sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

"Quero foder alguém".
Sou mais que isso.

..

Tenho comigo algum tipo de compromisso. Compromisso com o que digo ser verdadeiro, com o que me representa, sendo exatamente como quero que me represente. Tenho compromissos. Compromissos com o que devo discursar, o que eu devo falar, com que palavras devo chegar lá. Quero chegar lá. Esse é o compromisso. Infelizmente, tenho que admitir, tenho um lá que quero atingir. Que quero atingir e não ter mais que participar de nada, nem ninguém. O meu compromisso é com a minha tranqüilidade, inconstante.

.

Até hoje me indago: até onde minha mente vai. Consigo supor situações cotidianas, situações que se comportam como cotidianas, mas não são, todos sabemos que não são. Não queremos que seja, sejamos verdadeiros com nós mesmos. Suponho até onde isso tudo vai. Na casa de cada um, o que se pensa. Em casa... é só chegar, é só estar, chegar em casa. Se tiver, tive, se não, não, em casa cheguei. É chato, eu sei. Só em casa permanecerei. Pra sempre. Que não é sempre, que é só querer sair, e ver tudo de novo, encare como novo, não viu nada, viu? É só sorrir, seguir, feche, literalmente, seus olhos. Em frente vamos seguir, frente de onde, do tempo, maldito, ele existe... então é pra frente mesmo. Lá na frente, alguém sentado, não está apoiado, está pensando, datilografando, computador, o que quer que seja, está pensando, no seu tempo, seus problemas – problemas?!?! - suas experiências. Motivos sempre de pensamentos, que vão, que vêm, que ficam, que se consomem por atos, por desejos, affairs, sacanagem, pensamentos, por tudo tão suprimidos, meus queridos pensamentos, é, são eles quem eu procurava. Sejam como sejam, meus pensamentos, e neles, sem maledicência, o orgulho que sinto da vida.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

ócio-neg-ócio

Ser uma pessoa compromissada com o ócio me proporciona bons e maus frutos literários: escrevo por não ter o que fazer; acabo escrevendo qualquer coisa, só pra passar o tempo. Isso é bom, é fluido, mas ao mesmo tempo não me dedico a nenhuma grande obra, a nenhuma grande missão artística que eu me comprometi a cumprir, não consigo dizer a mim mesmo que ficarei de tal a tal hora escrevendo, pouco gosto de me delimitar. Sucumbo ao ócio, mais uma vez. Canso de estar escrevendo, procuro rapidamente um fim plausível, um fim que seja digno de fim – pois não acabo de qualquer maneira também, só começo! – pra voltar a não fazer nada. Me irrito, subitamente, de estar escrevendo, acho chato, acho fútil e quero voltar a circular moribundo, ocioso, pelas três dimensões. Aí, como sempre, canso de ficar por aí vivendo sem fazer nada. E volto a escrever, nunca alguma coisa planejada, simplesmente escrevo para poder parar e escrever e depois parar de escrever. Pouco penso sobre o que escreverei, a não ser que o esteja fazendo. Nada me diz respeito o que dizem sobre ócio criativo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

PPC (Período Pré Consciência)

Estou por aqui,
dando só uma volta...
Dichava aí!
Eu tô na escolta!

Relaxa, retardado!
Que muleque escaldado!
Tô sempre aqui dando um dois...
Deixa ali teu flagrante e pega depois.

e o dois foi dado
e o flagrante para trás deixado;
só porque estava chapado,
deixou lá o entocado
bem entocado.
Voltou angustiado
até que cansou-se de tanto ter procurado:
tinha esquecido onde tinha colocado.
Seguiu conformado.
Pelo amigo confortado,
depois de ter sido zuado.

Se despediu do amigo no caminho
"como não vi? estava no papel alumínio!"
Mas de nada ele sabia:
Seu amigo, desonestamente,
com seu flagrante, sorria...

Desgraçado!,
se já supusesse,
pensaria.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Planejando a vida

Como é frustrante saber os históricos dos pensamentos dos outros. O que planejaram, o que refletiram sobre suas aflições e sentimentos, o que aprenderam com as projeções interrompidas por maldades e injustiças inerentes à vida.
Como é triste saber que posso errar, assim como posso acertar. Que devo seguir conselhos, observar experiências de vida, construir com base nessas outras experiências a minha certeza, que passaria a não ser mais aquela que pode ser duvidosa.
Determinar sem sentir, somente sabendo. Que incongruência, pois, se só sabemos o que sentimos. Deveríamos criar outro símbolo para a ciência não empírica, não se pode conjugar saber quando não se sente o que se sabe. Viva o método científico individual e morta às tradições e seus conselhos.

Reality I

The reality, even if it's past, is always about the best ways you always should go and should have gone for.

Reality II

The best reality is the one you can go for. This reality, the one you're able to go through, the reality you think you're over your time and you manage it. the thought of your, of mine, of our time is the real reality, where we're not up to do whatever we want: the circumstances of the world do not allow us to control whatever the public relations teaches, it's not always possible to convince with my persuation skills.
If it is reality, you better don't talk about her complexities, otherwise there will be lots of messed up realities.

Irritante

Quero, odiosamente, inadiavelmente, irremediavelmente, urgentemente, desesperadamente, angustiadamente, pensar em alguma coisa que preste, mas só o que buzina malemolentemente em minha mente é uma musiquinha chata, ruim, irritante, pobre, baixa - e escrota, por quê não? E o pior não é pensar na música enquanto se quer pensar decentemente (isso já é péssimo), é pensar somente o refrão e ficar repeteindo, como um disco arranhado.
Mas por que penso numa múscia que só lembro do refrão e não numa que eu goste e saiba toda? Mensagens subliminares e técinicas de controle de massa, mesmo que não intencionalmente...

nota:

A insinceridade é assim tão terrível? Creio que não. É um simples método pelo qual podemos multiplicar nossas personalidades.

Diferentes Investimentos na Bolsa da Realização

Minha vida não é nada, senão minha vida. Não a direciono a alguma coisa, abstrata ou material apenas. Ela está multi-focada, multi-drecionada. Isso faço por medo de não me frustrar tanto.

Representação e Hipocrisia

Não entenddo essas pessoas que dizem ser correto agir com os outros de maneira benévola e idealizada e procuram nos seus representantes a força e o poder e a voracidade. Pedem para que seu país seja mais forte, mais influente, mais poderoso. Ao mesmo tempo, têm aversão a quem explicite que procura a fama, o poder e a influência.
A verdade é que todos procuram poder, mas não se deve mostrar-se assim. Moralmente, só se deve explanar a busca por poder quando há algo que os representa. Deixa-se, então, aflorar um lado negro, ou melhor, natural do homem, que ele tenta esconder: a busca por poder, por ter segurança, cada vez mais segurança, de que permanecerá, pelo máximo que puder, vivo. E só sabe se está permanecendo mais vivo se houver quem esteja menos, ou vivendo pior, morrendo mais cedo.
Na vida cotidiana, relacionando-se com os outros, mostra-se quem se é, quem se pode ser, e não quem se quer ser, que se mostra nas representações. Mostra-se quem é, formado pelos anseios e palos impecílios do mundo. Por isso, tentamos ser suaves e transparecemos compaixão, pois acompanhamos os outros, pois há contato e por isso coersão. Não havendo sentimento nas relações entre instituições, só interesse e ideologia, não há compaixão e nem coersão por sentimentos, pois não se relacionam humanos. Emerge, então, toda a necessidade de certeza de vida melhor inconseqüentemente, a busca pelo poder e o fazimento da piora da vida de outros, para sentir-se bem, pois bem, na verdade, só se sente quando está melhor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Gula:

Gabriela olhava todo aquele banquete, toda aquela variedade, toda aquela riqueza desgutável, engulível, saboreável, não conseguia parar de comer. Quando achava que estava satisfeita, olhava para o lado e via um lindo pernil. Ainda não tinha provado o pernil, tinha uma aparência tão maravilhosa, lustroso, quentinho, certamente delicioso. A rapariga - prostitua mesmo! - nunca tinha visto tanta comida em sua frente. Acostumada com refeições magras, pouco calóricas e, por conseqüência, pouco saborosas, Gabriela viu-se no mais maravilhoso cantinho do céu. Era o que seus hormônios lhe diziam. Como magra e necessitada que era, não era comum que acordasse e comesse algo, somente quando fazia algum programa de noite inteira, num hotel, mas nunca num hotel desses, com tanta comida: isso era mais raro ainda, coisa de uma vez na vida outra na morte! TINHA que aproveitar. Naquele momento, ao acordar e ver tal fartura, aquela pessoa magra liberava quantidades imensuráveis de Grelina no seu estômago. As únicas oscilações possíveis na sua linha de raciocínio era a respeito do que começaria comendo. Ou o que comeria depois, era tudo tão lindo... Cada mordida, cada movimento involuntário da língua, cada deglutição explorava os mares de sabores que toda aquela maravilha porpocionava. Sem saber, Gabriela explorava todos os poços de sabor com suas papilas gustativas. Ela com certeza nada sabia sobre a existência de papilas gustativas, onde elas estariam localizadas, o que elas captavam; a jovem era tão superficial que parecia somente sentir. Não entendia aqueles prazeres por enquanto, não pensava no amanha, numa possível indegestão, numa engorda que a faria perder clientes, quem sabe. Era mais forte do que ela. Aquele hormônio que estimulava ímpetos, ações, sobrepunha-se à razão pouco desenvolvida daquela prostitua novata.
Seu cliente, Senhor Amadeus, era assim que se apresentara a ela, tinha cara de mafioso, bicheiro, traficante, mas daqueles que nunca são presos. Ele tudo observava. Pouco comia, um ou outro pedaço de pão com queijo Bria, alguns goles na taça de champagne... Via tudo, via nela o prazer rústico, não analisado, percebia quase que sensivelmente os níveis hormonais altíssimos. Como racional que era - e exímio conhecedor das ciências -, o Senhor Amadeus esperava, com a paciência de um sábio, a euforia da gula cessar naquela menina. Essa parecia ter Grelina a sair pelo ouvido! Não parava de comer! Enquanto não acontecia o esperado, o senhor gostava de observar os semblantes do prazer puro. Aquela menina burra, devido a um longo e irreversível período de ignorância, já não tinha mais a capacidade de superar o mundo em que ficam restritos aqueles que somente sentem. Era isso o que pensava o camarada provedor. Esperava, ansiosamente, pelas baixas hormonais da moça; esperava ver na emergência da Leptina e na sucumbência da Grelina a mudança comportamental de Gabriela.
Gabriela começava a ter os primeiros sinais de saciedade. Dava um golinho no champagne, depois um golão no copo d'água, sentia-se levemente entalada, mas aqueles líquidos ingeridos abriam um espaço a mais no estômago, liberava o esôfago antes obstruído por pão e queijo e filé e pernil. Começava a sentir os bolos alimentares boiando naquele acúmulo de líquidos que diluíam o suco gástrico, forçando ainda mais a célula G a produzir mais e mais Gastrina, que por sua vez estimulava o estômago a produzir o ácido gástrico no estômago. Talvez a garota não soubesse, mas os fluxos de Leptina começavam a chegar ao estômago. Devido a grande ingestão em um período muito curto de tempo, as doses de Leptina enviadas ao estômago foram muito altas. A comida, para ela, já não representava mais tanto assim. A Leptina agora fazia Gabriela não desejar mais tanto aquele bando de comida que ainda jazia sobre a mesa de jantar da casa do Senhor Amadeus. Sentia seu estômago lotado, inclusive comentara com Amadeus "estou lotada!". Amadeus rira e perguntou se ela não queria recostar-se na cama. Aquela quantidade imensa de comida ingerida, de uma hora para outra, não parecia mais bela, parecia um chumbo, um diabo, um encosto na sua barriga. Respirava mal e, a cada respirada mais profunda, seu estômago anuncava um arroto que tinha que prender a respiração para soltá-lo antes. Depois soltava o ar respirado pelo nariz. Cada arroto era um alívio.
Gabriela começava a sentir-se mal. Queria ficar o quanto pudesse ali recostada em meio a tantas almofadas na cama do Senhor Amadeus, vendo televisão, com o buxo cheio. Foi quando teve que ir. O velhote tinha que receber um embaixador qualquer e não poderia ser visto com uma garota de programa. A menina levantou-se, deu dois passos e teve um teto. Viu tudo preto por fraçoes de segundos, mas logo sua visão recuperou-se. Sentiu o peso da sua barriga. Levantou a blusa e viu a protuberância que seu estômago fazia sobre seu corpo magro. Dava para ver que não era gorda, e sim que havia comido muito. E põe muito nisso! Gabriela não conseguia andar direito. Despediu-se do seu cliente, recebeu o pagamento, e foi andando pelo hotel, descendo o elevador, passando mal, mas não sabia se estava realmente passando mal. Poderia chegar em casa, ficar um tempo acordada e em seguida dormir e acordar bem. Mas, ao andar pela rua, seu destino foi se mostrando outro. Tudo ficou preto de novo, botou a mão na barriga e caiu deitada na Avenida Atlântica, às duas e quinze da tarde. Vomitou muito, ficou inconsciente, foi levada para o hospital. Morreu. De Dispepsia crônica, uma doença que tinha e não sabia, pois nunca tinha comido tanto. Para os mal entendidos, morreu mesmo foi de indigestão!




