segunda-feira, 28 de agosto de 2017

bzzzzzzzz
eu queria ser feliz
mas não sou
ser famoso
mas não sou
ter dinheiro
mas não tenho

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

amor camuflado

eu não sei se quero sair sozinho,
ou ficar amigo dos outros.
amigos, amigos, negócios à parte,
ou não.

no mundo perfeito,
não se dará um perdido,
o toco (de louco),
pros outros na luta.
nem haverá os perdidos,
os loucos,
precisando dos poucos (dos outros),
de ajuda.

pena não termos chegado lá ainda...
pena não termos chegado lá ainda...

uns ainda somam, e outros ainda subtraem:
pesado, em nós, um pecante horror;
pelo outro, então, um maligno amor:
um amor engraçado,
um horror camuflado,
que nos ensinam a multiplicar,
pra não dividir,

porque é isso aí...
porque é isso aí...

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

a força do impulso vital

O desejo de perpetuação do próprio gen individual de cada ser humano (impulso vital) não é dotado de todo o domínio da verdade. Ela esconde-se atrás de um illusio que determina por onde o gen deve atacar. Se o legado e a vida após a morte representavam o illusio do gen de antes da modernidade, a própria força do gen, pela lógica do erro e do acerto, ampliou a acumulação do conhecimento conforme a sociedade foi crescendo de tamanho e atualizou a noção contemporânea de verdade: o aumento de uma comunidade impulsiona a capacidade que a humanidade tem de percepção da realidade, e a verdade se torna progressivamente mais clara, quanto maiores são as bibliotecas; para que mais gens se perpetuem, a ciência se desenvolve mais, chegando o conhecimento humano a um ponto em que o ateísmo e o medo da morte encerram a vida além-mundo, a ideia de legado e até a importância instintiva da transgeracionalidade genética. Nasce o desejo instintivo pela imortalidade na Terra, e ocorre o desenvolvimento do conflito entre duas razões básicas, que inauguram o mundo pós-deus: a razão para a imortalidade terrena e a razão para a vida única. O instinto humano de preservação da vida, observando-se a sociedade como um todo, se percebe mais facilmente - e com força dominante -, tendo a expectativa média de vida apenas se alongado com o progresso técnico e científico. Essa parece ser a tendência da humanidade em seu conjunto, perseguir a razão instintiva, da imortalidade. Mas os artistas decadentistas, por outro lado, talvez dos poucos que experimentaram a razão da vida única, mostram a latência dessa razão, cada vez mais percebida no drama "microscópico" da vida cotidiana, e que parece ser mais racional, sabendo-se da improbabilidade de se alcançar a imortalidade no prazo de uma vida atual. Esse me parece ser o embate ideológico estruturante desde que a humanidade passou pelos séculos das luzes e das dores: filisteísmo, longevidade e imortalidade de um lado e decadentismo, hedonismo e tragédia da vida de outro.

sábado, 12 de agosto de 2017

imortalismo e materialismo histórico: a questão do poder simbólico

Como terá a humanidade chegado a tal ponto que os indivíduos pensam em si, em se enaltecer e em buscar o máximo de vida? A humanidade sempre funcionou sob esse mesmo princípio individualista, que era antes apenas velado por variáveis não atéias. Na atualidade, ele se manifesta baixo o clamor pelo gozo e pela imortalidade, como direitos universais. Para que ele chegasse até esse ponto, existiu um desenvolvimento demográfico que precisou ser ponto em prática, a fim de que o trabalho social produzisse mais, para que o desenvolvimento das sabedorias humanas pudesse ser expandido, e a consciência se aperfeiçoasse. E essa expansão demográfica ocorre por meio de um fenômeno auto-induzido pelo tipo humano, latente desde suas estruturas individuais, que é uma economia natural pelo auto-enaltecimento, ou economia instintiva. Resta, então explicar como esse fenômeno, digamos, teleológico, para ser direto, dispara a partir da dita estrutura individual que possui a sua latência.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

