Muitas pessoas, talvez todas, dependendo da vida que andam levando, agem socialmente, quando estão reunidas numa sala de estar, numa varanda ou num churrasco no quintal -- mais até em escalas um pouco maiores, como em festas -- como se não estivessem diante de uma estranheza, uma deficiência que lhes é sintomática. Fingem -- e se esforçam tanto para isso que muitas vezes sustentam por longos e longos tempos esse fingimento. (Será que acreditam mesmo que conseguem fingir até para seus filhos, para que eles possam tentar ser felizes de verdade? Eu diria que não...) O que conseguem, no máximo, é suprimir as causas da estranheza do nível do conversável; por quererem viver numa realidade saudável, como ensina toda boa mãe de família... Não conseguem (é meu capricho revelar...) é sustentar essa postura -- nas salas de estar, nos churrascos do trabalho, em visitas prolongadas, em festas ruins e em conversas perdidas -- com a verdade necessária para que a deficiência seja extinta à força -- porque as condições nas quais sustentam-na não permite permanecer atuando tão bem, durante tanto tempo. Cansa; e todos, até os mais carentes, percebem o falso interesse -- ou o impedimento de conversar o inconversável -- e partem... É que a falta de empatia que temos, cada um, com a maioria das pessoas dos nossos respectivos mundos sociais, muito mais do que de intimidade, impede que nos cheguemos uns aos outros com suficiente profundidade de consentimentos em todos os 'eventos sociais' a que nos propomos, sejam eles com os mais diversos mas principalmente perversos objetivos; e isso fica tão mais forte com o tempo e conforme nos distanciamos da juventude, que podemos acabar nos encontrando num mundo em que sentimos dificuldade e medo de expor, para qualquer um, tudo aquilo que reprovamos e que achamos ridículo -- ou revelaríamos com mais clareza os nossos fantasmas, o nosso tipo abjeto, a nossa origem e o nosso destino de classe social! (risos)... Vemos, então, em conversas, digamos, atrofiadas por esse misto de vergonha e medo, surgirem momentos em assuntos em que as pessoas se esforçam ao máximo -- e falham -- para não demonstrarem realmente aquilo que define seus gostos, que demonstra qual valor inferem sobre determinados trejeitos e concepções de vida, por quererem, por quererem... Ah, porque é como se não pudessem ser eles mesmos! "Como parece superficial esse tipo de atitude, né? que tomamos diante da falta de intimidade..." diria uma prima de uma prima minha. "De empatia", eu silenciaria... (ou vice-versa!) -- Aí, enfim, vem um silêncio, um clássico silêncio, o atual silêncio incômodo da atual poesia melancólica... (risos...) E nesse silêncio, nesse espaço vazio que existe para fora das empatias, no terreno infértil da falta de delícia e interesse pelo outro, é aí onde nasce esse tal tipo de ação forçada que devemos ter no mundo ~social~, se quisermos, aí, socializar; é aí que aflora a estranheza, ele é o seu principal sintoma... Então puxamos outro assunto -- ou saímos de perto... Mas é preciso revelar que ele é ridículo, é meu capricho revelar que isso é ridículo! Porque esse silêncio, esse sintoma e suas causas, quando evidenciados, quando percebidos, geram duas ilusões, ridículas, que movem ilusoriamente um mundo social -- e que eu adoro fomentar: uma - de que pode distinguir um mal-educado de um bem-educado; outra - de que pode evocar uma liberdade de expressão tremenda, se posto em debate. Em última instância, se debatido ao seu cabo: ou pode levar ao delírio absoluto; ou sucumbirá fatalmente ao poder do ridículo (porque o debate será ~silenciosamente~ reprimido!).
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