Dispepsia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dispepsia
Grelina: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grelina
Leptina: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leptina
Gastrina: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gastrina

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

um alô

Bom, hoje, mais uma vez, nao tenho nada a falar. Nao vivi nada muito serio no meu dia que me pudesse fazer refletir de maneira mais profunda sobre nada. Nao vi ninguém tao bizarro. Foi um dia comum, praia, televisao, computador, conversando sobre problemas de um e de outro, dando palpite, somente o corriqueiro. Comer, conversar, escrever, ficar inerte, rotina. A vida parece mesmo tranquila quando não se aprofunda nela nem quando se distancia.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Pensamentos Bem Matutinos

A madrugada, previsivelmente, tem gerado mais frutos que a luz do dia. Sob a luz, sinto-me no papel de pensar, influenciado por Apollo, e por todos aqueles iluministas, que prefeririam, certamente, apesar de que não assumiriam, ser chamados de iluminados. Metafísica é um sinônimo para dia. Sociologia também. À noite, a razão começa a dormir. Nem tudo é tão claro assim. A falta de luz parece nos tirar um sentido. Deixamos de ser humanos, pessamos a somente sentir e agir, não pensamos. Quando só executamos essas duas açoes, posso dizer que já é madrugada. Eu ajo. Não consigo dormir, porque não trabalhei a parte negra do meu ser, ela somente dormia, e agora quem dorme é a outra. E eu? Acho que nunca durmo, pelo menos hoje me parece que é assim mesmo. Estou mais para tubarão: nunca dorme por completo por ter funções cerebrais extremamente vitais, dorme primeiro metade do cérebro e depois a outra metade. Não sei se há o momento em que ambas as partes estão acordadas, mas creio que sim, caso contrário, o tubarão teria um potencial inteligível muito impressionante ao ter as duas metades trabalhando. Mas acho que fugi ao ponto, refleti demais! BINGO! Já é dia, devia ter percebido isso! Se tivese lembrado pouparia mais reflexões. É verdade, esqueço-me muito de muitas coisas durante o dia, pois lembro que esqueci. e reflito sobre o esquecimento. À noite não há do que se lembrar, é tempo livre pra viver. O fato é que o dia me faz lembrar e esquecer das coisas, acho que esse é o mecanismo das reflexões, fazer lembrar e fazer esquecer, encaminhando o sujeito para longe do ponto a ser atingido pelo início das reflexões. É esse maldito dia, odeio esquecer-me daquilo que faço, e como pensar já é fazer algo, esquecer-me do que penso já consta como algo odiado e hostilizado pela consciência das minhas sensações, mais conhecido como Eu. Ah sim! O dia e a noite, a luz e a escuridão, a pecado e a virtude, a razão e o sentimento. É, o dia é mesmo um desgraçado. Não é que esqueci!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Calculística

A realidade toda funciona, para cada um individualmente, como um painel dela. Entendemos o que se passa, as situações e sempre as colocamos como um painel, em que causas geramram conseqüências, analisa-se a conjuntura de ideologias que regem as mentes vizinhas, suas atitudes, as conseqüências das atitudes desses outros sobre você e sobre suas atitudes, a influência de suas atitudes sobre os outros e sobre a titudes deles. Faz-se um apanhado geral das riquezas que cada um possui, de seus instrumentos de controles, ou a falta deles. Como agir, como não agir, o que falar, o que perguntar. Tudo friamente calculado...

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Censuras e aptidões!

Meus pensamentos: ja acreditei que poderiam transfigurar-se, sem nenhum tipo de filtragem, em palavras. Não é bem assim que a banda toca, argumentei-me, ao ver o que escrevia e analisando o que pensava. O pensamento é bem mais vasto que essas simples combinações de letras.
Muitas coisas podem filtrar os pensamentos. A censura é uma. E uma muito corriqueira. Mesmo que saiba que ninguém vá ler o que escrevo, me recuso a escrever. Poderia sair uma coisa incensurada com um teor de genialidade extremo, e que, por isso, seria obrigado a mostrá-la, publicá-la de alguma forma. Tudo o que escrevo deve, no meu entendimento, ser bom de se ler. E se não me censurar mais, terei mais coisas potencialmente geniais, até porque seriam bem mais sinceras! Todavia, fariam parte do leque de atos e desejos muito embaraçosos. Posso dizer que zelo por minha reputação!
Outro mecanismo, este de impossível controle ou reversão, é a minha incapacidade de tornar legível e inteligível minhas idéias mais metafísicas. Sinto que não tenho o traquejo necessário, a técnica de metáforas perfeitas, não consigo tornar palpável o que cogito mais filosoficamente. E sei, ou pelo menos assim as enxergo, que são idéias realmente novas, revolucionárias, diferentes das de grandes filósofos já consagrados. Contudo, o que me pega mesmo é a minha preguiça. Tenho essa vontade irritante de ficar sem fazer nada reclamando do nada que tenho para fazer, sabendo que poderia estar lendo mais, escrevendo mais, treinando mais a minha maneira de filosofar literariamente. Eu sou mesmo é um descansado, folgado, preguiçoso. E o pior disso é eu saber que poderia, se me dedicasse a fundo, esquecesse tudo o que há na terra, escrever textos maravilhosos, teorias nunca antes pensadas.
Mas a realidade não é essa! Não estou apto, pelo menos por enquanto, a escrever filosofia, nem muito menos a me dedicar à prática da escrita filosófica. Nem também irei, por enquanto, conseguir falar tudo o que penso. E é nisso aqui que vou ficar, até eu tomar jeito e estudar mais, trabalhar com a meta de me desinibir por completo - por completo, impossível -, ou até eu aprender com o tempo, assim brincando de palavras, a escrever tudo o que quero que (muito mais provavelmente, é o que será feito).

sábado, 24 de novembro de 2007

Sente a vibe

Penso que talvez fosse bom se eu nada tivesse para dar certo, se, com certeza, tudo fosse acabar na merda mesmo, se não houvesse possibilidade de ficar bem em nenhum aspecto. Poderia, como diz a comunidade do Orkut (Se nada der certo viro Hippie), virar hippie, sair dessa babilônia, que é muito mais do que estar situado numa cidade cheia de prédios. Sairia da babilônia que há em mim, sairia de todas as maravilhas e possibilidades que a babilônia oferece. Mas o problema não está mais na babilônia oferecer, está em que eu aceito todas as propagandas como verdadeiras. O pobrema é meu, a vida é minha! E essa é a grande merda.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

ética pessoal

Passado um fato ruim, ele não passa de mais uma lembrança, não tem ares de realidade, tem ares de um sonho pesado, de um pensamento desagradável, cuja insurreição na mente não pode ser impedida. Fica só na memória, pois o mundo continua e só você se lembra, o mundo não. Aliás, ele nem chegou a saber, que olhos ele tem sobre nós?

taaaan tan

A dúvida contamina,
sem ter perspectiva.
Nem melhor,
nem pior.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

say cheese

Fotos: a eterna nostalgia em forma de imagem. Nostalgia experimentada e nostalgia a experimentar, a nostalgia já está lá, cravada. Somente depois que ja estamos ha bastante tempo com elas em mãos que vemos, que percebemos, a nostalgia que se reteve por lá. Bastou conhecer melhor a imagem e seus contextos para que a nostalgia se fizesse perceber.

assoviando por aí

Larari, larará

Quanto maior o silêncio
mais se há o que falar.

Percebo: é intenso
e por isso desvio o olhar.

Estou bem mais propenso
a calar-me, pra variar.

Cansei!

Hoje, pela primeira vez, apesar de ja ter pensado ter entendido, entendi perfeitamente o que se passa na mente de um suicida. Não que eu vá me matar, cortar meus pulsos ou me atirar da janela: compreendo toda a insatisfação, toda a impaciência, todo o cansaço, todo o não-agüento-mais-viver que quem está prestes a por fim na própria vida sente. É algo como já saber, quase que materialmente, tudo o que irá se suceder em sua vida e concluir que essas coisas não são lá as melhores do mundo, na verdade se parecem muito exaustivas, que já me sinto morto só de imaginar todas as estapas a percorrer.

Consigo ver o meu ingresso na faculdade, meus relacionamentos, minhas brigas familiares, minhas reconciliações progressivas com os familiares que antes briguei, a minha batalha no mercado de trabalho, o meu provável alto nível de stress por não conseguir fazer tudo o que quis conciliando com o que mais queria, que era ter dinheiro. Imagino minhas crises de personalidade ao longo da vida, minhas idas à analista para dizê-la que estou passando pelo processa massacrante e finito que se chama vida.

Vejo minhas invejas, meus amores, minhas admirações, frustrações, solidões, não-solidões, desafios, perseguições, possíveis transtornos psíquicos, viagens, carros, rotinas, apartamento, mae morreu, pai morreu, fiquei sozinho de vez, e ainda ter, como uma imposição ética e moral, por consguinte, que aproveitar ao máximo, pois a vida é única.

Estou realmente cansado de todas essas obrigações, obrigação de ser feliz, de mostrar-se feliz, obrigação de estar dentro de um dos padrões de normalidades existentes. Não agüento mais ser obrigado a compreender, a ponderar, a mudar de opinião, a ter que pensar, no próximo, em mim, em tudo, qualquer coisinha mínima que seja., porque tudo parece se influenciar reciprocamente.

Tudo isso passa pela minha mente. Mas também não tenho coragem de me matar, justamente por pensar em mim, nos outros, na única possibilidade de existência. E ela acaba... Queria, ao menos, cansar-me menos dela.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O de sempre

De lá pra cá,
letra vai, letra vem.
Ímpeto e força não há;
rimo com leve desdém.
Sobre o que, não deves te interessar,
pois não diz respeito a ninguém.
Só diz respeito, quiçá,
ao meu tédio que mando pro além!

sábado, 17 de novembro de 2007

Álcool

Dois pra lá, mais dois pra cá
anda o bêbado sinuoso,
que, apesar de se sentir glorioso,
de manhã certamente nao levantará.

Bebe, bebe, vagabundo
já que só vagas por este mundo.
Passa, passa, tempo imundo,
me leve para o Eu mais profundo.

Te procuras mesmo na bebida?
Vejo que não sabes o que faz.
Se queres ter a vida aprendida
sobriedade terá de ser o que te apraz.

Mas quem disse que quero a mim mesmo?
Quero é não estar reagindo.
Por isso vou comendo um torresmo
e minha cachaça engolindo!

Sobrevivência:

2008 macaquinho quer maconha

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Seja

De tanto que me sufocaram gritando desesperados "SEJA, FDP!!!", acabei desejando desesperadamente ser, para sair do sufoco.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Cagando prá vida

Cá estou, pela segunda vez no dia, num momento de exposição, refletindo. Me situo desta vez sentado ao vaso, pensando – olha a maluquice – que talvez tenha passado a precisar tomar banho e cagar por essas ações me proporcionarem momentos da mais fina e absoluta reflexão metafísica. E não por uma simples necessidade metabólica.

“Foi todo um processo até o que era uma simples cagada tornar-se conseqüência de uma necessidade maior de refletir, quando antes era exatamente o contrário.” assim eu me disse. “Primeiro, quando era criança, apenas ia cagar. Era natural. Era fisiológico. Era... (hormonal?). Enfim, o fato é que não me lembro de devanear sentado ao vaso sanitário quando criança, aliás, pouco me lembro de ter devaneado sobre qualquer coisa quando criança. O tempo passou devagarzinho... Sem questionar-se, a vida não parece tão efêmera. Mas, mesmo assim, o tempo passou. E então, passei a ter que escolher por mim algumas coisas que ainda não julgava tão sérias, ou melhor, nem sabia o significado real de seriedade, não podia perceber situações dignas de se tomar por sérias. Agia como criança ainda, sem pensar. E bati com a cara no poste – estou olhando, nesse instante, para uma propaganda de alerta às escolhas da adolescência, atrás da Megazine, e tem um super-herói, que na verdade se fode, não é tão super assim, a imagem mostra ele batendo a cara no poste e ele é o Capitão Caranoposte. E a frase sobre a imagem: ‘se liga! Você é jovem mas não é indestrutível! MEGAZINE!’ E, opa, mais uma advertência, senhores adolescentes, ali também está escrito: ‘se beber, não dirija!’. A propaganda e a sua arte de ridicularizar! É quase poético, eu admito.

Então, de tanto bater a cara no poste, ou melhor, de tantos informativos e informantes de todas as espécies, pai, mãe, irmão, professor, amigo, outdoor, vinheta, MTV, Palestra Sobre Qualquer Merda, me dizendo para pensar sobre escolhas, passei a ver muitas escolhas! Inclusive onde ela não jaziam. Até bati já cara no poste algumas vezes, mas nunca nada foi tão violento a ponto de me fazer pesar as escolhas. A massificação desses malditos informantes e informativos, por suas vezes, me fizeram pesar. Tudo passou a ser pensado. Pensava sempre sobre as escolhas e não queria mais nelas pensar. Passava todo o meu tempo decidindo: MTV ou MultiShow, CNN ou BBC, Pepsi ou Coca-cola, Cesar Maia ou Garotinho, PT ou PSDB, ou PDT, ou PSTU? Lula ou Serra, ou Heloísa Helena, O Globo ou Jornal do Brasil, Ipanema ou Copacabana, China ou EUA, ou Chávez, Getúlio ou Figueiredo ou Prestes ou Lacerda ou Collor ou Dom PedroII, carne ou frango, azul ou vermelho, exatas ou humanas, direito ou comunicação, praia ou serra, Volkswagen ou Fiat, Brastemp ou Consul... E o tempo pasou a passar bem mais rápido, quase não podia percebê-lo, não me parecia mais que vivia o que tinha que viver, vivia pensando em decisões futuras, de futuro próximo ou distante. Decidia se ia escolher ficar escolhendo tudo para sempre, ou se parava de escolher nessa última escolha. Cogitava: os prós e os contras... que indecisão! Enquanto isso, escolhia, visto que ainda não tinha decidido por parar de escolher, todas as outras escolhas que já estavam-me embutidas e que tomavam meu tempo do dia, junto com a questão principal: continuar ou não escolhendo.

Dessa forma, comecei a perceber as minhas cagadas, assim como os meus banhos. Neles eu não via o mundo, não me permitia censurar, estava nu nas duas ocasiões, me sentia à vontade para estar nu, não percebia a moral nem a ética com o mundo (não via o mundo mesmo), logo não era preciso mais escolher: usava as habilidades racionais desenvolvidas pela/para a neurose das escolhas – o que já me era embutido e não podia controlar – para pensar nos meus momentos amorais. Sem a moral reinando, pensava como se não fosse um indivíduo, já que este é o ser que tem liberdade de escolha – pfffffff... – e ali eu nem sequer pensava em escolher. Pensava fora dos medos e das nóias, fora das sensações, não as tinha por não haver o que me controlasse; pensava fora de mim. E me via, como numa perspectiva de 3a pessoa, pensando com cérebro de quem cogitava.

E assim, quando não estava mais no banheiro, sentia incômodos de tanto pensar, que refletiam na minha fisiologia! Todos sabem que o psicológico influencia! Quando cansava inconscientemente de escolher, sentia vontade de cagar. Sendo inconsciente, a consciência ficava livre deste pensamento, ir ou não ir cagar para pensar? Apenas ia cagar!

E, de tanto exercitar a 3a pessoa – todos devem achar que eu cago o dia todo, depois dessa ‘de tanto exercitar’ –, analisei em 3a pessoa a 3a pessoa através da qual eu me observava, e vi que cagava para ter essa 3a pessoa presente.
Era a minha cagada, coloquialmente falando, para a vida. E era sempre uma das melhores cagadas!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

"Imaginamos a história verdadeira por dentro das palavras e, para fazê-lo, tomamos o lugar do personagem da história, fingindo que podemos compreendê-lo porque compreendemos a nós mesmos. Isso é um embuste. Existimos para nós mesmos, talvez, e às vezes chegamos até a ter um vislumbre de quem somos realmente, mas no final nunca conseguimos ter certeza e, à medida que nossas vidas se desenrolam, tornamo-nos cada vez mais opacos para nós mesmos, cada vez mais conscientes de nossa própria incoerência. Ninguém pode cruzar a fronteira que separa uma pessoa da outra - pela simples razão de que ninguém pode ter acesso a si mesmo."

Paul Auster - "A Trilogia de Nova York", "O Quarto fechado"

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ridícula Nobre Causa

Vim aqui hoje por uma causa muito nobre. Trar-lhes-ei uma elucidação das tão preciosas, calamitosas e ridicularizantes “reflexões do banho”. Fica-se parado, no banho – imagina a cena! – com xampu na cabeça, recostado sobre o Box, acariciando o couro cabeludo, pensando sobre os pensamentos de sua mãe sobre as coisas que faz, sobre o quanto você terá que fazer para alcançar determinados “X”, o quão qualquer coisa que qualquer coisa pode ser. Fica-se pensando, pelado, com uma agüinha caindo sobre si, num momento em que deveríamos apenas nos limpar. É muito mais do que isso, é um momento de reflexão, assim como o momento de evacuação. Também como uma viagem de ônibus do trabalho, ou da escola, ou da faculdade ao lar. Mas a do banho tem o seu chic-chic-bum. Tem o seu quê de ridículo. Pois é um momento em que se poderia estar muito exposto, mas não está, pois se está sozinho. Mas, como não é de todo incomum, pelo contrário, é mais comum do que a maioria dos pensamentos do mundo, começa-se a se observar por 3a pessoa, como se se pudesse ver. É aí que está todo o ridículo. Você pensa: “que coisa de louco, ficar aqui parado, com xampu na cabeça, com uma aguinha corrente caindo sobre meu corpo, pensando sobre várias coisas que muitos não devem pensar, e ainda mais, estou pelado, numa caixinha de concreto, fazendo algo que muitos devem estar fazendo, me sentindo único numa condição demasiadamente comum a muita gente.” É, tudo na vida tem o seu quê ridículo hoje em dia, é só você querer!

domingo, 11 de novembro de 2007

Back to God-save-us

Volta a menina carioca do seu intercâmbio nos Estado Unidos. Lá, tudo tão clean, tudo tão bright, tudo tão awesome, tudo tão sintonizado, globalizado, organizado, comercializável, comprável, creditável, debitável, manipulável, manipulado, arquitetado, planejado, tudo tão americanizado!
Ela volta, ainda no aeroporto, tudo ainda parece bom, mas ela logo para na alfandega. Tinha comprado perfumes e calcinhas e cremes e eletronicos-em-geral e soluções-de-problemas-cotidianos demais. Ela, que se sentia tão americana, achou um absurdo um brasileiro, mesmo que em nome da lei brasileira, país de sua nacionalidade, quer queira quer não, tentar retirar dela o que havia comprado, argumentou, fechou a cara, mas não teve jeito, "era Brasil", pensou. Ficou tudo para a mulher e as filhas do policial mesmo. Seguiu em frente, né, já que não havia outro modo a não ser ver como estava o tão indomável Rio de Janeiro. Via a favela, empinava o nariz, via a sujeira da rua, empinava o nariz, via a rua mal asfaltada em frente a sua casa, empinava o nariz, via seus vizinhos, todos eles uns latinos, mal vestidos, oleosos, morrendo de calor nessa cidade quente, cumprimentando o porteiro, mais feio ainda, mais suado ainda.
Era Rio de Janeiro, e por mais que morasse na Zona Sul, era Rio de Janeiro. As ruas nao cheiravam, fediam, a favela destacava-se na paisagem, a pobreza parecia brotar dos boeiros, quando não era esgoto que brotava. Mas encontrou logo seus amigos, quem não via fazia tempo. Reclamou de tudo mas dormiu. E no dia seguinte acordou, sentia-se bem, levemente bem. Confortada, à vontade, não mais empinava tanto o nariz, só para o digno de se empinar. Já pensava novamente, por agum motivo qualquer, que era brasileira. O Rio era sujo, subdesenvolvido, feio, pobre, desorganizado, quente, suado, oleoso, menosprezável, mas até que ela gostava dele. Afinal, era o único país que podia ter passaporte, era o unico lugar em que se encaixava tal como era, apesar de não querer. Essa é a alma do brasileiro!

Só Merda

Falar merda, graças a Deus, é um dom restrito a poucos. É um dom pois permite a quem fala - a merda - discursar ininterruptamente sobre qualquer assunto e ele, por mais que importantissimo, passara a ser uma merda qualquer que se esteja falando. Você, que fala merda, pode tratar qualquer seriedade, qualquer preocupação ou ocupação como a-mais-digna-de-gargalhadas-compulsivas merda.

Mas aquele que traz a merda para o assunto se diferencia daquele que torna merda o assunto, embora muitas vezes seja a mesma pessoa que o faz. É tudo uma questão de know-how. Basta esperar o momento propício, aquele em que o assunto está se tornando sério, que apenas alguns conseguem acompanhar. É aí que entra o Senhor da Merda. Ridiculariza o assunto, dando a entonação necessaria, avacalhando qualquer vestigio de chatice. Falar merda é tirar do sério. Tirar o assunto do sério, daquele peso de avaliar importâncias. Tirar do sério aquele que falava, que ficará extremamente irritado, proporcionando, assim, mais observações merdáceas sobre a falta de fair-play do indivíduo metido a sério.

Se o assunto não há, a merda vem de fora. Em geral. Vem a merda sobre o garçom, sobre a velha do lado, sobre os hábitos alimentares do gordo da frente, sobre o jeito inaceitavelmente engraçado da bicha-louca sentada naquela mesa, sobre a dança exótica que as quarentonas cismam em continuar fazendo, mesmo sabendo que são quarentonas.

Enfim, minha gente, a merda está no meio de nós. E se me dizem: "Pare de tocar na merda: quanto mais o faz, mais ela fede". Acho que esse que me fala uma barbaridade dessas não sabe o que diz, senão uma grande seriedade chata. Mexamos, e cada vez mais, nas merdas que jazem neste mundo. Se elas fedem, lembramos do fedor que elas exalam. E fedores, assim como qualquer coisa inusitada, nos prende a atenção, e reparamos nas excentricidades do fedor. E tudo o que é excêntrico, é fora do padrão: torna-se ridículo. E assim rimos de alguma coisa. É genial quem consegue jogar a merda de tudo no ventilador.

