela de orgulho próprio, só para que eu mesmo pudesse entender - vendo - que eu, um sozinho no mundo, também conseguia, também me mexia e amava, como eu queria.

Depois, você ia embora contrariado, e eu quis ficar deitado olhando você se vestir: fechando a fivela e rindo pra mim como quem via que eu via.

E então você partia e não saberia mais - até quando? - se você voltaria, ah!, te conheço tão pouco! Me dá seu telefone! Eis a crise do primeiro dia.

jovens

chegar ao fim da vida
e concluir que ganhei

perder a batalha:
sinal de guerra em crise pro meu lado
mas ainda há vida, há futuro, há guerra.

olhar por cima e ver que ganhei
olhar do céu e ver que vivi
viver aqui vencendo constantes batalhas

a vontade da guerra hoje encontra paredes
esse é o problema
porque eu não ganho guerra sozinho,
se não reduzir meu universo...
mas não é o universo que está em expansão?
e os indivíduos... reduzidos aos seus leitos!

ser um só e não vencer o sol
ser um só é não vencer o sol

'Eu' é alguém que não tem time
mas não há guerra que se vença sem homens
e não há homens se não nos pensarmos belos guerreiros
de belas guerras e belas histórias
Juntem-se, pertençam-se, poetizem-se!
sejam juntos, em time, seu time tem que ser sua vontade, os seus amores!
(o problema é que há tantos amores e tanta gente com os mesmos, espalhados, que é preciso buscar homens por aí para serem do seu time...)

Só se vence o sol com poesia e amigos
só se faz vontade quande se vence o sol

lá de cima, de cima do sol

terça-feira, 25 de maio de 2010

relato da censura

Vou evitar escrever versos que enrolem minha língua. É, sim, a inconstância dos pensamentos; é também o medo do clichê do drama e da tragédia; é, além de tudo, um respeito pela honestidade, pela honra de um sentimento tão verdadeiro que, em versos quaisqueres, poderia acabar meramente feio, ou ridículo. Não se trata de tragédia, sequer de comédia.

Achei digno, sóbrio fazer um relato da censura.

"Não podia mostrar miseravelmente a miséria, nem me deixar levar por qualquer ânsia poética - deveria primeiro encontrar um fio e desabrochar o poema com a beleza que só a arte tem. De poesia de fracos estou farto! Farto, farto, farto de um não saber reconhecer um erro - é, minha poesia tende a se incomodar com tudo e, quando muito se deixa levar, escamoteia a palavra suicído.

Já a prosa, percebe?, mostra a preguiça do poeta, que espera que os outros relativizem seu gosto e seu entendimento. Qualquer dúvida é qualquer dívida, meu caro poeta. Esta prosa será um respeito: um desejo guardado, um suspiro respirado."


quinta-feira, 20 de maio de 2010

a pedra do meio do caminho

O desande em que me encontro com a expressão vem me enganando e me errando por mesmos caminhos usados. É novo o tempo, e eu ainda não. Se dissesse que atropelo as palavras - não é isso. Sinto uma latência poética enoooooorme - mas meu palavreado, alguns vícios e birras me fincam, ridículo, ao saber lidar de uma vida antiga... Eu estou gastando a sola de um sapato feio-de-fora-de-moda, só porque julgo que "acabar" seria seu desgaste absoluto.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

em pé

Ao som das ruas é preciso vê-las ruas, sabê-las ruas, senti-las ruas
mas é preciso crer ouvi-las mar
ter respeito pelo que acontece














o seu é o seu
(ne espera lenta
debaixo de flechadas
sobrevivendo no nada)


é seu


respeito, vambora

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Como se fosse fácil perguntar pra gente se agora e depois, pra nós mesmos, nos nossos atos, estão vinculados. A repetição de um relógio de ponteiro que faz barulhinho, um caminho ou um ritmo? Sempre perguntei ao nada, até que certa vez eu li um livro. Por alguns dias, perguntei pra mim mesmo, mas aí eu tive que simplesmente fazer, porque - como era difícil estar sob uma condição de escolha... eu preferi trocar a interrogação por reticências e pontos finais.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

existe diferença entre coquetismo e ideal ascético?