terça-feira, 6 de julho de 2010

Perder a Copa é...

Há uma lição muito profunda que pode se extrair dessa nossa derrota na Copa do Mundo. Porque fazemos muita questão de que o Brasil seja o melhor do mundo - digo isso a respeito de tudo, somos um país enorme, pungente, imperial e que sempre sonhou com o melhor de tudo. E no futebol isso sempre nos pareceu uma espécie de premonição, como se Nostradamus tivesse deixado em alguma escritura que o melhor país do futebol seria o país que lançaria uma nova moral sobre o mundo, depois da queda das Torres Gêmeas.

Se pensarmos um pouco sobre a nossa formação enquanto nação, sempre quisemos dar uma lição de lifestyle a todos os outros países do mundo. Éramos o Império dos Trópicos; nos tornamos depois Estados Unidos do Brasil, com essa intenção ironicamente embutida no nome; depois viemos com um modernismo nunca antes visto - pelo menos a nossos olhos - que, antropofagicamente, criava um protótipo de moral, que digeria, que misturava, forçados, sim, mas que conseguíamos tirar disso um fruto - digerido e expelido, se quisermos levar a cabo a ingestão antropofágica. Aí veio o primeiro fruto, os primeiros olhares para o popular brasileiro, a primeira grande lição, para exportação: a Bossa Nova, o resultado de uma educação bem-sucedida da elite, a culminância de uma elite brasileira, que podia desgutar de seu próprio povo e ainda vendê-lo pra qualquer inglês que quisesse ver: porque era lindo, de verdade, lindo, talvez as únicas boas canções de amor do mundo tenham surgido nessa época.

Mas como não tínhamos a qualidade de potência - e vivíamos a Guerra-Fria - quase não conseguimos nos promover e precisamos dar uma lição em nós mesmos. Nos questionamos com o Cinema Novo, com a Tropicália, com todo esse movimento que enfocava a realidade social brasileira. Eu repito, a Realidade Social brasileira. Nesse momento, o Brasil precisou ouvir algumas poucas e boas para voltar para o seu lugar, para olhar para si mesmo de novo; ainda não éramos um país tão consciente de que era um país. Como a antropofagia, que precisava indicar qual o método que o Brasil devia seguir para se tornar um Brasil Realmente Existente, o sessentismo no Brasil teve funçõ semelhante de autoreflexão.

E é nessa onda que eu vejo necessário extrair uma lição dessa nossa derrota na Copa. Talvez seja realmente necessário que o Brasil perceba que o seu desenvolvimento econômico pungente não pode garantir tudo. Se somos bons no futebol, somos realmente muito bons, mas é futebol. I mean, o nosso amor pelo nosso país não deve ser fruto de um orgulho de mãe que olha o filho fazer aquilo que ela quer pra impressionar o chefe. Devemos amar o Brasil como amamos a nós mesmos, procurando fazer os esforços necessários para melhorar, procurando continuar o processo que nos tem levado a progredir e não devemos nos abater por alguma derrota - porque, sim, se o Brasil se torna bom, não é somente futebol que conta, é tudo além; futebol era a nossa válvula de escape!

Devemos, além de tudo, compreender que a consequencia da antropofagia é o cocô e que cocô não é lição para ninguém no mundo, cocô é a mesma consequência de todos os países que, violentamente, foram forçados a sê-los. Falta desconfundir desenvolvimento econômico - que nos fará chegar a um patamar em que muitos outros já estão - com lição de vida, de lifestyle. Só nos tornaremos aquilo que devíamos nos tornar, uma vez que queremos ser Brasil.

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