Mas pera lá! Se todos mexerem nas merdas do mundo, ou seja, se todos forem capazes de trazer à tona a merda que existe infiltrada na essência de tudo, a merda tornar-se-á o padrão. A merda não será mais o excêntrico, logo não mais o ridículo!
A natureza, entretanto, é sábia: são poucos os que sabem tornar merda, para, assim, ela continua propícia.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Persuating

I don't want to be here to prove anything to anybody, but it's more than I can take, it's just like something I was born with. I feel forced to speak out my point of view, even if I don't have a concrete point of view about the subject. It's just about making myself there. It's just about yelling for attention, but not any kind of attention, I talk about the attention I want people to have on me. I want them to listen pretty much interested in the things I like contemplate. I want to talk about my things, no matter what, you can be talking about football and, if I am one of the participants of the conversation, you can be sure, I'll try to put my ideas in the situation, talk about what I talk, transvesting it with the language of the talking. I love to have persuasion skills.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Estratégia

Não quis,
fiz.

Se tentei,
não pretendia,
dormia,
não me envolvia,
apenas tinha sido,
tão somente tentado,
e não importava
se tinha conseguido.

Nunca pensei em me envolver.
Nunca tentei me envolver.
Sempre preferi nao me envolver.
Mas não pude mais não me envolver.

Achei melhor não pagar pra ver,
achei melhor seguir o mesmo rumo,
conseguir finalmente prumo
pra articular comigo mesmo
capacidades futuras,
por enquanto obscuras
que precisam de tempo,
sim, tempo
para sentirem-se seguras
e virem para cá,
pro lado de fora,
pro lado do povo,
pro lado da vida
e não o da não-ela.

Aí, sim!
Direi que fiz
aquilo que sempre quis!

Pode escrever!

(Devo admitir:
Sou demasiado cauteloso
e de perdas temeroso)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Auto-conclusão

Foi só Henrique bater o olho que logo viu: "Ih, uma seda de celulose! Ainda bem que achei antes que alguém pudesse achar, só o fato de imaginar a sensação de repreensão de minha mãe ou meu pai pegando essa seda...". Em seguida, lembrou como possivelmente teria esquecido aquela seda lá - tirando, é claro, o fato de ela ser uma mini folha transparente. Surgiram em sua mente imagens dele mesmo tentando separar duas celuloses grudadas, desesperadamente. Lembrou-se que havia pensado que não tinha comprado a seda pra ficar separando uma da outra, e sim para usá-la. E se perdia tempo separando sedas perderia tempo de fumar, o que acabaria fazendo em bem menos quantidade ao longo de um dia. Também pensara que - óbvio que muito improvavelmente - o fato das sedas não desgrudarem era uma manobra de alguma conspiração para diminuir o consumo, logo diminuiria o rendimento do tráfico e, consecutivamente, o número de armas de fogo e assim ficariam todos - habitantes da zona sul - muito mais seguros.

Ainda pensando sobre a seda que acabara de achar, e como - ainda não tinha descoberto - ela havia parado ali, lembrou-se minuciosamente de tudo o que foi feito no mesmo ambiente onde a seda foi encontrada uns quatro dias depois. Lembrou-se dos dias que não dormiu, que ficou na presença de muita gente, das pessoas que dividiram aquele ambiente, de todas as drogas que rolaram ali, de tudo o que havia sido apertado numa daquelas sedas transparentes grudadas, quantos mais poderiam ter sido apertados se não fosse o fato daquele pacote conter sedas grudadas, quanta coisa repreensível havia feito naquele ínterim. Era incrível como a simples não-presença de alguém que repreenderia nos deia livres para agir sem repreensão.

"Mas não era nisso que deveria estar pensando. Pelo menos inicialmente eu queria descobrir como deixei a porra da seda aqui explanando durante quatro dias!". Esforçou-se mais. Lembrou das possíveis reflexões que teve nos momentos de embriaguez. Possíveis pois estava muito doido para lembrar se era exatamente aquilo. "Acho que pensei sobre escolhas, sobre riscos que impugnamos a nossas ações. Expectativas... Era por aí...". Mas queria porque queria descobrir como aquela merda foi parar lá.

"Foi isso!" na sua mente, estabeleceu a possível lógica do acontecimento: estava lá separando sedas e, por ela ser transparente, ao catar todo o lixo que havia sido gerado no ambiente naqueles momentos de comportamentos irrepreendidos, nao a viu. "Deve ter sido isso" e assumira para si aquela verdade. Aquela provável verdade. E possível mentira. E aquilo já não mais o perturbava, havia respondido à pergunta, argumentara plausivelmente consigo mesmo e aquilo era o que mais se encaixava com uma verdade. Talvez fosse a resposta mais abrangente também.
-

Moral da história: com memória falha, vive-se de mentiras, tal qual o ausente. Mas a irrelevância que julga-se terem alguns fatos permite construir mentiras que interpreta-se como verdades. Abram os olhos para tudo. Ou então nem sequer comece a questionar, pois se começar, apresentará para si prórpio uma versão que irá acolher, além de refletir sobre outras coisas que não eram o foco. Mas se o que queres é refletir...

sábado, 3 de novembro de 2007

rindo à toa

É incrível como tudo o que é feito com o intuito de ser o melhor tem a sua verdadeira essência ridícula, e como verdadeiras ridicularidades são incondicionalmente o melhor a se fazer.

Deve ser o velho cansaço, a saturação, que tornam o melhor no ridículo, e, em conseqüência, como em momentos de renascentismos ideológicos, o que era ridículo pode ser reinterpretado como o melhor. Só não se pode esconder a nota de roda-pé: RIDÍCULO - pelo menos já tido como.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Marcelo

Marcelo sempre estudou, sempre pegou todas, sempre surfou, sempre buscou, sempre conseguiu, sempre encantou, a conta, sempre pagou, nunca trabalhou, sempre viajou, nunca se preocupou, muito escolheu e de pouco se arrependeu. Marcelo nunca existiu. Até poderia, como tudo já pôde algum dia passar a ser. Mas não, nunca existiu. "NUNCA SERÃO!" - já dizia Capitão Nascimento.

Individualmente juntos

Maria estava andando pela cidade, toda atarefada. “Tenho que levar a mamãe no médico às cinco hoje, mas que droga, por que sempre eu tenho que fazer as coisas sozinha? A mamãe também... ainda tenho que pagar essa merda dessa cirurgia que ela já fez, por que ela não foi responsável o suficiente para perceber que necessitaria de dinheiro para ela? É, na verdade acho que ela pensou mesmo, por isso teve três filhos, algum deles se responsabilizaria moralmente por ela, e essa pessoa sou eu. Será mesmo que a mamãe só quis ter filhos para poder viver tranqüilamente, sem que pudesse ficar sozinha, sem que tivesse que se preocupar sozinha com seus problemas? Será essa a verdadeira face da minha mãe? Como posso estar pensando uma coisa dessas, ela está muito próxima da morte e eu a culpando por tudo. Mas, sei lá, pode até ter sido essa a intenção primordial dela, mas até que desenvolvemos, por todos esses anos, um amor profundo entre nós duas, melhor, entre a família toda. Com o papai morto agora ela ficou só com a gente. Ainda bem que ela tem a gente. Imagina se não tivesse? Mas às vezes essa não foi a intenção dela, ela apenas viu, com o passar dos anos, que seria para isso que nós serviríamos, porque com os Gugu e a Lilinha eu não penso assim, tive eles porque quis, porque queria passar o que eu poso passar para alguém. Mas a mamãe tem estado diferente demais nesses últimos dias, acho que ela está arrependida de alguma coisa, algo me diz que é isso, mas o que poderia ser? Não sei, às vezes agora ela está se tocando de que nós somos a única coisa que ela tem, e que antes éramos apenas a coisa que ela teria como base. Mas a base ficou mais importante que os topos, ela não tem mais o papai, os amigos que sobraram ela não tem tempo para encontrar, fica indo de médico em médico, coitada. Deve ser duro saber que se pode morrer, a todo momento. Talvez seja isso que a leve a pensar nas coisas da vida dela. E ela pensar nas coisas da vida dela está me fazendo pensar na vida dela, que coisa mais doida! Será que há mais gente pensando nela agora, será que aquelas velhas chatas amigas dela estão pensando nela, os fatos vividos? Será que os meus irmãos estão pensando nela também? Devem estar. Devem estar pensando que ela agora morre e eles não têm como ajudá-la. E como que envergonhados não têm coragem de aparecer, mesmo que não possam ajudar. E acabam cada vez mais fugindo. Fogem porque ficam com vergonha de ter se omitido por vergonha de não poder ajudar. Então eles não vão por vergonha da vergonha. Mas que bobo isso! Até parece que eles não sabem que a mamãe queria vê-los. Mas a mamãe, do jeito que é, com certeza soltaria uma indireta diretíssima para eles a respeito da grana que eles não podem dar para ela. Que merda! Será que a mamãe pensa que se ela tivesse nos criado melhor talvez todos estivessem hoje cheios da grana, podendo ajudá-la muito mais, prolongando sua vida? É capaz, d jeito que ela só pensa nela!”

De súbito, o pensamento teve que dar uma desacelerada, Maria chegara ao hospital e acabara de encontrar com o Doutor Joaquim. Via todas aquelas enfermeiras andando de um lado para outro, levando comida para os enfermos nos quartos – era hora do almoço –, outras filhas e outros filhos indo encontrar seus pais, ou parentes enfermos, com tantas preocupações quanto as de Maria. Pegavam, da mesma forma que ela, o Doutor Joaquim de cada um no contrapé, os médicos estavam indo almoçar, sair daquela inhãnha de trabalho e ainda vinha uma filha de paciente, ou parente de paciente, perturbar seu momento de refresco da mente, podia ter chegado um pouco mais cedo, enquanto eu ainda estava no meu expediente, mas teria que atendê-la e ainda transparecer segurança, esperança, pois é isso que querem, e ao mesmo tempo apreço pelo paciente, mostrar-se preocupado com a situação, não deveria parecer indiferente. Cada paciente, apesar de pacientes todos eles, deveriam parecer não-mais-um. Deveriam parecer o paciente João, a paciente Márcia, particularmente determinados. Além de tudo, tinha que entender que os acompanhantes que chegavam nessa hora muitas vezes estavam trabalhando e preocupando-se com seus entes queridos.

Mas que diferença fazia no que ele sentia agora? Doutor Joaquim continuava insatisfeito em ter que permanecer mesmo que só mais dez minutos ali dando esclarecimentos indiferentes a alguém que tinha preocupações, como todos os outros acompanhantes de pacientes que já haviam o pegado de contrapé ao longo desses anos todos de profissão que detinha Doutro Joaquim. A impaciência turva, diluída em compreensão e ética profissional, continuava ali, mesmo que racionalmente soubesse que aquilo “não era legal”.

– O quadro de sua mãe está estável, ela deve permanecer na Unidade Intensiva durante mais uns quatro dias, pois ela chegou ontem, então tem que passar a realizar suas funções básicas sem os aparelhos. Então, somente então, ela irá para a Semi-Intensiva. Somente depois ela irá para o quarto. Ela está lúcida, bastante lúcida diria, ficou reclamando do hospital comigo hoje quando fui examiná-la de manhã. Temos que esperar mais um pouco para que possamos avaliar o sucesso da cirurgia, amanhã faremos alguns exames. Agora, me desculpe, mas é minha hora de almoço! A senhora vai ficar aí até mais tarde?

– Sim, vou ficar, mais tarde nos falamos!

– Então tá certo! E fique calma, ao que tudo indica, ela está reagindo bem!

“Por que essa necessidade extrema de ficar tantos dias em cada setor do hospital? Han, não devia nem ter me perguntado, o hospital deve sugar o quanto pode do plano de saúde. E minha mãe no meio disso tudo. E esse médico, pareceu-me confiante, acho que vai dar tudo bem. Mas câncer é complicado. Ela pode desenvolver metástase muito rapidamente. Foi o que a Mariana me disse uma vez. Ai, tenho que ver a mamãe!” pensava Maria, depois de despedir-se do Doutor.

Ao cruzar o corredor para chegar ao quarto de sua mãe, Maria viu um filho conversando com um médico, que parecia empanzinado de alguma coisa, mas não tirava o sorriso de conforto e compreensão da cara. Maria pensou se esse era o semblante do Doutor Joaquim ao conversar com ela, pois não percebeu se foi, estava pensando demais sobre outras questões mais importantes como a vida de sua mãe para perceber, mas com certeza era esse mesmo. Viu o senhor despedir-se do médico, que também ia almoçar, e encaminhar-se para o quarto de seu ente querido, ou não tanto, apenas um ente. O homem estava com uma pasta na mão, devia estar no trabalho antes, assim como Maria. Vai ver pensava em aflições tanto quanto Maria. Ela olhou e, por algum motivo, sentiu compaixão. Sentiu-se depois indiferenciada. Era tão contribuinte para o plano quanto ele, era tão chata quanto ele para um médico, era tão filha de alguém doente quanto ele, trabalhava e ia visitar seu ente no horário de almoço tanto quanto ele, preocupava-se tanto quanto ele, sentia-se como ele. E no mundo em que só pensamos em nós mesmos, como Maria que não percebera de cara o semblante enauseado do Doutor Joaquim, como não percebera que tantas pessoas passavam por problemas em virtude da saúde de alguém, e eram todos jogados no mesmo saco, talvez tivesse conta no mesmo banco que ele, seu carro poderia ser da mesma marca que o dele. Poderia ser que morasse num prédio tanto quanto ela e que tivesse que resolver, além de tudo isso, questões com os condôminos na reunião de condomínio sobre algum jovem fumando maconha no prédio. Estavam juntos numa cidade de seis milhões de habitantes, onde tudo o que se faz é em bloco, mas calma, segundo o que dizem, é a era do indivíduo! E se todos dizem, deve realmente ser!

(suspiro assentimental)

Antes de escrever qualquer ficção factual, ou qualquer texto criativo e pouco reflexivo (minha meta por enquanto), queria deixar claro para quem quer que leia isso, que simplesmente escrever, deixar o dedo soltar, descontroladamente, indepedentemente, seus próprios sentidos, me é muito, MUITO mais agradável, parazeroso, fluído e natural. Escrever algo elaborado, pensado profundamente, que não passa de uma ficção de realidade é muito mais trabalhoso. Criar é, para mim, extremamente apolíneo, enquanto transcrever sentimentos é muito mais dionisíaco, para mim também, quero deixar claro. Mas o mais chato é que eu acho transcrições sensíveis pouco realizadoras, me sinto faendo aquilo que todo mundo faz, me exclui da minha concepção de individualidade, me torna o todo, logo o nada, e não realmente alguma coisa. Contudo, enfim, é isso aí minha gente, escrevo muito melhor o que sinto, porque o gosto!

domingo, 28 de outubro de 2007

Escrever, véi

Acho que estou pegando raiva de escrever, como se pega, muitas vezes, raiva de algum vício incontrolável realmente. escrever agora se tornou algo que faço nos mesmos momentos em que faria qualquer outra coisa que me viciasse; ficou tão corriqueiro como assistir à TV, fumar um cigarro, abrir a porta da geladeira, beber, reflexivamente, um copo d'água, ou até mesmo acompanhando uma cervejinha, ou até mesmo um uisquinho - por que não? -, ou um baseadinho - naqueles dias cansativos, que so se pensa em relaxar - podendo, muitas vezes, substituir os que só citei escrever como acompanhamento. Escrever, acho que posso assim dizer, acabou por ser minha alienação. A maior delas! Escrevo mais do que vejo TV, mais do que leio, mais do que estudo, mais do que fodo; Estou trocando um cinema por ficar em casa escreverndo! - e fumando. A escrita está acabando com a minha vida, tem me tirado o sono: fico pensando nas frases iniciais dos textos, que ficam latejando na minha cabeça, compulsivamente, até que eu escreva. Antes eu conseguia dormir, não pensava a todo momento em coisas escrevíveis, não tinha tópicos frasais latejando em minha mente a todo momento, inclusive antes de cair no sono. Agora? Ih, agora tudo tem seu lado "na ponta do lápis". Antes eu era feliz, não sentia vontade de escrever que sinto: conseguia ficar sem nada para fazer fazendo alguma coisa qualquer, ou não. Agora só escrevo. Nada para se fazer? Nunca, escrever. Mas o que faria eu nessas horas em que não se faz nada? Pelo menos eu faço alguma coisa. E pelo menos é escrever, registro coisas para outras gerações! É inclusive muito valorizado no mercado de trabalho! - típica linha de raciocínio de quem descobre o vício e racionaliza meios para mantê-lo, no meu caso, é minha racionalização da resposta química à minha vontade de parar de escrever.

Passado/Presente

É incrível como o passado evoca e traduz sentimentos que, da brasa, com um simples reavivar da memória, transformam-se em fogo, capaz de destruir muitas conexões e deixar muitas tristezas presentes.

sábado, 27 de outubro de 2007

O Outro Lado

Deixava, sempre que podia, o tempo passar, sozinho, sem que fizesse nada, só observasse, como se aquilo fosse tudo o que podia fazer e fazendo aquilo como se fosse o melhor de todos os apenas observadores que existiam na terra dos observadores. E via detalhes, profundezas, tomava parte de mais coisas do que aqueles que agiam dentro da realidade. Aqueles que agem só agem, só vivem, só sentem, nao compreendem, nao entendem, nao sabem de nada, sao apenas sensíveis. Coitados, pensava, nao queria ser de jeito nenhum como um daqueles, apreciava muito o fato de ser um ser imparcial, e nao entendia como que pudesse haver humanos que gostassem tanto de apenas sentir. Muito menos entendia os seres que eram imparciais que queriam desesperadamente sentir. E isso era só naquele momento, em que deixava o tempo passar, sozinho, sem controlar nada, só naquele momento era possível parar e ser e estar e existir, não sentir.

Meu Tempo

Algo que não consigo compreender é como é possível haver pessoas que encontram realmente alguma doutrina – como uma crença, uma religião, uma ideologia política ou filosófica previamente apresentada por algum outro sujeito – que esteja exatamente no shape dos conceitos e juízos, a posteriori e a priori, que ela tenha desenvolvido ao longo de sua vida. A individualidade, preceito básico da nossa sociedade antropocêntrica, liberal e capitalista, nunca é respeitada de maneira decente quando se determinam hábitos, concepções, posturas, interpretações. Onde não há contemporaneidade – fator nunca respeitado pelas doutrinas, visto que se baseiam em pontos de vista já estabelecidos em tempos passados, não passam de tradições – não é possível que haja a completa aceitação do indivíduo por algo extremamente superficial e objetivo. A nossa era carece de respeito individual, de aprofundamento nas questões do sujeito e de preocupação única e exclusiva com o presente, sem apegos ao passado nem idealizações do futuro.

Agir - Reagir

Mais uma vez, vem o tédio me forçar a agir. É estranho, porque não ajo por ter o que fazer, é justamente o contrário: por não ter o que fazer, vem uma agonia, uma raiva, um negócio que parece que sobe quente e desce frio, que me faz andar de um lado para o outro, tomar banho, fumar, dormir mais um pouco, ligar a televisão, beber dois copos imensos d'água e depois, voltar à frente do computador, onde já tinha tentado solucionar o problema do tédio antes, para tentar ver se alguma coisa de novo havia acontecido no mundo cibernético. Porra nenhuma, diga-se de passagem. Aí, como quem não quer nada, acabei tendo que fazer com que alguma coisa, por mais banal que seja, por mais que não interfira na vida de ninguém, nem na Ordem Mundial, nem nas órbitas dos planetas, nem mesmo no meu movimento peristáltico, para ver alguma coisa mudar. Mudei, escrevi, acrescentei alguma coisa a algo, mesmo que pouquíssimos vejam, mas mudei de fato alguma coisa. Acho que era disso que precisava, não precisava mudar o mundo, precisava apenas agir de alguma forma, mesmo que agir me remeta a alguma grande ação. Dessa vez, como na maioria delas, foi apenas uma pequena, pequenina, diminuta, imperceptível, contudo atenuadora, ação.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Santo Sapo

E lá estava o sapo, na mata atrás aqui de casa, não sei se mais uma vez ou se era a primeira vez que circulava por essas bandas, pulando pela pedra, parecia fugir do sol. Olhando mais ao redor, não era mais possível ver o sapo, era possível ver toda a mata, verde, sobre a pedra cortada para a construção de alguma coisa (no caso o Corte do Cantagalo e o prédio aonde vivo), mas que se mantinha aqui, viva, com um sapinho inclusive, recebia sol, que iluminava as plantas, devia ceder calor para o sapo, que pulava, não mais sob minha vista, à procura de nada, talvez de um alimento, talvez apenas fugindo do sol, certamente sendo apenas sapo.

Mantendo o mesmo pano de fundo, a mata aqui atrás, com o sapo e as plantinhas e o sol e a pedra e etc, imaginei, que da janela do escritório, eu poderia filmar um documentário para o Discovery Channel. Foi só esse pensamento surgir que, junto com ele, surgiu uma borboleta, bonitinha, que voava de um lado pro outro. Não era preciso ir muito longe para buscar os encantos da natureza, sua beleza, nem mesmo suas leis mais obrigatórias. Parece mentira, mas o sapo, que já não estava mais ao alcance da minha vista, ressurgiu (tenho certeza de que era o mesmo) e trucidou a borboleta branquinha. Esperto esse sapo, já estava à espreita, observando o andar da carruagem, esperando o momento certo da borboleta surgir para atacá-la. Mas, ao ver o sapo pela primeira vez, não vi a borboleta. Vi apenas o sapo indo para a sombra. Embora tenha sido tão empolgado ao discursar sobre a previsibilidade do sapo, acho que é praticamente impossível que ele tenha calculado o ataque. Não estou tirando o mérito de grande caçador do sapo, de modo algum, acho inclusive que ele tem um mérito muito maior. O que deve ter acontecido, embora nunca possa saber ao certo (a velha e odiosa máxima mais uma vez presente aqui conosco), é que o sapo deve ter aproveitado o momento que a borboleta passou e deu o bote. Talvez por uma razão instintiva, o sapo já soubesse o melhor lugar para se posicionar caso aparecesse alguma presa possível ou alguém possível predador.

E esses instintos, tão presentes no mundo animal, não possivelmente controlariam todas, irrestritamente, as espécies animais? Se dizem que o homem não age instintivamente, eu tenho que me forçar um pouco para não rir. O que procurava o sapo ao entocar-se à sombra, num lugar seguro e propício para o seu ganha-pão? Procurava a sobrevivência. Talvez estivesse ele entediado, parado lá embaixo de uma folha, esperando, sempre esperando, como se nunca fosse morrer. E nós, ilustríssimos humanos, o que fazemos ao entocarmo-nos em nossas casas? Qual casa preferimos, aquela que nos proporcionará mais seguridade a nossas vidas, mais conforto, mais limpeza, mais cara, o que mostraria a nossa segurança para nós mesmos e para os nossos semelhantes, que olharão e verão a grandeza, a riqueza, a segurança, tanto para ele quanto para seus descendentes; a casa que é mais perto do trabalho, a nossa forma de caça. O que é que queremos, ao juntarmos dinheiro, ao pagarmos o melhor plano de saúde, a melhor escola para os filhos, a melhor roupa? Não estaríamos lutando pelas mesmas coisas, apenas mais profundamente, que o nosso amiguinho sapo que come a borboleta? Não estaríamos fugindo da dor física, que nos remete a morte por termos ciência dela e do processo pelo qual ela pode vir a se sobrepor a nós? Não estaríamos, ao demonstrar segurança, querendo a manutenção de nossos pares de acasalamento, suscitando no par, assim, a possível certeza de que os descendentes estariam seguros, não seria uma busca pela manutenção da espécie? Mas que macacada boa somos nós.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Um Chopp

Das coisas mais engraçadas que acontecem na vida cotidiana, o tédio após a execução de todas as aflições computadoreanas - recados no orkut, checar o e-mail, procurar comentários no blog - é a mais contemporânea de todas. Depois de todas as execuções, surge uma vontade estranha de fazer algo, mas tudo o que havia para ser feito já foi feito. Esse tédio era, normalmente, sobreposto por um ret pós-trabalho. Sem esse ret, o tédio, depois de muito tempo no calabouço que os entorpecentes o prendiam, emergiu essa tarde. E, para solucionar o problema do tédio foragido, que espalha medo por todos os lugares onde passa, tal monstro que é, precisei encontrar o tédio, ou melhor, identificá-lo na multidão de sensações (demônios sempre se disfarçam de castos), por aí e enjaulá-lo novamente, pelo menos por enquanto, até transportá-lo para o calabouço dos entorpecentes, que está passando por uma reforma depois da fuga. E essa foi a jaula que utilizei, tudo bem que meio improvisada, mas até então está dando pro gasto. Acho que Schopenhauer estava certo ao dizer que o homem está preso a um pêndulo que vai da dor ao tédio, a única coisa que eu acrescentaria era o ponto mais baixo, da euforia, momentânea, que seja, mas algo um pouco semelhante à felicidade, que, eu sei, dura pouco, pouquíssimo tempo, mas sua intensidade compensa toda uma vida.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sweet Death

Quem morre parece estar mesmo em outro plano, não é mais o mesmo ou não pertence mais à espécie a qual pertencemos. Tratamo-lo como o morto, assim como os outros mortos; um morto. Ao fazermos homenagens, não hesitamos ao homenagearmos dois dos mortos de semana passada ao mesmo tempo. E assim como nos referimos a pessoas de origem semelhante como sendo as mesmas, como se aquelas características as definissem como tais para mim, faço o mesmo com os mortos, separo-os no mesmo departamento e classifico-os como os outros mortos. Não mais é necessário que haja um determinante para ele, ele está morto, e seu determinante é esse.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Vôo com destino a...

Agora me peguei pensando nas minhas possíveis concepções de mundo. Sendo um policial do Bope, por exemplo, poderia dar mais ou menos valor à vida, conceberia minhas concepções com experiências bem mais amargas e alertas. Poderia tornar-me um cientista, também, quem sabe! A visão objetiva, matemática, metódica, com certeza me concederia uma forma mais racional de compreender tudo, a contemplação seria meu trabalho, seria de lá meu âmbito social, seria através da contemplação, de tudo, de todos, que formaria minha essência. Muito possivelmente me excluiria, me ausentaria, me analisaria mais que tudo, Quem sabe, se fosse eu algum profissional técnico, não me tornaria mecânico, rotineiro e, ao mesmo tempo, “problematista” – criaria e solucionaria problemas de todo modo e de todos os modos. Mas o mundo técnico se divide: há o técnico da matéria e o técnico humano. Sendo material, resolveria tudo aquilo que não dissesse respeito a relações humanas, a sentimentos, a sensações. Se fosse o humano, resolveria tudo o que não fosse objetivo, que não fosse exposto a interpretações subjetivas e válidas ao mesmo tempo. E se falo de divisões, lembro que a carreira científica, vanguardista, acadêmica e contemplativa também se divide nas mesmas duas: ciências humana e exata. Porém, quanto a essa divisão, não vejo grandes diferenças, que pudessem mudar a forma cientifica de ver o mundo. Pelo contrário, a ciência – no sentido de analisadora – nos leva, seja humana ou exata, material, a crer que somos um grande e complexo e inacreditavelmente existente nada. Ou quase nada. De forma a ver comportamentos e incoerências de mentalidade ao longo dos séculos, as relações ao longo do tempo e na atualidade, assim como coerências também, de forma a ver obrigatoriedades físicas, químicas. Generalizamos, tornamos tudo o mesmo. Forçamos o tudo dentro de uma caixa apertada. Em contrapartida, se sou técnico, tanto do homem quanto do meio, sinto-me capaz, auto-confiante, entendo que guio minha vida. Também, pudera, se, no quase nada que possivelmente se é, podemos mudar quase tudo aquilo que nos define, para nos definir melhor, é óbvio que um pouquinho dessa prepotência iria se esguiar por cima de mim.

Mas que maldade que foi feita conosco. Nunca seremos tudo, nem nunca poderemos saber. Às vezes penso que foi mesmo uma bruxa, ou a abstração dela, que nos amaldiçoou, humanos, ou à nossa abstração.

E, como não podia faltar, sobrou a ocupação que se abstrai, e não busca fixar nem se sentir sendo. É como um malandro que surrupia as penalizações que sofre pelos seus surrupios, inclusive pelos surrupios das penalizações. Aquela que ri do que vê. Aquela que ri do que é. Esta é a alma do artista.

Amiiiga

Acho que a entorpecência é a minha melhor amiga. Me abraça, me conforta, me lembra que não sou só mágoa, me cega da ciência exacerbada que julgo ter da vida. Me apaga o valor e o juízo que faço de tudo; só me proporciona sorrisos, não só meus, como dos outros à minha volta. Acho que já estou com saudades de ti, querida entorpecência, vulga loucura, que por tantos conscientemente negada e por muitos inconscientemente suplicada a presença.

Querida amiga,
estou com saudades de você, mas você não me procura, acho que você não me ama! Tenho que te procurar, te caçar por muitos lugares, e muitas vezes você vêm suja, machucada e, ainda por cima, ingrata. Mas, para nós dois, o meu amor só já basta, deixa que te busco para ficar aqui comigo, só nós dois.

Que coisa, olha pra mim, conversando com minhas ânsias, com meu inconsciente, com minha química forçosa e progressivamente desregulada, conversando com quem não pensa, mas incrivelmente me completa, sem eu precisar completá-la. Acho que já preciso me encontrar com você.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

nada a ver com o blog, mas tranquilo

30º C ou mais
- Baianos vão a praia, dançam, cantam e comem acarajé.
- Cariocas vão a praia e jogam futevolei.
- Mineiros comem um "queijin" na sombra.
- Todos os paulistas vão para Praia Grande e enfrentam 2 horas de fila nas padarias e supermercados da região.
- Gaúchos esgotam os estoques de protetor solar e isotônicos da cidade.

25ºC
- Baianos não deixam os filhos sairem ao vento após as 17 horas.
- Cariocas vão à praia mas não entram na água.
- Mineiros comem um feijão tropeiro.
- Paulistas fazem churrasco nas suas casas do litoral, poucos ainda entram na água.
- Gaúchos reclamam do calor e não fazem esforço devido esgotamento físico.

20ºC
- Baianos mudam os chuveiros para a posição "Inverno" e ligam o ar quente das casas e veículos.
- Cariocas vestem um moletom.
- Mineiros bebem pinga perto do fogão a lenha.
- Paulistas decidem deixar o litoral, começa o trânsito de volta para casa.
- Gaúchos tomam sol no parque.

15ºC
- Baianos tremem incontrolavelm ente de frio.
- Cariocas se reúnem para comer fondue de queijo.
- Mineiros continuam bebendo pinga perto do fogão a lenha.
- Paulistas ainda estão presos nos congestionamen tos na volta do litoral.
- Gaúchos dirigem com os vidros abaixados.

10ºC
- Decretado estado de calamidade na Bahia.
- Cariocas usam sobretudo, cuecas de lã, luvas e toucas.
- Mineiros continuam bebendo pinga e colocam mais lenha no fogão.
- Paulistas vão a pizzarias e shopping centers com a família.
- Gaúchos botam uma camisa de manga comprida.

5ºC
- Bahia entra no armagedon.
- César Maia lança a candidatura do Rio para as olimpíadas de inverno.
- Mineiros continuam bebendo pinga e quentão ao lado do fogão a lenha.
- Paulistas lotam hospitais e clínicas devido doenças causadas pela inversão térmica.
- Gaúchos fecham as janelas de casa.

0ºC
- Não existe mais vida na Bahia. Nem animal, nem vegetal, nem mineral.
- No Rio, César Maia veste 7 casacos e lança o "Ixxnoubórdi in Rio".
- Mineiros entram em coma alcoólico ao lado do fogão a lenha.
- Paulistas não saem de casa e dão altos índices de audiência a Gilberto Barros, Gugu Liberato, Luciana Gimenes e Silvio Santos.
- Gaúchos aproveitam o friozinho gostoso para dar a bunda.

Só condições

Não acredito no acaso, nem no destino. Acredito na interdependência existente entre os fatos. A credito na causalidade. Acredito que, quando dadas as devidas circunstâncias, o acontecimento que ocorrer só poderá ser aquele, devido às circunstâncias do momento, das experiências de vida de todos, que determinarão a forma como se reage a todos os acontecimentos. Somos sempre condicionados.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Para mim

Para mim, mais estranho que pensar que penso é pensar que penso em uma língua. Não sei quanto a todos, mas quanto a mim, sei que penso num idioma. Quando estou pensando, penso em todas as palavras escritas, como que idéias borbulhando em minha mente formando imagens das palavras que elas representam. Como chamadas de televisão, que piscam uma palavra de cada vez. Na verdade, mais parece um efeito de animação do Power Point. Enfim, o importante é que penso nas palavras de um idioma, com as letras e os sentidos daquele idioma.

Por que a experiência me permite assimilar primeiramente o que penso com a palavra, e depois, não sei REALMENTE por que, pensar somente nas palavras, como se as palavras estivessem preenchidas do sentimento, ou melhor, como se elas realmente fossem o que representam e eu apenas me apoderasse delas para ser capaz de sentir o que representam? Quando penso por elas, ou seja, sempre, sinto-me fraco, inábil a pensar por mim próprio, já me sinto incapaz de pensar sem que me utilize delas para o fazer. Elas, as palavras, com o passar dos anos, tão cheia, tão independente, tão objetiva, tão lógica, tão coordenada pelas suas semânticas e sintaxes perfeitas! E eu, tão subjetivo, tão incoerente, tão racional, tão subordinado, tão imprevisível. O pior é que é mesmo, tão grandiosa é a linguagem, tão mais velha que eu, tão conseqüente e irracional, que é mesmo muito superior a mim. Eu mesmo nunca conseguiria pensar tão profundamente se não fosse a linguagem. E se me dizem, mas foi o homem que criou a linguagem, eu lhe digo, meu caro, foram todos os homens, de muitos e muitos anos, construindo aos poucos uma tão grande coisa, não fui eu quem a criou, ou nenhum dos humanos, ela que pediu para ser criada, ela que apenas nos subjugou a fazê-la.

Mas e o idioma, por que ele definiu-se, por que tornou-se um diferente em cada parte do mundo, sentem as pessoas de lugares diferentes coisas diferentes? Será o meio o responsável pelo surgimento da linguagem e, por ser diferente em cada parte do mundo, justifica o surgimento de diferentes linguagens? Ainda mais, será a linguagem, na verdade, o mundo?

E o pior de tudo – ou o melhor! Sim, com certeza o melhor! – é que continuo aqui a escrever porque penso através da linguagem e preciso tirá-la de mim, deixá-la pra fora, pra parar um pouco de pensar naquilo e ver aquilo em outro lugar, me fazendo sentir que já não estão mais em mim, já que não as vejo em minha mente. Mas, por mais que eu tente muito, quando parar de escrever aqui, continuarei escrevendo em minha mente, pensando em forma de escrita e essas coisas, han, ninguém será capaz de ler, nem uminha vez, nem eu poderei ler de novo.

