terça-feira, 19 de junho de 2018

a contradição constitutiva da mudança social

Uma revolta do baronato perante um rei déspota não configura uma profunda inovação de paradigma estatutário, mas não deixa de representar alguma. Na medida em que os poderes do déspota se concentram e é perdida determinada liberdade, seja por aumentos fiscais, seja por perda de poder político de fato, o círculo nobre imediatamente inferior ao déspota passa por um processo de empobrecimento. Ainda que o objetivo final de dada revolta não seja propriamente a revolução, a provável lista de demandas desse grupo destituído de determinados interesses vitais acaba por promover um alargamento do poder, na medida em que torna possível a exigência de benefícios em uma perspectiva classista. O ressentimento, que os motiva, é o que dá o gosto amargo às suas comidas, é o que os torna mais próximos dos plebeus. Não será incomum ver a união de segmentos marginalizados e elites ressentidas em torno de demandas gerais da sociedade -- assim como não será incomum ver a progressão do conceito de universalismo a partir de sucessivos ressentimentos que marginalizam relativamente setores que antes faziam parte do núcleo. 

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