quinta-feira, 26 de março de 2020

tempo novo

mais uma pedra,
não posso contar para ninguém,
porque há tragédias
que não abrem espaços
para os outros.
e eu sigo.

inauguro sozinho
esse mundo péssimo,
de que hei de tirar algum proveito
(ao menos,
espero não morrer tão cedo).
eu, sozinho,
em um caminho todo novo,
todo meu
-- só e infelizmente meu.

é segredo o porque sofri muito
e me transformei.

apenas
meus gestos,
carregados,
sublimarão o remorso e a dor do meu mistério,
fazendo deles a massa
da minha polidez:
de quem se abriu
para um mundo cheio
de problemas e outros
a padecerem
também.

o evento:
pela força do cosmo,
um raio, lançado em mim,
em um dia de final de verão,
abriu um buraco negro aonde tropecei e caí,
para um outono que apenas começava,
bem lá na calçada, na pedra portuguesa escrachada,
da rua leopoldo miguez.

Nenhum comentário: