quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

houve uma denúncia

A cena da loucura é preocupante. Porque louco que é louco denuncia. Mas denuncia mitologicamente, como disse um louco que conheço. Com seus delírios de grandeza, nos confronta com a idéia de que nós temos que fazer alguma coisa, de que talvez não sejamos sóbrios, de que talvez sejamos uns apáticos pós-modernos de merda. Mas ele era o louco e todos sabiam e todos agiam como se ele realmente fosse e nós, os não loucos não éramos. Tratamos de encarar tudo o que dissesse como os maiores absurdos já ditos. Não entendíamos a mitologia do esquizofrênico. Mandamos ele descansar, arrumar os pensamentos que lhe fugiam e ele dormiu. O nosso estado de loucura era o de controlar nossos ímpetos: eu queria desbravar o mundo para ajudá-lo ou de repente até compreendê-lo em seu delírio e ir além em minha percepção. Ele não parava de dizer que estava tudo acontecendo, que nós tínhamos que perceber, que não era possível que não estivéssemos entendendo. Estávamos todos, mas o inconsciente coletivo inconscientemente se escondia e brilhava agora o senso de diferenciação pessoal - talvez por instinto. Ele estava ligado a outra coisa que não em si, ele estava ligado no que todos nós estamos vivendo, sofrendo, ruindo. Chamamos o seu responsável e ficou por isso mesmo, conselho de uma psiquiatra. O louco, por ser louco, que denunciou, eu só estou prestando o meu depoimento refletido.

2 comentários:

Isabella disse...

Será que não há loucos quietos? Silenciados dentro de si mesmos? Loucos que denunciam para eles, mas abafam os ruídos exteriores porque embora insanos sabem que a denúncia os torna transparentes em sua insensatez...

Adicionei o matagaense na listinha de blogs do meu blog. :)

Bernardo disse...

eu não sei se sou louco,
loucura ja se tornou uma auto- propaganda, ja se tornou sinônimo de diferenciado, escroto isso.