domingo, 31 de agosto de 2008

resistência ao enem

Hoje eu quero ser fascista, darwinista e determinista. O aquecimento global não deve ser levado a sério, e isso o governo americano faz muito bem. Por que? Ora, porque eles são muito cristãos - protestantes! -, porque eles têm formação cultural influenciada pela ethos alemã (logo após a proclamação de independência, houve um plebiscito que decidiria se o idioma americano seria o inglês ou o alemão - espaço vital e destino manifesto, algo em comum?). O aquecimento global vai selecionar somente os bons: é o apocalipse que a bíblia descreve tão bem, e todos os maus, ou seja, os pobres do mndo interio e os africanos vão morrer.
Através do aquecimento global, o mundo vai ficar mais seleto, vou me sentir alguém melhor e por isso eu acredito nele - só vai sobrar a elite do mundo: vou continuar comprando todos os meus produtos poluidores e vou continuar sendo esse burguesinho de merda.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Marasmo retumbante
engasgo fumegante
fechado basculante
caixote sufocante

empaco no instante
não penso o restante
tolero vacilante
as marcas no semblante

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

espalmadas na parede chapiscada

Agora já passou algum tempo.

Mas quanto mais se pensa em si, mais se sente a própria vida.

Depois de falar e falar e falar, gesticular, olhar no fundo daqueles olhos verdes e não sentir mais os pensamentos, só atropelar gaguejadas palavras com mãos inquietas e caretas explicativas, escutei algumas perguntas, algumas ponderações, alguns encaminhamentos e comecei a fazer sentido, sem que as caretas nem os gestos fossem tão mais necessários para o entendimento. Levantei, porque era hora e a campainha já tinha sido tocada, conversei sobre o pagamento e me despedi.

- Então, eu esqueci de trazer o pagamento do mês passado, aí eu trago semana que vem dos dois meses juntos - eu iniciei o assunto.

- Ok. É, isso mesmo - prosseguiu ela ao mesmo tempo em que eu terminava minha fala - acabou que os pagamentos ficaram trepados! Olha que engraçado a palavra que veio! - ela só podia ter estudado Freud a vida toda. Me dirigiu até a porta. Quem tinha chegado com a campainha estava no banheiro e uma pasta, que devia ser sua, estava na cadeira.

- Tchau, até quinta! - dissemos os dois, ao mesmo tempo. Virei, a porta fechou.

Como sempre, saí pelo corredor batendo com a mão espalmada na parede chapiscada do corredor daquele prédio comercial em Copacabana e suspirei fundo ao som do pensamento simbólico ‘tiro na cabeça’. Um enjôo me perseguia – lembranças de Sartre. Desemboquei no hall dos elevadores, eram dois.

Os dois elevadores passaram direto o andar onde eu estava. Sozinho, as figuras recém surgidas naquela sala da qual acabara de sair fervilhavam. Eu era uma metade do partido Andrógeno de Prometeu. Eu buscava amor em todas as suas formas, eu queria o brilho. Eu andava de bicicleta com meu pai aos 8 anos de idade e queria ser dono do Copacabana Palace. “Cuidado com os sonhos altos, você pode se frustrar quando ficar mais velho” era, sim, aos 8 anos que eu ouvia isso tanto do meu pai como da minha mãe. E o elevador chegou, o social, o que tem um espelho. Lancei um chiclete. Estômago?

O caminho para casa era um tanto quanto longo e eu pensava e sentia muito e ia a pé. A cada passo eu pensava, eu sentia e eu queria sentar e escrever. Toda essa história de amor não recebido, de amor procurado, de dependência do riso e do aplauso. Aquele caminho de sempre, as muitas pessoas variadas da Avenida Copacabana e eu e a minha mochila sacolejava. O barulho do ônibus parando, tsss, andando, seu carburador soltando a fumaça que eu nem via, mas imaginava, só pelo barulho do ronco. O céu me dizia que era noite e as luzes acesas me diziam de mim. Eu, sentado no sofá da sala, conversando com meu pai que não ouvia minhas poesias, nem minhas reflexões metafísicas. Falava dele, do Direito dele, da sua Jurisprudência e os dogmas e mais dogmas e mais dogmas do seu Direito, que enclausuravam, encaixotavam, acachapavam meu amor Filia. O enjôo.

Eu parei no sinal da Barata Ribeiro com a Bolívar. A mulher ao meu lado, eu olhei, era feia e me olhou nos olhos – continuava muito feia. A faixa de pedestres atropelada pelos carros, pois o sinal estava verde, e lá do outro lado, a calçada do meu caminho que continuava. Mais roncos, mais ônibus, mais carros. Gosto de fumaça na boca. Aquecimento global? Meu estômago não desembrulhava de jeito nenhum. Eu tinha meus 14 anos, na casa de umas pessoas apenas conhecidas, sentado no braço do sofá, vendo um filme na televisão muda para que se pudesse conversar, o qual ninguém se interessava – e eu ria. Nesse mesmo dia, eu discuti gritando minhas ideologias com quem me ridicularizava.

Só voltei a olhar para o mundo na pracinha da frente de casa. Moderna, haviam acabado de construir o metrô ali. Lembrei-me do que não era da conversa da sala dos olhos verdes, lembrei-me da vida não-minha. A vida, além de tudo isso, ainda é se sentir bem. Mascava o chiclete e a Náusea bombava. Passo, outro passo, latejava na minha mente, outro passo, o amor que eu não tinha, mais um passo, e a vida que eu vivia, mais outro, minha casa que não chegava para eu escrever – eu mascava e mascava arritmado o Trident. Meu amor era Eros, por isso eu dependia dele.

Um degrau e o outro, uma perna e depois a outra. Subi os dois degraus que antecipavam a porta do prédio e subi pelo elevador de serviço. A chave, ao chegar no meu andar, não estava no esconderijo de sempre, um pequeno susto que a rotina me deu, mas estava na mochila. Entrei, casa vazia, fui para o banho. Eu tinha falado para a moça dos olhos verdes, eu estava me sentindo sujo, oleoso, mal-tratado por mim mesmo. Como de prache, a masturbação. Dessa vez mais rápida e mais espontânea que o normal – será que eu estava com vontade? Gozei rápido e no mesmo instante soltei meu pau. Aturdido. Mas fiquei sentado ainda um tempo com o chuveiro caindo água na minha nuca, que escorria pela barriga, pela púbis, pelos pentelhos sujos do esperma; a água escorria pela ponta do meu nariz – minha cabeça estava baixa. Shampoo, sabonete, foi tudo passado de uma vez só, o que não era o normal. Estava me limpando do meu calor, tirando meu óleo, estava limpando o meu esperma, estava ensaboando o meu Eros.

A porta do box escorregou para o lado pelas minhas mãos, que puxavam a maçanetinha. Eu pisei no tapete do banheiro e puxei a minha toalha, branca. Me sequei, esfregando bem a cabeça, e me enrolei na toalha, segui para o quarto, sentei na minha cadeira verde e velha de plástico e comecei o que já era plano desde o primeiro elevador: escrever, mesmo que já tivesse passado algum tempo desde que os olhos verdes me olharam da última vez.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

um presidente eleito
alguns ministros e alguns deputados
alguns senadores, vereadores, prefeitos, governadores.
E seus acessores.
E todos os empregados e encarregados de tudo.
E seus empregados dométicos
E seus filhos
E os professores deles, coordenadores,
inspetores, baleiros do caminho, trocadores
e motoristas dos ônibus que pega
e seus colegas.
E os pais dos colegas
os empregados deles
e toda a malha rodoviária da cidade
e seus projetos ultrapassados de receptamento de esgoto
e as leis e as mamatas conseguidas
o trânsito
a viatura
a ambulância abrindo um vão no meio do engarrafamento
e os carros que vão atrás dela

a Terra, em processo de degradação ambiental, nesse momento gira em torno do sol e de si mesma graças ao Big Bang

Eu estou no meu corpo no meu quarto

outro achado do caderno:

"Eu sou o foco maior e não quero mais me dissuadir.
Amigos
Deveres
Prazeres
Dinheiro
Em tudo o que mais importa sou eu
Eu
Eu
Eu
me dá a chupeta, muá, muáááá!!!"
reclamávamos nós, filhinhos únicos da consciência na Terra.

devaneio paralelo:
"derretam logo, calotas polares!
venha logo, maldito Tsunami!"

Achei isso no meu caderno:

"Do tempo que sobra para mim, para minha introspecção, faço mau uso: durmo. Enquanto poderia estar equacionando temores, refeltindo sobre minhas diretrizes, sobre minhas relações. Mas eu durmo.
E prefiro assim. Antes que mergulhe em extremas profundidades, não me permito. Fico num sofrimento superficial, numa sensação insatisfeita tão sem propriedade que não me julgo digno de lamentar. Não me permito chorar, não reclamo, não faço lástimas, nem discorro sobre, por não ter conhecimento de causa.
Só queria chorar e saber que chorando eu vou saber mais e tudo vai encaminhar-se a dar certo.
PS: tenho me achado muito teen."
O mundo cai esparramado em cima de mim de uma altura de mais de 30 metros. Seu impacto me achata contra o piso de pedras portuguesas da calçada da Atlântica. Eu fico lá, estatelado, com o mundo sobre as minhas costas mais que fraturadas e observo o que há nas ranhuras entre as pedras. Sujeira preta e musgo. Esquecimento e vida nova.
(Uma mãe, moradora do topo do morro da providência, negra, tem um filho, negro.)
O mundo me pede licença grosseiramente e sai como se não tivesse sido com ele. E eu saio andando, todo quebrado, aterrorizado, de fininho.
"Mal-algradecido?"

marcas

Os flashs acontecidos,
conectados, malditos!
engrandecem e recheam o drama,
dão forma, cor
e chamam:
você a pensar,
as más vibrações para o mundo girar,
todas as manifestações do caos.

São momentos vividos,
passados e repassados sem prol;
são ingratos.

Como a brisa que refresca sem atrapalhar,
sou lembrado, sem interrupção de nada.

E eu olho pra fora,
vejo prédios, vejo plantas,
não figuro mais nada daquilo,
mas está tudo muito bem informado.
Existir-me exala.

tripalium

Empolado de abraços mal-dados,
engravatado, tolhido dos confortantes afagos;
esquecido, a bobas quimeras fadado;
mal-dormido, na porta batida do quarto, escorado.

De enfado, amalgamado.

À procura dos mais categóricos -
e satisfatórios -
produtos irrisórios do mercado.

Engavetado, marido e mal-pago.

domingo, 24 de agosto de 2008

- é a ânsia, pensou

São o sim, o não
e a questão!
Lamúrias em vão...

A disciplina entoada:
o livre-arbítrio descrito e empanado
cada vez mais crocante e mais macio,
mais moderno, mais veloz e mais vazio,
de martelos e suspiros ecoados,
imitados, propagados, desmentidos,
pretendidos.
Não escoro mais ninguém, decoro – e o sentido?
Eu não sou nada.

sábado, 23 de agosto de 2008

porque a sua cama estava bagunçada,
ele olhava as horas e contava o tempo de tudo o que perdia.
enfim,
só depois de olhar as horas e pensar mais um pouco,
esqueceu o quanto estava tarde.
mas era tarde nas suas sinapses,
nos ponteiros.
na sua janela, o sol soltava seus últimos raios.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

o narrador

Acometiam-lhe algumas idéias, umas bem vagas de seu passado, nem tão distante assim, outras do período que ele compreendia como presente, apesar de já terem acontecido. E era isso mesmo: o que ele tinha vivido há mais tempo, as primeiras impressões que teve quando formava-se como um homem de fato, com os primeiros pentelhos e bigode de porteiro, determinavam-lhe algumas situações - desde uma empostação de voz característica, aos motivos de olhares lancinantes. Mas isso vinha vivendo em completo coma. De uma hora para outra, entre um trago e outro, no meio de uma conversa de casa de amigo com os amigos, num daqueles momentos que não importa onde esteja você desliga um pouco do mundo, apareceu no consciente essa noção que ele não tinha. Seu silêncio era ardido. Seu aparecimento calava.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

