segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ah, mas eu sinto uma coisa tão boa, mas tão boa quando alguém está fazendo coisas em mim para me cuidar... Eu acho muito gostoso ir ao barbeiro, ao dentista, ao médico... Adoro o fato de ficarem encostando em mim com cuidado, com o objetivo de me manter bem, de melhorar a minha aparência, a minha saúde, o meu bem estar! Eu não sei... Mas é que eu tenho quase que um tesão quando sinto as mãos encostando em mim, me melhorando, me guaribando, me emperequetando: como se me sentir bem estivesse relacionado com a minha aparência e com o meu tesão - é uma espiral, em que o investimento na aparência já é o alcance do objetivo final, que é sentir-se bem, atrair pessoas - e atrair pessoas é um estímulo a continuar me cuidando, é o reflexo do bem cuidar-me. É uma engrenagem: higiene/bem-estar/sexo/higiene/bem-estar/sexo...

domingo, 29 de novembro de 2009

a implosão da metafísica por Mário Quintana - mais brasileiramente impossível

Preciso postar uma linda poesia do Mário Quintana, que conseguiu expressar muito bem essa história de romper os limites entre o mundano e o erudito, ou seja, conseguiu expressar o fim da extratificação de valores - brasileiro adora se despreocupar. É a poesia IV da "Rua dos Cataventos". Aí vai:

Minha rua está cheia de pregões.
Parece que estou vendo com os ouvidos:
"Couves! Abacaxis! Caquis! Melões!"
Eu vou sair pro Carnaval dos ruídos,

Mas vem, Anjo da Guarda... Por que pões
Horrorizado as mãos em teus ouvidos?
Anda: escutemos esses palavrões
Que trocam dois gavroches atrevidos!

Pra que viver assim num outro plano?
Entremos no bulício quotidiano...
O ritmo da rua nos convida.

Vem! Vamos cair na multidão!
Não é poesia socialista... Não,
Meu pobre Anjo... É... simplesmente... a Vida!...
Não sei por que estou dizendo isto, mas vou dizer: gente, leiam tudo o que eu escrevo sempre tentando interpretar e reinterpretar, como se cada palavra estivesse contornada de grandes e gordas aspas, como se os infinitos sentidos daquelas palavras, em seus contextos, pudessem se aflorar borbulhantes na mente de cada um - contestáveis, contextualizáveis. Enfim, o que eu digo é que nenhum texto se encerra nele mesmo, assim como a pintura já implodiu a tela. É como se, aqui, eu estivesse pedindo a minha licença poética pra sempre...

salve malandro!

Vou falar pra vocês: é bom mesmo aproveitar esse papo de liberdade pra argumentar ao favor próprio. É mesmo como se eu estivesse fazendo aqui o advogado da malandragem, mínima que seja. Porque, ai, nessa vida moderna, desses homens modernos cansados, cansados, cansados, o orgasmo se tornou tão raro! E o pior é que eles criam milhares de dispositivos para o orgasmo de todos, mas parece que trabalhar para sustentar tudo é mais imprescindível. Pelo menos essa é a sensação deles. A minha sensação é de que essa história de liberdade pra lá, liberdade pra cá, que é conquista desse grandes homens do trabalho, conquista árdua e muito trabalhosa, é uma ótima, uma excelente desculpa para justificar a utilização indiscriminada de todos esses apetrechos modernos. Mas eu vou logo dizendo que não se pode fazer apologia à malandragem - e não se pode mesmo: o que eu estou fazendo aqui é só uma defesa, porque, oras, todos dizem que somos livres para fazermos o que quisermos! Além disso, logicamente, eu não poderia fazer essa apologia: a possibilidade de argumentar em defesa do malandro só existe se muitos outros homens modernos continuarem vivendo para trabalhar a sustentação imprescindível de tudo. Os malandros têm que ser malandros o suficiente para serem longevamente malandros, têm que sacar que é necessário um monte de coisa, fazer que sim com a cabeça quando toma uma dura; eles têm que mostrar que sabem perfeitamente o que deviam estar fazendo - e aí, quando o guarda der as costas, têm que fazer o que quiserem e, só em última instância, se sua vida estiver em jogo, se sua malandragem estiver sendo ameaçada de integridade, se seu caráter estiver sendo posto em dúvida e quiserem julgá-lo execrável, é que eles devem expor as contradições do paradigma da liberdade, para poderem dizer que tudo é nada e nada é tudo e que tudo pode e nada mais é injusto, porque justiça já não faz mais sentido se podemos interpretar tudo de diversas maneiras. Porque, afinal de contas, toda discussão contemporânea acaba em como cada um interpreta o que acha bom ou ruim. Mas, em todo caso, os malandros só continuam sorrindo e, assim, seduzindo. Sorrindo porque sabem que devem sorrir para terem o que quiserem, sorrindo de um deboche imperceptível de tão bem disfarçado que já está depois de anos de malandragem.

Porque estar no topo é pra poucos.
Porque trabalhar pouco é pra poucos.
Porque é preciso outros pra se viver no total lazer.
Porque é preciso servos para haver senhor.
E quem, no fundo, não quer ser o senhor do lazer?
Parece que o mundo sussurra que isso é o que é pra ser, pra quem tem bons ouvidos...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

poema de si

Tem essa instância
a cultural
que é tão mais rápida
e automática

(que querer vê-la)

é quase tão cultural
de tão automático
que voa

aqui tem a praia, computador e toda sorte de coisas
ouviu uma voz que falou um desejo?

(um não, dois!)

faça e saiba um por que
sem temer, nem tremer, nem chover
vai querer e saber e querer saber e saber querer

é automático e cultural
o movimento e a velocidade e a felicidade da coisa
é natural

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

só lembrar o grosso

me perguntaram meu nome
e eu respondi
Antônio
olharam pra mim de novo
e eu aqui
não sou outro
aí, eu apaguei meus detalhes
e só restou
o grosso

me vi voltando pra casa e pensando
se era um
se era oco
se tudo é
tudo é pouco
ah, o oco que sou
e eu sou louco
por ter um nome, uma voz
e ser rouco
não falar ao certo, ao todo
mas saber
que esquecer é limpar o sufoco
é ser eu
sem perguntar a ninguém
é ser eu
sem ser só mais alguém
é ser eu
e não ser um refém
é ser oco, é ter pouco, é ser louco
sem dever um vintém

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Na copa em Copa antes da copa no Brasil

Ele estava acima do peso, isso era claro, mas todos diziam pra ele que isso não era problema pra muita gente e que até conhecem pessoas que com certeza o achariam interessante. Aí, mesmo assim, porque ele sabe que sempre pode ser melhor e que normalmente está se sentindo pior, conseguiu pensar mais em ser melhor do que em estar pior e comeu, talvez só por hoje, apenas frango grelhado e salada.

Ele mesmo grelhou o seu frango, porque já era mais de nove da noite e a empregada, que já estava lá além do tempo que podia, também não era a cozinheira, era a passadeira. O mais engraçado é essa empregada preferir ficar até mais tarde no trabalho todo dia pra não acumular roupa pro dia seguinte. Sim, ela é crente e muito provavelmente acredita que acredita mesmo que é sendo eficiente no trabalho que você (ela, no caso) alcança o céu. Ou talvez ela só seja uma crente qualquer, de uma igreja qualquer que só bitola as pessoas. Enquanto ele comia o seu frango com salada, viu sua mãe fechando a porta que tem da cozinha pra sala. A cozinha acesa, branca, e a sala, com uma iluminação aconchegante, azulzinho da tv ligada no meio escurinho, um sofá - o horário nobre reluzia da tela da tv para todos os tons da sala, aquela sala, em Copacabana...

Para a empregada, que conhecia o gostinho de ver a novela sentada no sofá de casa, aquilo era um exercício da sua religião, quase que um dever de casa difição de matemática, ou um projeto de tese de doutorado que você sempre deixa pra fazer de última hora. A empregada, mulata, já senhora, sentia a nobreza daquele horário naquela sala. Ela ainda estava no trabalho e aquela situação tinha seu aspecto de já-vi-isso-antes, não sei. Ela estava na casa dos outros/no seu trabalho, na casa, na vida ínitma de uma pessoa mais rica que paga ela e nem a novela ela estava sentada em casa pra ver. Aquela sala, bem, aquela sala era bem melhor que a sua, mas ela podia transitar por ali durante o dia, o que tirava de certa forma o tabu. Ninguém estava em casa durante o dia, um na faculdade, outros todos no trabalho e ela andava por ali, de vez em quando a patroa estava em casa, mas tudo bem, porque ela era honesta e sincera e era justo que ela não pudesse assistir TV às nove horas da noite na sala de estar no horário nobre com a sua patroa.

Mas durante a noite as coisas mudavam. As outras empregadas iam embora, ficava a patroa - os filhos em seus quartos - esperando o patrão. Quando o rapaz que comia frango grelhado com salada saiu da cozinha e fechou a porta, adentrou naquele ambiente de horário nobre, luzinha azul da tv, móveis aconchegantes, clima familiar, a mãe perguntou: "A Dona Graça já foi embora?" E ainda não tinha ido, estava lá varrendo o chão da área de serviço sem motivo aparente. Era chato que ela ainda estivesse ali por dois motivos: parecia que estavam explorando a mulher, mesmo ela, crente, dizendo estar tudo tranquilo e melhor pra ela; e também era chato mesmo uma mulher ali, que não era da família, excluída mesmo da família, porque não é da família mesmo, quase que pedindo esmola ali nos arredores do quarto de empregada. Seguiu pro quarto.

um buraco do céu despenca

Um buraco do céu
despenca e o azul
esbanja e esparrama no vidro!
Toda a luz se misturando a tudo
e eu não sei o que é fim do mundo
nem tenho por que começar, mas tô vivo!
- ir pra onde? se não se pode andar
ninguém entende, ninguém vai gostar!
mas vou sair, vou andar, vou andar
ninguém me atende, mas alguém vai me amar!

o derrame é mais que tudo o que eu faço
um banho não é só molhar o braço
abra espaço pra ser tudo o que há
a onda vai te levar
azul no céu, na mente e no mar - e no ar!
pra sempre
pra nunca acabar!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Rio

O que eu amo no Rio é a facilidade com que conseguimos, aqui, achar na erudição sua mundaneidade. Que diferença tem a poesia lida, falada ou vivida? Eu adoro poder esquecer os nomes dos astros e lembrar somente dos nomes dos bares; poder pensar e viver o mundo sem me prender a fluxos restritos ou a amores prescritos. Aqui no Rio nós podemos dizer que temos nossa memória livre pra ser seletiva como quiser, porque controlar e direcionar experiências, ah, isso é tão aflitivo que deve ser coisa de paulista ou de europeu. O mar e o sol e o carioca expande-se para além de pilhas de livros, de gabinetes do frio - aqui é quente e o outro parece estar tão mais presente que queremos lançar nossas mãos para fora do nosso corpo e sentir (ler na praia e de repente parar, porque tem companhia). Aqui o tempo é mais rápido, o tédio dói mais, o lá-fora te convida mais convincente; e a cabeça tem que ser livre-mente, pra muitos conselhos e vida e livros poderem se mesclar. Um passeio sem objetivo não pode fechar-se ao que se propõe: se surge alguém que te toca, esqueça que você mora em algum lugar até que infelizmente o sério venha te buscar...
Correr e pular e gritar
sorrindo e rindo
me rasgar da emoção
esgarçar o funil, mais paixão!
acreditar que está vindo
e acordar pra ir encontrar

Inquieto eu prefiro no bar
diluído, iludido
e cantar
lalalalalala
esquecendo o que é pra lembrar
resistindo pra só melhorar

nem mistério nem nada no chão, não!
peço um trago e um chorinho a mais
fecha o livro, eu não quero mais paz, não!
me jogar, me jogar, me jogar

domingo, 22 de novembro de 2009

relato de uma escolha

sem me perder pelos abismos que surgem
em entrecortadas filosofias

vou me prender ao último fio que sempre resta

porque estranho seria se fôssemos loucos
e nos jogássemos dentro dos buracos que cavamos conversando
só de encontrarmos as vistas

então eu vou
dizer e olhar e fazer alguns gestos
e crer no que falo
sem sair do que queremos do real
pra não nos vermos pelados
pra que não viremos animais

pelo visto, escolhemos manter o tom suave da música
que você botou pra tocar

nossas tentativas de flutuar e planar sobre o tempo
ficaram restritas àquela mesa de bar

íamos longe
de mentira
enquanto
expandíamos pouco
de verdade

- mas a emanação
que se vê com a luz tácita!

