quarta-feira, 29 de abril de 2009

cuspe de evidências

Passa o cartão e vai embora o que é seu.
Os seus sonhos e o preço,
que aumentam.
O que você tem restringe o que você pode.
Destino Manifesto? Só se forem as super-estruturas,
só por causa delas... É bem complicado,
convenhamos,
realizar-se. Realizar-se?
Se tornar real.
Você, ou seja,
os seus sonhos, tornados reais.
Você, então, no seu estado de agora,
não-realizado,
é um espectro.
Tornar-se real para os sonhos encaixarem
- como um realizar-se meio "se toca", "realiza!" -
ou o sonho do ilimitado,
o sonho quântico?
Você passou o cartão e deixou lá, para eles
- seja lá quem for -,
uma parte desse seu espectro,
desse seu campo de possibilidade
(i)limitado,
porque agora você se sustenta em menos,
you have less to afford what you want since you wasted.
Mas o mês tem fim, e o salário vem de novo,
endividado dos seus sonhos que você não pôde bancar
no mês passado,
assolado pela inevitável, por mais que ínfima, inflação
dos veículos para torná-los reais.
Progressivamente pior:
o tempo inflaciona tudo. Os recursos são escassos.
É tudo mais
caro, mais
difícil
e triste.

terça-feira, 28 de abril de 2009

campo semântico:

natural,
árcade,
romântico

natural,
realidade,
verdadeiro

natural,
animal,
ciência

natural,
rousseau,
igual

natural,
homem,
moral

condição macaca e suas origens genealógicas

Por mais que se tente, por mais que qualquer modernismo trabalhe para superar qualquer resquício árcade - e talvez passadista - da mentalidade humana, eu digo que é possível que isso nunca venha de fato a acontecer. A cidade é uma consequência do campo. Em muitos aspectos, e o primeiro que vem à mente é o histórico, que é o mais óbvio. Mas há também uma questão econômica e, de certa forma, sócio-política - que assunto econômico que não se pode chafurdar seu aspecto sócio-político e vice-versa? A cidade surgiu com o desenvolvimento de uma classe comerciante, banqueira, artesã: todas dependentes de recursos. O comerciante depende de mercadoria, o banco depende do fluxo econômico para poder dar crédito, logo depende de que hajam recursos, e o artesão depende de matéria-prima para produzir. Todos precisam de seus recursos, todos precisam de ativos, de onde retirarão lucro: todos os ativos têm sua origem na natureza, pois os recursos naturais possibilitam o desenvolvimente de qualquer coisa que se pode oferecer para troca: os homens dependem da natureza, dos recursos que ela oferece, para que se possam utilizá-los, transformá-los, revendê-los, lucrar com eles, conseguir garantir-se. A cidade, como um banco se monta nos recursos dos seus clientes para criar mais recursos, se garante graças à natureza, ao rural, aos recursos que ela oferece - e aí os manufaturamos pós-fordistamente.. O pensamento modernista, urbanóide, de que a vida pode muito bem não ser pautada em uma moralidade rural, ou desprendida da ordem de determinadas leis naturais, me parece incoerente, e até inocente, em dois aspectos. Primeiramente, em razão da causalidade, de que somos fruto dessa realidade, e qualquer caminho que tomemos terá como causa a natureza, o mundo rural - assim como somos consequência dos gregos e do cristianismo, e tal e coisa. Segundo, porque a lógica da cidade ainda se baseia - e não vejo como não se basear - na condição dos recursos, mesmo que não enxerguemos isso muito bem dos nossos apartamentos, nem na televisão, não há nada no mundo que não venha da natureza, mesmo que indiretamente - ou terceirizadamente. O homem, portanto, em sua condição de ser pertencente e dependente da natureza, tanto para respirar quanto para dirigir um carro, sempre será de algum modo relacionado a algo natural, árcade, como o romantismo mesmo valoriza a seu modo a natureza, como o movimento hippie valorizou o paganismo, como os iluministas evocam direitos naturais, como os existencialistas problematizam a condição viver. Talvez tudo isso se deva ao fato de sermos animais, hominídios, primatas, e essa condição nos depara e nos encastela no único modo possível de viver: operar com o mundo, relacionar-se com ele, porque tudo, tudo tem origem na natureza - inclusive o nosso shape.

Indo além: eu diria que as aspirações árcades que emergem da conscientização, ou da sensação de conscientização, têm muito a ver com uma questão de mentalidade filosófica. As origens genealógicas das coisas são destrinchadas pelo pensamento científico, de busca das causas últimos, dos princípios. As origens de todas as coisas estão, teoricamente, na natureza e em seus recursos. A mentalidade histórica é um reflexo dessa condição moral científica, e a consciência dos fatos inevitavelmente estaria relacionado ao descobrimento de suas origens. O próprio pensamento marxista, que busca negar a alienação, investe na história e na ciência como instrumentos de conscientização, de aprimoramento do homem. E os valores marxistas estão arraigados de valores defendidos pela moral medieval, rural, de igualdade e de pertencimento a tudo - o homem consciente é aquele quer percebe a interdependência de todos os fatos, de todas as coisas, e assim se apercebe igual, proletários do mundo inteiro, uni-vos, através do pensamento científico e da análise histórica. Portanto, poderia-se dizer que essa condicionante da aspiração árcade tem como fundamento - de acordo com meu pensamento científico de chafurdar as causas - a moral e a mentalidade que o ocidente acumulou, e quais fatores foram valorizados. A Condição Macaca, portanto, por mais verdadeira que seja em seus métodos científicos darwinistas, é uma construção da evolução do pensamento científico-filosófico. E é verdadeira pela ótica de que tornamos publicamente concensual essa lógica de mundo, causal. Difícil, ou talvez impossível, é se libertar desse acúmulo e conseguir enxergar mentira no que já parece construído, pois a forma de pensamento que critica e busca as causas mais últimas, ainda está cristalizada nessa lógica científica, passadista, causal. A cidade, como consequência da ruralidade, não se desvincula da base do mundo, a natureza, assim como a dialética e a genealogia, ambas de causa e efeito, não se desassemelham. O Romantismo ilustra bem essa realidade, como um reflexo. O passado, a natureza ao fundo, os valores rurais de nobreza, os romances históricos: a moral dos povos descrita como consequência dos fatores naturais e históricos. A ethos de uma nação, a sua natureza, como reflexo de um apercebimento histórico, ambiental e natural - onde se localizavam as nações, quais as suas condicionantes naturais e inexoráveis; e o destino histórico pelo qual determinada nação seguiu - no que se pautaram os nazismos, os fascismos e os ultra-nacionalismos. (Destino Manifesto, Espaço Vital)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

vontade de amar

as privações
da verdade, pública
da imperativa mentira verdadeira
e toda a sua categoria
concensual
porque é assim que é a vida
uma vez nascido - e seus gens já definidos
você ainda vive sob uma condição
humana
de seu tempo-e-espaço
seja em qual tempo for
em qual era for
aonde for
haverá uma conjuntura
haverá modos e métodos
o possível, o impossível e o desejado

eu criei um refúgio
ou simplesmente um procedimento
para me manter existindo:
vivo
exercitando
o desejo
pelo
indesejável,
quero
a beleza
do que não é mundo
como uma desculpa
como um discurso
de quem nunca vai fazer suas vontades
nem amar de verdade

domingo, 26 de abril de 2009

pós-onirismo-platônico ou epíteto quântico

vontade
emana
vontade
que emana
mais vontade
e então
sem possibilidades
ou com muitas delas
esvazia-se
(de)forma-se:
vontade
que emana vontade
representa
o mundo
um vir-a-ser
uma analogia
com a potência
da vontade
que (des)figura
o mundo
um mar
(de portas)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Fim de Tarde

o fim de tarde
é assim
é uma ânsia análoga à ânsia
é momento final do dia
é quando se vê evidente a noite
mas ainda há sol
mas ainda é dia
mas é sol que se põe
tarde que finda
o fim de tarde é melancólico
porque prevê
a noite
a dificuldade
ainda sob luz do dia
é muito mais do que noite
é o final do dia
uma despedida
é um período de percepção
sobre o por vir
mais aguçada
intuitiva
para precaver-se
pois o dia, e tudo, acaba
e é essa a hora
de se recolher

terça-feira, 14 de abril de 2009

Conhece-te a ti, conhece-te no mundo

A Lua
amiga
inspira a caçar
porque é noite

O Sol
senhorio
faz desejar
porque é dia

Quem acompanha
Quem ilumina cheia
Quem some nova
Quem pode ou não estar lá
A lança que ela dá
e tira
na fase que está

Há também quem está sempre
que dá luz sempre
que não some nunca
e sem ele nada
pois é dele tudo
e o querem
e o temem sumir

Acontece que
da caverna
o medo é tanto
é sempre tão cedo
ou tão tarde
que morro de fome
e de tádio.
Por não olhar pra trás.
Não há Sol
nem Lua,
só claro
e escuro
esboço
e loucura:
sombras
ou breu
tudo
ou nada -
por não olhar pra trás

niilismo edipiano

Quando solto o lápis,
fecho o caderno
e concluo,
sinto um sussudio
que,
dito o que dito,
ansioso, aflito,
falta ainda um pingo
uma gota
um resquício

é goteira que enche
é vontade que rói
pego o lápis e a mente
cavo vida que dói
pra dizer, de repente,
a verdade entre nós.

É triste se ver aturdido
por um livre-arbítrio
que existe.
Eu não calo,
insisto em urrar
o último toque
que é todo o requinte
por que beira de mais perto
o não saber me expressar

escreve o que você sente
escreve o que te constrói
que te corrompe
Ilustra-te em inverdade impura
em momento quase inteiro
e te vê meio que feito
te vê não mais que vazio
e não te pergunta mais se és
ou o que és
mas como tem sido ser,
como sente que é o que és
como formou-te e és então
quem se aflige
és então o que tu mesmo fazes
o que tu mesmo gritas -
e também quem te trai.
A partir de dado momento,
foste tu o guia
rédia curta
- quer humor de vida -
mas aflito por intelecção
pernas inquietas:
a dúvida
se é isso mesmo
ou se nada faz mais sentido
eu repito
nada faz mais sentido

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Diálogos

- são pessoas que o Wright Mills, um sociólogo marxista,
chama de "homens comuns",
sem imaginação sociológica
ou o que o Ortega y Gasset chama de
pessoas que falam de vazio
falam em vazio
tipo
não procuram pensar o cheio
não têm atitude filosófica
ou melhor
não procuram pensar que cheio é vazio
e portanto falam um monte de vazios
achando que tão falando cheio
- entendi...
os frascos delas são muito pequenos
muito rasos
- é
gente burra

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Tempo, o Mundo, os Homens e o Conhecimento

Se pudermos aplicar as formas que se acredita do universo ao modo como as mudanças materiais se dão ao longo do que se convencionou de 'tempo', poderia dizer que, ao mesmo tempo que é uma espiral progressiva, expansiva, é também um caminho em direção ao ápice, e do ápice ao retorno de tudo, em espiral regressiva. Seria como se se dissesse que o tempo pendula entre dois extremos, o começo e o fim ou o fim e o começo. Expansão e retração. Como se tudo sempre acontecesse uma vez e se repetisse ao contrário. A noção de decadência ou de progresso, eu diria, se obteve a partir do referencial - e de uma determinada fé. Vamos dizer que a nossa época está na direção do começo ao fim: se um sujeito hipotético acredita que no fim está o bom, dirá-se que ele é progressista, se outro sujeito hipotético acredita que o bom está no começo, ele será decadentista. São apenas dois pontos que o universo percorre, e, como não se pode saber ao certo o que era melhor, o início ou o fim, posto que não se viveu o início dos tempos nem se viverá o fim, não pelo menos nenhum dos que especularam sobre a decadência ou o progresso do tempo, não é possível dizer que alguma das duas vertentes tenha produzido a verdade essencial sobre o tema. A discussão se configurou como uma questão de fé em um determinado ponto extremo desse intervalo, que tem lá seus motivos: a forma como a modificação da matéria se impõe inexoravelmente. A expansão progressiva do universo, de acordo com o que fui ensinado, ocorre como decorrência da energia liberada pelo Big Bang, modelo semelhante ao da reação de fissão nuclear: a divisão consecutiva e subsequente de um determinado corpo em mais corpos, como acúmulos que se sucedem. Poderia ser dito que, entre os que concebem o tempo linearmente, os decadentes, como Tomás de Aquino, assim como a religião católica, vê a sobreposição inevitável desses acúmulos como algo negativo. Por uma razão que não posso deixar de tentar extrapolar do que tenho de conhecimento sobre a ideia do cristianismo: quanto mais coisas em profusão no universo, ou no mundo, mais difícil será para o ser humano, também aumentando em contingente populacional*, decodificar, desvendar, manipular, utilizar o mundo, o que torna tudo o que não é passível de percepção humana um imenso desconhecido, amedrontador, inalcançável e, portanto, prejudicial, e frustrante em seu processo cognitivo da realidade. O homem deve, pois, aceitar a grandiosidade divina, que continuará produzindo acúmulos e servir a deus e esperar a salvação, o apocalipse, onde, extrapolo, a quantidade de matéria acumulada será tamanha que o mundo não se sustentará. Em contraposição a essa ideia cristã, surgiu com o cientificismo moderno a ideia do progresso do tempo. Também me pareceu muito simples a sua lógica temporal: a linearidade e a acumulação material, combinadas a uma produção científica intensa, seriam pratos cheios para os homens crescerem e se superarem cada vez mais, invertendo a tradição cristã decadente e criando uma nova tradição cultural, que mantém traços até hoje, de perpetuação e progressão da ciência, sempre visando o bem futuro das gerações futuras. Mas, como força da inevitável acumulação material, ao longo do tempo - até o ponto em que se sucederá o retrocesso do Big Bang, se essa teoria estiver certa - as duas conecpções temporais se tornaram acúmulos humanos, presentes na mentalidade e na cultura do ocidente; assim como todas as coisas da natureza, que são uma coisa e dão origem a outra, ou permitem que várias outras se acumulem tendo como base a coisa anterior. Portanto, conforme o tempo passa e as coisas se acumulam, se acumulam também como material para o conhecimento humano, principalmente na nossa cultura, que persiste em registrar tudo, justamente para originar forçosamente novos acúmulos - na cultura católica, que não tinha fé na benefício de saber das mudanças e das formas do mundo, a possibilidade de acumular novas humanidades era quase nula, o que não gerava um cumulativismo informacional: no mundo cristão, o homem é sujeito às mazelas do cumulativismo material. O que foi possível perceber de verdade com essa nova visão linear progressista de mundo, dos modernos, foi a incapacidade humana de desmistificar toda a realidade, o que era até um projeto da mentalidade moderna - inclusive suas concepções temporais. A mentalidade moderna, com suas descobertas científicas, trouxeram sim benefícios para a humanidade, mas nada que fosse capaz de transcer-nos como deuses super-cientes. A modernidade trouxe o avanço técnico, lógico, racional, nos fazendo perceber não o mundo todo, mas justamente os limites humanos e, em decorrência deles, as formas de realização e de auto-preservação. A visão cientificista não nos trouxe a possibilidade de libertação, mas uma capacidade de operar o mundo dentro dos nossos limites, justamente o que o cristianismo não conseguiu vislumbrar, por associar, da mesma forma que os modernos, a atitude filosófica invariavelmente à atitude científica. O que percebo da contemporaneidade é a desvinculação da ciência newtoniana para fins filosóficos, de desvendamento da verdade e das formas do mundo; a ciência newtoniana nos serve de respaldo técnico para a busca do bem-estar e a filosofia que deve se encarregar de discutir sobre a verdade, as formas do mundo e o sentido da vida.

(*) Thomas Malthus
acumular como acumula o acúmulo
e nós que nos sucedamos a tal ordem
porque providos ou não de limites
o mundo ainda assim vai mudar
todas as suas formas de mundo

as formas do mundo

a natureza humana
e a falta de liberdade da vida
e a possibilidade de que tudo isso esteja errado.
acertivas nunca mais serão as mesmas
a realidade não permite que elas sejam
porque dizer, dizem,
mas viver o áureo aqui e agora
desestruturar tudo aqui e agora
são na verdade desejar a expressão da viabilidade infinita
do homem
mas homem, que é macaco,
talvez não cresça nem diminua nem se realize
o que se sabe mais ou menos é que somos assim
que a vida tem fim
que o mesmo é dito
e que liberdade é uma palavra que nunca deveria ter existido
porque crescem os rumores de que ela nunca nos viu

quarta-feira, 1 de abril de 2009

minha antinação

liberdade pra todos
balela, desdita
porque a vida
é muito mais forte
que o certo;
a vida é
muito mais próxima do silêncio,
e o viver como se vive
pode sempre ser reinventado:
e é isso que nos fizemos crer,
não há nada, na vida, além da vida,
e é por isso que nós cremos em Deus
e só,
mesmo que muitos se digam ateus.
E pra minha vida
eu digo que esses são dos meus,
quem vive mais
do que as invenções possíveis;
vive uma espera
em que tudo é provável
e não se busca chegar a lugar nenhum
nós, calados céticos,
somos o branco que pode tudo
podemos ser base
pra tudo o que é cor
nós o somos o mais anterior
e antes de nós vem Deus