modus vivendis

Ela, soltinha,
quer o agora.
Quer ser paulatina
por isso nubla a hora
de quando tudo já tiver que ter sido.
E eu a invejo,
pois o que nublo é o manejo
de quem vive e aproveita e adqüire
e consome sua própria individualidade,
sua prosperidade e sua excentricidade.
Ela tem uma garra,
uma marra;
e eu um medinho
e uma perseverança encardida
que vão,
permeando-me o enredo,
construir meu futuro
ou destruir-me os ensejos.
Nas vezes que a chuva cai,
ela cai.
Nas vezes que o tempo nubla,
e só,
descuidado e hiperativo,
eu ranjo meus incisivos,
sufoco sem escapismos,
enxergo com estrabismo;
é como o impossível desate de um nó:
não se pode abrir o que embrulha -
simplesmente não cai a chuva.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

há mais de um tempo sem chover

Nas vezes que a chuva cai,
ela cai.
Nas vezes que o tempo nubla,
e só,
descuidado e hiperativo,
eu ranjo meus incisivos,
sufoco sem escapismos,
enxergo com estrabismo!
É como o impossível desate de um nó:
não cai a chuva.

Não era dia

Ouviu-se o pianinho, a fumaça do cigarro não se deformava pela inexistência de qualquer janela aberta e só se via o cigarro e a mão dela - sim, uma mulher. As paredes pretas, o chão preto e somente a luz branca de um abajur modernoso. Havia também a mão do tal alguém que se sentava numa poltrona de couro preta, com aqueles tão ordinários botões que pressurizam as almofadas. Era velha, os esmaltes eram rosa e sua roupa era escura numa cor indizível - era a cor do momento todo. Ela não via nada, não fazia nada, apenas estava sentada, fumando seu cigarro, com um de seus cotovelos apoiados na poltrona, o cotovelo da mão do cigarro, que estava solta, meio desmunhecada. O outro braço acompanhava o corpo e a sua mão depositava-se próxima à sua pubis, por conforto. suas pernas cruzadas e sua roupa da tal cor era uma espécie de túnica, que ia até depois de seu joelho, mesmo sentada; suas sandálias eram jesuítas. Não fazia nada, não ventava nada e a funmaça subia retinha. Até que se desfez. A linha vertical que se formava da brasa do cigarro até o momento em que ela se misturava ao ar se desfez e vários movimentos circulares fez a fumaça e ela tragou e a brasa comeu mais um pouco do papel e seus pulmões encheu de fumaça: era possível ver seu tórax cheio. Por pouquíssimo tempo, quando soltou a fumaça num biquinho muito característico dela, voltou a mão para a posição de antes, desmunhecada sobre o cotovelo apoiado no braço da poltrona, e continuou a estar ali. Nas primeiras respirações que se seguiram à tragada expirada, resquícios de fumaça saíram pelo seu nariz. Uma ou duas vezes.

domingo, 17 de agosto de 2008

iminência e seu tom

Luzes e luzes e mais luzes. Naquela avenida famosa, ela abria os braços e girava, como fazia quando criança no quintal da casa de campo. Era tudo tão suave, a brisa gelada, aquelas ruas vazias, ouvia uma música azul na cabeça e nada, nadinha passava por aquela avenida. Ela estava de chuquinhas – estava mesmo, inconscientemente, numa pilha meio infantilóide – com um casaco amarelo com detalhes roxos, era tipo um casaco de ski; vestia também uma calça jeans e um tênis. A noite, que estava muito fria, já estava pra lá de acabada e ela estava realmente a fim de girar na mais famosa e iluminada avenida da cidade.

Letreiros e postes e outdoors e a música cessou e se fez um silêncio urbano. Ouvia seus pés tocando o chão e via-os também, um pisando na frente do outro, fazendo girar, os brilhantinhos que o asfalto refletia, a tinta branca das sinalizações da pista, o meio-fio que passava rápido para as divisões entre as placas de cimento da calçada. Também dava-se conta de uns gemidos e uns sons bizarros que estava emitindo e nem sabia. Até que percebeu que estava caindo para o lado.

Quando seu estômago chiou.

Deu mais uns dois passos catando cavaco, encostou no meio-fio meio sentada, meio ajoelhada, meio apoiada com as mãos e vomitou. E vomitou, e vomitou. Secou a boca na manga do casaco e ficou sentada, com as pernas tronchas e o cabelo molhado de baba, suor e vômito, relfetindo um pouco sobre levantar: estava tudo muito mais que girando. Depois de umas respiradas profundas e lamurientas, mantras repetidos para superar isso, que parecia um karma, levantou, tontinha ainda, e seguiu cambaleando até chegar em casa, com uma cara transtornada, ouvindo os passos e os gemidos e os sons bizarros que ela própria emitia e só conseguia ver e ouvir a ela mesma e mais nada.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

sobre minhas sobrancelhas cerradas

O que antes calava,
com seus abraços,
seus papos
e risos,
não cala mais,
não te recorre mais
e as sinapses me percorre.
Meus bons hormônios, animais,
estocam-se pela abstinência sua.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

à serenidade do momento,
à lancinante estabilidade,
eu declaro um bocejo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

o amor de um Faraó desesperado

Finalmente,
por mais estranho que fosse.

Por mais que amores e ódios nos cafungássemos,
por mais que as palavras me levassem,
torto,
para longe das ávidas cortesias,
deixamos nos velar pela maresia,
pela poesia,
e nos embalsamamos,
em tumbas egípcias,
para que vivêssemos depois da morte.