- mas o normalmente
que nos fecha pelas paredes!

conversa vai, conversa vem

seguíamos sem cair nos abismos que víamos que criávamos...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

pra coragem de não ficar em casa

minha amargura é que se rasga em vontade
como se toda a gente sentisse a vida
em completa estiagem
minha tristeza é que vira a mesa
espalha cacos no chão e incerteza -
ao entorno do caos e da beleza
ficam todos em vão,
quando eu vou

passo ali no bar pra bater minha larica
penso em tudo, em nada, e no porque e na saída
um tapa, uma volta, um gozo selvagem
um qualquer-coisa-que-sirva
pra vida contada
pra coragem de não ficar em casa

domingo, 15 de novembro de 2009

molhado e hedônico

eu acreditei em tudo
certa vez eu me pedi pra acreditar

ah, porque pra mim o mundo era mundo
e a palavra tinha sentido extenso
pretenso de aconchegar

a chuva é que me veio então
prontificada a me inundar
obstinada a me molhar
a me desvendar
o olhar

o mundo em seu desarranjo
o céu a densificar
a paisagem a se esconder:

a longa distância desapareceu
eu só olhava meu caminho
desviante de poça em poça
hesitando o percurso certo, cego
e me lembrando o que eu queria lembrar:

o sossego não é algo que se possa ter
o destino não se pode prever

a vontade
em sua nova forma
veio a mim
irritado, encharcado
de ter que voltar, eu queria gritar

ah, se tudo não fosse um ter que chegar lá
e se o simples desejo
diabólico mesmo
pudesse surtar:

quem disse
que a vida não é pra ignorar
o destino
que se tem pra alcançar?

Uma vontade de domingo

Eu tenho uma mania, ou melhor, duas. Uma é que eu sempre acho que meus pensamentos já foram pensados por alguém (sempre tendo a dizer pra mim "ah, mas isso, fulano já falou..."), e a outra, (quase que) decorrente dessa primeira, é que eu sempre tenho muita vontade de escrever e poucas vezes tenho ideias que deixei germinar livremente na minha cabeça para passar pra palavras. Perante essa situação, consigo vislumbrar alguns pensamentos que sempre me decorrem. Um, o mais clássico, é que devo persistir em pensar que uma hora eu vou chegar a falar algo que alguém não falou, mesmo que venham e me taxem de interpretação. Outro pensamento é o de que, não caindo nas armadilhas de qualquer pensamento longamente prolongado, eu percebo a realidade cruamente, sem nenhum desligamento abstrato dela, um ateu sem prendimentos teóricos - um ateu de verdade abole qualquer instância abstrata que possa confortá-lo, ainda que só pessoalmente. Outro pensamento é mais emocionado: como é injusto que a sociedade ofereça que "todos-podem-ser-tudo", por que a gente compra essa ideia e depois fica com cara de taxo, transferido de atendente pra atendente de telemarketing do SAC do mundo, vulgo DEUS, até que a gente se toca e vê que esse QUASE tudo que ainda não foi dito é muito escasso e tem muita gente e você provavelmente não vai conseguir. Aí, às vezes eu acho que é natural, sabe, a pessoa nasce com isso, sei lá, genialidade pode ser algo que você tenha sem saber e só vão descobrir depois da sua morte, ou depois, quando você estiver um pouco mais velho, lá com seus 30, mais ou menos - porque passando os arredores dos trinta talvez já tenha passado a fase (nunca nos esqueçamos de Cora Coralina, um achado de Drummond. Mas, porra, ela é uma velhinha-inha, vovó do interior fofa roots, nunca serei algo tão pop quanto ela). Ou de repente, ficar nessa de pensar filosoficamente, abstratamente, já seja uma coisa meio babaca de se fazer, sei lá, já somos tão modernos que não precisamos disso, porque é perda de tempo, então o melhor, talvez, seja só viver o concreto, nada de abstrato, e qualquer interpretação mais profunda das coisas é abstrato demais para o meu entendimento. Depois dessa frase, me senti metalinguisticamente impedido de continuar a professar baboseiras pela internet, mas aí eu pensei que isso é só uma possibilidade de interpretação dentre várias que existem dentro de mim, dentro várias que existem dentro do mundo! E que justamente esse impedimento que eu vejo de não conseguir ir longe nas ideias, por meus pensamentos já terem sido pensados, é que me faz gerar tantas interpretações menores dentro de mim, todas mais rasas, simples, porém são muitas. Talvez aconteça da nossa sociedade gerar, por especialização do trabalho, por tédio, por preguiça,seja pelo que for, um impulso à criação abstrata em massa, por não haver mais sustentação para um único sentido, porque agora tudo o que é humano já pode ser interpretado em livros - tudo se misturou, tudo interagiu. A falta de sentido do um nos fez criar vários. Eu criei vários, e esse é um, bem longo e globalizante. O problema dessa necessidade abstrata é quando ela se fixa em um pensamento e vai embora (doença mental?). Agora, perante esses pensamentos e esses devaneios abstratos longos, eu deva parar e perceber que todos eles já foram ditos e calar-me, muito embora eu saiba que esse papo de que não posso falar porque já foram ditos nunca me fez calar, e se você perceber bem, eu tô até agora dizendo coisas aqui que com certeza qualquer um já pensou, mas estou falando porque estou com vontade e espero que alguém tenha vontade de ler. Diante disso, eu assumo pra mim mesmo, que quero parar de escrever e ir dormir porque já são 8 horas da manhã. Parei de abstrato, vou pro concreto - é a natureza humana.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ADORO METALINGUAGI OU ATORON METALINGAGEMMMMM OU ADORO METALINGUAGEM, PORRAAA!!! OU adoro metalinguagem... (beicinho) OU AdorO METalingUAGEM (esquizo)

antôniO_ diz:
http://www.youtube.com/watch?v=byCG-eGYgyo
emmannuelly diz:
o ser humano é fascinante né
emmannuelly diz:
o conceito das pessoas de que tipo de coisa eu vou upload no youtube é tudo muito genial
emmannuelly diz:
mas vou te dizer que to meio enojada acabei de jantar
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA
antôniO_ diz:
dá uma penazinha
antôniO_ diz:
mas a parte do meu ser que clama por gargalhadas fala mais forte
emmannuelly diz:
HAHAHAH exato, que nem aquela historia oriental dos dois cachorros que existem dentro da gente e que ganha o que a gente alimentar mais
antôniO_ diz:
hauahuahuahuahau
antôniO_ diz:
irado isso ein
antôniO_ diz:
interpretei esse resumo de mito em tds as suas profundezas
antôniO_ diz:
APLIQUEI NA MINHA VIDA, SABE
emmannuelly diz:
acho que essa era intenção do mestre que contou isso para seu discípulo
emmannuelly diz:
REFLITÃO
emmannuelly diz:
E APLICÃO
antôniO_ diz:
hauahuah
emmannuelly diz:
hahahahahaha
antôniO_ diz:
OBRIGADO, MESTRA
emmannuelly diz:
FIKDIK AMG
antôniO_ diz:
adoro metalinguagem
antôniO_ diz:
ahuahuahuahuah
emmannuelly diz:
hahahahahahaha both of us
antôniO_ diz:
vo postar esse diálogo
antôniO_ diz:
hauhauhauahuahuahauha
antôniO_ diz:
foi irado
antôniO_ diz:
HAHAHA
emmannuelly diz:
HAHAHAHAH FICA PRA POSTERIDADE
antôniO_ diz:
o problema agora vai ser ate onde eu copio e colo
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHA
antôniO_ diz:
fudeuuu
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAH saber por onde começar, o mais dificil
emmannuelly diz:
o problema
emmannuelly diz:
é que tudo começa com o videozinho nefasto
emmannuelly diz:
aí que pega
antôniO_ diz:
aham
antôniO_ diz:
vo começar pelo link do videozinho
antôniO_ diz:
e vo finalizar quando tudo for cinzas
antôniO_ diz:
HAHAHAHAH
antôniO_ diz:
(quando terminar de fumar um cigarro, ou um beque talvez)
emmannuelly diz:
hahahahahahah dissemina este precioso fenomeno midiático
antôniO_ diz:
(agora já escrevo pensando que vou postar
emmannuelly diz:
ih tá SUGESTIVO isso
antôniO_ diz:
não tem mais a mesma originalidade)
emmannuelly diz:
ai tô me sentindo na prova do líder
antôniO_ diz:
AHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA
emmannuelly diz:
vamos ter um pouco de privacidade aqui HAHAHAH
antôniO_ diz:
JA EH
emmannuelly diz:
tô mais leve agora
antôniO_ diz:
eh já postei
antôniO_ diz:
(ou não)
antôniO_ diz:
caralho, to com um demonio no corpo
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHA tu tá com o capeta
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAH perai tá rolando um papococo ali
emmannuelly diz:
cara eu tenho uma coisa com publicar conversas no msn eu sempre quero fazer isso e me controlo mas é que vicia e talvez nao seja mt saudavel e que da vontade de ter um blog so disso hahahahah
emmannuelly diz:
nossa eu escarrei a frase acima ao inves de digita-la mas ta certo isso é msn
antôniO_ diz:
eh, o objetivo aqui é ser natural
antôniO_ diz:
cara
antôniO_ diz:
mas aí
antôniO_ diz:
um blog só de conversa de msn seria irado
antôniO_ diz:
eu posto algumas
antôniO_ diz:
na verdade, tive a ideia de postar esse pq postei uma que eh o ultimo post
antôniO_ diz:
SITTING ON THE TOILET (8)
emmannuelly diz:
CARA É SER NATURAL MAS ISSO QUE FICA LINDO (opa esse caps foi sem querer nao estou tao empolgada) só que se vc entrar numa séria de postar sempre você se transforma numa daquelas pessoas que adoram se superexpor se vc exagerar
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHA NOOOO
emmannuelly diz:
já tinha esquecido
antôniO_ diz:
hahhahahhahahahahhahahahahahahaahahahhaha
antôniO_ diz:
não sei mais o limite do real
antôniO_ diz:
fico lendo e superinterpretando a porra td
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAH eu tenho esse problema também é bastante sério
antôniO_ diz:
http://matagaense.blogspot.com/
antôniO_ diz:
ó, ficou irado
emmannuelly diz:
HAHAHAH já tô lá
antôniO_ diz:
vo botar só mais essa sua ultima frase, pra equilibrar

(Antônio fecha a janela de conversação com Manuela e perde algumas tiradas ótimas. Os motivos podem ter sido muitos, sendo perturbação e acaso os de maior probabilidade. Estas foram as palavras que Manuela copiou e colou da conversa alegando ter sido na íntegra, só nos resta acreditar - repare que, se ela tiver mentido, utilizou o artifício de recuperar parte da conversa anterior, que já estava no blog e ela sabia:

antôniO_ diz:
http://matagaense.blogspot.com/
ó, ficou irado
emmannuelly diz:
HAHAHAH já tô lá
antôniO_ diz:
vo botar só mais essa sua ultima frase, pra equilibrar
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAH cara rolou uma parte em off também ISSO É BIGBROTHER que beleza
você tá coçando a bunda amigo, e o brasil inteiro tá de olho
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHHA
VO DAR UMA ZUADA NO TITULO)

emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
emmannuelly diz:
ATORON é a maior baixaria
antôniO_ diz:
cara, fechei a janela e pensei q queria colocar no texto a parte q vc falou q teve ate conversas em off
emmannuelly diz:
antôniO_ diz:
http://matagaense.blogspot.com/
ó, ficou irado
emmannuelly diz:
HAHAHAH já tô lá
antôniO_ diz:
vo botar só mais essa sua ultima frase, pra equilibrar
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAH cara rolou uma parte em off também ISSO É BIGBROTHER que beleza
você tá coçando a bunda amigo, e o brasil inteiro tá de olho
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHHA
VO DAR UMA ZUADA NO TITULO

antôniO_ diz:
OBRIGADO AMIGA
emmannuelly diz:
HAHAHAHHAHAHAHAHA D ND, MAS ASSIM, TU TÁ VICIADO, FIKDIK
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHH podia ser peor podia ser o crack
antôniO_ diz:
AHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHA
antôniO_ diz:
CARALHOOOOOOOOOOOOOOOOOO
emmannuelly diz:
alias vou mandar uma parada pra vc via facebook pq a gente é mt multimídia
antôniO_ diz:
TO RINDO Q NEM UMA POTRANCA
antôniO_ diz:
caralho
antôniO_ diz:
fudeu
antôniO_ diz:
chega
antôniO_ diz:
na moral
antôniO_ diz:
ri q nem um maluco
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAH obg pelo feedback
emmannuelly diz:
foda que o pessoal de casa fica achando vc esquizofrenico
emmannuelly diz:
vou mandar ein é mt fofo
antôniO_ diz:
via facebook a paradinha ne?
antôniO_ diz:
fiquei interpretando mil vezes a frase e era a parada mais obvia
antôniO_ diz:
hahahahahhaahah
antôniO_ diz:
duvida metódica perturbada
antôniO_ diz:
(acertei?
emmannuelly diz:
CARA VC É UMA MAQUINA
antôniO_ diz:
to mt viciado
emmannuelly diz:
mandei
emmannuelly diz:
um vício virtuoso se é que eu posso dizer isso
antôniO_ diz:
ai que medo de vc
antôniO_ diz:
merda de vício escroto
antôniO_ diz:
to na fase de reconhecimento do vicio
emmannuelly diz:
passou a fase de negação agora vamos em frente
antôniO_ diz:
postar, assim como escrever um livro autobiográfico de drogas e sexo, é a afirmação de que consigo mudar
antôniO_ diz:
mas até meu vício é metalinguístico com sua cura
antôniO_ diz:
(cara, reli a parte dos cachorros lá, do oriente)
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHH vc é um monstrinho que destrói as cidades aqueles que os power rangers tem que formar um megazord pra ficar num nivel justo de ultimate fight
antôniO_ diz:
hauhauhauahuahuahauhauhauah
emmannuelly diz:
descontrói mesmo
emmannuelly diz:
pinto no lixo
antôniO_ diz:
cara, quando a ironia vai voltar a ser a mesma? (tristinho)
emmannuelly diz:
(beicinho)
antôniO_ diz:
e a crítica tb? (começando a me dar conta das proporções)
emmannuelly diz:
cara vamos nos agarrar no restinho esmagado e esgarçado que fica tenho certeza que um mestre oriental diria isso
antôniO_ diz:
(seria justo eu falar q vi aqui q o "emmannuelly está escrevendo uma mensagem..." ficou hesitante?)
antôniO_ diz:
eu to malvado hj
antôniO_ diz:
HUAHAUAHUAHUAHUAHAUHAUHAUAHUAHAUHAUHAUAH
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA EVOL
emmannuelly diz:
EVIL
emmannuelly diz:
CARA
emmannuelly diz:
EU NEM LEMBRO MAIS ME DISTRAI AQUI
antôniO_ diz:
agora, com esse conhecimento, podemos nos enganar mutuamente
antôniO_ diz:
fudeu
emmannuelly diz:
ficou um vácuo no lugar da minha idéia não germinada
antôniO_ diz:
(eu sei q vc gosta)
emmannuelly diz:
ou ainda: FOI MAL TO FUMANDO UM CRACK AQUI
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAH
emmannuelly diz:
"ATORON" (tu me fez usar sa palavra-nojeira)
antôniO_ diz:
falei pra uma amiga minha q vo postar algo q vai abalar as estruturas da contemporaneidade, esmigalhar os nossos valores
antôniO_ diz:
ATORON
antôniO_ diz:
sem aspas...
antôniO_ diz:
taaaantan
emmannuelly diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH transformar em pó toda certeza IN FIVE
emmannuelly diz:
FOUR
emmannuelly diz:
(...)
antôniO_ diz:
huahauhauahuahauhauha
antôniO_ diz:
ASSIM
antôniO_ diz:
EU GOSTO DE VC AINDA TA
antôniO_ diz:
SE EH Q FICOU ALGUMA DUVIDA
antôniO_ diz:
just in case
emmannuelly diz:
cara vamos nos agarrar no restinho esmagado e esgarçado de crítica e graça que fica tenho certeza que um mestre oriental diria isso
emmannuelly diz:
AH QUE BOM
antôniO_ diz:
ahhh
antôniO_ diz:
vc respondeu antes
antôniO_ diz:
eu ia escrever uma parada e vc escreveu antes, agora eu esqueci... tvz eu edite se lembrar (o editor não lembrou da parte que queria editar)
antôniO_ diz:
ja sei
emmannuelly diz:
ah sim
antôniO_ diz:
vo botar antes entre aspas
antôniO_ diz:
entre parenteses, digo
antôniO_ diz:
e dps como se fosse original
antôniO_ diz:
sem os parenteses (o autor não fez nada disso porque tinha pensado chapado o suficiente para esquecer pra sempre)
emmannuelly diz:
bom vc é o grande editor da situação eu confio no teu senso estético
antôniO_ diz:
obrigado, mas eu gosto de romper com alguns padrões, sabe, desconstruir... o que é o belo? Só sei q nada sei, ne
antôniO_ diz:
(you know world, you got me cornered again, im gonna roll another joint)
emmannuelly diz:
cara desculpa a ignorancia/ preguiça de usar o google de onde é essa frase? é muito boa resume bastante meus dias
antôniO_ diz:
eh do jon lajoie
antôniO_ diz:
aquele canadense
antôniO_ diz:
acho q te passei o link
emmannuelly diz:
HAHAHAH grande pensador contemporâneo
antôniO_ diz:
hahahahahahhahahahahahahahahah
emmannuelly diz:
hahahaha famo fer isso
antôniO_ diz:
high as fuck acho q eh o nome da msk
antôniO_ diz:
(cara, a gnt eh mt metalinguistico, arrasamos)
emmannuelly diz:
AAAAAAAAAAAAA
emmannuelly diz:
eu lembro eu ouvi isso sim
emmannuelly diz:
have you ever been high as fuuuck
emmannuelly diz:
this is how we roll
emmannuelly diz:
ai odeio quando baixa o negao norte americano do hip hop em mim
emmannuelly diz:
uma entidade indesejada
emmannuelly diz:
passou
antôniO_ diz:
HAUAHUAHAHAUHAUAHUAHUAHUAHAUHAUAHAU
antôniO_ diz:
boa
antôniO_ diz:
(essa foi inconsciente, consta no da naturalidade)
emmannuelly diz:
isso magina se ia sair sob aquela pressão toda

(o texto acabou, sem motivo aparente, ou por pressão da materialidade ou da integridade ética entre os dois dialogantes, ou até porque nunca mais se falaram depois, se é que isso importa, ou você queria mais?)

CONTINUE ESPIANDO


veja também:
FÁBIA, A ESQUIZO-MASCOTE DESSA BRINCADEIRINHA

sábado, 7 de novembro de 2009

quanto o homem pode intervir no destino do cocô?

