segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Um pedido de desculpas se aproxima e pede para sentar. No início, ele é bem vindo, e toda cordialidade dele é retribuída, conforme servem-lhe mais uma taça. Como pedido que é, aposta na delicadeza da etiqueta para não ser posto para fora, já que há o risco dos termos em que se apresenta não serem exatamente aqueles que deveriam ser cotejados, segundo quem concederia as desculpas. Alguma palavra, no entanto, é recebida por esse pedido de modo atravessado: ele percebeu uma grosseria, tépido. Ele é um pedido de desculpas, então dificilmente sairá de perto, insistindo em ser bem recebido, até que consiga desaguar e se decompor no coração daquele a quem se endereça. Como as desculpas são consequência de um mal-feito, alguma aspereza ele já esperava. Permanece, aceita outra taça de vinho, conversa um pouco com os outros comensais. O álcool sobe à cabeça e o pedido de desculpas é humilhado na frente de todos: tacam-lhe um copo d'água na cara, jogam-lhe o guardanapo, esbravejam tudo aquilo de péssimo de que tentava se desculpar e deixam-no com cara de pastel à mesa chique. Ele olha para todos, todos o olham, poker face, e nao consegue levantar da mesa, por não saber o que fazer. Fica até a sobremesa. Fala com todos sobre assuntos superficiais. Vai embora do jantar sem ter cumprido seu objetivo, embora tenha certeza de que foi educado.

Nenhum comentário: