O excepcionalismo brasileiro em relação aos seus vizinhos hispano-hablantes é vastamente contestado, por muitos sociólogos e mesmo por muitos intérpretes do Brasil. Além de criar uma falsa autoimagem para nós, de superioridade, ainda contribui para certa inflação das características nacionais e culturais sobre o ordenamento mesmo da sociedade. Esta visão perdeu muita força explicativa sobre os determinantes do caráter das sociedades, desde que se compreendeu a força exercida pelo capital na estruturação e na história de um país. Quando Oswald de Andrade e, mais tarde, Glauber Rocha apelidaram o Brasil de El Dorado não foi sem razão suficiente. A proposta de generalização ou de universalização da experiência colonial e decolonial latinoamericana segue uma orientação epistemológica que tem bases muito identificáveis na experiência do continente. El Dorado deu errado, tanto para Glauber quanto para Oswald. O Brasil e a América Latina são parte e todo, segundo essa perspectiva; e podemos esmiuçar essa estratégia metafórica para cunharmos um segundo pseudônimo para a nossa experiência colonial: o termo hacienda.
Para os pouco familiarizados com o termo, hacienda refere-se ao tipo de instituição econômica colonial imposta ao território colonizada pelos espanhóis. Apesar de não ser exatamente como os engenhos, as haciendas eram-lhe muito semelhantes, ainda que se procure distinguir o nosso hegelianismo tropical até bem recentemente. Em linhas gerais, as haciendas eram essas grandes fazendas criadas pelos colonizadores espanhóis para exploração dos recursos naturais da região, seguindo um modelo de dominação colonial que o capitalismo tratará de fazer-nos identificar com ele, se eu bem conseguir me fazer entender. As forças do capital tendem a hierarquizar as pessoas de maneira semelhante à que se fazia nas haciendas, piramidalizando as sociedades colonizadas, de forma que o seu topo siga um sentido, que é sempreo da entrega dos fluxos monetários para as economias desenvolvidas, ainda que ofereça, ainda, um requinte de crueldade no fato de a dominação ser terceirizada para as elites locais.
As haciendas, então, funcionavam da seguinte forma: