quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

sobre a desnaturalização do trabalho como um direito

Há, no meu ponto de vista, um perigo moral muito grande em sistemas de governo que aplicam o velho trabalhismo, legando a organizações trabalhistas o poder nas câmaras legislativas. Digo isso, talvez, por ser um cara que não gosta muito do trabalho... O perigo que aponto aqui é justamente para a eternização da ideia de glorificar o trabalho. Sei que posso estar sendo um tanto utópico ao querer suprimir o trabalho... Mas não é disso apenas que se trata minha crítica: a moral do trabalho não pode ser investida de mais benefícios do que aqueles que já lhe são naturalizados pelo sistema de barganha de mão-de-obra. Avento aqui para o mesmo tipo de comportamento fascistóide da população que xinga vagabundos - e, de lá, o Estado Novo manda lembranças. Aumentar a representação de setores trabalhistas é o mesmo que reduzir a importância de pessoas que não trabalham, ainda que essas pessoas façam parte de uma classe que precise financeiramente trabalhar para viver - portanto, aqui, não trato de burgueses dandys, trato de pessoas que buscam uma forma de sobrevivência que não esteja diretamente relacionada a uma necessidade capitalista de criação da moral do trabalho, para que se supram as suas demandas por mão-de-obra. Se o desemprego é o exército de mão-de-obra, ora, basta existirem outras formas de sobrevivência social - sejam elas o que for, se ainda operamos no monetarismo, pra se conseguir dinheiro - que reduzimos o poder que os empregadores teriam sobre as nossas vidas. Diminuir culturalmente a oferta de mão-de-obra, eu vislumbro, pode ser uma forma de valorização material dos trabalhadores - a escassez aumenta o valor da mercadoria -, ou o colapso de um modo de produção que é palco do conflito capital-trabalho, em última instância.

Nenhum comentário: