é madrugada
derrete uma neve na minha bochecha
eu caminho, fechado em casacos
fazendo fumaça e cinza com os meus cigarros
com o meu sangue-quente
ouvindo algumas vozes ébrias alheias na rua
encabrestado por um capuz, um cachecol e as mãos que se escondem, nos bolsos, do frio
a neve-agora-gelo pela rua, cinza
(bati a cinza)
não ha cores de pavimentaçao nem de fachada MESMO que possam murchar o cinza de uma cidade altas horas da matina
cinza honesto
cinza notivago
cinza de deixar o movimento ao fundo, vozes e gestos e tanta tanta coisa acontecendo, e você saindo, sozinho
pra virar, pra variar, na sua rua residencial, mais quieta
vendo e ouvindo melhor os seus passos - seus pés são mesmo tortos -
fumando um dos ultimos cigarros, o do andar cabisbaixo,
que so quem precisa olhar pra baixo e se perceber - que asco! -
é capaz de acender - é o cigarro daquele que não precisa de ninguém, nao quer ninguém, nem pra pedir isqueiro
acende com seu proprio fogo mesquinho, catado em alguns dos seus muitos bolsos de seus casacos e calças, tchec, tchec, ffffffffuuu
cinza seu
cinza da cidade
e as luzes nos prédios...
que se não fossem luzes
nem prédios...
ah, andar sobre andar de fogueiras
de fogo pra curar cegueira, pra dizer que guerreia.
Contra a noite e o frio.
"Homem conquista o fogo"
conquista-o pra vida inteira, sempre da mesma maneira...
o fogo sozinho de um fim de sabado antes de um domingo antes de uma segunda-feira
ja é cinza antes de chegar na piteira,
cinza e mais cinza de tanta fogueira
de todo mundo que guerreia
de toda noite, incluindo as de sabado e as de domingo e as de segunda-feira
a noite inteira, a noite inteira, a noite inteira
cigarros e mais cigarros, mais cinza e mais piteira
toda cidade - sempre! - da mesma maneira:
montes de cinzas com picos e abismos
picos e abismos estreitos com beiras.
Cuidado pra não se jogar!
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