Até que morremos
e renascemos
para vivermos aqui
no mais alto paraíso -
entorpecido, lírico, construído

parte boa da vida ou um ret para conversar ou amigos que não se veêm há muito ou os assuntos têm e vão ter que vir do nada

Não se falavam há uns seis meses e estavam fazendo já suas vidas aconteceram, cada um em seu canto.
- Alô, Paulinha?
- Não acredito! - respondeu Paulinha com ironia mais propicia do mundo.
- Hahahahaha, é mesmo né cara, po, e aí, como vai a vida?
- Ah, vai indo, já comecei a faculdade e nas aulas de filosofia cara, nem falei com você no primeiro semestre né, lembrava muito de você!
- E, cara, decidi fazer filosofia de faculdade mesmo, e letras, mas po, vestibular tá foda, casa colégio, colégio casa.
- Não tem ido à praia não?
- Nem tenho ido, mas até que fui um dia desses - era uma boa resposta vaga para quem iria encontrar a amiga de longa data, branco.
- É, pois é, também não tenho ido... Mas, enfim, vamos fumar uuuuummm!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Isso!!!!! Amanhã?
- Não, amanhã pra mim é foda, minha mãe vai operar.
- Que bad, o que?
- Lipoaspiração, ela é louca, me deixa preocupada e vou ter que ficar lá no hospital... vamos quinta.
- Hahaha, e eu me preocupando... tá, vamos quinta então, a gente se liga!
- Tá, é isso, adorei você ter ligado, porque desde a última vez que a gente se falou, no iníco do ano, você não atendeu alguns telefonemas - estava acostumado a ouvir isso de algumas pessoas.
- Tá, amanhã então a gente se fala - ele sabia como não prolongar chatices.
- Beeeeijo!!!
- Beijo, témanhã!

domingo, 10 de agosto de 2008

- Escreva, escreva logo sobre o que você quer, fale logo sobre esse seu sentimento inexistente, escreva só porque os outros escreveram, literature logo o que você queria ter sentido.
- Eu não posso, tenho essa vontade assim como tenho vontade de reprimir essa vontade. Não quero parecer falso.

influência dos outros

Preocupações imagéticas rasas,
que induzem à intensa fobia,
mortificam o dissernimento em brasas,
se forjam de fogo, empregam malícia.

Matutar ao encontro do tédio,
controlar impulsivos soluços.
Se torna uma missão, seu remédio,
encarar toda a vida com olhos escusos.

o papel dos meus livros

Olhando, fissurado por conhecimento, para livros não lidos; comprados, organizados, enfileirados na estante: conhecimento puro, ali, em muitos volumes, sem nenhuma intervenção da minha subjetividade naquelas idéias, como se eles nunca tivessem me dito nada. Não pude ainda opinar, nem me emocionar com todo esse material, mas eles, paramim, significam bem mais que uma promessa de leitura ou de aquisição de conhecimento. Eles, ali na estante, me fitando, são símbolos de uma sensibilidade alforada, conhecida minha e dos outros, que deixa transpirar por aqueles livros tudo que me pode dizer respeito - mesmo que ninguém os tenha lido. Representam, além de tudo, um escudo de respeito: ao levá-los sempre comigo para os âmbitos, desenharão de mim um conceito que cala ou impede qualquer um de me atacar a todas as vistas - um homem que lê.

pensando, sofrendo e/ou roendo o pé da mesa por um pouco de especiaria

- Chora!
não chora...
- Chora!
não chora...
- Chora!
não adianta,
não chorou,
aflito,
tragado,
drogado,
abstido.

Fimde Semana Bucólico Em Família

Entrava no carro para se livrar do frio que fazia do lado de fora da casa, ams o carro estava frio. Ligou o ar quente numa tentativa de se aquecer, esperou um pouco e estava tudo quentinho. Sua mãe estava sentada atrás no carro e seu irmão vinha andando, de dentro da casa, atravessando o portão para entrar no carro.
Era a casa de Teresópolis: uma pequena casa de campo da família, que tinha um quintal no canto que margeava um córrego, do outro lado uma garagem e atrás dela uma churrasqueira desativada, que acabou virando outra garagem, na frente um jardinzinho e um caminho de pedra do portão até a casa e atrás da casa havia um estreitíssimo gramado, onde havia uma pequena construção onde se armazenava madeira rachada para a lareira. A casa era na media: uma cozinha, uam área de serviço, quarto de empregada, banheiro de empregada, sala de estar com lareira, sala de jantar, 3 quartos, sendo um deles suíte, um banheiro e um lavabo, além da varanda, onde punha-se uma cadeira de balanço e uma esprequiçadeira modernosa e, mais distante delas, a rede, tudo de frente para o jardim e o portão.
Mas naquele momento, estava já tudo escuro. Estavam saindo da casa, retornando para o Rio, portanto todas as luzes já tinham sido apagadas, e, de qualquer jeito, ele já estava no carro e não conseguia mais ver muita coisa da casa, senão o portão semi-cerrado e o muro baixo com uma cerquinha em cima que circundava o terreno - apesar de ser baixo, não se podia ver a casa. E naquele mesmo moento, em que se aquecera de vez e que ia embora da casa e que via o pai e o irmão vindo entrar no carro e que ocnversava também com a sua mãe, que lixava a unha, sobre qualquer assunto, tinha uma sensação estranhamente boa. Há tempos que não sentia que estava fazendo o que queria ao estar com a família. Há tempos, mais tempo ainda, que não ia para Teresópolis sem remorso de poder estar aproveitando alguma coisa no Rio, que raramente existia. E lhe custava crer que, na verdade, sempre quando não vinha para Teresópolis, sentia-se sozinho, apesar de ser frequentado exaustivamente quando eles deixavam a casa livre. E agora que a casa estava apagada e que todos iam embora, ele fazia uma retrospectiva geral do fim de semana familiar, ao mesmo tempo em que respondia à mãe algumas coisas. Lembrava de como se senitra o fom de semana inteiro, de como eles se comportavam menos hostis, de como ele percebia os pais de forma mais doce. E o irmão também, todos pareciam mais sensíveis. O irmão, foi inclusive um dos assuntos de uma das refeições feitas juntos, ia fazer análise, o que fazia dele um neurastênico assumido. Isso exalava, mesmo que não se esforçasse, compaixão de sua parte para outras coisas. Os pais, esses, de tanto que os fizera pensar, finalmente o entubavam e não somente, o amavam sem dúvidas nem irritações nem frustrações.
A vida adulta, algum escritor famoso diria em seus livros sobre a formação espiritual de um indivíduo, começava a aflorar como um inconsciente coletivo naquela família. O trato estava menos comprometido, as responsabilidades já estavam assimiladas e as intimidades também.
Eles entraram no carro e seu pai logo comentou:
- Isso aqui vai ficar um forno com esse ar quente ligado.
E ele não ouvira como uma alfinetada nem como uma coisa cotidiana e fútil - chegou até a não gostar de falar nem de que falassem sobre coisas práticas algum dia.
- Eu sei, mas é só para esquentar um pouco e depois eu desligo.
Aquelas conversas pá-pum, dessa vez, refletiam a serenidade que tinham alcançado naquela família, algo bem cinematográfico. Seria porque o filho entraria para a análise? Ou porque o pai tinha sido aprovado no concurso para o doutorado? Ou porque o outro filho, o filho em questão, sabia agora o que queria para a vida dele, da forma mais geral possível? A mãe, a mãe só esperava esse momento há um bom tempo, regozijava-se falando muito e lixando a unha.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

o que é seu por nãovontade

Tem coisas que são mesmo como são,
não basta um não,
um momento de devaneio,
muito menos uma pisada no freio.

E os ouvidos e as bocas,
os vãos e os vens das figuras loucas,
decifram, concebem, emitem:
males na vida simplesmente existem.

dualismo vitalício

Minha classe mais baixa,
que come numa lanchonete,
que pré-data o cheque,
que dá esmola ao pivete,
sua, preocupa-se.
Se seus dias querem ser contados,
se a vida se vira pros carros,
pras casas,
pras jóias a dar a mulher
e pro colégio particular dos futuros filhos,
que pode fazer o meu mais simples, o meu mais pobre,
que se vira viajando para Friburgo nas férias,
senão aceitar-se e não querer mais renda?
O que o mundo quer que ele aprenda?
A galgar meteórico estrelas,
ou chutar irritado as despesas?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

as rugas do cérebro

Nas profundezas das rugas do meu cérebro, uma tempestade nebulosa de tormentos e pesos para os olhos acontecia.
Deitado na cama dos meus pais, com o abajur do lado direito da cama aceso, eu estava calado, meio curvado, meio lombrado, deslizando pelas minhas mãos uma correspondência recebida: era um anúncio de algo que eu nunca adquiriria. Minha mãe falava ao telefone, sentada na cama perto do abajur aceso, pagava contas via phonebanking e não parava de olhar para mim, repetindo os números dos códigos de barra, se confundindo e reefetuando todos os pagamentos, com um ar de preocupação - comigo. Ouvia, ao fundo, mas não baixo, os reclames do Jornal Nacional, que anunciava as maravilhas conquistadas pelo Brasil em desenvolvimento. Não sei quantos milhões de pessoas saindo da pobreza, o país aumentando a qualidade de vida de sua população. Eu ouvia aquilo e só não ria por causa da tal tempestade. Imaginei o quanto o poder de consumo pode deprimir sua população. Mas eu nem consumia, nem tinha minha própria renda, estava pensando de orelhada. A existência não era tão agradável, nem tão degustável, era a única saída para quem vivia. Assim que desligou o telefone, ela quis conversar. Na verdade queria saber se estava tudo bem e eu não me importava dessa vez que ela soubesse que não estava - fez três perguntas ordinárias e foi direto ao ponto: você está triste? estou.
Sem aquela fome de sempre, jantei com meus pais à mesa, meio cabisbaixo, ciscando a comida com o garfo, pouca comida – uma saladinha e dois pedaços de frango grelhado. Perguntei pro mei pai alguma coisa sobre trâmites jurídicos ou políticos, relacionado ao que se passava no jornal, corrupção ou politicagens, o que rapidamente engatou numa discussão política que, se não fosse a tal nebulosidade, teria se tornado uma argumentação voraz. Dessa vez eu não queria tentar contradizê-lo, nem mostrar o não ser bem assim das coisas, sob o meu ponto de vista. Terminei de comer, vi meu pai se direcionar para a sala, extremamente importado com um caso de corrupção na TV, e fiquei mais um pouco na cozinha com a minha mãe, que tirava a mesa e tentava perguntar sobre os meus planos. Eu estava sem saco para planos e meus olhos pesavam tanto de tristeza que respondi brevemente com espasmos e quase tive vontade de chorar. Levantei da mesa da copa, onde estava com um braço esticado e a cabeça deitada sobre ele, segui sereno até o quarto, passei pelo meu pai, que comentou sobre algo de suma relevância relatado no jornal, sorri amarelo e fui para o quarto. Deitei na minha cama e botei um som bem pesado, tão pesado quanto os meus tormentos, tão pesado quanto a minha tempestade: queria obter uma espécie de equilíbrio osmótico. Dormi.

inspiração

Lembrava do que tinha pensado no ônibus, quando entrara no túnel? Era muito difícil, era exigir demais de um cérebro já tão desgastado, já tão focalizado em outras coisas. Mas de algumas poucas coisas lembrava. Conforme ia se lembrando do que pensara, via as imagens que aqueles pensamentos refletiam, não eles exatamente. Aquelas luzes, amarelas, fortes... Aquela solidão no meio de um monte de gente, aquela solidão dentro do ar condicionado e da cadeira estofada, solidão de quem chega em casa e liga o computador. Ia parar na praça perto de casa e começar a relatar num caderninho a porra toda: a metafísica de sua vida, que iria embutir, as relfexões pesadas, as análises psicológicas, porém, sua consciência não atingia patamares tão altos assim, sua consciência pensava uma coisa de cada vez e sempre empacava obsessivamente, circulando e circulando sem fim uma dúzia de palavras e chavões já clássicos em sua mente. E a sua obsessão começava quando o pensamento lhe vinha. Não lhe deixava prolongar-se, martelava e martelava a mesma idéia, para não esquecer, para chegar em casa, correndo, oleoso e sentar pra escrever aquilo - seria antes, pararia na pracinha do metrô e escreveria lá mesmo, mais rápido. Mas aquilo era um nada, era um tópico frasal, que ainda latejava em sua mente, que não saía daquilo, era uma única coisa, estanque que pulsava freneticamente no seu cérebro. Só se deu conta quando estava na hora de saltar, quando nada ia mais sacolejar e ele iria para a praça finalmente escrever e já sabia como começava: "sempre que entrava no túnel, essas luzes...". Sacou o caderno, fez carinho num cachorro que passeava com o dono e acabou simpatizando com ele, já sentado, apoiou-se e... cadê a caneta. Deixou para fazer em casa e muita coisa podia mudar, ele temia.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