Fim de Tarde na Cachoeira

É o "Fim de Tarde na Cachoeira", que agradável e bonito isso pode ser. O sol se pondo, o verde, a conversa descontraída ao som do dedilhar de um violão, a água ali, pronta para beber, e ainda aquela sensação de que aquilo era o que realmente se buscava. É a tarde e é a cachoeira.
Até que vieram os mosquitos, o calor, o cansaço da andada pelas pedras, o trambolho do violão, nao há mais água que dê vontade de beber, a conversa é nervosa. E o pior, gente passando, e mais gente passando e passando pela minha mente o que pensam de sobre mim. E não é a primeira impressão a que fica? A primeira impressão que passei foi péssima. Suado, sujo, cheio de mosquitos, com o violão na mão, cansado, sem conseguir andar pelas pedras. Aí está o Fim de toda tarde na cachoeira.
É o fim que nos lembra que não só observamos, somos observados. Quem alguma vez na vida não parou para pensar sobre si como quem se vê por uma esfera exterior? Daí vêm todas as coisas que sentimos. Começamos a ver o que sentimos, e não simplesmente sentí-lo. Somos capazes de ver e compreender o que somos. E assim, o Fim da Tarde parece estar indo pelo Fim. O que a Cachoeira garantiria de bem-estar, o Fim da Tarde tirou, veio para mostrar nossas mazelas, tudo aquilo que pregamos, pensamos sem consciência plena; vemos como realmente somos. Vem a incompreensão.
Porém, antes de pensar sobre mim, no meu fim de tarde, estava bom o meu fim de tarde na cachoeira. Mas percebi, ao vir a tona a consciência - noção de si como indivíduo para os outros - minhas incongruências e incoerências. E como numa busca sem fim, tento encontrar um meio de mudança.
Mas nao quero mudar, quero uma saída. E a saída que vi foi compreender. Ao buscar mudar, compreendi que compreender é só o que posso. E no fluxo progressivo, sem saber o real por quê, entendi que lamentar o meu Fim de Tarde só me permitia não sentir.
Sem a consciência, sentíamos. Com a consciência, pudemos observar por 3a pessoa. E como surgiu a consciência? Através da comunicação reportando a morte. A morte nos permitiu ver o não ser. E a consciência nso permitiu ver que éramos, que estávamos. Nos permitiu ver o que sentimos. E se vemos o que sentimos, podemos negá-lo, ver a falsidade em tudo, ver a impossibilidade em tudo. Ou então, podemos sentir pela segunda vez. Sem consciência, sentir era apenas tátil. Com a consciência sentir passou a ser interpretado, racionalizado, analisado, posto como físico. Assim, compreendemos que só se sente, mais nada além disso e, sendo isso tudo o que nos é posto, podemos tornar isso verdadeiro.
Entre o pântano
e o agreste
lá está o mato.

Refratando

Quando olho aquela luz que refrata no vidro e me permite crer as formas nao sendo como sao, me sinto alegre por concluir que nem tudo o que se percebe é o que é; e quão belo pode ser o refratar; quão bela é a verdade malhada.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pontos de Vista

Há duas coisas muito curiosas no que diz respeito aos pontos de vista. Uma delas é que possuímos e expressamos muitos pontos de vista, impressão da múltipla vivência de experiências, que proporcionam a nossa assimilação de pontos de vista. Escutamos daqui, lemos de lá, vemos acolá, e absorvemos as impressões que nos são dadas das coisas, impressões de lógicas externas ao sujeito, totalmente coesas e coerentes. O grande problema é o fato de, em nosso cérebro, constarem todas essas coesas, lógicas e coerentes interpretações, que na verdade são mecanismos que a externalidade nos apresenta. Dessa forma, compreende-se a incoerência nas ações, nas expressões de opiniões, travestidas de ações coerentes, de acordo com tal ponto de vista. Essa maldita coerência que nos prende ao incoerente. Não formamos uma única e simples opinião, formamos muitas opiniões e sentimos e vivemos muitas opiniões, externalizamo-nas, mesmo que não percebamos. A outra curiosa coisa é o fato de adquirirmos, dentro de todas as opiniões divergentes que temos sobre tudo, alguma opinião que pareça mais com "o meu ponto de vista". Tentativa falha e pobre de afirmar-se como indivíduo. Queremos, por demonstração de posse, por tentativa de valorização própria, por meios de atrair a atenção do bando, ser alguém individualmente particular, precioso, valorizado, incomum, sozinho e louvado. A nossa razão, que mais me parece um mecanismo para a formação de uma impressão de individualidade, de uma sensação de subjetividade, encaminha, através da busca pela lógica objetiva do todo, a impressão, a partir de muitas idéias uma única idéia, que deva seguir uma coerência e algum tipo de comprovação material. Mas quem condiciona a comprovação material ou a qualidade da coerência compreendida? A razão – que abstração que és tu! – apenas nos dá a impressão de sermos capazes de elucidarmos opiniões nossas, e não apenas dados de observações. A razão parece organizar, da forma que a nossa busca pela vida e pela certeza de manutenção dela até o seu último fio – ou quem sabe apenas por uma fuga física da dor ou de baixas hormonais sensíveis – condicionou quais mecanismos seriam mais úteis para que não se perca a vida – ou para que não se sinta dor ou desconforto ou náusea ou níveis hormonais baixos. E assim, como uma adaptação evolutiva à preservação de uma espécie, a razão estipula que veículos ela utilizará para manter-se no poder do bando, com os melhores argumentos, ou melhor, melhor elucidação de experiências observadas, arrumadas de forma lógica, dando assim o valor a si que garantiria a saciedade da nossa busca por pontos de vista individuais, que demonstram quase que bruscamente a valorização (por que não) instintiva da vida. E como o que temos são sensações de vida, os “nossos” pontos de vista são na verdade sensações de certeza, de individualidade, de permanência terrena, de dominação das impressões que se tem, o que seria a dominação das experiências, ou seja, do seu próprio mundo, que é na verdade uma ilusão de propriedade, visto que nenhuma experiência que se entende como própria realmente a é, é apenas uma observação imparcial que tendemos a querer particularizar.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

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O que eu gosto é de falar de sonho, de desejos e almejos, possibilidades, críticas, dúvidas, não dos fatos: deles eu nem participo.

Este não tem título mesmo não

Hoje estou sentindo que a escrita veio sem muita coisa pra dizer. Veio mais para preencher um tempo que não estava ali para que fosse feita alguma coisa com ele. Mas para mim isso não deve existir. Fazer alguma coisa é como uma obrigação. E quase como outra obrigação, tenho que achar digno de ser feita a coisa que irá preencher o tempo de nada para fazer.

O grande problema é que, por vezes, não tenho encontrado muitas coisas dignas de serem feitas por mim, as quais eu possa fazer. Encontro muitas indignas. E também muitas dignas, mas que não estão ao meu alcance. E essas que não estão ao meu alcance são realmente maravilhosas e muito dignas de serem feitas por mim, só não são possíveis (talvez eu não seja digno de fazê-las, se é que isso é possível).

E por isso que acabo com muito tempo pra preencher com alguma coisa digna. Faço, até com certa freqüência, coisas dignas, mas, em geral, coisas dignas dão aquele cansaço-pós. As indignas, que são as que acabo fazendo tentando fingir para mim mesmo a sua dignidade, não proporcionam fadiga de modo algum, e sim ânsia. Ânsia de algo digno. E toda essa extrema necessidade eu tento suprir ao escrever, que é das poucas coisas que julgo capaz de executar e que entendo como alguma atividade digna.

Que droga, essa minha mania de achar que devo ou não achar algo digno de diversão ou de prazer ou de dignidade mesmo. Mais ainda, de achar que as coisas devem ser dignas da minha imersão em suas execuções. Fico procurando o que daquilo deve ser aproveitado, se a função a qual veio exercer está sendo exercida de meneira que eu entenda como bem exercida, ou que julgue digna de minha participação ou assistência.

É, percebi que o que quero mesmo é dizer o que acho das coisas. Pobre de mim, achando que vão se deixar levar pelas minhas interpretações. Pobre de mim, por achar que sou capaz de dizer qualquer coisa sobre qualquer coisa. Que droga essa idéia fixa de que, com o tempo, encontramos o valor das coisas ou que, com o tempo, as coisas fiquem importantes. Ficam nada. Nós é que queremos ser importantes. E não o somos. Somos efêmeros e achamos que iremos sentir saudades das coisas. Mas por sermos efêmeros, não seremos capazes de voltar à nossa efemeridade terrena. Achamos que somos eternamente presos aqui. O que vejo, é que não encontramos qual o nosso valor, então damos valor ao externo, para que possamos possuí-lo e sentir, finalmente, que valemos alguma coisa, mesmo que só para nós mesmos, ou para os outros, só por possuirmos algo que é digno de ser valorizado.

Sentimo-nos mais presos ao chão do que realmente somos. Sentimos como se aqui fosse nossa terra eterna. Esquecemos da efemeridade de nós mesmos e, com isso, a efemeridade de tudo o que observamos, vivenciamos e de todas as condições de existência.

Ode à indiferença e ao hedônico!

Se eu fosse ser...

Estou sendo, nao sou simplesmente. Nunca. E isso seria muito bom se não fosse uma obrigatoriedade, se pudesse deixar de estar sendo e passasse a ser, simplesmente ser. Mas que esse ser fosse bem semelhante ao estar sendo. Deveria ser um ser que conseguia entender e perceber o que é estar sendo. Um ser que pudesse estar sendo sem excluir o ser. Deveria me tornar o ser por ele todo, todas as suas conjugações: fui, era, sou, serei, estou sendo, estarei sendo, estive sendo, tinha sido, seria, teria sido, estive sendo, estava sendo, estaria sendo, todas as possibilidades eu seria capaz de supor e ao mesmo tempo seria o ser!
Iria gozar de todas as efemeridades e eternidades, coisas pouco duradouras, muito duradouras, contemplaria, com olhos de quem está sendo, o que é. Tudo faria mais sentido, incrivelmente. Seria realmente confortante, se eu fosse o ser e nao o estar sendo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Efemeridades da Vida

Hoje estou com vontade de escrever só por escrever. Escrever porque isso me faz tirar uma fissura de fazer alguma coisa que bate quando nao há nada pra fazer e se quer fazer algo muito grandioso. E é verdade, pra mim escrever é algo muito grandioso. Expresso muitas coisas que podem atingir sentimentos íntimos de pessoas quando eu escrevo universalmente o que sinto. Falo de maneira abstrata, de mneira genérica, praticamente filosófica, de todos os meus sentimentos e todos vão entender, não s meus sentimentos, mas os seus próprios sentimentos.
Então, paro de tentar pensar em algo tão maestral e soberano e apenas tento negar o que sinto, pensando sobre o que sinto de maneira nao sensitiva. Busco, ao escrever, demonstar pinceladamente os meus sentimentos, de maneira que eu leia e saiba o que sentia, e de maneira que leiam e sintam o que universalmente se sente.
Não me refiro à Náusea, ou à frustração, ou à qualquer sentimento mesquinho, infeliz e subordinado. Me refira às Náuseas. Mas às Náuseas produtivas. Àquelas que se entende o que se exprime e se permite transcrever, melhor do que interpretar, seus sentimentos, e como qualquer tipo de comunicação ou demonstração de idéias, mostra a todas as pessoas - ou pelo menos todas as que lerem o que exprimo, ou quem escrever algo com o mesmo ituito com que o que escrevo - seus sentimentos internos, e a capacidade que há de sen compreender. E não digo pertencer ou adequar-se inteiramente a tudo, mas entender-se mesmo. Ver que no nada que você é, ainda há alguma coisa. Mesmo que seja nada, mas é um nada que é capaz. Não sei de que, não sei por que, mas somos capzes infinitamente e irrestritamente, dentro do restrito, a sermos o que estamos sendo, e depois, muito depois, talvez nunca, não o seremos e finalmente o seremos, por não sabermos que seremos o tudo que queremos ser.
Sim, apenas o que queremos. Porque querer é momentâneo; querer está para ser, assim como gostar está para estar. E o que é realmente o que queremos? Queremos o que gostamos ou devemos querer querer o que gostamos e assim o gostar tornar-se querer. Porque o querer é a busca pela todo, pela verdade e, por que não, pela negação. Gostar é dar valor ao estar, ao fazer o que se pode em vida e depois querer quando não mais se está.
E mais uma vez, a conclusão a que se chega é que estar é muito melhor do que ser. Porque sermos não nos permite sentir, nem sentir que sentimos, nem pensar que sentimos, nem idealizar que sentimos, nem pensar, ou duvidar, ou negar, ou crer, ou almejar, ou desejar, a existência da eternidade e a nossa possibilidade - ou não - de alcançá-la. Estar é sentir, é perceber, é negar, é realmente crer, ou não, que somos alguma coisa realmente na verdade - realmente e na verdade mesmo!
E quase como uma coisa efêmera, creio que não sou nada realmente. E que não sendo nada, ou melhor, percebendo que não sou nada, talvez eu sinta alguma coisa verdadeira. Sendo eu mesmo, ou sendo qualquer pessoa que eu imagine ser, ou que às vezes finja ser, ou que pretenda ser, ou que, alguma vez, tenha realmente acreditado ser, posso ser negação de alguma coisa. E se há negação é porque há algo que se é possivel de negar-se.
Serei eu algum reflexo torto, ou imperfeito, ou relutante e duvidoso, de algo perfeito, que realmente é? Nunca terei a certeza absoluta, pois a única coisa que duvido é da própria dúvida, e se duvido do não, ou das infinitas possibilidades, como posso estar certo de que alguma possilidade negativa, duvidosa e incerta pode ser o que realmente é?
Enfim, isso aqui não tem fim, apenas pela finalidade de ter que por fim ao inacabável, imensurável, que como bichinhos desreipestosos, e curiosos, e impertinentes como nós, pseudo-humanos, verdadeiramente macacos, criamos para dar razão ao capricho de crermos que somos finitos, determinados e que podemos parar de ser. Pararemos apenas de estar. O que é uma pena!

