terça-feira, 23 de junho de 2020

quinto experimento do escrever livre

Um estranho compromisso com a automutilação, com o autoempobrecimento,
um enaltecimento da falta de cálculo, até mesmo nas questões puramente econômicas,
como as finanças pessoais.
Com uma valorização pronta da auto-honorificação, o desfrute do dinheiro torna-se um agora,
como se não o fosse ver nunca mais.
Existe uma incapacidade de poupar em quem odeia o capitalismo,
e eu não sei dizer quem vem primeiro, o ovo ou a galinha.
A verdade é que, paralelamente à tendência da pauperização e da desapropriação constante,
se manifesta um estranho impulso imediatista da vida, de autoemulação,
que não consegue controlar-se e domesticar-se;
e essa pauperização, como uma profecia autorrealizável,
apenas se cofirma.
Logicamente, a única forma possível de superar tal situação é um planejamento total, disso eu tenho certeza.
Não se podem culpar os astros e os homens por seus movimentos involuntários...
Um imprevidente de classe média que transfere seu ódio de classe aos seus filhos, por imprevidência financeira, apenas confirma as teses mais ortodoxas e sofre e inveja: um pai.
Um ex senhor de algum lugar, algum ex notável de algum rincão, deixa seus filhos desapropriados e adentra o mundo da urbanização apenas com a sua honra, sustentado por uma religiosidade nova, moderna: um bisavô.
Somos herdeiros de uma mistura: de um mito, por um lado, de que constituir família é uma condição natural, com a deserança, por outro lado, da impáfia de um progenitor sequioso de gozo, que desfrutou em seu e nosso malefício: somos, por isso, ensinados a desgostar do mundo, que nos empobrece, empobrecendo-nos; e isso, uma vez realizado o vaticínio, é mesmo a nossa única verdade a perseguir, o fatalismo --
a menos que queiramos desistir e aceitar o fim da vida sem frutos a colher,
ou que queiramos reverter o destino de uma obrigação valente - a luta -, carregando um ressentimento com o pai errado, com a família errada, com a não escolha de ter nascido.

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