reencontro

Ela voltava de um tempo tão bom em sua vida que vinha que de braços abertos para um amigo que já fora um problema. Mas eles se adoravam. Ela, bem ou mal, aberta, falava de tudo, dos seus dramas, dos seus traumas, das suas fodas, do seu carisma – e do seu descarisma também – e até já falara que fora apaixonada por esse amigo, lá pelos seus quinze anos. Esse amigo, que nunca falara nada do que sentira sobre ela nem sobre nada, abriu seus braços para receber o abraço forte, o abraço gostoso, da pessoa que ele mais conhecia na sua vida. Suas vidas não se descruzavam, não se desgrudavam e tudo aquilo estava naquele abraço sincero, naqueles sorrisos que antecipavam o abraço, no telefonema da noite anterior que previa o encontro. Abraçaram-se e confirmaram: depois de uma semana e pouco, depois de suas vidas embaralhadas em outros rumos, aquela sala, com outros alunos, com um ou dois professores, eram o pano de fundo, eram a argamassa, eram o que eles encontraram para amarrar e emoldurar suas vidas. Se abraçaram e se amaram, na mais pura, confusa e perplexa amizade que tinham.
Era assim sempre: todas as vezes que saíam para viajar seus pais, eles quase que não se falavam, quase que não se gostavam - não se gostavam. Seus pais iam praticamente todo fim de semana viajar; enquanto estavam aqui, representavam uma espécie de unidade familiar, limites acabavam sendo determinados para não perturbar os pais, limites não podiam ser avançados para não perturbarem os pais, nenhum dos dois irmãos podia.

E os pais sempre iam, não deixavam de ir, tinham quase uma vida dupla, uma vida quase árcade, só para o pai, que fugia da úrbia para descansar no campo sereno, ar puro, tranqüilidade. E aqui, aqui começavam os embates, os avanços sobre as normas, começava a se abrir um espaço sem determinações. Um dos irmãos, logicamente o mais velho, sentia-se como um pai: deveria zelar pelo pouco fluxo de pessoas na casa, deveria zelar ela normalidade e vivia zangado, de cara emburrada, como o pai, para que tudo ficasse em ordem. Ignorado. O irmão mais novo cagava e andava para o mais velho. Ia e vinha com quem quisesse e ai dele se contasse alguma coisa: naquela família, alcagüetes eram mais crucificados que os próprios infratores – era uma casa de ex-vermelhos, no século XXI.

A coisa ficava no poder paralelo. Conforme o irmão soltava máximas moralizantes, com milhões e milhões de argumentações racionalizadas, democratizadas, institucionalizantes, o outro, o mais novo, reconhecia na ausência dos pais a ausência da autoridade, mesmo que ela fosse necessária idealisticamente para que se mantivesse a paz. Mas quem queria a paz, quem queria a paz era ele. Para o mais novo, o custo benefício das esbórnias seqüenciadas por animosidades fraternais era altíssimo. A paz era coisa de gente como ele, e ele era diferente.

Quanta coisa era diferente, do consumo de drogas a vontades de vida. O mais velho queria uma vida ganha, uma vida certa e não fazia nenhum esforço por isso: seguia a profissão do pai, advogado, herdaria o escritório sem nenhum grande esforço e o máximo que poderia acontecer era deixar tudo de lado e virar um juiz – esse era, na verdade, o verdadeiro plano. O outro gostava de viver num maremoto. Sem nunca saber o que fazer da vida, ficava a maior parte do tempo no quarto, escrevendo, vendo coisas na internet, na televisão e consumindo muita droga. Saía com os olhos vermelhos, seguido de um, dois, três, opa, quatro, cinco amigos, que entravam no quarto com ele à tarde e só saíam lá pelas 2 da manha. Aos olhos do irmão isso era algo incômodo. Saía de seu quarto, onde não fazia nada quando não estava com a namorada, ia no banheiro e ouvia as risadas e a música no quarto do irmão. Aquilo, de ter muita gente no quarto do irmão, aquilo daquela gente toda, invadindo sua propriedade, aquela gente que ele não gostava e sabia que os pais também não gostavam não podiam ficar ali, mesmo que não saíssem do quarto. Aí ele voltava para o quarto, onde estava sua namorada, mais careta ainda, de camisolinha reclamando do tempo que aquelas pessoas estavam na casa. Ela sentia-se em mais direito de permanecer lá, por ser namorada, o que era natural, portanto, achava que o namorado deveria ir lá e reclamar com o irmão, que iria compreende racionalmente a inconveniência da presença deles lá, porque a namorada se sentia invadida – duvido que não desse por causa disso.
A parede do quarto não ouvia os barulhos de nenhum dos lados. Os lados ouviam-se um ao outro, embarreirados por aquela parede. Todos os barulhos que reverberavam de uma parede para a outra só exaltavam a animosidade conquistada. Sem os pais, sem a metrópole, fazia-se uma guerra fria, sem esculachos, sem agressões, somente olhares e vetos e restrições, boicotes, um ao outro. As sensações sabiam-se: um estava odiando o outro, num clima de cordialidade de sala de TV, onde o irmão mais velho tentava impor alternativas democráticas e seccionais. Para o jovem rebelde com vontade, se não tinha pai nem mãe, não tinha pai nem mãe e não era nenhum irmão mais velho que iria tirar-lhe o direito de diversão.

