quarta-feira, 19 de junho de 2013

desdobramentos do superficial

Quando nos damos o limite de pensar a realidade dos bens materiais e simbólico da vida (ou vice-versa), esbarramos, inevitavelmente, no que pode separar, aos olhos de um tipo de progressistas, um conservador de um progressista. O fim da realidade, para os progressistas, deve ultrapassar e condenar os caprichos do apetite, sem que percebam que, talvez ali, resida o seu próprio gosto que, aos olhos dos ditos conservadores, seria de um vício um pouco sórdido de justificação. A profundidade como esses homens se percebem os leva a um esforço que os obriga a uma severidade. Já os por eles chamados de conservadores, por sua vez, enxergam o limite da realidade dos bens no limite da sua própria boa vida: o que chamam do seu gosto é o que os preserva de se esforçarem para além daquilo que a necessidade por justeza pode deles exigir, enquanto homens. Sim, pensam na sua própria vida, desacelerados por uma vontade de falta de esforço egoísta e pouco engajada -- e, como, com a preguiça, muitas vezes, vem uma alma morna, pode ser que procurem agir para o bem e com graça -- esse é o seu senso de justiça, que não vai além do sua economia do esforço... É quase lógico, por sua preguiça sensível, que não lutem bravamente por sobre os limites dos esforços humanos, até por crerem na própria preservação; mas, por uma sensibilidade, que é própria do homem, talvez procurem estender a mão. Para esses homens, reitero, os chamados (pelos tais progressistas...) de conservadores, o limite do seu gosto é onde está o limite da sua própria vida -- "e isso não é digno?" -- é comum que assim se defendam... Por isso é possível que neguem com muita veemência uma tal atribuição moral, porque economica (ou vice versa!), da modernidade, a todos os homens, conhecida como trabalho. Sem a força de uma pulsão para a produção, ali entre seus possíveis desejos de fazer o bem, seguidos do de se sentir bem, alheios, dessa forma, à realidade produtiva (mesmo que dela precisem para sobreviver), podem acabar sucumbindo numa pauperização material e simbólica, se não forem já cultivados e possuidores de boas riquezas, simbólicas ou materiais: a pauperização do apetite e da graça. "Assim nos agouram esses tais progressistas", eles ainda pensam! E podem, se caírem em miséria, acabar se desentendendo política, moral e esteticamente, por não exercitarem em si aquilo que a vida moderna nos fez, a nós, os iguais, necessitarmos para viver: trabalhar. É talvez a realidade da falta de bens para todos que faça a realidade da graça e do apetite (e do gosto!) impossível a todos os extratos sociais -- até moralmente e esteticamente; e que faça com que aumentem, ali na esfera da conscientização de si que torna necessário o trabalho, as probabilidades de que se cindam relações sociais que se cultivam apenas pela naturalidade do apetite. (Isso tudo sob essa tipologia advinda de tal pensamento progressista...)

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