segunda-feira, 28 de setembro de 2009

perceber que tudo na Terra pode mudar em teoria
mas que tudo anda mais ou menos na mesma linha de sempre:

olha pro céu e vê como tudo é tão absurdo
vê o tamanho de tudo
e o tamanho da palavra dos homens
avalia bem

porque aí vai importar somente que os homens têm
e não têm tudo
olham pro céu e só
acumulam
e fazem sua guerra da escassez
guerra de gritos e vontades de homens, um nadinha perante o Universo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Deus
Homens
Sujeito
Indivíduos

Crise
Tudo
nada
Crise
tudo
nada
crise
tudo
Nada
...
...
...

Primeiro existia o divino e não havia crise, pois não havia nada que não fosse de sua vontade. Até que a palavra de Deus desceu aos homens: e eles eram a expressão dos deuses, fizessem o que fizessem, comprovassem o que comprovassem, mandassem como mandassem, mas eram eles, os homens, eram eles que sabiam das leis do mundo, das leis dos homens. Então mais e mais e mais homens soltaram o verbo, os seus verbos e verbos e verbos: e não havia mais Deus enquanto substância, não havia mais leis enquanto essência, não havia não se sentir à vontade para exigir ao querer - ninguém mais pedia. Aí tudo começou a soar mentiroso, porque, afinal de contas, querer, todos querem - e não querem perder -, querem voar o alto dos seus sonhos! Mas se há sociedade, há escassez, escassez, escassez, escassez... como é escassa a possibilidade de viabilizar os sonhos, como é escassa a materialização de vontades; mas quantos não são os sonhos, as vontades, os verbos, as verdades a serem ditas! Ah, essas são muitas... Essa nossa vontade tão grande, que se via possível, potente perante o poder conquistado dos homens de deus pelos homens; esse nosso prêmio de guerra pela morte de Deus precisou ser repartido - mas o Tudo é escasso e atraente, precioso, e acaba retornando a alguns. Sim, eu sei, você sabe, todos deveriam ter tanto nada quanto tudo em suas vidas e assim ficariam todos iguais, justiçados, serenos, quietos, neutros, racionais e em paz. O tudo escasso, o tudo escasso, escasso, tão escasso que não tem graça espalhá-lo igualmente entre os homens: alguns indivíduos famigerados, como qualquer um, pegaram o tudo e reservaram-no a seu acesso restrito; e o nada se espalhou pela maioria dos homens, o nada tornou-se a verdade, porque agora, entre os homens, que se sabem homens e potentes, a verdade é a verdade da maioria dos homens, assim a democracia faz pensar. Agora, porque o negócio é cá embaixo, entre os homens, tudo ficou tão menor e tão superficial, que o que há de mais profundo e total é ter. Os que têm, os poucos que têm, têm tudo, pequeno em essência, superficial em sentido, em letra minúscula, mas é tudo. O nada, em letra maiúscula porque verdade da maioria, mas em fonte pequena, se apoderou dos indivíduos que, diante de tanta mentira dita e desdita, nem lhe dão mais tanta importância assim: tanto o tudo e o nada são pequenos e superficiais, porque agora só dizem respeito aos homens... Talvez os maiores malefícios do apercebimento filosófico do poder dos homens sejam a pequenez a que tudo se reduziu e a vileidade e a baixeza das suas ações e vontades - os homens só querem ter, e é isso aí. Porque tudo ainda é deles, e eu e todos o queremos, simples tudo. Mas não, não é mais tempo MESMO de retornar a deus para nos aquietarmos, e temo que isso seja impossível para o que nós já somos... e agora, josé?!

domingo, 20 de setembro de 2009

por que você sorri pra mim?

Paro tudo por pensar em você.
E até me engano achando que devo escrever sobre ti,
pois estará para sempre, para o resto da minha vida,
você, escrito nos meus versos.
Digo isso porque sei que vou guardar os versos.
Digo isso porque sei que guardo todos os versos que escrevo.
Paro, paro tudo mesmo por pensar em você!

Vejo a sua imagem, andando, ereto, altivo, pé ante pé
e eu não te toco, porque você anda sem sair do lugar
e só a sua imagem andando parada...
Você, você, você é o meu principal martírio,
você é o meu fundamental desejo,
você é a minha maior vontade!

Mas eu não te tenho!
E é por isso que me engano ao escrever meus pensamentos sobre você.
Porque eu não tenho, tudo indica que não terei, por isso, aquilo e aquilo outro:
construtos, sim, mas sólidos, por mais que não para sempre, como prédios, que tendem a cair com o tempo, mas não caem enquanto houver quem mantenha, quem apare as fissuras.
Deixar tudo isso escrito... conforme cada letra se forma nesse papel, eu penso que você estará nelas para sempre, e nem amadurecimento, nem análise, nem nenhum bem vai fazer se apagar essa sensação em mim
porque eu escrevi você!
porque eu nunca vou ter você!
Nunca, nunca, nunca!

Construto sólido até então
Você vive nesse construto e vai morrer nele,
isso é um indivíduo: algumas estruturas não mudam nem com a mais paradoxal ciência!
Eu também vou morrer no meu construto, que não atrai você.
Mas eu me atraio pelo seu!

Eu preso aqui no meu olhando a janela do seu e você me sorri porque não te há motivo pra não sorrir porque tentar sair do meu construto pela janela em direção à sua é suicídio.
Eu fico olhando o seu construto da janela sem conseguir sair.
Essa é a sina do meu construto.
Escrever sobre você da janlea e sobre a minha sina com você,
isso é o meu construto, isso é a minha sina,
é aqui que eu posso morar.
Não escolhi ser eu, nem ser esse eu na vida cotidiana, muito menos quando sei que sou construto.

Você é lindo, você é lá e eu aqui.
Mas como eu penso estar errado!
Mas como eu quero estar errado!
Cada sujeito, um predicado
que pode perfeitamente estar enganado.
Eu posso ter me enganado sobre a verdade
eu posso ter me iludido quanto à sua verdade.
Mas há o medo da janela do meu construto,
eu vejo você fazendo suas coisas sem nem se importar nem perceber que eu vejo você.
Eu não me jogo da janela para alcançar a sua, mesmo imaginando que pudesse voar.
Descarto, assim como te imagino me dizendo: "quero que descartes essa possibilidade, essa de me alcançar, pois não dá no meu construto, não quero."

E eu procurei descartar, depois do seu discurso que imaginei, depois do discurso seu que imaginei, depois dessa verdade que eu consegui imaginar, você me dizendo docemente que não, cheio de direitos, eu constrangido, resoluto, fechando as cortinas da janela e me escondendo agora toda vez que quisesse te ver.
Não é preciso testar, pois testar seria me jogar e provar, sim, mas morrer muito provavelmente.
Nunca vivi a morte, mas tenho medo!
Nunca fui a você, mas como quero!
Aí escrevo, escrevo, com medo, eu quero, não posso, ou talvez seja cedo muito cedo para afirmar qualquer coisa.
Eu vejo você, andando, em minha direção, mas, sendo imaginação, parado, mesmo que realmente isso fosse impossível, você nunca chegando em mim. Andando, porque você anda; parado, porque nunca chega.

Eu? Parado e olhando e te eternizando em verso...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

quero viver seu grande amor

algo vinha se desenvolvendo em mim sem nenhum foco
sem nenhum, nenhum mesmo, eu sofria, sofria, sofria
ardia
sem saber direito por que
sem saber discernir os motivos, nem as vontades
e eu andava como se fosse vendado
espalhando incerteza, desconfiança, desânimo
não visava descobrir, porque me era mais seguro ficar, muito embora tedioso...

agora
é diferente.
o processo todo, do antes ao agora, não é lá tão poético.
alguns anos na terapia, alguns porres, tédios
e o normal da vida, um processo ocorrendo,
cujo único método de observar é
antes, depois
motivos e consequências
e o meio é como se fossem vários antes e depois, motivos e consequências,
o meio é dividido em antes e depois menores, como secções, partes do todo,
antes e depois, motivos e consequencias são os seus limites, o seu contorno

mas isso não era poético
porque o que importa é que agora é diferente
o meu sofrimento, terrível
não é mais espraiado, expandido, irresoluto
é porque agora você é meu foco maior
você, eu não canso de repetir, você é a minha maior vontade
e suspirar agora na vida ainda é difícil, sim, porque a vida ainda é difícil
mas eu não me perco mais, em possibilidades mil de soluções,
sem esperanças por não vislumbrar como alcançar o pleno.
o que acontece é que você passou a ser o objetivo da minha vida,
eu encontrei um objetivo, um por-onde-escapar
e eu só preciso que você queira também...
eu penso, eu penso, eu penso
eu penso que é muito simples, porque é só você querer também
e não vejo motivos pra não crer que minha imaginação seja possível,
plausível!
porque a distância física é tão pequena, que eu vejo que o que nos separa
é a mesma distância que me separa de alguém no ônibus (queiram me compreender)
o que você faz comigo é sem saber, eu sei, como se você estivesse no seu direito,
e eu sei que está
e eu não posso ir além, porque não - por que não?!

aí,
não sendo como devia talvez ser
não podendo ser
de jeito nenhum
levantar da mesa do bar e retornar pra casa é o mínimo que se poderia fazer
porque amanhã tenho que acordar cedo, porque eu estou cansado,
porque eu não pretendia ficar muito mesmo, eu falo tudo isso pra todos
porque eu pretendia ver como seria com você hoje
e depois ia ver no que ia dar
se nada, como o previsto (previsível...) desde sempre, eu iria me recolher, levemente casmurro, disfarçando
não que eu tivesse que ir embora, poderia ficar casmurro ali mesmo, na mesa do bar
mas a pressão foi tanta, não sei nem que pressão era essa direito,
mas veio

uma frustração das maiores
pior, muito pior do que nos tempos de antes,
muito, muito pior
você, o meu deus, meu destino, o meu bem, a minha paz
(com você eu seria um nada feliz)
você, não que por maldade, não por nada, não sei
mas você não me quer, mesmo
e isso é triste demais
pra mim;
pra você não, não sei nem se você sabe, porque é tão velado
e você, meu tudo, não quer nada comigo
eu sofro, talvez mais um tanto que antes
porque eu sei que meu objetivo é inalcansável
e isso me parece ser o verbo da minha vida

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

objetivo

As nossas mãos dadas
entrelaçadas
nossos dedos se perpassam
Ah, nossas mãos dadas...
Que são levantadas!
em seguida abaixadas
pelo nosso lascivo movimento involuntário.
Até que se soltam!
e você me pega um pouco acima da nuca,
dedilha, tateia, ara meu cabelo curto
eu te olho nos olhos e logo me deixo levar por um sorriso:
eu pestanejo e levanto o rosto
você encosta em mim
e eu sou aqui...

você é a minha maior vontade!

domingo, 13 de setembro de 2009

contornar o contorno

Eu
às vezes
acho que sou
não.
Vejo
a essência da
minha vida
em negar,
em propor
qualquer questão.
Mas então
me lembro
que me esqueço
que assim
só posso ser sim,
já que que venho dizer:
falo não, crio questão -
logo
defendo essa afirmação!
E aí vou
e volto
do sim
do não
mudo de idéia sempre
pra poder
contestar
toda e qualquer opinião,
tanto a do
sim
como a do
não.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Família, ê!

Algumas coisas mudam o rumo das coisas. Um fato hoje me fez refletir sobre coisas que eu não vinha refletindo. Agora eu reflito sobre o poder econômico que rege as relações familiares na sociedade moderna, capitalista, burguesa, contemporânea, chame como quiser. A intuição que lateja incessantemente é exatamente essa, de que há um poder econômico que determina a perpetuação das relações familiares, pois se não houvesse, qualquer momento que se quisesse ir embora, iria-se, independentemente de qualquer dependência da família que a vida moderna lhe impusesse. Porque família é praticamente quem pode ter poder indiscriminado sobre você, pois a qualquer momento você pode perder a sua vida na família, se eles, os seus pais bem o quiserem (ainda mais se você não tiver mais avós). Porque, para eles, basta dizerem que vão lhe cortar a mesada que nada você pode fazer, a não ser tentar se virar pra tentar arrumar um dinheiro, se você já tiver idade para tal. O poder da família termina onde o seu consegue se impor. E o poder da família é econômico e ideológico, o que é praticamente o mesmo que dizer só econômico. No seio da família jaz o filho com medo de não conseguir suportar as exigências da sociedade capitalista, e se emaranha na família enquanto pode e enquanto aprende o que é necessário para viver tão bem como os pais. Mas essa necessidade de ser remunerado as well as parents are at least é o mais repugnante fetichismo. Pois o homem livre, dessa nossa sociedade modena, desde que maior de 18 anos, pode vender a sua força de trabalho tal qual qualquer outra pessoa, e suas necessidades materiais mínimas são as mesmas de qualquer ser humano, vestimenta, comida, água, o normal... Basta surgir um momento de crise para que as ilusões que se mantinham sobre as relações políticas do capitalismo se desmanchem no ar, e assim se possa ver toda a hipocrisia e todo o conservadorismo de uma sociedade que cultua a propriedade privada. Família, suck my dick!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

a dificuldade se abateu sobre mim. não consigo mais ler todos os textos da faculdade, e parece que eu não entendo mais o que eles querem dizer, e eu quero desistir logo de tudo e tentar uma vida como uma pessoa burra que acha que sabe de tudo e vive dando algumas acertivas sempre erradas, porém com a convicção de um discurso de um esquizofrênico. mas aí, quando eu penso no que eu quero ser, no que eu quero saber, no que eu quero poder conversar, eu me frustro tanto de perceber agora que eu não gosto do esforço que eu achei que fosse gostar, eu me arrependo tanto de ter sonhado esta noite que eu mesmo me convencia de que eu não gostava tanto assim de ler que nem um filho da puta...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

então vem cagar comigo!

Finalmente sinto que não dá mais para engolir. Se tudo o que comemos deve ser digerido e cagado em algum momento, eu digo que agora estou satisfeito e faço a digestão, espero cagar, é somente o que falta para completar esse ciclo. De tudo aquilo do mundo que comia e comia e comia, desesperadamente, procurando satisfação, agora sobraram algumas coisas mordidas, alguns farelos e muitas coisas pela metade, o que pode ser visto como um desperdício, mas era o que eu quis comer até o momento em que me empanzinei. É preciso agora que eu cague tudo o que eu consumi do mundo nesse ciclo da minha vida, mas nesse momento ainda estou na digestão. Eu diria que agora foi o momento de pico do hormônio que traz saciedade: empurrei o prato pra frente e levantei, com uma cara de desgosto pra comida e com olhos agora pra qualquer tipo de coisa que me ajude a digestão, como uma boa diversão, uma tv, um carinho, um baseadão. Tenho a sensação de que parar de comer é o vislumbre da cagada, e por isso é de certa forma sublime, porque já se está satisfeito, já não há mais por que comer e tudo o que se segue agora é uma espera pela cagada, pela certeza da liberdade, aproveitando o máximo que puder, esse tempo de espera, desde que não atrapalhe a digestão. A única coisa que não pode ser é a cagada vir somente com a morte, muito embora eu não acredite muito nessa libertação para além da vida, sou moderno o suficiente para saber que cagar faz parte da vida assim como a morte, ou seja, para saber que as duas coisas vão acontecer independentemente uma da outra, por mais que simbolicamente recorrentemente sejam aproximadas, o que é um total engano. O negócio é que a cagada é especialmente mais importante e feliz para a vida. É com a cagada que você consegue deixar para o mundo aquilo que você criou com aquilo que ele te deu pra consumir: a cagada é arte, a cagada é a realização na cultura, a cagada é fazer a sua parte; diferentemente da morte, que é fim, a cagada é expressão da vida, que se mostra operante. Esse momento em que estou agora, de digestão, é, portanto, um dos momentos mais animadores e extasiantes. É o momento em que já não há mais aquela angústia do comer sem saber quando vai acabar a fome, é momento em que há, sim, todo o regozijo do fim do trabalho e do início do fim de semana, que se encaminha para o domingo, o momento maior do mundo, o dia do descanso, homenageado com uma grande cagada; é o que nós, homens, somos capazes de fazer, de criar pra seja lá o que for que se chame de deus - essa instância abstrata e possivelmente inexistente que tudo vê. Veja, então, deus, o meu cocô, aquilo que eu faço com o mundo, aquilo que é o clímax, o gozo, a arte, o belo, o ponto final de um ciclo, o objetivo maior de tudo, uma bela cagada, um domingo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

uma canção

marchar e marchar
contra o vento
porque o tempo
já não é mais de quem quer ficar

sofrer e viver
ao relento
sem intento
já não dá mais pra quem quer brindar

se o mundo em si
não fosse tão descabido
não tinha o porque do alarido
eu cantava o que fosse cantar!

mesmo que eu não
tenha lá bem um abrigo
vou buscar um sorriso
e um por quê pra rimar!
O homem infeliz não consegue dizer a justificativa para ser infeliz. O homem infeliz é infeliz. Suas palavras sempre tenderão ao absurdo, e o sentido delas sempre será o do homem infeliz, que será lido como infelicidade, e nunca como justificativa. Temos aqui um problema. Ou estão todos tão massificados que não conseguem abstrair um conceito, o que talvez seja uma generalização meio recalcada, ou o homem infeliz é louco - ou somente infeliz.