terça-feira, 12 de abril de 2016

Se Marx estiver certo...

O pavor que um olhar sociológico arguto e formal gera advém da sua capacidade de produzir reações reflexivas que dessignificariam o conteúdo de uma luta específica. A conceituação sociológica pura tem por consequência isolar de contexto determinados atos que, em si mesmados, acabariam por vir a ser lidos de maneira pejorativa -- independentemente de qualquer coisa, há um tom que a ciência plebéia provoca. Seria possível, por exemplo, achar que organização política signifique o mesmo que a conhecida confusão entre público e privado, herança de sociedades de corte. Uma vez que, para a conservação de interesses de uma luta política seria necessário, talvez, nepotismo, dependendo de que lado está o bem, ou de que lado está a luta pela realização do homem, a indicação de nomes de confiança pode ser elemento central para o prosseguimento de batalhas transgeracionais, como é o caso de lutas sociais que, mesmo reprimidas, se conservam pela certeza de se estar do lado correto há séculos. A atitude constituiria progresso, e não o seu contrário, como a sociologia rapidamente leria, conservadorismo. A nomeação, por exemplo, do irmão de Getúlio Vargas para cargo de alta confiança no fim do Estado Novo, num momento em que conspirações ameaçam o prosseguimento do que, para GV, consistiam em interesses revolucionários, ficaria eximida de culpa por seus adeptos. Se, adicionado a isso, concluirmos que aqueles que o apoiavam e tinham caráter mais fascista agora conspiram contra ele; e que, no final de seu governo sem partido, ele se encaminharia para um posicionamento mais à esquerda, de vinculação com figuras como Jango e Brizola, podemos praticamente escusá-lo por sua prática nepotista, já que seus interesses políticos passavam a se voltar para o objetivo justo: a faceta esquerdista de sua personalidade, o PTB, que recebe apoio do PCB -- e onde militam clandestinamente seus membros --, cujas diretrizes, segundo a URSS no momento, são de apoio ao projeto nacional-desenvolvimentista, que fortaleceria e engrandeceria uma burguesia nacional, pré-requisito da revolução proletária segundo a leitura tida como ortodoxa do marxismo.

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