domingo, 28 de outubro de 2007

Escrever, véi

Acho que estou pegando raiva de escrever, como se pega, muitas vezes, raiva de algum vício incontrolável realmente. escrever agora se tornou algo que faço nos mesmos momentos em que faria qualquer outra coisa que me viciasse; ficou tão corriqueiro como assistir à TV, fumar um cigarro, abrir a porta da geladeira, beber, reflexivamente, um copo d'água, ou até mesmo acompanhando uma cervejinha, ou até mesmo um uisquinho - por que não? -, ou um baseadinho - naqueles dias cansativos, que so se pensa em relaxar - podendo, muitas vezes, substituir os que só citei escrever como acompanhamento. Escrever, acho que posso assim dizer, acabou por ser minha alienação. A maior delas! Escrevo mais do que vejo TV, mais do que leio, mais do que estudo, mais do que fodo; Estou trocando um cinema por ficar em casa escreverndo! - e fumando. A escrita está acabando com a minha vida, tem me tirado o sono: fico pensando nas frases iniciais dos textos, que ficam latejando na minha cabeça, compulsivamente, até que eu escreva. Antes eu conseguia dormir, não pensava a todo momento em coisas escrevíveis, não tinha tópicos frasais latejando em minha mente a todo momento, inclusive antes de cair no sono. Agora? Ih, agora tudo tem seu lado "na ponta do lápis". Antes eu era feliz, não sentia vontade de escrever que sinto: conseguia ficar sem nada para fazer fazendo alguma coisa qualquer, ou não. Agora só escrevo. Nada para se fazer? Nunca, escrever. Mas o que faria eu nessas horas em que não se faz nada? Pelo menos eu faço alguma coisa. E pelo menos é escrever, registro coisas para outras gerações! É inclusive muito valorizado no mercado de trabalho! - típica linha de raciocínio de quem descobre o vício e racionaliza meios para mantê-lo, no meu caso, é minha racionalização da resposta química à minha vontade de parar de escrever.

Passado/Presente

É incrível como o passado evoca e traduz sentimentos que, da brasa, com um simples reavivar da memória, transformam-se em fogo, capaz de destruir muitas conexões e deixar muitas tristezas presentes.

sábado, 27 de outubro de 2007

O Outro Lado

Deixava, sempre que podia, o tempo passar, sozinho, sem que fizesse nada, só observasse, como se aquilo fosse tudo o que podia fazer e fazendo aquilo como se fosse o melhor de todos os apenas observadores que existiam na terra dos observadores. E via detalhes, profundezas, tomava parte de mais coisas do que aqueles que agiam dentro da realidade. Aqueles que agem só agem, só vivem, só sentem, nao compreendem, nao entendem, nao sabem de nada, sao apenas sensíveis. Coitados, pensava, nao queria ser de jeito nenhum como um daqueles, apreciava muito o fato de ser um ser imparcial, e nao entendia como que pudesse haver humanos que gostassem tanto de apenas sentir. Muito menos entendia os seres que eram imparciais que queriam desesperadamente sentir. E isso era só naquele momento, em que deixava o tempo passar, sozinho, sem controlar nada, só naquele momento era possível parar e ser e estar e existir, não sentir.

Meu Tempo

Algo que não consigo compreender é como é possível haver pessoas que encontram realmente alguma doutrina – como uma crença, uma religião, uma ideologia política ou filosófica previamente apresentada por algum outro sujeito – que esteja exatamente no shape dos conceitos e juízos, a posteriori e a priori, que ela tenha desenvolvido ao longo de sua vida. A individualidade, preceito básico da nossa sociedade antropocêntrica, liberal e capitalista, nunca é respeitada de maneira decente quando se determinam hábitos, concepções, posturas, interpretações. Onde não há contemporaneidade – fator nunca respeitado pelas doutrinas, visto que se baseiam em pontos de vista já estabelecidos em tempos passados, não passam de tradições – não é possível que haja a completa aceitação do indivíduo por algo extremamente superficial e objetivo. A nossa era carece de respeito individual, de aprofundamento nas questões do sujeito e de preocupação única e exclusiva com o presente, sem apegos ao passado nem idealizações do futuro.

Agir - Reagir

Mais uma vez, vem o tédio me forçar a agir. É estranho, porque não ajo por ter o que fazer, é justamente o contrário: por não ter o que fazer, vem uma agonia, uma raiva, um negócio que parece que sobe quente e desce frio, que me faz andar de um lado para o outro, tomar banho, fumar, dormir mais um pouco, ligar a televisão, beber dois copos imensos d'água e depois, voltar à frente do computador, onde já tinha tentado solucionar o problema do tédio antes, para tentar ver se alguma coisa de novo havia acontecido no mundo cibernético. Porra nenhuma, diga-se de passagem. Aí, como quem não quer nada, acabei tendo que fazer com que alguma coisa, por mais banal que seja, por mais que não interfira na vida de ninguém, nem na Ordem Mundial, nem nas órbitas dos planetas, nem mesmo no meu movimento peristáltico, para ver alguma coisa mudar. Mudei, escrevi, acrescentei alguma coisa a algo, mesmo que pouquíssimos vejam, mas mudei de fato alguma coisa. Acho que era disso que precisava, não precisava mudar o mundo, precisava apenas agir de alguma forma, mesmo que agir me remeta a alguma grande ação. Dessa vez, como na maioria delas, foi apenas uma pequena, pequenina, diminuta, imperceptível, contudo atenuadora, ação.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Santo Sapo

E lá estava o sapo, na mata atrás aqui de casa, não sei se mais uma vez ou se era a primeira vez que circulava por essas bandas, pulando pela pedra, parecia fugir do sol. Olhando mais ao redor, não era mais possível ver o sapo, era possível ver toda a mata, verde, sobre a pedra cortada para a construção de alguma coisa (no caso o Corte do Cantagalo e o prédio aonde vivo), mas que se mantinha aqui, viva, com um sapinho inclusive, recebia sol, que iluminava as plantas, devia ceder calor para o sapo, que pulava, não mais sob minha vista, à procura de nada, talvez de um alimento, talvez apenas fugindo do sol, certamente sendo apenas sapo.

Mantendo o mesmo pano de fundo, a mata aqui atrás, com o sapo e as plantinhas e o sol e a pedra e etc, imaginei, que da janela do escritório, eu poderia filmar um documentário para o Discovery Channel. Foi só esse pensamento surgir que, junto com ele, surgiu uma borboleta, bonitinha, que voava de um lado pro outro. Não era preciso ir muito longe para buscar os encantos da natureza, sua beleza, nem mesmo suas leis mais obrigatórias. Parece mentira, mas o sapo, que já não estava mais ao alcance da minha vista, ressurgiu (tenho certeza de que era o mesmo) e trucidou a borboleta branquinha. Esperto esse sapo, já estava à espreita, observando o andar da carruagem, esperando o momento certo da borboleta surgir para atacá-la. Mas, ao ver o sapo pela primeira vez, não vi a borboleta. Vi apenas o sapo indo para a sombra. Embora tenha sido tão empolgado ao discursar sobre a previsibilidade do sapo, acho que é praticamente impossível que ele tenha calculado o ataque. Não estou tirando o mérito de grande caçador do sapo, de modo algum, acho inclusive que ele tem um mérito muito maior. O que deve ter acontecido, embora nunca possa saber ao certo (a velha e odiosa máxima mais uma vez presente aqui conosco), é que o sapo deve ter aproveitado o momento que a borboleta passou e deu o bote. Talvez por uma razão instintiva, o sapo já soubesse o melhor lugar para se posicionar caso aparecesse alguma presa possível ou alguém possível predador.

E esses instintos, tão presentes no mundo animal, não possivelmente controlariam todas, irrestritamente, as espécies animais? Se dizem que o homem não age instintivamente, eu tenho que me forçar um pouco para não rir. O que procurava o sapo ao entocar-se à sombra, num lugar seguro e propício para o seu ganha-pão? Procurava a sobrevivência. Talvez estivesse ele entediado, parado lá embaixo de uma folha, esperando, sempre esperando, como se nunca fosse morrer. E nós, ilustríssimos humanos, o que fazemos ao entocarmo-nos em nossas casas? Qual casa preferimos, aquela que nos proporcionará mais seguridade a nossas vidas, mais conforto, mais limpeza, mais cara, o que mostraria a nossa segurança para nós mesmos e para os nossos semelhantes, que olharão e verão a grandeza, a riqueza, a segurança, tanto para ele quanto para seus descendentes; a casa que é mais perto do trabalho, a nossa forma de caça. O que é que queremos, ao juntarmos dinheiro, ao pagarmos o melhor plano de saúde, a melhor escola para os filhos, a melhor roupa? Não estaríamos lutando pelas mesmas coisas, apenas mais profundamente, que o nosso amiguinho sapo que come a borboleta? Não estaríamos fugindo da dor física, que nos remete a morte por termos ciência dela e do processo pelo qual ela pode vir a se sobrepor a nós? Não estaríamos, ao demonstrar segurança, querendo a manutenção de nossos pares de acasalamento, suscitando no par, assim, a possível certeza de que os descendentes estariam seguros, não seria uma busca pela manutenção da espécie? Mas que macacada boa somos nós.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Um Chopp

Das coisas mais engraçadas que acontecem na vida cotidiana, o tédio após a execução de todas as aflições computadoreanas - recados no orkut, checar o e-mail, procurar comentários no blog - é a mais contemporânea de todas. Depois de todas as execuções, surge uma vontade estranha de fazer algo, mas tudo o que havia para ser feito já foi feito. Esse tédio era, normalmente, sobreposto por um ret pós-trabalho. Sem esse ret, o tédio, depois de muito tempo no calabouço que os entorpecentes o prendiam, emergiu essa tarde. E, para solucionar o problema do tédio foragido, que espalha medo por todos os lugares onde passa, tal monstro que é, precisei encontrar o tédio, ou melhor, identificá-lo na multidão de sensações (demônios sempre se disfarçam de castos), por aí e enjaulá-lo novamente, pelo menos por enquanto, até transportá-lo para o calabouço dos entorpecentes, que está passando por uma reforma depois da fuga. E essa foi a jaula que utilizei, tudo bem que meio improvisada, mas até então está dando pro gasto. Acho que Schopenhauer estava certo ao dizer que o homem está preso a um pêndulo que vai da dor ao tédio, a única coisa que eu acrescentaria era o ponto mais baixo, da euforia, momentânea, que seja, mas algo um pouco semelhante à felicidade, que, eu sei, dura pouco, pouquíssimo tempo, mas sua intensidade compensa toda uma vida.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sweet Death

Quem morre parece estar mesmo em outro plano, não é mais o mesmo ou não pertence mais à espécie a qual pertencemos. Tratamo-lo como o morto, assim como os outros mortos; um morto. Ao fazermos homenagens, não hesitamos ao homenagearmos dois dos mortos de semana passada ao mesmo tempo. E assim como nos referimos a pessoas de origem semelhante como sendo as mesmas, como se aquelas características as definissem como tais para mim, faço o mesmo com os mortos, separo-os no mesmo departamento e classifico-os como os outros mortos. Não mais é necessário que haja um determinante para ele, ele está morto, e seu determinante é esse.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Vôo com destino a...

Agora me peguei pensando nas minhas possíveis concepções de mundo. Sendo um policial do Bope, por exemplo, poderia dar mais ou menos valor à vida, conceberia minhas concepções com experiências bem mais amargas e alertas. Poderia tornar-me um cientista, também, quem sabe! A visão objetiva, matemática, metódica, com certeza me concederia uma forma mais racional de compreender tudo, a contemplação seria meu trabalho, seria de lá meu âmbito social, seria através da contemplação, de tudo, de todos, que formaria minha essência. Muito possivelmente me excluiria, me ausentaria, me analisaria mais que tudo, Quem sabe, se fosse eu algum profissional técnico, não me tornaria mecânico, rotineiro e, ao mesmo tempo, “problematista” – criaria e solucionaria problemas de todo modo e de todos os modos. Mas o mundo técnico se divide: há o técnico da matéria e o técnico humano. Sendo material, resolveria tudo aquilo que não dissesse respeito a relações humanas, a sentimentos, a sensações. Se fosse o humano, resolveria tudo o que não fosse objetivo, que não fosse exposto a interpretações subjetivas e válidas ao mesmo tempo. E se falo de divisões, lembro que a carreira científica, vanguardista, acadêmica e contemplativa também se divide nas mesmas duas: ciências humana e exata. Porém, quanto a essa divisão, não vejo grandes diferenças, que pudessem mudar a forma cientifica de ver o mundo. Pelo contrário, a ciência – no sentido de analisadora – nos leva, seja humana ou exata, material, a crer que somos um grande e complexo e inacreditavelmente existente nada. Ou quase nada. De forma a ver comportamentos e incoerências de mentalidade ao longo dos séculos, as relações ao longo do tempo e na atualidade, assim como coerências também, de forma a ver obrigatoriedades físicas, químicas. Generalizamos, tornamos tudo o mesmo. Forçamos o tudo dentro de uma caixa apertada. Em contrapartida, se sou técnico, tanto do homem quanto do meio, sinto-me capaz, auto-confiante, entendo que guio minha vida. Também, pudera, se, no quase nada que possivelmente se é, podemos mudar quase tudo aquilo que nos define, para nos definir melhor, é óbvio que um pouquinho dessa prepotência iria se esguiar por cima de mim.

Mas que maldade que foi feita conosco. Nunca seremos tudo, nem nunca poderemos saber. Às vezes penso que foi mesmo uma bruxa, ou a abstração dela, que nos amaldiçoou, humanos, ou à nossa abstração.

E, como não podia faltar, sobrou a ocupação que se abstrai, e não busca fixar nem se sentir sendo. É como um malandro que surrupia as penalizações que sofre pelos seus surrupios, inclusive pelos surrupios das penalizações. Aquela que ri do que vê. Aquela que ri do que é. Esta é a alma do artista.

Amiiiga

Acho que a entorpecência é a minha melhor amiga. Me abraça, me conforta, me lembra que não sou só mágoa, me cega da ciência exacerbada que julgo ter da vida. Me apaga o valor e o juízo que faço de tudo; só me proporciona sorrisos, não só meus, como dos outros à minha volta. Acho que já estou com saudades de ti, querida entorpecência, vulga loucura, que por tantos conscientemente negada e por muitos inconscientemente suplicada a presença.

Querida amiga,
estou com saudades de você, mas você não me procura, acho que você não me ama! Tenho que te procurar, te caçar por muitos lugares, e muitas vezes você vêm suja, machucada e, ainda por cima, ingrata. Mas, para nós dois, o meu amor só já basta, deixa que te busco para ficar aqui comigo, só nós dois.

Que coisa, olha pra mim, conversando com minhas ânsias, com meu inconsciente, com minha química forçosa e progressivamente desregulada, conversando com quem não pensa, mas incrivelmente me completa, sem eu precisar completá-la. Acho que já preciso me encontrar com você.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

nada a ver com o blog, mas tranquilo

30º C ou mais
- Baianos vão a praia, dançam, cantam e comem acarajé.
- Cariocas vão a praia e jogam futevolei.
- Mineiros comem um "queijin" na sombra.
- Todos os paulistas vão para Praia Grande e enfrentam 2 horas de fila nas padarias e supermercados da região.
- Gaúchos esgotam os estoques de protetor solar e isotônicos da cidade.

25ºC
- Baianos não deixam os filhos sairem ao vento após as 17 horas.
- Cariocas vão à praia mas não entram na água.
- Mineiros comem um feijão tropeiro.
- Paulistas fazem churrasco nas suas casas do litoral, poucos ainda entram na água.
- Gaúchos reclamam do calor e não fazem esforço devido esgotamento físico.

20ºC
- Baianos mudam os chuveiros para a posição "Inverno" e ligam o ar quente das casas e veículos.
- Cariocas vestem um moletom.
- Mineiros bebem pinga perto do fogão a lenha.
- Paulistas decidem deixar o litoral, começa o trânsito de volta para casa.
- Gaúchos tomam sol no parque.

15ºC
- Baianos tremem incontrolavelm ente de frio.
- Cariocas se reúnem para comer fondue de queijo.
- Mineiros continuam bebendo pinga perto do fogão a lenha.
- Paulistas ainda estão presos nos congestionamen tos na volta do litoral.
- Gaúchos dirigem com os vidros abaixados.

10ºC
- Decretado estado de calamidade na Bahia.
- Cariocas usam sobretudo, cuecas de lã, luvas e toucas.
- Mineiros continuam bebendo pinga e colocam mais lenha no fogão.
- Paulistas vão a pizzarias e shopping centers com a família.
- Gaúchos botam uma camisa de manga comprida.

5ºC
- Bahia entra no armagedon.
- César Maia lança a candidatura do Rio para as olimpíadas de inverno.
- Mineiros continuam bebendo pinga e quentão ao lado do fogão a lenha.
- Paulistas lotam hospitais e clínicas devido doenças causadas pela inversão térmica.
- Gaúchos fecham as janelas de casa.

0ºC
- Não existe mais vida na Bahia. Nem animal, nem vegetal, nem mineral.
- No Rio, César Maia veste 7 casacos e lança o "Ixxnoubórdi in Rio".
- Mineiros entram em coma alcoólico ao lado do fogão a lenha.
- Paulistas não saem de casa e dão altos índices de audiência a Gilberto Barros, Gugu Liberato, Luciana Gimenes e Silvio Santos.
- Gaúchos aproveitam o friozinho gostoso para dar a bunda.

Só condições

Não acredito no acaso, nem no destino. Acredito na interdependência existente entre os fatos. A credito na causalidade. Acredito que, quando dadas as devidas circunstâncias, o acontecimento que ocorrer só poderá ser aquele, devido às circunstâncias do momento, das experiências de vida de todos, que determinarão a forma como se reage a todos os acontecimentos. Somos sempre condicionados.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Para mim

Para mim, mais estranho que pensar que penso é pensar que penso em uma língua. Não sei quanto a todos, mas quanto a mim, sei que penso num idioma. Quando estou pensando, penso em todas as palavras escritas, como que idéias borbulhando em minha mente formando imagens das palavras que elas representam. Como chamadas de televisão, que piscam uma palavra de cada vez. Na verdade, mais parece um efeito de animação do Power Point. Enfim, o importante é que penso nas palavras de um idioma, com as letras e os sentidos daquele idioma.

Por que a experiência me permite assimilar primeiramente o que penso com a palavra, e depois, não sei REALMENTE por que, pensar somente nas palavras, como se as palavras estivessem preenchidas do sentimento, ou melhor, como se elas realmente fossem o que representam e eu apenas me apoderasse delas para ser capaz de sentir o que representam? Quando penso por elas, ou seja, sempre, sinto-me fraco, inábil a pensar por mim próprio, já me sinto incapaz de pensar sem que me utilize delas para o fazer. Elas, as palavras, com o passar dos anos, tão cheia, tão independente, tão objetiva, tão lógica, tão coordenada pelas suas semânticas e sintaxes perfeitas! E eu, tão subjetivo, tão incoerente, tão racional, tão subordinado, tão imprevisível. O pior é que é mesmo, tão grandiosa é a linguagem, tão mais velha que eu, tão conseqüente e irracional, que é mesmo muito superior a mim. Eu mesmo nunca conseguiria pensar tão profundamente se não fosse a linguagem. E se me dizem, mas foi o homem que criou a linguagem, eu lhe digo, meu caro, foram todos os homens, de muitos e muitos anos, construindo aos poucos uma tão grande coisa, não fui eu quem a criou, ou nenhum dos humanos, ela que pediu para ser criada, ela que apenas nos subjugou a fazê-la.

Mas e o idioma, por que ele definiu-se, por que tornou-se um diferente em cada parte do mundo, sentem as pessoas de lugares diferentes coisas diferentes? Será o meio o responsável pelo surgimento da linguagem e, por ser diferente em cada parte do mundo, justifica o surgimento de diferentes linguagens? Ainda mais, será a linguagem, na verdade, o mundo?

E o pior de tudo – ou o melhor! Sim, com certeza o melhor! – é que continuo aqui a escrever porque penso através da linguagem e preciso tirá-la de mim, deixá-la pra fora, pra parar um pouco de pensar naquilo e ver aquilo em outro lugar, me fazendo sentir que já não estão mais em mim, já que não as vejo em minha mente. Mas, por mais que eu tente muito, quando parar de escrever aqui, continuarei escrevendo em minha mente, pensando em forma de escrita e essas coisas, han, ninguém será capaz de ler, nem uminha vez, nem eu poderei ler de novo.

Fim de Tarde na Cachoeira

É o "Fim de Tarde na Cachoeira", que agradável e bonito isso pode ser. O sol se pondo, o verde, a conversa descontraída ao som do dedilhar de um violão, a água ali, pronta para beber, e ainda aquela sensação de que aquilo era o que realmente se buscava. É a tarde e é a cachoeira.
Até que vieram os mosquitos, o calor, o cansaço da andada pelas pedras, o trambolho do violão, nao há mais água que dê vontade de beber, a conversa é nervosa. E o pior, gente passando, e mais gente passando e passando pela minha mente o que pensam de sobre mim. E não é a primeira impressão a que fica? A primeira impressão que passei foi péssima. Suado, sujo, cheio de mosquitos, com o violão na mão, cansado, sem conseguir andar pelas pedras. Aí está o Fim de toda tarde na cachoeira.
É o fim que nos lembra que não só observamos, somos observados. Quem alguma vez na vida não parou para pensar sobre si como quem se vê por uma esfera exterior? Daí vêm todas as coisas que sentimos. Começamos a ver o que sentimos, e não simplesmente sentí-lo. Somos capazes de ver e compreender o que somos. E assim, o Fim da Tarde parece estar indo pelo Fim. O que a Cachoeira garantiria de bem-estar, o Fim da Tarde tirou, veio para mostrar nossas mazelas, tudo aquilo que pregamos, pensamos sem consciência plena; vemos como realmente somos. Vem a incompreensão.
Porém, antes de pensar sobre mim, no meu fim de tarde, estava bom o meu fim de tarde na cachoeira. Mas percebi, ao vir a tona a consciência - noção de si como indivíduo para os outros - minhas incongruências e incoerências. E como numa busca sem fim, tento encontrar um meio de mudança.
Mas nao quero mudar, quero uma saída. E a saída que vi foi compreender. Ao buscar mudar, compreendi que compreender é só o que posso. E no fluxo progressivo, sem saber o real por quê, entendi que lamentar o meu Fim de Tarde só me permitia não sentir.
Sem a consciência, sentíamos. Com a consciência, pudemos observar por 3a pessoa. E como surgiu a consciência? Através da comunicação reportando a morte. A morte nos permitiu ver o não ser. E a consciência nso permitiu ver que éramos, que estávamos. Nos permitiu ver o que sentimos. E se vemos o que sentimos, podemos negá-lo, ver a falsidade em tudo, ver a impossibilidade em tudo. Ou então, podemos sentir pela segunda vez. Sem consciência, sentir era apenas tátil. Com a consciência sentir passou a ser interpretado, racionalizado, analisado, posto como físico. Assim, compreendemos que só se sente, mais nada além disso e, sendo isso tudo o que nos é posto, podemos tornar isso verdadeiro.
Entre o pântano
e o agreste
lá está o mato.

Refratando

Quando olho aquela luz que refrata no vidro e me permite crer as formas nao sendo como sao, me sinto alegre por concluir que nem tudo o que se percebe é o que é; e quão belo pode ser o refratar; quão bela é a verdade malhada.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pontos de Vista

Há duas coisas muito curiosas no que diz respeito aos pontos de vista. Uma delas é que possuímos e expressamos muitos pontos de vista, impressão da múltipla vivência de experiências, que proporcionam a nossa assimilação de pontos de vista. Escutamos daqui, lemos de lá, vemos acolá, e absorvemos as impressões que nos são dadas das coisas, impressões de lógicas externas ao sujeito, totalmente coesas e coerentes. O grande problema é o fato de, em nosso cérebro, constarem todas essas coesas, lógicas e coerentes interpretações, que na verdade são mecanismos que a externalidade nos apresenta. Dessa forma, compreende-se a incoerência nas ações, nas expressões de opiniões, travestidas de ações coerentes, de acordo com tal ponto de vista. Essa maldita coerência que nos prende ao incoerente. Não formamos uma única e simples opinião, formamos muitas opiniões e sentimos e vivemos muitas opiniões, externalizamo-nas, mesmo que não percebamos. A outra curiosa coisa é o fato de adquirirmos, dentro de todas as opiniões divergentes que temos sobre tudo, alguma opinião que pareça mais com "o meu ponto de vista". Tentativa falha e pobre de afirmar-se como indivíduo. Queremos, por demonstração de posse, por tentativa de valorização própria, por meios de atrair a atenção do bando, ser alguém individualmente particular, precioso, valorizado, incomum, sozinho e louvado. A nossa razão, que mais me parece um mecanismo para a formação de uma impressão de individualidade, de uma sensação de subjetividade, encaminha, através da busca pela lógica objetiva do todo, a impressão, a partir de muitas idéias uma única idéia, que deva seguir uma coerência e algum tipo de comprovação material. Mas quem condiciona a comprovação material ou a qualidade da coerência compreendida? A razão – que abstração que és tu! – apenas nos dá a impressão de sermos capazes de elucidarmos opiniões nossas, e não apenas dados de observações. A razão parece organizar, da forma que a nossa busca pela vida e pela certeza de manutenção dela até o seu último fio – ou quem sabe apenas por uma fuga física da dor ou de baixas hormonais sensíveis – condicionou quais mecanismos seriam mais úteis para que não se perca a vida – ou para que não se sinta dor ou desconforto ou náusea ou níveis hormonais baixos. E assim, como uma adaptação evolutiva à preservação de uma espécie, a razão estipula que veículos ela utilizará para manter-se no poder do bando, com os melhores argumentos, ou melhor, melhor elucidação de experiências observadas, arrumadas de forma lógica, dando assim o valor a si que garantiria a saciedade da nossa busca por pontos de vista individuais, que demonstram quase que bruscamente a valorização (por que não) instintiva da vida. E como o que temos são sensações de vida, os “nossos” pontos de vista são na verdade sensações de certeza, de individualidade, de permanência terrena, de dominação das impressões que se tem, o que seria a dominação das experiências, ou seja, do seu próprio mundo, que é na verdade uma ilusão de propriedade, visto que nenhuma experiência que se entende como própria realmente a é, é apenas uma observação imparcial que tendemos a querer particularizar.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

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O que eu gosto é de falar de sonho, de desejos e almejos, possibilidades, críticas, dúvidas, não dos fatos: deles eu nem participo.

Este não tem título mesmo não

Hoje estou sentindo que a escrita veio sem muita coisa pra dizer. Veio mais para preencher um tempo que não estava ali para que fosse feita alguma coisa com ele. Mas para mim isso não deve existir. Fazer alguma coisa é como uma obrigação. E quase como outra obrigação, tenho que achar digno de ser feita a coisa que irá preencher o tempo de nada para fazer.

O grande problema é que, por vezes, não tenho encontrado muitas coisas dignas de serem feitas por mim, as quais eu possa fazer. Encontro muitas indignas. E também muitas dignas, mas que não estão ao meu alcance. E essas que não estão ao meu alcance são realmente maravilhosas e muito dignas de serem feitas por mim, só não são possíveis (talvez eu não seja digno de fazê-las, se é que isso é possível).

E por isso que acabo com muito tempo pra preencher com alguma coisa digna. Faço, até com certa freqüência, coisas dignas, mas, em geral, coisas dignas dão aquele cansaço-pós. As indignas, que são as que acabo fazendo tentando fingir para mim mesmo a sua dignidade, não proporcionam fadiga de modo algum, e sim ânsia. Ânsia de algo digno. E toda essa extrema necessidade eu tento suprir ao escrever, que é das poucas coisas que julgo capaz de executar e que entendo como alguma atividade digna.

Que droga, essa minha mania de achar que devo ou não achar algo digno de diversão ou de prazer ou de dignidade mesmo. Mais ainda, de achar que as coisas devem ser dignas da minha imersão em suas execuções. Fico procurando o que daquilo deve ser aproveitado, se a função a qual veio exercer está sendo exercida de meneira que eu entenda como bem exercida, ou que julgue digna de minha participação ou assistência.

É, percebi que o que quero mesmo é dizer o que acho das coisas. Pobre de mim, achando que vão se deixar levar pelas minhas interpretações. Pobre de mim, por achar que sou capaz de dizer qualquer coisa sobre qualquer coisa. Que droga essa idéia fixa de que, com o tempo, encontramos o valor das coisas ou que, com o tempo, as coisas fiquem importantes. Ficam nada. Nós é que queremos ser importantes. E não o somos. Somos efêmeros e achamos que iremos sentir saudades das coisas. Mas por sermos efêmeros, não seremos capazes de voltar à nossa efemeridade terrena. Achamos que somos eternamente presos aqui. O que vejo, é que não encontramos qual o nosso valor, então damos valor ao externo, para que possamos possuí-lo e sentir, finalmente, que valemos alguma coisa, mesmo que só para nós mesmos, ou para os outros, só por possuirmos algo que é digno de ser valorizado.

Sentimo-nos mais presos ao chão do que realmente somos. Sentimos como se aqui fosse nossa terra eterna. Esquecemos da efemeridade de nós mesmos e, com isso, a efemeridade de tudo o que observamos, vivenciamos e de todas as condições de existência.

Ode à indiferença e ao hedônico!

Se eu fosse ser...

