terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Quando Stálin morreu, antes que assumisse Kruschev, ou, ao menos, antes que o seu governo assumisse uma feição kruschevista, houve uma vacância de poder muito específica. Como Stálin era a autoridade suprema e organizador de toda a experiência social que estava se desenvolvendo na URSS, a sua morte gerou um vacuo de poder que permitiu um novo debate no que diz respeito à cultura. Sem o lider supremo para dar o veredicto das opiniões, novos debates começaram a surgir. Melhor dizendo: como Stalin era o lider supremo dos desenvolvimentos ulteriores do projeto artístico político que se inicara em 1920 com a aliança entre os bolcheviques e as vanguardas, quando ele morreu, os parâmetros de definição do que era o Realismo Socialista deixaram de ser tão objetivos assim. As academias de arte, claramente, permaneciam fiéis aos seus posicionamentos conservadores, mas a palavra final, aquela que poderia penalizar com a morte ou o degredo, tinha desaparecido, permitindo aos corajosos uma oportunidade de se pronunciarem. O que ocorreu então? No afã de transformar a concepção ortodoxa do Realismo Socialista, os críticos e autores começaram a propor uma nova acepção do que seria o "realismo" da concepção socialista. Em termos de prática artística, aquilo que poderia ser retratado estava em vias de expandir-se. Nesse movimento, a noção de realismo foi expandida: buscava-se recuperar o expressionismo, despindo-lhe da carga reacionária, que o vinculava ao desenvolvimento do nazismo e que representava o ápice da subjetividade na arte. Fazia-se isso, é bem verdade, em virtude de uma interpretação da sociedade que assegurava que se teria dado uma grande transformação; por cause dessa transformação, portanto, é que se poderia legitimar a prática artística expressionista. O novo expressionismo soviético seria isncrito dentro da rubrica do Realismo da fórmula "realista socialista". A nova sociedade soviética deveria expor os seus sentimentos, de maneira a alargar a noção de realidade outrora proposta como motivo inequívoco da ortodoxia. 
Os novos sentimentos, assim, corresponderiam a uma maneira de expressar a realidade soviética -- proposta que não foi amplamente aceita por todos, obviamente. Com o estabelecimento de Kruschev no poder, imagino ser lícito dizer que essa liberalidade de debate promovida pela vacancia de poder foi tornada status quo. Os experimentos em expressividade viraram a norma da política cultural do governo. Até que não foi mais. E é nisso que eu interpreto ter ocorrido o primeiro erro ingênuo da intelligentsia russa. Erro ingenuo: deixe-me explicar isso: ingenuo porque era imbuído de um posicionamento político que presava pela manutenção do ideal socialista. E, na prática, esse erro mostrou-se talvez a única forma fazer perdurar a experiencia socialista real. Mas por que teria, entao, sido um erro? Foi um erro do ponto de vista da história da arte. O novo expressionismo soviético, em termos materialistas, teria sido a primeira manifestação genuína de um expressionismo, uma vez que representava uma nova subjetividade formulada como consequência de uma cultura que havia sido formulada artificialmente, como um desenvolvimento ativo da superação da história não-ideológica. 
Do ponto de vista da histórida da arte, essa invoação interpretativa -- que foi despois descartada pelo governo -- convocação a produção artística a 

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