.Thiago diz:
que cocô esse mundo
antôniO_ diz:
hahahahhahaha
antôniO_ diz:
tranquilo
antôniO_ diz:
esse é o cocô
antôniO_ diz:
se não cagar
antôniO_ diz:
vai ficar entupido
antôniO_ diz:
o cocô vai te engolir
antôniO_ diz:
porque você vai morrer
antôniO_ diz:
se você não cagar nele
antôniO_ diz:
vai ser tudo em vão
antôniO_ diz:
hauhauhauhauah
.Thiago diz:
uahuahuahuha
.Thiago diz:
seria legal guardar seus cocôs para eles não serem em vão
antôniO_ diz:
let's get to the real thing, para toda a eternidade
antôniO_ diz:
hahahhahahhahaha
antôniO_ diz:
aham
antôniO_ diz:
hauahuahauhauh
antôniO_ diz:
eh, em cápsulas
antôniO_ diz:
a vácuo
.Thiago diz:
com datas
antôniO_ diz:
ahaauhuahauhauhauahuahuahauha
antôniO_ diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAAHHA
.Thiago diz:
e horários
antôniO_ diz:
arquiva
antôniO_ diz:
aham
antôniO_ diz:
põe uma categoria nele
antôniO_ diz:
"ah
antôniO_ diz:
esse tá parecendo um cocô de cabrito
antôniO_ diz:
esse parece mais uma canoa"
.Thiago diz:
uqhuahuah
antôniO_ diz:
ou então esquematiza por cores
antôniO_ diz:
sei lá
.Thiago diz:
pqp mlk
.Thiago diz:
daria um filme isso
.Thiago diz:
um curta
.Thiago diz:
uahuaha
antôniO_ diz:
aí vai de acordo com a sua vontade, né

terça-feira, 3 de novembro de 2009

um regresso do progresso

ser estático:
uma sensação expandida
uma intuição calma:

é tudo o que me falta!

porque homem virou referência de homem,
nada mais sagrado tem razão,
toda a minha arte é criação,
não é completa,
nem direta,
é estímulo à continuação
da vida dos humanos, que se viram
nada.

esperança na arte

Em meio a uma empolgação de coerência, de conseguir fazer sentido com a minha linguagem, com a linguagem da minha sociedade, acabo de me encontrar padecendo do mal da tristeza. Tristeza, por favor vá embora! A questão não é mais dizer ou não dizer ou o que dizer, sinto talvez que eu não tenha mais vontade, porque não tenho mais em que desafogá-la: não encontro mais meios eficazes de me fazer adequar ao projeto de que todos nós fazemos parte. É só a tristeza que bate, que fez eu me acomodar e me reacomodar algumas vezes no banco do metrô, que tornou minha alma um silêncio perceptível aos outros, mesmo quando eu ria com eles, tristeza que bate de olhar a foto velha da minha identidade assinada há tanto tempo atrás. É ela que vem e se afirma no momento em que, ao ver tudo um imenso absurdo - por que entrar debaixo da terra pra pegar o metrô, por que contato de corpos definidos visivelmente, por que tudo e não nada - eu respiro fundo, olho em volta pra toda essa insensatez esculpida em detalhes e declaro-a: a minha tristeza, a minha total prostração, a minha fuga do plano da vontade. Vim me tratar aqui, e espero que, ao lerem, contemplem essa minha purgação, vejam nela a arte, pra que eu possa sentir que minha tristeza tem meios eficazes de se expressar, por mais que ainda borrados; pra se consolidar vontade.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

uma volta inteira

Porque a vida é realizar vontade
é adequar-se à realidade
que se impõe, é você
é inevitável
é inevitável
é inevitável
e pra ser concebível
você tem que querer
querer todo dia
todo momento
querer estar vivendo
como é pra você viver
porque o que a vida quer
é você
e o que você quer
é a vida
porque te deixaram
enquanto eu
enquanto você
e você querer
é viver você
é viver o eu

é uma volta inteira:
todo o mundo e você

refletindo um pouco sobre a vida e a morte

Não sei por que, nem tenho muitos fundamentos para isso, mas tive um insight e preciso reportar: como num estalo eu vi de que maneira o existencialismo de botequim pode repercutir em uma atitude ascética em relação à vida. Existe coisa mais distante da vida que a morte? Pensar a vida como uma busca incansável de vencer a morte pode nos levar a pensar a vida com os olhos na velhice.

Meu pai é um homem que se declarou outro dia para mim como um existencialista - e ele é uma das pessoa que eu conheço que mais bebe uísque e que mais se preocupa com a sua qualidade de vida quando velhinho (sem querer queimar seu filme, pai, só pra encaixar no existecialismo de boteco, te amo). Sua tabelinha de despesas, assim como imagino que aconteça com muitas pessoas, sempre, desde que eu me entendo por gente, esteve apertada com muitas despesas, porque é necessário guardar algum para os dias mais mórbidos. Seu sossego quando velho tem que estar garantido e, pra isso, ele se priva de determinadas coisas que poderia fazer com o dinheiro que guarda. Não o julgo mau por isso, nem mesmo insensato. A velhice é mesmo uma realidade que se planeja viver, ninguém pretende morrer aos 40 anos num acidente de avião que te levava para férias em Paris.

Uma visão boteco-existencialista da vida, portanto, não é uma visão condenável, mas pode tender a uma visão sofrida. As vontades se tornam nubladas por essa morte que fica rondando as reflexões que antecedem uma tomada de atitude. Mas olhando agora com os olhos de um boteco-existencialista, a vida na nossa sociedade parece mesmo nos levar a esse sofrimento perene da reflexão sobre a morte. À medida que criamos técnicas que buscam criar um aumento da longevidade, somos instigados por um espírito ateu a querermos realizar nossas vontades; e aí esbarramos nas questões materiais que podem nos impedir de realizá-las. O dinheiro curto, a morte certa e a velhice sempre provável fazem da vida na nossa sociedade uma eterna batalha, já que queremos ser felizes.

Uma frase de Sartre me lateja para finalizar esse texto: "Liberdade não é fazer o que se quer, é querer o que se faz." Com essa frase, termino pensando, gótico-positivamente, como um existencialista de botequim animado-e-nas-últimas, que o esforço da vida acaba sendo por nos desligarmos dessas preocupações mundanas e criarmos um aparato de compensação abstrato para continuarmos vivendo, que se pauta numa perspectiva de vida: estar vivo ter que ser o suficiente em face da morte, já que estar vivo, sensualmente, é em si melhor que morrer, que é aquilo do que se foge.

sinta-se à vontade

tente pensar comigo:
se encararmos
tudo de forma total
ou seja
você e seu pessoal
você e seu cultural
se encararmos
todas as formas do mundo
como todas nossas formas
e que estar vivo num momento
é o mesmo que estar vivo num outro
se pensarmos que viver
em si
já é antítese o suficiente à morte
quantas mais riquezas veremos
quantas mais vontades teremos
quantas mais razões nós suportaremos
porque viver
se encararmos assim
já supera tudo
porque essa é a vontade de quem tem vontade e vontade quer ter
tudo passa a ser o que tem, sem nada além

da minha impressão do noumeno

Gostaria de deixar clara uma coisa, para depois não virem me dizer que eu nego a instância do intangível ou do infinito. Até porque, está mais que óbvio que não se conhecem as coisas em sua essência e que o observador é que determina o fenômeno. Não estou aqui para ignorar o que foi sedimentado, só penso a respeito do valor que o intangível tem para as nossas vidas hoje. Sinto é que o incognoscível não se nos impera mais de maneira a determinarmos estritamente as nossas ações, a calcularmo-las tão profundamente, evitando um erro, fatal.

A nossa aspiração pela felicidade e pela vida boa porque-se-vai-morrer nos condiciona a uma atitude que foge dessa subordinação a uma ordem suprema quase que imposta noumenicamente. Não que não haja o noumeno, não que ele não possa interferir e nos causar um mal, mas é que simplesmente não desejamos olhar para ele, ele já não se nos impõe como objeto de estudo para a resolução de normatismos, para a criação de moralismos. A vida de cada indivíduo cabe a cada indivíduo, e também cabe a ele encontrar a sua felicidade - ou suicidar-se. O que acontece é que os homens hoje acham que seus desejos não podem mais ser impedidos pelo noumeno, como se fosse injusto; como se uma moral nobre nos assoprasse uma vida e que agora so reconhecer como valorável qualquer atitude individual cujo fundamento é o próprio bem-estar, cada um de si. Eu diria que agora os homens querem mais é ser felizes, e foda-se!

domingo, 1 de novembro de 2009

todos precisam falar

as coisas vão acontecendo
conforme você as declara
dizer uma coisa
é sua vontade
de que ela seja
pra que todos vejam
pra que todos também queiram
pra que todos também sejam
uma interpretação
no hall
das vontades ditas
e libertadas
diga diga diga
essa é a sua vontade
assim é a sua sociedade

daquilo que se aflorou inicialmente como protestantismo

O protestantismo... Ah, o protestantismo... Há tanta coisa que se procura ler em suas entrelinhas que eu também me aventurei a tentar descobrir seu espírito, seu significado para além da mera constatação de que ele existiu. Assim, para que eu pudesse considerar qualquer coisa sobre o protestantismo, eu teria que ter sido movido por algum impulso, que vou apresentar primeiramene, e teria que estabelecer um metodozinho, uma listinha de perguntas encadeadas que eu fiz para conseguir ler alguma coisa pelas brechas desse "acontecimento" histórico.

A motivação, o impulso, foi aparentemente intuitivo - seria de fato se eu não estivesse lendo coisas, tanto pra faculdade, como avulsas. Estava vendo um filme de comédia satirizando o dogmatismo católico ("Dogma") e percebi que a sátira era feita justamente sobre toda uma espécie de cosmologia, mitologia determinista católica que, no tom da sátira, soavam completamente absurdas. Eu pensei, em seguida, "ora, os EUA são um país protestante, e essa crítica aos dogmas da igreja, ou seja, a essa historinha contada que o fiel simplesmente escuta e acredita, por medo, que seja aquilo mesmo, é nada mais que um reflexo de uma perspectiva protestante no que diz respeito ao contato com deus." E pensei logo em seguida: "enquanto o catolicismo impõe um esquema de regras escritas pela divindade institucionalizada que não podem ser transpostas, ou seja, conserva o contato com deus numa espécie de burocracia própria mediadora, em que o bem é institucionalmente prescrito, o protestantismo traz o contato com o divino para um campo mais terreno, mais acessível ao homem; o protestantismo proporciona ao indivíduo criar para si mesmo a sua ideia de divindidade, de espiritualidade: o divino, o espiritual, ou seja, aquilo que vai dar valor e riqueza e motivação à sua vida, é criação do próprio indivíduo, é cada um que reconhece em si mesmo o seu conceito de deus. O estímulo, a intuição foi essa, basta agora esquematizar as minhas perguntas e meus argumentos que se sucederam a essa catarse.

Primeira pergunta: com o que essa legitimação da liberdade de conceituação do divino está relacionada ainda? Essa pergunta necessita que se estabeleça uma relação de alteridade entre o catolicismoe o protestantismo. O que quero fazer evidenciar do catolicismo é essa distância do indivíduo com deus, é essa falta de liberdade que há na capacidade do entendimento do que é o divino: o catolicismo acaba por impor a palavra de deus, tolhindo a capacidade humana de criação por si próprio dos valores que vão guiar suas vidas. O catolicismo, com seus dogmas, estrutura a necessidade de uma concepção metafísica que guie, imperceptivelmente aos homens, o rumo das coisas. Mas eu gostaria de ir além nessa reflexão sobre o catolicismo: na verdade, a metafísica seria um elemento de um tipo de posicionamento do homem diante das suas próprias ações: a forma mais amedrontada como ele encarava suas ações, o que implicava que para ele, homem, suas vontades não pudessem ser aquilo que ele soubesse que estava lhe guiando - haveria ainda uma "ditadura" do noumeno. O protestantismo, então, em oposiçao ao catolicismo, trouxe uma relação entre deus e o homem muito mais próxima. Deus, instância que determina valores para a vida, estava na capacidade criativa de cada homem, o que é dizer que o mesmo motor do protestantismo é o motor da vontade: a metafísica já se encontrava a um passo de acabar quando a religião deu aos homens legitimidade para criarem eles mesmos a sua ideia divina, o seu arcabouço de valores que os fariam continuar vivendo. É quase uma implosão da necessidade de se trabalhar com o intangível aos homens - os homens finalmente conhecem deus intimamente.

A segunda pergunta: se a igreja antes estipulava limites de contato entre deus e os homens, não seria também dizer que a igreja impedia os homens de buscarem conhecer dentro de si aquilo que os motivaria a continuar vivendo? Não teria sido a igreja católica uma instituição que buscava cristalizar o espírito dentro de uma jaula exterior e intangível, tornando aquilo DIVINO? O protestantismo, então, não teria dito que o espírito está nos homens, ou que eles são capazes de encontrá-lo, como que desmistificando o DIVINO? Vejo aqui que o protestantismo foi a expressão religiosa de um movimento que trazia o espírito para cada indivíduo: um passo apenas atrás do desvendar do espírito totalmente individualizado, esse espírito contemporâneo que valoriza a vida sem a necessidade da compreensão do toque divino na existência. O protestantismo, portanto, trouxe o espírito, isto é, aquilo que dá o tom da manifestação dos homens, para o nível dos homens. (A proximidade dessa espiritualidade individualizada com a ideia mais apaixonada de vontade parece-me inegável. A busca, dentro de si mesmo, por um espírito e a busca, dentro de si, por motivos importantes para si para continuar vivendo - mesmo que não sejam mais motivos divinamente encaixados.)

Terceira pergunta: essa apropriação humana do espírito só com o protestantismo não seria o mesmo que dizer que antes os homens não conheciam o espírito, apenas concebiam sua ideia? O que resultaria que o espírito, ou seja, a motivação "sincera", "feliz", individual, só teria surgido com a reforma? Sim, foi assim que eu vejo ter se sucedido. A noção de espírito, apropriada pelo homem, desmistifica a existência, traz ao indivíduo uma perspectiva mais material, mais concreta da existência: aquilo que ordena o mundo é aquilo que ele mesmo encontrou em si para justificar tal ordem. É uma espécia de libertação de uma visão vendada, mais ascética, que o catolicismo gerava. Enjaulando o espírito num exterior, a vida terrena, material, perde totalmente o seu sentido e o homem fica totalmente dependente das considerações que a igreja fazia sobre a existência - ele ouvia e concordava e não lhe cabia criatividade para tentar figurar as coisas a seu jeito: o catolicismo, o dogma, veda qualquer precipitação de imaginação, de desenvolvimento do pensamento.

Quarta pergunta: já que com o protestantismo o espírito desceu aos homens (o que mais futuramente na linha histórica vai se expressar transfigurado de motivos individuais, paixões, vontades para viver - sempre tenho medo de ser progressista, mas, enfim...), de que maneira os homens passaram a interpretar o que seria esse espírito? Eu palpito que os conteúdos mentais desses homens é que embasavam as suas concepções sobre o divino. Dessa forma, homens de um mesmo tempo e espaço, sim, dividem algumas concepções de espírito, por mais que tenham ainda ascepções bem particulares. Mas o que há além disso é que o protestantismo legitimou uma cadeia de reconstrução constante da ascepção do espírito, legitimou a historicização dos valores dos homens. Digo isso porque o espírito, assim como deus, ao que tudo indica, não é uma instância eterna, é mais uma concepção humana, uma instrumento pra balancear a tabela de compensações da vida. Deus, após o protestantismo, passou a ser somente o espírito - acho que esse termo melhor define, porque deus deixou de ser metafísico e tornou-se individual. Fui e voltei, mas ainda não respondi totalmente a quarta pergunta. A maneira como os homens vão determinar seu espírito é correspondente à sua eduação e àquilo que é universal humano, seja o que for. Empresto a educação, aqui, o sentido mais largo possível, o sentido das experiências que o indivíduo tem, o sentido da cultura na qual está inserido. Ou seja, o protestantismo garantiu aos homens que eles poderiam desenhar naquilo que lhes era educado, na sua cultura, traços dos próprios homens, traços de sua própria vontade. Eu diria que o protestantismo é a pontinha do iceberg, é o que nos aparece de todo um movimento por trás, multicausal, que se engatilha no "momento" protestantismo. O espírito, que agora toma o lugar antes ocupado por deus, metafísico no catolicismo, é a possibilidade do homem olhar através da sua cultura, daquilo que lhe foi ensinado, e escolher, dentro daquilo, os motivos que o fazem viver, o seu espírito. O protestantismo, então, abriu aos homens a possibilidade que o catolicismo os tirava: a possibilidade de olhar para o mundo, para os processos, as consituições das coisas. O protestantismo é imagem de um mundo em que os homens aplicam suas vontades às universalizações, aplicam suas vontades como guia da sua vida.

Quinta pergunta: se a vontade dos homens, que se sobrepôs ao espírito dos homens do protestantismo, assim como o espírito, também é movida por circunstâncias culturais, que aspectos podem ser observados desse movimento histórico todo? Primeiramente, é preciso esclarecer algumas questões referentes às formas e aos conteúdos da cultura ocidental depois dessa apropriação individual do espírito preconizada pelo protestantismo. A individualização do espírito, ou seja, essa maleabilidade do conceito do que vai valorizar a vida dos homens, marca o caráter engatado, alavancado da nossa sociedade. Os valores não são mais estanques nem hegemônicos, os valores da nossa sociedade, ou seja, suas estruturas morais, os conteúdos para as vontades dos homens, estão espalhados igualmente entre os homens sob o nome de bom senso. O que aconteceu foi que, com a sobreposição do espírito sobre deus e da vontade sobre o espírito, a consciência, nem que seja uma sensação disto, se aflorou como elementar à manutenção de determinados valores culturais e de modificação de outros. A vontade dos homens que vai passar a determinar, por seus desejos, que totens serão mantidos ou quebrados, e isso também valendo para os tabus. Peguemos o exemplo da arte. O nível de abstração a que ela chegou, como li num texto de Lygia Clark, uma neoconcretista, demanda que o homem tenha um espécie de comportamento ético-religioso em relação à arte. O que ela quereria dizer com isso, seguindo a linha de pensamento que venho defendendo aqui? Que deve haver uma vontade entre os espectadores da arte, assim como houve do autor, de que ali, na arte, ainda reste algum espaço para a contemplação. Ou seja, para nossa tese aqui, a arte é uma manutenção, por "consciência", ou por vontade, de um comportamento religioso contemplativo, mas que depende de uma ética da vontade dos indivíduos por contemplarem. Eu diria que nós despejamos na arte a nossa necessidade aflitiva que despejávamos na religião, justamente porque a arte foi se tornando mais abstrata e dependia da vontade. É como se, com a arte, nós estivéssemos contemplando a composição da nossa cultura ao máximo: vendo como a vontade é capaz de construir sentido universal pela simples historicidade e culturalidade inerentes aos homens. Ver como a arte ainda funciona, mesmo que abstrata, é ver como os homens ainda se portam de maneira social e se unem por algo que transcende a vontade, e a arte é ter a consciência de que nossas vontades não são más, são legitimadas, são culturais, são afirmação do nosso espírito, do nosso direito, livrando a vontade do fardo diabólico que a ela sempre foi apontado pelo catolicismo.