terça-feira, 17 de dezembro de 2019

quarto experimento do escrever livre

toda vez que me perguntei por que eu falho tanto,
obtive respostas reticentes.
ninguém tem culpa, ainda que haja um motivo.
perguntando-me sobre a natureza do motivo,
expressei a minha incompreensão sobre o desdobramento do presente:
o tempo perdido pelo desaviso...
a ilusão de que a possibilidade de melhora no futuro basta
e de que o esquecimento pode operar com a mesma força que a juventude sustentam as nossas boas disposições físicas.
o outro venceu mesmo.
eu perdi sim.
enquanto o dia passa para o gozo de uns,
alguns outros esperam a sua glória,
remoem as suas derrotas agarrando-se na esperança de conseguirem mudar;
e eu de repente conseguirei esquecer a falta de sentido
e algumas batidas aceleradas no peito
com alguma distração ignóbil como escrever
para ninguém ler.

por minha falta de sorte,
quando eu paro de fazer algo com as mãos e começo a pensar,
meu pensamento me guia para uma distração perigosa:
a mente em plena preocupação não é um bom lugar para se pendurarem espelhos.
eu retorno para o meu ofício de escritor aflito e desejoso de certa liberdade --
liberdade a que me condicionei para escrever esses textos,
uma vez que possam também nunca ser publicados,
por vergonha e por medo.
em algum lugar eu queria buscar o meu ultrarromântico,
o meu poeta do inexplicável,
mas há sempre uma pedra no meio do caminho.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

terceiro experimento do escrever livre

escangalhei-me com tantas tentativas e erro, com mais erro do que acerto.
dentro em breve não sei o que vai ser, o que vou fazer, mas continuo escrevendo.
sou incitado a esboçar muitas teorias -- em vão, pois não me aceitam em nenhuma instituição.
sigo, como posso, como quero, buscando o poeta dentro de mim.
antes eu achava que os artistas eram os sortudos.
que faziam o que queriam, que escolhiam mais do que necessitavam e que eram, por isso, mais felizes.
hoje já me deparo com o contrário.
quando dizem que a arte é o espaço da resistência, agora entendo que é porque é na arte que mesmo as coisas rejeitáveis podem ter o seu espaço de escuta.
a arte é independente, autônoma, como se diz, diferente dos outros domínios das humanidades, e por isso se pode dizer o que se quer.
portanto, paradoxalmente, pelas vias oblíquas, a arte é, sim, o espaço da liberdade e de se fazer o que se quer, mas porque não se pode fazer o que se quer em parte alguma.
Infelizmente -- ou ao menos esse tem sido o meu caso -- os artistas tentam muito em outras partes e raramente conseguem.
raramente conseguem com a arte também: ela é o que lhes resta, contudo.
a sorte deles, quando ela surge, é que o olhar dos que apreciam a arte está por aí buscando aquelas intuições e aquelas novidades que não são usuais nem estão dispostas facilmente nas academias.
se o artista tiver essa sorte, será encontrado e compreendido, e aí sim se pode dizer que ele será o mais feliz de todos os humanos.
enquanto isso não acontece, o artista é circunscrito ao mundo dos desenganados pela vida, que buscam distanciar-se do ridículo de não portarem a insígnia de nada governamental ou institucional que ofereça aos outros e a ele a certeza de que se está em um bom caminho, coerente, significativo.
a liberdade do artista é quase uma consequência da sua inadequação, que vai se comprovando ao longo doas anos da sua formação.
cada vez mais ele é empurrado para a arte pelos seus insucessos.
a sua superficialidade anda pari pasu com sua intuitividade, que apenas se expressa dessa maneira superficial porque não há no mundo ainda nada que possa suportar a inovação proposta por essa mente pensante sui generis.