sexta-feira, 17 de abril de 2020

a maldição de uma nobreza explorada, caída e traída, e a consequência disso para o seu destino de classe social

Imagine-se um nobre que tenha sido destituído de suas possessões por alguma invasão ou domínio estrangeiro ou guerra, mas que ainda possui sua linhagem e sua ascendência sobre os outros. A tendência, caso não consiga reconverter-se novamente em nobre, seria a sua proletarização - uma triste tendência para um coração nobre. Este mesmo coração, entretanto, formatado em uma ética nobilitadora, reconhecerá os momentos em que deverá reagir contra a domínio, arrebanhar seus futuros súditos, e reconquistar seu antigo posto material, suas terras, suas rendas (pois o simbólico só se esvai com mais tempo...)

Quando os portugueses do nordeste do Brasil perderam as suas terras para o usurpador protestante, esse fantasma que nos põe de joelhos desde tantos séculos na história, sendo os tratados desiguais talvez apenas uma faceta desse mesmo mecanismo, restaram, empobrecidos, à espera de poderem retomar a honra que lhes havia sido subtraída. A perfeita ocasião da ascenção de uma nova dinastia em Portugal, a dos Bragança, foi vista não mais que como uma bela oportunidade de demonstração de serviência. O Rei havia de conceder-lhes as mercês, afinal tinham batalhado ao lado do bem português, anoitecido pelo jugo dos espanhóis, trazendo ao seu lado os mais fiéis portugueses da América, prontos para serem reconhecidos por tal abnegação e transvaloração cultural.

Mas como não obtiveram o seu "coroamento" como pessoas de boa estirpe, ressentiram-se, na primeira das muitas vezes que o Nordeste viria a se ressentir com a realeza. E como tinham feito dos seus proto-súditos os seus aliados em honra, por meio do sentimento de pauperização que vinham vivendo, eles transformaram-se. Um nobreza ressentida, aliada aos súditos, tem o poder de transfigurar o sentido de um bom comportamento de Estado. O ideal de nobreza tresvalora-se em defesa dos interesses dos súditos, como forma de arrebanhá-los. A renovação de um pacto colonial sucessivamente desfavorável impingirá um sentido diferente para a nobreza brasileira mais antiga, aquela de origem no Nordeste do país, então conhecido como o Norte. A engrenagem que dará resultado no abrasileiramento da cultura, naquilo que as elites modernistas defenderão, como ideais populares, tem início, talvez, aquim na expulsão dos holandeses e na criação de uma memória honrada para um passado brasileiro empobrecido e nobilitado pelo bemm nacional in germen.




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