Estou sendo, nao sou simplesmente. Nunca. E isso seria muito bom se não fosse uma obrigatoriedade, se pudesse deixar de estar sendo e passasse a ser, simplesmente ser. Mas que esse ser fosse bem semelhante ao estar sendo. Deveria ser um ser que conseguia entender e perceber o que é estar sendo. Um ser que pudesse estar sendo sem excluir o ser. Deveria me tornar o ser por ele todo, todas as suas conjugações: fui, era, sou, serei, estou sendo, estarei sendo, estive sendo, tinha sido, seria, teria sido, estive sendo, estava sendo, estaria sendo, todas as possibilidades eu seria capaz de supor e ao mesmo tempo seria o ser!
Iria gozar de todas as efemeridades e eternidades, coisas pouco duradouras, muito duradouras, contemplaria, com olhos de quem está sendo, o que é. Tudo faria mais sentido, incrivelmente. Seria realmente confortante, se eu fosse o ser e nao o estar sendo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Efemeridades da Vida

Hoje estou com vontade de escrever só por escrever. Escrever porque isso me faz tirar uma fissura de fazer alguma coisa que bate quando nao há nada pra fazer e se quer fazer algo muito grandioso. E é verdade, pra mim escrever é algo muito grandioso. Expresso muitas coisas que podem atingir sentimentos íntimos de pessoas quando eu escrevo universalmente o que sinto. Falo de maneira abstrata, de mneira genérica, praticamente filosófica, de todos os meus sentimentos e todos vão entender, não s meus sentimentos, mas os seus próprios sentimentos.
Então, paro de tentar pensar em algo tão maestral e soberano e apenas tento negar o que sinto, pensando sobre o que sinto de maneira nao sensitiva. Busco, ao escrever, demonstar pinceladamente os meus sentimentos, de maneira que eu leia e saiba o que sentia, e de maneira que leiam e sintam o que universalmente se sente.
Não me refiro à Náusea, ou à frustração, ou à qualquer sentimento mesquinho, infeliz e subordinado. Me refira às Náuseas. Mas às Náuseas produtivas. Àquelas que se entende o que se exprime e se permite transcrever, melhor do que interpretar, seus sentimentos, e como qualquer tipo de comunicação ou demonstração de idéias, mostra a todas as pessoas - ou pelo menos todas as que lerem o que exprimo, ou quem escrever algo com o mesmo ituito com que o que escrevo - seus sentimentos internos, e a capacidade que há de sen compreender. E não digo pertencer ou adequar-se inteiramente a tudo, mas entender-se mesmo. Ver que no nada que você é, ainda há alguma coisa. Mesmo que seja nada, mas é um nada que é capaz. Não sei de que, não sei por que, mas somos capzes infinitamente e irrestritamente, dentro do restrito, a sermos o que estamos sendo, e depois, muito depois, talvez nunca, não o seremos e finalmente o seremos, por não sabermos que seremos o tudo que queremos ser.
Sim, apenas o que queremos. Porque querer é momentâneo; querer está para ser, assim como gostar está para estar. E o que é realmente o que queremos? Queremos o que gostamos ou devemos querer querer o que gostamos e assim o gostar tornar-se querer. Porque o querer é a busca pela todo, pela verdade e, por que não, pela negação. Gostar é dar valor ao estar, ao fazer o que se pode em vida e depois querer quando não mais se está.
E mais uma vez, a conclusão a que se chega é que estar é muito melhor do que ser. Porque sermos não nos permite sentir, nem sentir que sentimos, nem pensar que sentimos, nem idealizar que sentimos, nem pensar, ou duvidar, ou negar, ou crer, ou almejar, ou desejar, a existência da eternidade e a nossa possibilidade - ou não - de alcançá-la. Estar é sentir, é perceber, é negar, é realmente crer, ou não, que somos alguma coisa realmente na verdade - realmente e na verdade mesmo!
E quase como uma coisa efêmera, creio que não sou nada realmente. E que não sendo nada, ou melhor, percebendo que não sou nada, talvez eu sinta alguma coisa verdadeira. Sendo eu mesmo, ou sendo qualquer pessoa que eu imagine ser, ou que às vezes finja ser, ou que pretenda ser, ou que, alguma vez, tenha realmente acreditado ser, posso ser negação de alguma coisa. E se há negação é porque há algo que se é possivel de negar-se.
Serei eu algum reflexo torto, ou imperfeito, ou relutante e duvidoso, de algo perfeito, que realmente é? Nunca terei a certeza absoluta, pois a única coisa que duvido é da própria dúvida, e se duvido do não, ou das infinitas possibilidades, como posso estar certo de que alguma possilidade negativa, duvidosa e incerta pode ser o que realmente é?
Enfim, isso aqui não tem fim, apenas pela finalidade de ter que por fim ao inacabável, imensurável, que como bichinhos desreipestosos, e curiosos, e impertinentes como nós, pseudo-humanos, verdadeiramente macacos, criamos para dar razão ao capricho de crermos que somos finitos, determinados e que podemos parar de ser. Pararemos apenas de estar. O que é uma pena!

Ser e Estar (parte II)

Gosto de escrever sobre as sensações mais eternas, aquelas que me definem como eu, que me fazem sentir-me como uma pessoa com certos tipos de sensações, que são minhas, eternamente minhas. As sensações momentâneas, aquelas que dizem respeito somente ao que sinto no momento, ou durante algum tempo, não são tão legais assim de se escrever. Gosto de escrever quem sou e não quem estou sendo. Gosto de escrever o que sinto e não o que estou sentindo. As palavras parecem soar e ter aparência mais harmônica quando falo de mim, das minhas impressões do mundo, das minhas não-efemeridades, e por quê não da minha personalidade. Escrever situações, sentimentos extremos, para mim, não passam de uma leitura hormonal – escreveria, assim, uma leitura dos meus hormônios e não uma descoberta do mundo e de mim. Gosto de escrever quem sou e não quem estou.

Ser e Estar (parte I)

O verbo ser não compreende por quês, pois ele é, ou seja, sempre foi, não está sujeito a nada, simplesmente é. Se queremos nos perguntar por quê, devemos voltarmo-nos ao estar, porque ele é momentâneo, teve alguma causa para estar daquela forma naquele momento. Ser não tem causa, não tem conseqüência, não se entende, não se pergunta, só se observa. Estar tem causa e conseqüência, se entende, se pergunta e se responde com observação, pois, a causa, podemos observar previamente.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Injustiça Racionalmente Irracional

Por que viver é melhor que sonhar? Digo, por que a possibilidade que o sonho nos dá de vivê-lo é melhor que a certeza de que aquilo é só uma possibilidade? Só pode ser porque o mundo não é sonho, e o sonho é o nosso espelho do mundo, mas o mundo é o espelho de todos os sonhos, que se confundem uns com os outros, entrelaçados como redes, e nos pescam e nos prendem, deixando-nos apenas respirar por um tempo, até que nos emergem, como peixes do mar, que, uma vez presos à rede, somente respiram e vivem até que, sem saber da vida e dos desejos e medos desses peixes, se foram felizes ou tristes, se buscam ainda alguma coisa, vêm os pescadores, sem nenhuma raiva ou má intenção, apenas por serem pescadores, retiram a rede e com ela os peixinhos também, que vêem a morte ainda com vida, até que a vida, por não ser morte, apaga, como alguém de overdose de alguma substância muito prazerosa. Os peixes cessam de respirar, de viver, ou seja, de sonhar.

mente ociosa, oficina da metefísica voluptuosa

Eu precisava mesmo era ter vivido o que sonhava. Mas não foi possível. Por isso, escrevi, camufladamente, filosoficamente, objeto-subjetivamente, para abafar minha vida, como quem bebe para afogar as mágoas, assiste a novela para não assistir a si, como quem sente seus sentimentos através de sentimentos escritos de outrem. Inautenticidade e fuga é a vida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Mesquinharia

Lembra quando descobrimos que a exploração do homem pelo homem era uma coisa ruim, pois gerava injustiça e violência e tudo mais? Então, criamos os direitos dos trabalhadores, férias, décimo terceiro, 40 horas semanais, etc, etc. O curioso é que mesmo assim continuamos achando injusta a exploração e queremos sempre mais direitos.

O homem é realmente um burrinho esforçado. Exploramos a natureza e de uns tempos pra cá descobrimos que ela estava xiando e que seria um absurdo não concedermos condições especiais para a exploração da natureza. É uma grande hipocrisia. Assim como é injusto explorar o homem, mesmo que dando sua ração mínima de vida, é injusto retirar da natureza tudo o que queremos para que sejamos livres. É como se fosse uma Consolidação das Leis Trabalhistas para a mamãe natureza. Somos mesmo uns filhinhos muito dos desnaturados.

Criticamos, outra vez, a exploração. E qual solução foi dada por nós mesmos? Continuar a exploração, o consumo, tudo aquilo que condenamos sempre, mas agora de faremos tudo de forma ética. Como um industrial explora o pobre, o industrial vai explorar a natureza, que agora tem os devidos direitos, que o industrial vai cumprir com raivinha e que nós vamos continuar consumindo com a consciência limpa como a de quem doa 1kg de alimento não-perecível no Natal Sem Fome.

A merda da mentalidade continua a mesma. Acho que ela sempre foi a mesma e quem não tem mentalidade, ou seja, o mundo, tem que arcar com as loucuras de quem tem. Não conseguimos nunca nos enxergarmos como parte do mundo: para nós, somos algo além dele.

Sempre soubemos da nossa reles insignificância. Mas somos seres orgulhosos, não aceitamos isso. Desenvolvemos então essa mentalidade escrota de atribuição de valor e nos julgamos mais espertos quando algo tem mais valor para uma pessoa do que para você, que vê um valor maior numa outra merdinha qualquer.

Não temos valor algum, não somos capazes de atribuir valor nenhum e chega dessa palhaçada e vamos viver hedonicamente. Beijos e abraços. Hahaha.

x > 0

Achar meu espaço: essa é a meta que estipulei para a minha vida. Não digo me adequar ao espaço que me é oferecido nem querer que haja um espaço perfeito para mim, mas digo continuar me construindo, de maneira que o próximo ponto desta reta seja o meu ponto. O problema é se esse intervalo entre dois pontos é realmente infinito, ou se vou conseguir escolher entre essa infinidade de possibilidades o caminho que vai me levar aonde me confortarei por ser.