história econômica da imortalidade

O impulso vital me parece ser o grande motivador das existências dos homens, uma vez que aqueles que protegem as vidas de cada indivíduo são alçados a posições de liderança. Mas também é o impulso vital que coloca esses mesmos líderes em tal posição de superioridade. A razão disso é que provavelmente o impulso reprodutivo, "a força do gen", fala mais alto, resultando em que o mais forte ceda a vida aos outros, em troca do seu prestígio de homem bom, insígnia que garantirá aos seus herdeiros o prolongamento de sua linhagem. Dito de outra maneira, os organismos vivos, de uma maneira geral, se esforçam por estabelecerem-se na terra o máximo de tempo possível,  a dita força biológica refletindo no desejo pela vida e pela reprodução, anteriores, que convencem os humanos mais fracos a aceitarem a dominação, e os mais fortes a cederem parte de sua força. O que acontece é que a pulsão incontrolável pela existência - e pela imortalidade, que se desdobra na criação de legados - é uma regra geral, que perpassa desde os escravos aos senhores, dos plebeus aos nobres, dos proletários aos burgueses -- dos maus aos bons artistas... Como é importante para o senhor ceder aos seus súditos cada vez mais vida, para que ele se enobreça mais e perpetue seu legado, também é irremediável que, conforme cresça a plebe e os subalternos, também se estenda a eles o desejo pela imortalidade, pela continuidade de seu legado. Conforme a plebe aumenta, aumenta o contingente de demandantes por perpetuação de sua linhagem, ampliando-se, assim, o quanto de si os líderes terão que dar ao povo -- o desenvolvimento desse processo de expansão da demanda de prolongamento da linhagem só se torna possível se a produção material for capaz de dar conta de abastecer mais pessoas. Essa dinâmica política chegaria a um nível tal em dados momentos históricos que a necessidade de revoluções social-produtivas impor-se-ia, de modo a atender o impulso vital que busca expandir-se. Maior o legado de alguém quanto maior for a capacidade material e objetiva da sociedade que suplanta o prolongamento do seu gen. O ganho que o século da modernidade garantiu ao pensamento teológico -- ou ateológico --, como desenvolvimento dos esforços tecnológicos alimentícios e militares, foi a ciência e o niilismo metafísico. O Romantismo, exacerbação máxima do indivíduo e da vida íntima, tem como forte característica o abandono da noção de transcedentalidade, e até de transgeracionalidade! Não é por acaso que historicamente ele se localize como a espuma das Revoluções Industriais, surfando no crescimento vegetativo europeu... A partir do Romantismo, o impulso instintivo humano de perpetuação do seu tipo, que cada indivíduo comporta, foi intelectualizado; e então se percebeu o quão irracional poderia ser a busca pelo legado ou pela vida após a morte. E como o instinto não se pode controlar, o desejo do gen encontrou na ciência uma muleta -- e procurou na sua exponencialidade de geração de conhecimento a solução para o seu impulso instintivo: o homem, pela ciência, pela medicina, amplia sua capacidade de conservar e enaltecer a vida. Inconscientemente, ele continua procurando a vida eterna: agora a sua, individual, corporal, uma vez atingido determinado patamar de desenvolvimento das forças produtivas. Talvez não seja demais dizer que a luta pela imortalidade nas três dimensões configura-se o sinal atual do que seria o telos que o impulso vital impõe à vida, que se expressava mais simplesmente no passado na disputa material e econômica dos povos ao longo dos séculos pela perpetuação do seu legado étnico-cultural. O fenômeno do Romantismo corrobora esta ideia pela seguinte razão: uma vez eliminadas, ao menos em abstrato, as ideias de nobreza e legado -- assim como eliminados os entraves produtivos à acumulação e à abundância econômica -- o homem dá-se conta da sua individualidade, da sua morte e da tragédia que ela representa em vida, já que não se admite mais a ideia de que um legado ou de que uma vida após a morte possa perpetuar a existência, agora desencantada, habitando um organismo vivo individual, um corpo, e não mais uma entidade transcendental ou transgeracional. Nasce, então, o Realismo. A noção da corporidade da alma, e de sua finitude,  jamais abandonou o pensamento ocidental com a força do ateísmo desde as Revoluções Liberais e Industriais, talvez infelizmente -- mas ela fez um filho interessante, e um neto da maior importância: do Realismo, forma de arte anuncia a sociedade que já assume corporidade da alma com a dureza da consciência plena de um fato, nasceu o Futurismo (filho), que deu a luz à Revolução Bolchevique (neto), inspirada pelo cientificismo absoluto, apoiada por interessantíssimos futuristas russos, pais do Programa Espacial Soviético, amantes do Imortalismo moderno materialista, como Nikolai Fiodorov, alimentadores das esperanças -- econômicas -- da humanidade .