Se odiavam tão profundamente, tão territorialmente, tão periodicamente que, quando perdiam seus territórios, quando voltavam seus pais com comida e os seus mandamentos, Caim e Abel regozijavam-se com as iguarias trazidas do local viajado e comentavam o sabor e a magnitude, os dois a espera do próximo embate, sorridentes e harmonioso enquanto era tempo.

em campo de batalha

Se não é você,
que me impede, me joga, me chora,
constrói de mim uma idéia, droga,
me complica,
não me sai pela noite, nem pelo dia,
reserva meus tratos a poucos relatos,
a poucos macacos,
na minha caverna trancada e fria,
se não é você, quem é?
Quem é que não me deixa falar,
que não me entende e me parou de pensar,
entrou na minha festa,
bebeu minha cerveja,
roubou meu último pedaço,
iluminado, engraçado, acompanhado,
e eu assaltado, gelado, emboscado,
perdido;
quem é você, desgraçado alarido?

domingo, 3 de agosto de 2008

tomado de um ego

Resolvi dançar com mais ginga,
estufar o peito e bradar e bradar pelo mundo.
Expressar vontades,
mandar calar a boca e saber exatamente o que estou fazendo,
onde estou fazendo,
por que estou fazendo.
Pegar minha cerveja e abrir no dente, depois beber ela quase toda de uma vez só no gargalo.
Pegar um escrito e levar para a revista sabendo que vai ser aceito.
Vou seguir andando pelo meio da rua às 4:30 da manhã,
bêbado, com uma garrafa de vodka na mão sem medo de ser atropelado,
cantando.
Se me perguntarem qualquer coisa eu não respondo:
eu cuspo na cara e vou embora,
não me importo com os outros.
Sou tão grosso que não digo quando vou partir,
saio de fininho porque vomitei o vaso e quebrei a pia.
Assolado pela incapacidade plena,
martirizado pela prepotência minha,
encabulado, humilhado por não saber o tema,
termino, perturbado, a última linha.

sábado, 2 de agosto de 2008

Família Grande

Antônio era filho de João, que era amigo de Pedro desde muito novos. Acabaram se tornando tão amigos que os filhos de um se tornaram primos dos filhos do outro, portanto, Júlia, que era modelo, linda, atriz e morava em São Paulo, era prima de Antônio. Antônio tinha mais dinheiro que Júlia e menos que Rose, que era tia de verdade de Júlia e, quando Júlia estava no Rio, se dizia tia de Antônio - também se dizia tia em algumas outras situações, como numa festa, ou coisas do tipo, mas não, não era tia dele nem se sentia assim, mas isso não importa. O que importa é que Júlia se sentia oprimida pela tia rica e não pelo primo mais ou menos. Antônio, o primo mais ou menos, se sentia invadido quando a prima vinha de repente de São Paulo. Era assim: ela simplesmente aparecia na casa da avó dela na Tijuca e começava a ligar freneticamente, todos os dias, para a casa dos primos, para a casa de Antônio. Antes ela perturbava mais o irmão do Antônio, Marcos, porque eles eram praticamente da mesma idade, gostavam de fazer as mesmas coisas e ela adorava os amigos do Marcos, porque eles a colocavam como uma super atração nova, ela era bonita, ela era simpática e se enturmava muito rápido com as pessoas, pelo menos no momento era assim, nunca se sabe o que pensavam dela logo depois do tempo de socialização, se queriam desesperadamente comê-la, se achavam ela um saco porque não parava de falar, se não gostavam dela porque ela parecia dar mole e não pegava ninguém, enfim, ela gostava de estar ali no meio deles, mas Marcos agora tinha uma namorada. A namorada do Marcos, ou o namoro dele, distanciou-o do seu antigo ciclo de amizades. Marcos já não saía muito, ficava lá, com a sua namorada, no quarto dele, ou no quarto dela, na casa dela, no restaurante com ela, ia buscá-la na faculdade dela, saía do trabalho e ia encontrar com ela, encontrava com os amigos acompanhado dela, ia acompanhá-la com os amigos dela, levava ela sempre para almoçar em casa, ia almoçar na casa dela, enfim, ele não tinha mais tempo para a prima que surgia de paraquedas no Rio de Janeiro ou nunca teve paciência para ela e agora tinha desculpa para dispensar a prima, que, oras, a essa altura já lembrava que nem era mesmo prima de verdade, e ainda teve um episódio, em que a prima conheceu a namorada e que, segundo relatos da mãe de Marcos e Antônio, Júlia pareceu querer mostrar poder sobre Marcos, não sabia dizer direito, ou não queria parecer escrota com a sobrinha, até que disse que Júlia ficava dando mole para Marcos só para a namorada dele ficar com ciúmes. A namorada ficou com ciúmes mas não perdeu a pose, segundo a mãe dos rapazes. Se isso aconteceu, mais um motivo para Júlia ser dispensada. Júlia agora sufocava Antônio. Júlia estava passando por um momento muito difícil em sua vida: seus pais se separavam. Isso mesmo, tio Pedro se separava da mulher e era mais uma confusão familiar que surgia na família de Júlia e de Pedro, não na família de Marcos, Antônio e João. A família de Júlia era muito confusa. A tal da tia Rose, a rica, que era casada com um advogado também muito rico e tiha com ele três filhos, dois homens e uma menina, a caçula. Os dois homens, um tinha 30 e o outro 27 e não haviam saído de casa ainda. Estavam sempre muito bem vestidos, eram muito bonitos, fortes, brozeados, descolados, enfim, eram dois típicos Garotos Zona Sul. A família era rica, era o que sentiam que queriam dizer para os outros, tanto Júlia, como Marcos, como Pedro, como Antônio. Essa família da tia Rose e seu marido, era brigada com um irmão dela, Fábio. Fábio também era rico, tinha uma mulher bem mais jovem e tinha um filho pequeno, que ainda não expressava opiniões como os filhos de Rose. Tio Fábio, para os olhos de Júlia, era bem mais legal que Rose. Para os olhos de Marcos, Antônio e João, ele também gostava de ostentar sua riqueza e fazia questão de ser grosseiro com os outros. E ainda tinha a Léa, que era a parte mais pobre da família, que tinha casado com um cara aí que Marcos e Antônio não sabem quem são, tiveram uma filha, Marina, que era meio gordinha, branquela e não tinha cara de quem tinha muitos amigos. Marina adorava quando Júlia vinha de São Paulo, pois ela badalava a sua vida. Júlia, contudo, não gostava muito de badalar a vida de Marina, ela queria uma badalação em si. Portanto, quando vinha ao Rio, procurava a casa de Antônio, Marcos e João, porque Marcos era sinônimos de todos os amigos que ele tinha e a própria badalação. Marcos era um pouco Garoto Zona Sul, mas os seus amigos eram totalmente, só que não tão ricos nem tão presunçosos quanto os filhos de Rose. Freqüentavam partes diferentes da praia de Ipanema e isso os diferenciava muito, pelo incrível que pareça, fazia deles dois tipos distintos de Garotos Zona Sul. Júlia, para não parecer tão escrota, tentava incluir Marina, a prima, no grupo dos amigos de Marcos, mas, como Garotões Zona Sul que se prezem, não gostavam de gente feia e gorda. Não chegaram a destratá-la, simplesmente não a fizeram sentir-se incluída, o que já era suficiente para uma animosidade. As coisas, porém, não eram mais assim. Marcos namorava, Pedro, pai de Júlia, se separava da mulher. O divórcio de Pedro causara milhões de turbulências na família de Pedro, Júlia, Rose e Fábio, não para Marcos, Antônio e João. Júlia achou que Rose estimulava atitudes inaceitáveis de Pedro. Júlia já não gostava muito de Rose e o que parecia neurose, também parecia verdade e, pelo tipo de gente que era Rose, uma rica metida com filhos ricos metidos e um marido rico metido, a neurose só podia ser verdade. Houve um episódio em que Júlia pediu para o pai que não chamasse a irmã para ir à praia com eles uma vez. Pedro ignorou a filha e encontraram-se todos na praia, a família sólida de Rose e seus riquinhos e a família ainda em tempo de terminar de Júlia, Pedro, futura ex-mulher e o outro filho. Júlia levantou-se raivosa e mudou de lugar. Nesse dia, no Arpoador, solaço, Júlia fez questão de ignorar a tia. Júlia também ligou para a casa dos primos emprestados. Marcos a chamou para conhecer a namorada dele e deu no que deu, ou deu no que a mãe de Marcos e Antônio disse. A família de Marcos, Antônio e João também era sólida e estruturada, apesar de não ser rica. Júlia se tocou que não poderia mais contar com o primo Marcos e foi atrás de Antônio, que primeiramene deu atenção a ela, foi ao Arpoador com ela, pularam da pedra e até apresentou-a a alguns de seus amigos. Júlia se deu muito bem com Paulo, um amigo de Antônio. Paulo tinha alguns problemas psiquiátricos, uma carência absurda e os dois se deram super bem, Paulo, o psicótico carente e Júlia, a modelo, atriz, linda, simpática, que agora passava por momentos difíceis em casa e tudo o que queria era algo que não lhe lembrasse a família da qual excluía Antônio, Marcos e João. Um dia, na praia com o psicótico, outro episódio da família que Antônio, Marcos e João não participavam: com o psicótico longe, seqüelando, sem nem prestar atenção no que se passava, Júlia encontrou com Rose e sua filha mais nova, que tinha lá seus 22 anos. Começaram um barata vôa, discutiram e depois selaram uma paz forçada. Júlia comentou com Paulo. Como Júlia ficou amiga de Paulo, se sentia num maior direito de ficar ligando para o primo Antônio, chamá-lo para sair, ir à praia, etc. Antônio não gostava muito disso, gostava de ficar em casa, reunir-se com poucos amigos e fumar maconha o dia inteiro. Paulo também fazia isso, mas acabou gostando muito de Júlia - ele era psicótico, vale lembrar. Júlia não tinha preconceitos com maconha, era o que ela dizia, só não fumava. Antônio, que nunca apresentava os amigos a ela, resolveu apresentar uma vez. Ela se deu bem com todos, falou sobre seus dramas familiares de modo teatralizado e representou um tempo agradável naquele quarto enfumaçado. Ela chapou-se de marola; era o que parecia. Antônio, entretanto, não gostava de ter que estar com a prima, pois ela não fazia as coisas que ele fazia e, por mais que não tivesse preconceito, não era lá que ela gostaria de estar e sempre acabava querendo obrigá-lo a fazer coisas que não queria, como por exemplo sair com a prima Marina ou ir visitar a tia Rose. Detalhe não relatado: a prima Marina era sempre a excluída quando eram crianças e todos os pais eram casados e a avó, mãe de Rose, Pedro, Fábio e Léa, ainda era viva. Júlia, que não queria nunca sofrer com nada nem ser mal recebida no Rio começava a ver tudo cair por terra. Seus olhos verdes, sua beleza, não conquistavam a carioqueza de quem vivia aqui. Infelizmente, ela pensava, morava em São Paulo, onde sempre morou. Se tivesse ficado no Rio, nascido no Rio, se seu pai não tivesse ido para Taubaté, se sua mãe não tivesse batido o pé e não tivesse ido, se seu pai não tivesse traído sua mãe por estarem em São Paulo, longe de suas vidas, se sua mãe não tivesse desistido de sua vida pela família, ah, tudo seria melhor se ela morasse no Rio. Voltou para São Paulo de ônibus e ficou puta da vida com todos. Por que agora todos resolviam tratá-la como alguém que estava enchendo o saco? No fundo, no fundo, ela achava os seus familiares um saco, gostava mesmo era dos que não eram parentes, Marcos, Antônio e João, que não se sentiam seus parentes.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

dilema do homem moderno

Esqueças o papel passado,
as adversidades vencidas,
a finada voz que te erradica.
As mensagens já promulgadas
de como se ver a vida,
são vontades de maioria
e de um tempo passado.
És um e contemporâneo.