Ser e Estar (parte II)

Gosto de escrever sobre as sensações mais eternas, aquelas que me definem como eu, que me fazem sentir-me como uma pessoa com certos tipos de sensações, que são minhas, eternamente minhas. As sensações momentâneas, aquelas que dizem respeito somente ao que sinto no momento, ou durante algum tempo, não são tão legais assim de se escrever. Gosto de escrever quem sou e não quem estou sendo. Gosto de escrever o que sinto e não o que estou sentindo. As palavras parecem soar e ter aparência mais harmônica quando falo de mim, das minhas impressões do mundo, das minhas não-efemeridades, e por quê não da minha personalidade. Escrever situações, sentimentos extremos, para mim, não passam de uma leitura hormonal – escreveria, assim, uma leitura dos meus hormônios e não uma descoberta do mundo e de mim. Gosto de escrever quem sou e não quem estou.

Ser e Estar (parte I)

O verbo ser não compreende por quês, pois ele é, ou seja, sempre foi, não está sujeito a nada, simplesmente é. Se queremos nos perguntar por quê, devemos voltarmo-nos ao estar, porque ele é momentâneo, teve alguma causa para estar daquela forma naquele momento. Ser não tem causa, não tem conseqüência, não se entende, não se pergunta, só se observa. Estar tem causa e conseqüência, se entende, se pergunta e se responde com observação, pois, a causa, podemos observar previamente.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Injustiça Racionalmente Irracional

Por que viver é melhor que sonhar? Digo, por que a possibilidade que o sonho nos dá de vivê-lo é melhor que a certeza de que aquilo é só uma possibilidade? Só pode ser porque o mundo não é sonho, e o sonho é o nosso espelho do mundo, mas o mundo é o espelho de todos os sonhos, que se confundem uns com os outros, entrelaçados como redes, e nos pescam e nos prendem, deixando-nos apenas respirar por um tempo, até que nos emergem, como peixes do mar, que, uma vez presos à rede, somente respiram e vivem até que, sem saber da vida e dos desejos e medos desses peixes, se foram felizes ou tristes, se buscam ainda alguma coisa, vêm os pescadores, sem nenhuma raiva ou má intenção, apenas por serem pescadores, retiram a rede e com ela os peixinhos também, que vêem a morte ainda com vida, até que a vida, por não ser morte, apaga, como alguém de overdose de alguma substância muito prazerosa. Os peixes cessam de respirar, de viver, ou seja, de sonhar.

mente ociosa, oficina da metefísica voluptuosa

Eu precisava mesmo era ter vivido o que sonhava. Mas não foi possível. Por isso, escrevi, camufladamente, filosoficamente, objeto-subjetivamente, para abafar minha vida, como quem bebe para afogar as mágoas, assiste a novela para não assistir a si, como quem sente seus sentimentos através de sentimentos escritos de outrem. Inautenticidade e fuga é a vida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Mesquinharia

Lembra quando descobrimos que a exploração do homem pelo homem era uma coisa ruim, pois gerava injustiça e violência e tudo mais? Então, criamos os direitos dos trabalhadores, férias, décimo terceiro, 40 horas semanais, etc, etc. O curioso é que mesmo assim continuamos achando injusta a exploração e queremos sempre mais direitos.

O homem é realmente um burrinho esforçado. Exploramos a natureza e de uns tempos pra cá descobrimos que ela estava xiando e que seria um absurdo não concedermos condições especiais para a exploração da natureza. É uma grande hipocrisia. Assim como é injusto explorar o homem, mesmo que dando sua ração mínima de vida, é injusto retirar da natureza tudo o que queremos para que sejamos livres. É como se fosse uma Consolidação das Leis Trabalhistas para a mamãe natureza. Somos mesmo uns filhinhos muito dos desnaturados.

Criticamos, outra vez, a exploração. E qual solução foi dada por nós mesmos? Continuar a exploração, o consumo, tudo aquilo que condenamos sempre, mas agora de faremos tudo de forma ética. Como um industrial explora o pobre, o industrial vai explorar a natureza, que agora tem os devidos direitos, que o industrial vai cumprir com raivinha e que nós vamos continuar consumindo com a consciência limpa como a de quem doa 1kg de alimento não-perecível no Natal Sem Fome.

A merda da mentalidade continua a mesma. Acho que ela sempre foi a mesma e quem não tem mentalidade, ou seja, o mundo, tem que arcar com as loucuras de quem tem. Não conseguimos nunca nos enxergarmos como parte do mundo: para nós, somos algo além dele.

Sempre soubemos da nossa reles insignificância. Mas somos seres orgulhosos, não aceitamos isso. Desenvolvemos então essa mentalidade escrota de atribuição de valor e nos julgamos mais espertos quando algo tem mais valor para uma pessoa do que para você, que vê um valor maior numa outra merdinha qualquer.

Não temos valor algum, não somos capazes de atribuir valor nenhum e chega dessa palhaçada e vamos viver hedonicamente. Beijos e abraços. Hahaha.

x > 0

Achar meu espaço: essa é a meta que estipulei para a minha vida. Não digo me adequar ao espaço que me é oferecido nem querer que haja um espaço perfeito para mim, mas digo continuar me construindo, de maneira que o próximo ponto desta reta seja o meu ponto. O problema é se esse intervalo entre dois pontos é realmente infinito, ou se vou conseguir escolher entre essa infinidade de possibilidades o caminho que vai me levar aonde me confortarei por ser.

domingo, 30 de setembro de 2007

Achas realmente válido?

Queria, mais que tudo, saber qual o valor do questionamento, se devemos ou não incitar a dúvida, se devemos dar valor às nossas incertezas, se devemos nos apoiar em algo que se compõe de negação. Penso, então, em como sempre foi desenvolvida o conceito de Verdade. Nos foi possível estabelecer o que é verdade quando nos foi possível negar o que nos era tátil. Vimos a morte, e entendemos nela a total negação da vida. Vimos então a possibilidade do não. Passamos a negar o não mais veementemente que tudo, criamos religiões, crenças, até a ciência se encarregou de negar a negação. Acreditamos que por negarmos o negativo, como que matematicamente, alcançaríamos o sim. Doce ilusão. Apenas negamos o que já era negativo, tornamo-lo duas vezes falso. Mas aquilo nos fazia sentido, aquilo nos era verdadeiro, fora aquilo que nos trouxe a metafísica, a linguagem, a arte. E aquilo que gerou tudo o que somos. E é aquilo que se entende por Verdade. Verdade então é tudo aquilo que negamos duas vezes. É tudo aquilo que cremos ser certo para não nos frustrarmos com o que vemos, que já nos mostra ser real. Verdade é mistificar, é teorizar, é concluir quando só nos é possível observar. Verdade é cogitar, é possibilidade. Verdade, além de tudo, é crer que aquilo que se nega é verdadeiro. E, crendo que é verdadeiro, sustenta-se a verdade como total; damos valor a nossa perspectiva. E aquilo só será uma possível verdade, se for válido, ou seja, de valor aceitável para o fim que propõe ter para todos, para o público. Verdade e Valor caminham mais juntos do que a Santíssima Trindade.

soluções, o mais velho novo produto

Solução para tudo na vida: dionisiar tudo o que se entende como apolíneo, ou seja, tornar prazeroso aquilo que se diz racional, ou seja, não distinguir obrigação de esbórnia, ou seja, não distinguir trabalho de casa, ou seja, relaxar pensando e relaxar pensando.

Quando se é aprisionado pelo “ter que”, a vida segue o rumo das incertezas, das dúvidas, da negação ao que se fez e ao que se tem feito. Procure liberar endorfina em seu ambiente de trabalho. Quem sabe até compre aquelas músicas toscas de mantras e sons de cachoeira. Aromatize o ambiente com cheirinho de liberarei-endorfina-sem-esforço-só-respirando-e- agora-meus-problemas-acabaram-porque-comprei-esse-produtinho-mágico-no-mundo-verde. Mantenha seus níveis hormonais elevados, basicamente isso.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O valor do valor

Ai, o nada! Poucos crêem no quão nada somos para universo, para o tempo, para nossas escolhas, para a formação de nós mesmos, para o controle de nossas ações. Antes que pudéssemos existir, existiam elementos, que, graças à existência deles – e somente por isso –, deram origem a novos elementos. E depois a mais elementos, até que surgiu o Universo, e as estrelas e as galáxias, e o Sol e todo o seu sistema, e nela a Terra, e em seguida transformações não pararam de acontecer na Terra, que deram condições para a existência de muitas outras coisas, inclusive nós, humanos. O que quero evidenciar é a dependência obrigatória que esses elementos todos têm entre si: um pertence ao outro e só poderia existir se o elemento que lhe possibilitou origem existisse primeiro, dando, assim, condição para que alguma coisa surja e, a partir disso, o elemento que propiciou a criação passa a ser uma condicionante para o criado.

Porém, a simples condição de existir, de qualquer coisa que seja, define também como aquilo pode existir, e tudo o que aquilo pode ser naquelas condições, que podem mudar acabar com o aquilo ou transformá-lo em algum outro aquilo. E nós, humanos, pudemos surgir dessa mesma maneira, era-se alguma outra coisa e agora, por transformações do condicionante, tornamo-nos humanos, seres que julgam escolher suas metas, modificar a ordem das coisas, imprimir valor naquilo que faz e naquilo que optou ser. Mas é tudo bobagem! Desde que nascemos já somos reféns das condicionantes, que vão me mostrar e participar de todos os nossos caminhos. Todas as nossas escolhas são fruto de pensamentos de um ser que só foi possível existir graças às condicionantes, que determinam todos os fatos que vão ser de nosso alcance o controle de seu desenrolar. O mundo condiciona as decisões que tomamos quando é ele que define que fatos nós vamos passar por desde o momento em que nascemos. E só temos a noção de que poderíamos nascer ou ser em outras situações quando nos é possível ver que não escolhemos o que somos nem o que fazemos. Então, imaginamos situações hipotéticas de acontecimentos e, às vezes, as tentamos botar em prática e, se as botarmos, será uma ilusão de que fazemos o que queremos. Teremos feito o que as condicionantes nos fizeram pensar em fazer, pois pensamos através de experiências.

Ao vermos nossa não escolha perante nós, percebemos inconscientemente o nosso não-valor, e o não-valor de tudo, e passamos a imprimir valores naquilo que participamos. O homem é impressão de valor.