quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Do Ciclo Moral
Uma determinada atitude moral de uma sociedade pode vir a ter sucessos tão imprevisivelmente grandes, que pode ser que se comece a perceber algumas de suas injustiças, das mais intrínsecas às suas práticas morais. Pode-se começar a achar injusto que determinada prática seja feita e, devido à abundância, à riqueza, ela pode ser sumariamente ultrapassada, como se tivesse havido uma ruptura, uma grande revolução que teria extinguido com aquele hábito indevido, inapropriado, mau. E então nós vemos: opa! mais um hábito escroto, e mais um e mais um e o espírito revolucionário parece nunca cessar nessa sociedade. À medida que essas concessões são legitimadas, vai se alastrando um inchaço pressionando as estruturas que sustentam a vida dessas pessoas em torno daqueles valores morais, em torno daquelas atitudes, das formas de andar, de pedir, de fazer, de cantar. É nesse período fértil dessas sociedades, justamente nesse cume, por mais contraditório que seja, que os homens descobrem-se pessimistas - MADEEEEEIIIRA!!! Ora, é nesse momento que eles percebem as injustiças, é nesse momento que eles podem percebê-las - e a conjuntura os permite tentar extingui-las - é nesse momento que elas parecem mais injustificáveis. A expansão da cidadania em Atenas se deu na medida de sua expansão colonial, de sua riqueza de comércio: no galope ao seu apogeu! E lá também estava a tragédia. Ah, o pessimismo metafísico de que tanto Nietzsche trata no prefácio do Nascimento da Tragédia, esse modo específico de imaginar injustiças, de inventar pra onde expandir! E o pessimismo moderno, em relação à morte de deus, à descrença no em-si, como consequências revolucionárias do desgaste da atitude moral cristã, que nos permitiu todo o nosso aparato moderno, nossas grandes cidades! - como ele é essa repercussão de uma atitude moral que chega à beira de sua decadência! Ah, Nietzsche e sua consequência pós-estruturalista, que nos desacredita em éticas universais e nos impele ao constante revolucionar, ao constante identificar de determinadas injustiças do conhecimento! Vivemos a decadência, sim, vivemos a decadência! Ou pelo menos a Europa vive essa decadência! Está para vir um helenismo, ou, se quisermos ver sinais proféticos, a globalização! Nietzsche desbravou a fronteira, ele é o Socratismo às avessas que a decadência da moral escrava necessitava! Esse é o sentido do pessimismo e o sentido da esperança em uma nova moral - aquela que ressucita a mais antiga de todas, a moral dos primeiros e mais belos homens: os homéricos! Ainda há muito, muito a construir até a próxima decadência! Sem rancores, por favor! "Interessem-se" - Nietzsche diria!
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